março 2010

A Graça de Deus

A Graça de Deus, uma das doutrinas fundamentais da fé cristã, é amplamente apresentada e tratada nas Escrituras Sagradas, desde o Antigo Testamento. No Novo Testamento, o apóstolo Paulo fez dela um dos temas principais de suas pregações e escritos, pois a conheceu na salvação de sua alma e por ela foi sustentado no dia-a-dia de sua vida e de seu ministério.

Em 1 Coríntios 15.10, ele escreve: “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo.”

Graça significa favor imerecido de Deus, dádiva que o Senhor nos concede apesar de nós.

O Dicionário Bíblico Strong – Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong, afirma que Graça diz respeito “à bondade misericordiosa pela qual Deus, exercendo Sua santa influência sobre as almas, volta-as para Cristo, guardando, fortalecendo, fazendo com que cresçam na fé cristã, conhecimento, afeição, e desperta-as ao exercício das virtudes cristãs”.

Graça é o amor de Deus que salva as pessoas e as conserva unidas a ele; representa a soma das bênçãos que uma pessoa, sem merecer, recebe de Deus; Graça é a influência sustentadora de Deus, que permite que a pessoa salva continue fiel e firme na fé; é Louvor, é Gratidão ao Eterno Deus e Criador.

É pela Graça de Deus que eu e você existimos.

Pela Graça respiramos, ouvimos, enxergamos, sentimos, cheiramos, pensamos, amamos; pela Graça acordamos toda manhã, abrimos os olhos e iniciamos o dia que o Senhor fez; pela Graça tomamos nosso café da manhã junto à família que Ele nos concedeu, e vamos trabalhar, fazendo aquilo que a Graça de Deus nos destinou fazer, superando desafios, resolvendo problemas, tudo pela Graça; pela Graça voltamos à nossa casa no fim do dia para reencontrar nossa família, e finalmente descansamos à noite, preparando-nos para um novo dia;  pela Graça é que a salvação é recebida. É um dom de Deus. A Bíblia diz em Efésios 2.8-9: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie.”

Irmãos, por isso tudo e por muito mais, não somos merecedores de nada. Se Deus nos desse apenas em retribuição ao nosso parco merecimento, que miserável nossa vida seria!

É também mercê da Graça que nossos pecados são perdoados, como Paulo observa em Efésios 1.7: “no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça”, ou como a Nova Tradução na Linguagem de Hoje pontua, “Pois, pela morte de Cristo na cruz, nós somos libertados, isto é, os nossos pecados são perdoados. Como é maravilhosa a graça de Deus,”

Da mesma forma em Marcos 3.28,29, Jesus diz aos escribas que haviam descido de Jerusalém: “Em verdade vos digo que tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e as blasfêmias que proferirem. Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão para sempre, visto que é réu de pecado eterno.” O perdão divino está continuamente disponível a qualquer um de nós, sem que seja necessária a participação de intermediários ou o cumprimento de penitências. Não existe um pecado tão grave – com exceção do pecado contra o Espírito Santo – nem um número tão absurdo de erros que Ele não possa perdoar.

O Evangelho nos revela que basta o arrependimento sincero do homem e a sua vida voltada ao Senhor para que todos os seus pecados sejam apagados do Livro da Vida, pelo menos enquanto persistir o arrependimento real, que requer uma nova vida de justo diante do Senhor, como lemos em Atos 3.19: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para que sejam cancelados os vossos pecados”. E em Isaias 43.25: “Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro.”

Quando o Espírito Santo nos leva a compreender que sou o que sou pela graça de Deus, então uma nova realidade se apresenta. A humildade destrona o orgulho, o Evangelho liberta-nos das ilusões pretensiosas de que somos o máximo, e Jesus concede-nos vida nova, abundante e eterna.

Você e eu somos – cada um de nós – um milagre de Deus. Para viver a vida de maneira plena, com um profundo senso de gratidão, é necessário em tudo submetermo-nos inteiramente a Jesus. A graça de Deus nos liberta da tirania de que as coisas precisam ser como queremos. Aprendemos a não querer controlar nossas vidas e muito menos controlar a vida de outras pessoas. Deus nos liberta de querer tomar o lugar d’Ele, e nos chama a viver na confiança de que Ele tem em Suas mãos a nossa vida e a da outra pessoa.

Deus perdoa nossos pecados mediante a Sua Graça, mas é preciso orar pedindo perdão com o coração contrito, reconhecendo nossa condição humana, humilhando-nos e esvaziando-nos inteiramente de nosso eu; confessar humilde e explicitamente nossos pecados é fundamental; e confiar sempre na misericórdia de nosso Pai Celestial é imprescindível.

Ó Pai de amor e de misericórdia, ajuda-nos a sempre reconhecer em nossa vida a Tua Graça e Poder, em todos os momentos, situações e circunstâncias. Não permita, Senhor, que nossa humanidade assuma o controle que é Teu, levando-nos à cegueira de não reconhecer o Teu maravilhoso agir em nosso favor. Oramos assim no nome excelso de Jesus Cristo. Amém.

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Oração Respondida

Jesus, pouco antes de sua prisão, dirigiu-se ao Jardim de Getsêmani com Seus discípulos, e aconselhou-os a orar para que não fossem tentados. Em Lucas capítulo 22, versos 41 e 42, o evangelista relata que: “Ele, por sua vez, se afastou, cerca de um tiro de pedra, e, de joelhos, orava, dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua.

Ao contrário de nós, que muitas vezes pretensiosa e egoisticamente oramos, pretendendo que Deus faça exatamente aquilo que desejamos – pois afinal temos a certeza absoluta do que é bom para nós, não é? No entanto Jesus, o Filho de Deus, humildemente reconhecia a soberania do Pai, e sabia que Seus planos são sempre superiores, até mesmo aos d’Ele, Jesus. Pouco depois, sentindo que sua temporária carnalidade o fazia fraco, Ele disse o que está registrado em Mateus 26.41 e em Marcos 14.38: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.”

Desta declaração podemos extrair um grande aprendizado: Deus responde a todas as orações, embora nem sempre da maneira que desejamos. Precisamos ter consciência de que muitas vezes é preciso primeiro orar para conhecer a vontade do Pai, para que então possamos orar em concordância com os Seus interesses.

Muitas vezes, nossa oração não parece ter sido respondida, temos até a impressão de que Deus não nos ouve, não é? Mas Deus sempre nos ouve. Em Lucas 11.11-13, Jesus afirma: “Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir [pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir] um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma cobra? Ou, se lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” O Senhor é Pai amoroso, fiel e responsável, mas nem sempre concorda com todas as nossas petições, sabendo de antemão as conseqüências que adviriam caso algumas delas fossem atendidas.

Por certo já ouvimos alguém dizer, após muito tempo de petições sobre determinada coisa: “graças a Deus o Senhor não ouviu a minha prece. Se Ele tivesse me concedido o que pedi, hoje estaria muito arrependido(a)”. Com certeza nós próprios temos experiências em que – após períodos de angústia, sofrimento e dor em que oramos, pedindo a Deus segundo nosso próprio entendimento de qual seria a solução para certo problema, e aparentemente não obtendo resposta – anos depois podemos também dizer: “louvado seja o Senhor, pois não ouviu a minha prece”.

Sim, é preciso tudo entregar em Suas mãos, e n’Ele descansar. Isto é ter fé. A fé é a base da oração; e o objetivo da fé deve ser sempre Deus, nunca a coisa pedida. A fé já foi descrita como: “confiar no coração de Deus e no Seu poder.” Ele sabe que o que pedimos não é o melhor. Ou pode ser que o nosso tempo não seja o tempo d’Ele, ou Ele tem um propósito maior em mente. Se ao orarmos nosso coração estiver despido de desejos da carne, de animosidade, de egoísmo, de ganância, de idolatria, de ira, e de qualquer outro sentimento contrário aos preceitos divinos, teremos boas chances de sentir, neste mesmo coração limpo, a vontade do Pai expressa por meio de sensação de conforto ou de desconforto, que nos mostrará o caminho a seguir.

Irmãos: as respostas de Deus são sempre mais sábias que as nossas orações.

Às vezes as orações ficam sem respostas nesta vida, e Deus as atende após a morte do crente. Noutras vezes não o faz, mas mesmo assim a fé, manifestada nessas orações e as sinceras expressões de amor por Deus e pelas pessoas que Ele criou, continuarão subindo como incenso agradável ao trono de Deus, como está escrito em Apocalipse 5.8: “e, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos.

Irmãos, é preciso que nos conscientizemos de que Deus é Deus, e que nós somos apenas Suas criaturas. Por isso algumas orações não são atendidas porque Deus mantém ocultos Seus sábios planos, e ainda que muitas pessoas orem, os eventos só ocorrerão no tempo que Deus determinou. Esta consciência nos mostra que devemos perseverar em oração, quando aparentemente a resposta demora, pois a bênção de Deus é às vezes retardada para nos provar a fé. Seja qual for a circunstância, façamos o que o apóstolo Paulo ensina em 1 Tessalonicenses 5.17: “Orai sem cessar.”
Em 2 Crônicas vemos um exemplo de oração respondida. Salomão havia, no capítulo 6, pedido ao Senhor que viesse ao templo que ele construíra, trazendo Sua glória. A resposta a esta oração está no capítulo 7. O verso 1 diz: “Tendo Salomão acabado de orar… a glória do Senhor encheu a casa”. O resultado disso foi que todos adoraram a Deus, como vemos no verso 3. A manifestação da glória de Deus gera adoração e louvor. Salomão sabia que não havia espaço físico que pudesse conter a glória de Deus.

O Senhor deseja que a nossa vida seja um lugar de adoração, um lugar onde Sua glória se manifeste.

E a glória do Senhor se manifesta apenas onde há oração contrita, em clima de amor, de concórdia e de paz, que esteja de acordo com a Sua vontade.

Seja qual for o desejo do seu coração, a Palavra de Deus nos diz que devemos clamar a Deus e Ele nos responderá. Por isso, ore, clame, adore, pois certamente Ele ouvirá. Como Ele disse a Jeremias, capítulo 33, verso 3:Invoca-me, e te responderei; anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas, que não sabes”.

Senhor nosso Deus, sabemos que aqueles que oram fazem a Tua obra; ensina-nos a orar para que sejamos sempre instrumentos úteis do Teu querer. Em nome de Jesus Cristo é que agradecidos oramos. Amém.

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Em Busca da Unidade

A Igreja de Cristo atravessa nos dias de hoje uma situação de grande falta de unidade.

O teólogo John W. Stott escreve, com base na passagem 1 Coríntios 1.10-13, onde o apóstolo Paulo exorta a igreja de Corinto contra as divisões que estavam ocorrendo: “Tudo indica que Paulo considerou esta notícia (a da divisão na igreja de Corinto) extremamente dolorosa. Ele sabia o suficiente acerca das realidades da vida da igreja para não se surpreender. Mas, ao mesmo tempo, ficou profundamente ressentido. Isso se verifica pela dupla ocorrência da palavra irmãos, nos versículos 10 e 11”.

É interessante ver que o mesmo sentimento de Paulo ao saber das divisões em Corinto, é também expresso na oração de nosso Senhor Jesus pedindo ao Pai que não permitisse esta divisão entre nós, os crentes, em João 17.20-21: “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em Mim, por intermédio da Sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em Mim e Eu em Ti, também sejam eles em Nós; para que o mundo creia que Tu me enviaste”. Parece não haver dúvida de que, ao contrário de considerarmos “normais” as divisões entre os crentes em Cristo, nosso sentimento deveria ser de perplexidade e de dor. Conquanto a unidade seja realmente difícil, pois envolve, antes de tudo a humildade de admitirmos que podemos estar errados, ela deve ser sempre prioridade para a Igreja, pois como se não bastasse ser esta a vontade expressa de Deus, é uma condição para o avanço do evangelho.

A divisão na igreja de Cristo é a evidência de uma igreja carnal. O Apóstolo Paulo em 1 Coríntios 3.1-3 denuncia esta questão. A igreja de Corinto tinha inúmeros dons em operosidade, tinha fama de espiritual, de carismática, mas estes irmãos são identificados por Paulo como crianças espirituais e crentes carnais, impossibilitados de alimento sólido.

Em Atos 2.42-47 e 9.31, vemos a igreja cristã iniciante, cheia da presença do Espírito, evidenciando às pessoas o amor de Deus, a comunhão, a alegria, a singeleza de coração, mas acima de tudo a unidade de propósito e de serviço. Quando as divisões impedem a existência desse ambiente são, fica evidente a carnalidade da igreja.

Outra importante realidade que precisa ser enfatizada é que a divisão se torna empecilho para o desenvolvimento da obra de Deus. A divisão é uma realidade negativa, enquanto a diversidade de serviços e funções é tremendamente positiva na obra. Os crentes de Corinto estavam contendendo pelos líderes pelos quais mais se agradavam. Quem seria o melhor? Quem fez a igreja crescer mais? Paulo, Apolo, Cefas? A carnalidade daqueles irmãos fazia aflorar o sentimento partidarista e impedia que eles vissem a obra como um todo, e Paulo, Apolo e Cefas como co-participantes desta obra. Paulo em 1 Coríntios 3.6-8 elucida este posicionamento distorcido afirmando: “Quem é Apolo? E quem é Paulo? Servos por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um. Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma cousa, nem o que rega, mas Deus que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um”.
O Senhor Jesus, quando acusado pelos religiosos de seus dias de “expulsar os demônios pelo poder do maioral dos demônios”,afirmou: Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto e casa sobre casa cairá”.

Se a divisão é um empecilho que estorva e atrapalha o desenvolvimento e o progresso do Evangelho, a diversidade neste aspecto é positiva. Paulo mesmo afirma: “Eu plantei, Apolo regou”. A obra é uma só. Contudo, as diversas maneiras de realizá-la tornam-na mais abrangente. Um planta, outro rega, outro colhe. Para Paulo isto estava bem claro no exemplo de 1 Coríntios 12.12-31. Diz Paulo: “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo…para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros”.

Contudo, o maior prejuízo provocado pela divisão da igreja, está ligado aos relacionamentos entre os irmãos em Cristo. O sentimento partidarista promove rupturas relacionais motivadas por inimizades. Como é possível estarem duas pessoas ligadas ao mesmo Deus e serem inimigas? O profeta, em Amós 3.3 escreveu: “Andarão dois juntos se não houver entre eles acordo?”. Como é possível duas pessoas afirmarem viver no amor de Deus e se odiarem? O apóstolo João orienta: “Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê”. Como é possível duas pessoas louvarem a Deus, cantarem ao seu Santo nome, se estão em desacordo? A igreja precisa resgatar a sua identidade de comunidade unida, de um grupo de pessoas que, irmanadas na cruz de Cristo, trabalham, se edificam mutuamente e se doam ao próximo.

Alguns podem até questionar: mas até que ponto são relevantes os princípios do Novo Testamento para a Igreja do tempo presente? Afinal, todos estes séculos de história têm trazido grandes mudanças! Pode o mesmo princípio de unidade, aplicado às minúsculas congregações espalhadas pelo Império Romano ser considerado válido para a nossa própria presente estrutura de Igrejas que se espalham pela terra? Quando os cristãos primitivos falavam de união e divisões, eles se referiam a relações entre indivíduos ou a pequenos grupos dentro da mesma igreja. Hoje temos de considerar grandes e distintas famílias de Igrejas, chamadas confissões ou comunhões, tais como: ortodoxos, romanos, anglicanos, luteranos, reformados, metodistas, batistas, presbiterianos, congregacionais, pentecostais, etc., coisa jamais conhecida ou antecipada no Novo Testamento.

No entanto, de acordo com a Bíblia, a Igreja existe apenas em dois níveis: há uma Igreja universal na terra e no céu, e uma congregação local que é ponto focal da Igreja. Idealmente, fora disto não deveriam existir comunhões ou denominações como nós as conhecemos hoje. Um teólogo recentemente citou as seguintes palavras de Efésios 5.25: “Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela”, e observou: “Cristo não amou os anglicanos, ou os ortodoxos, ou os batistas, ele amou a Igreja”. Assim sendo, nenhuma denominação poderia batizar uma pessoa para si mesma, mas unicamente para a Igreja de Cristo. É preciso fazer distinção clara entre “diversidade” ou “diferença” por um lado, e “divisão” por outro. As divisões entre as Igrejas devem ser deploradas, mas a diversidade e a diferença entre as Igrejas é sinal de saúde e força. Muitos cometem o erro de deplorar as “diferenças” entre as Igrejas, como se tivesse o mesmo significado que divisão.

As diversidades e diferenças existem justamente porque Deus criou todos os homens como indivíduos e não como robôs fabricados em linha de montagem. A própria diversidade da espécie humana torna inevitável que tão grande corpo como é a Igreja tenha de forçosamente refletir esta diversidade de numerosas maneiras. A fé cristã é tão compreensiva que pode abarcar todas as diversidades dadas por Deus, sem alienar a pessoa do seu próprio país ou violentar a unidade da Igreja. Tais diferenças, que representam variações naturais e padrões culturais nas disposições humanas, deveriam simplesmente demonstrar as riquezas da Igreja e o poder de Jesus Cristo em trazer a si, em comunhão, homens de toda a sorte e condições.

Muitas vezes grupos de cristãos se agarram a uma diversidade particular de doutrina, de culto ou de julgamento ético e a transformam em princípio de exclusão. Clamam que qualquer outra pessoa que não possa concordar com eles naquele ponto, não mais podem ter comunhão no seu meio. Em conseqüência disso fazem dessa peculiaridade um ídolo e o adoram. Dizem ao mundo que Cristo realmente deu unidade à Igreja, contudo essa unidade só é encontrada onde há acordo entre si. Julgam-se, portanto, os únicos fiéis e verdadeiros cristãos. Esta é a suposição daqueles que estão convencidos de que só eles, dentre todos e todas as congregações que professam a fé em Jesus, têm e detém a verdade.

Nada provoca tanto a ira em Deus como as divisões. Por quê? Porque a Igreja é o instrumento criado por Deus para estender a salvação operada em Jesus Cristo a todas as gerações em todo o mundo. Divisões impedem e anulam o propósito salvador de Deus.

É dever da Igreja na terra proclamar o Evangelho, mas o Evangelho não é meramente promessa da salvação de pessoas individualmente, mas sim trata da reconciliação dessas pessoas com as outras na comunidade dos fiéis. Pela morte e ressurreição de Jesus Cristo essas pessoas foram reconciliadas umas com as outras. Esta é precisamente a mensagem que os não-cristãos dos nossos dias precisam ouvir e crer: que Deus em Cristo venceu as inimizades e hostilidades entre os homens. Ou seja, a Igreja anuncia a reconciliação em Cristo, mas os não-cristãos, vendo quão pouca evidência há de reconciliação entre os próprios cristãos, ficam confusos, ou divertem-se, dependendo da seriedade ou do ceticismo com que tomam a mensagem cristã.

Dizer que a Igreja deve ser uma e una, de modo que o mundo possa crer, é convocar todos a voltarem à fonte da Igreja que está em Cristo, e quando permitimos ao Cristo vivo realizar o seu trabalho expiatório em nós – rompendo as nossas divisões e unindo-nos uns aos outros – recebemos novo poder para sair e ir ao mundo convidar todos os homens a compartilhar a salvação que é para todos.

João Calvino desenvolveu o que McGrath chama de “definição minimalista da Igreja”. Para ele, “onde quer que nós presenciemos a Palavra de Deus sendo puramente anunciada e ouvida e os sacramentos sendo administrados de acordo com a instituição de Cristo, não devemos duvidar que ali uma igreja de Deus existe” (citado em McGrath, Reader 482). Portanto, para Calvino, os dois únicos elementos fundamentais para caracterizar uma verdadeira expressão da Igreja de Cristo são: a correta pregação da Palavra de Deus e a correta administração dos sacramentos. Tal posição, portanto, implica necessariamente que nenhuma outra questão deveria ser motivo para a quebra de unidade na igreja. Como o próprio Calvino escreveu em suas famosas Institutas:

“Quando a pregação do Evangelho é reverentemente ouvida e os sacramentos não são negligenciados, então em tal ocasião, nenhuma forma falsa ou ambígua de igreja é vista; e a ninguém é permitido ignorar sua autoridade, ou desprezar suas advertências, resistir seus conselhos, ou fazer pouco de suas reprimendas – muito menos se separar dela e causar dano à sua unidade” (citado em McGrath, Reader 483).

Deus de misericórdia, que todos nós cristãos sejamos tocados em nossos corações pela Tua mão para aceitar a riqueza da diversidade que Tu criaste em toda a terra e em particular na Tua igreja. Guarda-nos das divisões presunçosas, personalistas, carnais e deletérias que conspurcam o Corpo de Cristo, como eficientes armas do inimigo para nos afastar de Ti. É no nome santo de Teu filho que oramos e agradecemos. Amém.

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