George Müller
As semelhanças entre a juventude de George Müller e a parábola do Filho Pródigo são notáveis, fato pouco percebido por muitos escritores e comentaristas.
Em 1810 sua família mudou-se da aldeia prussiana de Kroppenstaedt para as redondezas de Heimersleben, a quatro milhas de distância. George e seu irmão não tiveram nenhum tipo de controle familiar, e o seu pai, sendo muito generoso, dava-lhes fartas mesadas e apenas os encorajava a manter anotações de seus gastos.
George Müller adquirira o mau costume de roubar o dinheiro do pai: invariavelmente quando fazia dívidas em nome dele, ao pagar acertava bem menos do que devia, e seu pai por muitas vezes teve de pagar o dinheiro que faltava. Em uma ocasião foi pego em flagrante, mas mesmo assim não se emendava.
George foi matriculado em uma escola clássica em Halberstaedt para se tornar clérigo luterano, mas apesar de ser um aluno brilhante, continuava no caminho dos pecadores e o vício de furtar tornou-se uma compulsão. Certa vez teve um período notável de enganações e mentiras, quando ia de hotel em hotel, muitas vezes em companhia de mulheres, vivendo uma vida de playboy, mas sem dinheiro. Depois de penhorar posses valiosas e deixar o resto de seus pertences como garantia em um hotel, a lei o alcançou e ele foi parar na prisão, porém mesmo na prisão continuava a contar as mais incríveis mentiras para impressionar outros colegas presos.
Depois de um mês na prisão, seu pai pagou a fiança e o livrou, pagou suas dívidas e lhe deu uma surra. Durante algum tempo George Müller procurou agradar o pai, tentando modificar suas atitudes. Não foi longe, contudo, e logo estava novamente cheio de dívidas, e desta vez inventou uma história de que fora roubado e que seus amigos o ajudaram. A última escorregada veio quando ele estudava teologia na Universidade de Halle. Junto com outros três colegas, forjaram papéis e documentos e foram gozar férias de prazer mundano na Suíça. Lá, George Müller conseguiu também enganar seus amigos: ao pagar a conta de todos, cuidou para que sua parte ficasse menor em um terço.
Depois das férias na Suíça, Beta, um velho amigo e colega de classe, falou-lhe de um culto que muitas vezes frequentava, e George exprimiu o desejo de ir. E foi naquela reunião que Deus mudou sua vida para sempre. João 3:16 ensina: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. E Deus agradou-se de ensinar a George Müller algo sobre esta preciosa verdade. A conversão de George Müller, em novembro de 1825, foi dramática e imediata, mudando inteiramente seu modo de viver, objetivos e direção na vida.
Ele foi levado ao culto pelo amigo Beta e na sua entrada foi cumprimentado com um venha sempre que quiser, esta casa e nosso coração estão abertos para você. Estas boas-vindas lhe tocaram muito. O hinos cantados, o estudo bíblico e a leitura do sermão produziram nele uma profunda impressão, e naquela noite sentiu que encontraria “algo” pelo qual estivera procurando por toda a vida.
O amor genuíno, a grande alegria e a humildade profunda nos corações dos membros daquele grupo, tiveram um grande impacto em George Muller, mas é possível que o ponto de conversão tenha ocorrido quando todos se ajoelharam para orar. Ele nunca tinha feito isso antes, e durante o culto inteiro respirou uma atmosfera tão espiritual que sentiu que passava por uma experiência inteiramente nova. Então se converteu e nasceu de novo! Aquele caráter ocioso e preguiçoso já era parte do passado, e de joelhos, estava agora apenas um novo discípulo do Deus Vivo. Tempos depois comentou sobre aquele encontro: “Ali entendi a razão por que o Senhor Jesus morreu na cruz e sofreu a agonia no Jardim do Getsêmane, levando sobre si a punição que era devida a nós, e que não podíamos carregar por nós mesmos. E por isso, compreendendo em parte o amor de Jesus pela minha alma, fui constrangido a amá-lo em troca.”
George Müller continuou seus estudos teológicos na Universidade de Halle, e depois de dois meses da sua conversão à fé cristã, decidiu se tornar missionário. Esta decisão irritou tanto seu pai que este o abandonou retirando todo seu suporte financeiro, levando o filho a depender exclusivamente de Deus.
Sem o sustento do pai, ficou sem um centavo, mas em depois de apresentar o problema para Deus, foi convidado a ensinar alemão para alguns professores americanos visitantes, e por isso ele recebeu muito mais do que na verdade necessitava.
O maior obstáculo que George Müller tinha que ultrapassar naquela época era a obtenção de um passaporte para se matricular em uma escola de treinamento de missões em Londres, porque teria que prestar o serviço militar. Depois de muito orar, continuou o processo de alistamento no exército, e ao fazer os exames médicos, foi dispensado do serviço por questões de saúde.
Então em 1829 seguiu para Londres, para a escola de treinamento em missões, onde iria trabalhar com judeus, mas depois de um breve tempo ficou seriamente doente e quase morreu. Durante sua recuperação em Devon, a vida de George Müller sofreu outra mudança de rumo. Conheceu Henry Craik, um escocês que se tornou seu amigo íntimo, e foi este calmo, devoto e erudito homem que o ensinou a necessidade de crer sinceramente e ser obediente à vontade de Deus. Depois de desistir da escola de missões para assumir compromissos de pregação, aceitou o pastorado de uma Igreja em Teignmouth com um ordenado de 50 libras anuais, certo de que Deus proveria todas as suas necessidades, desde que ele se colocasse inteiramente na Sua dependência. Daquele momento em diante, até a sua morte em 1898, George Müller cresceu em obediência e confiança em Deus sob todos os aspectos.
Com a ajuda de Henry Craik , tornou-se um grande conhecedor das escrituras, e durante este período de aprendizado observou que muitos pregadores falhavam ao comunicar as verdades do evangelho e tendiam a ler sermões escritos, sempre apologéticos, carentes de convicção e inspiração, e quando começou a pregar a Palavra de Deus de uma maneira direta, dinâmica e sem rodeios, foi continuamente encorajado pela resposta de muitos ouvintes e pelo crescente número de conversões, a despeito do fato de muitos reagirem energicamente contra sua abordagem direta.
Em 1830, George Müller casou-se com Mary Groves, que se tornou uma verdadeira auxiliadora e apoio para os anos de desafios que viriam a seguir. Henry Craik já estava em Bristol quando escreveu para seu melhor amigo convidando-o para mudar para lá, e George sentiu que uma chamada de Deus. Assim, em 1932 ele e Mary Müller partiram de Devon para Bristol, onde Deus tinha um plano preparado para seu agora servo fiel.
Chegando a Bristol, George orou pedindo a Deus 1.000 libras e as pessoas certas para dirigir um Lar de Órfãos, e em cinco meses seu pedido foi atendido. Mary, junto com suas amigas, começaram então a mobiliar o primeiro Lar na Rua Wilson para acomodar trinta meninas, e logo depois mais três casas na mesma rua foram preparadas para abrigar mais 130 crianças. Em 1845, quando a demanda aumentou exponencialmente, George percebeu a necessidade de estabelecer um propósito para construir uma casa para acomodar 300 crianças, mas este projeto requeria a soma de 10.000 libras. Uma vez mais as orações de George Müller foram respondidas, os fundos necessários foram providenciados, e então ele comprou um sítio na área rural de Ashley Down, fora dos limites da cidade, bem abaixo do preço inicialmente pedido onde, em 1849, foi inaugurado o Lar para 300 crianças.
Por volta de 1870 havia um total de cinco casas em Ashley Down, valendo 100.000 libras e abrigando mais de 2.000 crianças. Todo o dinheiro e os funcionários vieram como resultado direto de oração, sem que George tenha contraído nenhuma dívida e sem nenhum apelo ou pedido.
Durante mais de sessenta anos de ministério, Müller criou 117 escolas que educaram mais de 120.000 jovens e órfãos, distribuiu 275.000 Bíblias completas em diferentes idiomas, além de grande quantidade de porções menores, sustentou 189 missionários em outros países, e sua equipe de assistentes chegou a contar com 112 pessoas.
Baseado em texto da The George Müller Foundation
Tradução de João Cruzué