Deus requer de nós santificação para podermos servi-lo da maneira que Ele deseja. É uma ordenança do Senhor, registrada em 1 Pedro, 1.13-21: “Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo. Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância; pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo. Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação, sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus.”
No verso 16 diz o Senhor: “Sede Santos porque Eu sou santo”. Quando Deus nos pede para sermos santos, pede para vivermos uma vida separada deste mundo pecaminoso. Cristo ora ao Pai em João 17.15,16: “Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou.”
Porém ser santo, na nossa condição terrena, não significa viver totalmente sem pecado, pois a própria Bíblia afirma que se alguém disser que não tem pecado é mentiroso, como vemos em 1 João 1.8: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós.”
Muita coisa do que se pensa ser santidade, na verdade não é. Santidade não é princípio de caráter religioso, quem sabe herança do medievalismo que deixou marcas na filosofia, no pensamento, na arte sacra e no modus vivendi da época. Uma das marcas do medievalismo foi a de escolher homens e mulheres para receber um título de santo, sem considerar que só Deus pode nos escolher, eleger, separar para Ele. Na verdade, se cremos em Cristo como nosso único e suficiente salvador, e passamos a caminhar com Ele, somos santos, isto é, separados para a Sua obra. Todo discípulo de Jesus é santo, embora nenhum seja suficientemente santificado. Precisamos ser mais santos hoje do que ontem e menos do que amanhã. É fundamental que avancemos no nível pessoal de santidade.
Já no livro de Levítico, escrito por Moisés cerca de 1.400 anos antes de Cristo, Deus conclama insistentemente seu povo à santidade em várias passagens, como esta, contida no capítulo 11, verso 44: “Eu sou o SENHOR, vosso Deus; portanto, vós vos consagrareis e sereis santos, porque eu sou santo;” Assim, a santidade é desejo de Deus para todos aqueles que O servem, e para alcançá-la precisamos basicamente cumprir três etapas.
A primeira é imediata, acontece no momento em que recebemos a Cristo como nosso Salvador; a segunda é progressiva, acontece na medida em que vamos progredindo na vida cristã; a terceira, final, total e completa, só acontecerá quando formos para a eternidade com Jesus.
Precisamos abolir a idéia de que santidade é simplesmente uma impressão piedosa que algumas pessoas passam às outras. Santidade não tem nada a ver com uma personalidade emblemática, ou com a expressão fisionômica de alguém, e o ser santo não é uma espécie de titulação. O estereótipo do santo é o de um tipo de pessoa que tem uma formatação especial, como que se estivesse um nível acima dos outros. E então chegam a dizer: “Como aquele fulano é santo, ele é tão espiritual!”. Mas isto corresponde exclusivamente ao imaginário popular, e não às atitudes que Deus espera que sejam reveladas por nós. Se pretendemos ser espirituais, não necessitamos ter todos o mesmo tipo, o mesmo jeito, ter todos o mesmo “formato”.
Ninguém é santo por mérito pessoal, por esforço próprio, é Graça de Deus; santidade não é conseqüência de muito ler a Bíblia, de ir a todos os cultos, de fazer obras na igreja, de cantar no coral, de fazer caridade: é a posição relativa que nos encontramos em Cristo Jesus, e que se estabelece no processo de crescimento espiritual: na adoração, no louvor, na meditação da Palavra, na vida de oração, no serviço para Deus. Desta forma, o processo de santificação depende também da ação pessoal, após termos sido separados para Deus. Não é possível imaginar que aquele que está acomodado, orando pouco, que não lê a Bíblia, que não tem ministério no Reino, possa estar num processo acelerado de santificação. Os resultados da santificação virão como resultado do nível de atividade, de empenho, de dedicação de cada um. E a santificação é um processo contínuo, presidido por Deus, por meio do Espírito Santo.
Para compreendermos o que é santidade, voltemos nossos olhos para as epístolas que Paulo escreveu. Observemos que são sempre dirigidas aos santos, portanto aos crentes em Cristo, aos fiéis, como por exemplo em Efésios 1.1: “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus”. Paulo se dirige aos santos e fiéis em Cristo Jesus. Se abrirmos o coração para receber Cristo como Salvador, somos separados para Ele. Somos santos porque Ele nos colocou numa condição de santidade. A santidade está relacionada às nossas atitudes, às nossa obras, às nossas tarefas no Reino. Santidade na Bíblia significa crer em Cristo com inteireza moral, que é uma qualidade positiva que na verdade inclui a bondade, a misericórdia, a pureza, a irrepreensibilidade moral e a piedade.
É preciso considerar que a santificação integra a ordem da salvação, e que não existe santidade sem santificação. O crente é salvo, porque foi eleito por Deus, como podemos ler em 1 Pedro 2.9: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;”. Paradoxalmente, no entanto, o crente salvo pode não estar santificado. Lutero disse que somos justos e pecadores. Somos santos e pecadores, por isso precisamos da santificação, instrumento indispensável para nosso aperfeiçoamento, caso pretendamos nos assemelhar mais a Cristo.
O apóstolo Paulo em sua primeira carta aos coríntios, capítulo 1, verso 2, escreve “à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso:” Ele, portanto, se dirige aos santificados, aos chamados para ser santos. Deus é santo, porque é totalmente separado para a Sua obra, e Ele nos chama para assumirmos a mesma condição. “Sede santos porque Eu sou santo”, diz o Senhor, que opera em nós para nos santificar por meio do Espírito Santo, sem cuja assistência não pode haver santificação.
A santidade é a marca distintiva do verdadeiro cristão: ela nos diferencia do homem natural no procedimento, na peregrinação e na pureza, como vemos em 1 Pedro 1.15-18. Nesta epístola, Pedro fala na peregrinação, isto é, da caminhada ao longo da vida terrena. Deus não nos fez para vivermos reclusos em mosteiros. Ele nos elegeu, nos escolheu como santos, para estarmos no mundo e falarmos do amor de Deus aos homens. Somos embaixadores de Cristo e como tal, precisamos ser santos na escola, no escritório, no lazer, no lar, na rua e em todos os lugares em que estivermos.
Senhor nosso Deus e Pai, que Teu Santo Espírito continue agindo em nós para que, como santos que Tu elegeste um dia, vivamos em santidade, e sejamos cada vez mais santificados, aperfeiçoando-nos sempre mais segundo a imagem de Cristo, em cujo nome santo oramos agradecidos. Amém.