Todo homem – à exceção do Filho de Deus – nasce doente, contaminado pelo pecado, como Davi reconhece em Salmos 51.5, confessando: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe”. E, à medida que sua vida transcorre, vai adquirindo novas enfermidades – do corpo, mas, o que é mais grave – também da alma e do espírito, num processo contínuo e particular de cada indivíduo.
Para evitar as doenças do corpo existem as vacinas e os cuidados preventivos que conhecemos: alimentar-se adequadamente, fazer exercícios físicos, abster-se de vícios, dormir bem, realizar exames periódicos de saúde, e assim por diante; para curá-las, médicos, medicamentos, alimentos funcionais e atividades saudáveis em especial junto à natureza.
Para resguardar-se das enfermidades da alma ou psicossomáticas, é recomendado manter o equilíbrio emocional, expressar o que se pensa e sente, ter empatia com os outros e consigo mesmo, viver uma vida ativa com momentos de lazer e socialização, respirar adequadamente, viver o presente com satisfação e alegria, amar a própria vida e ter um propósito existencial, são algumas das atitudes a cultivar. Já para curar este tipo de doença, exige-se a identificação das causas do problema, o acompanhamento psicológico e psiquiátrico e os medicamentos apropriados, além da aquisição de hábitos profiláticos.
Entretanto, no caso das doenças do espírito – origem frequente das enfermidades do corpo e da alma – só em Cristo podemos viver em absolutos amor, paz, equilíbrio, harmonia, alegria, completude, pois só nEle nossa vida adquire sentido e é possível encontrar a única cura verdadeira, permanente, duradoura para todos os males do corpo, da alma e do espírito.
Ninguém consegue curar-se a si mesmo. Somente um poderoso agir externo, vindo do alto, do Criador de todas as coisas por meio de Seu Filho, pode promover a cura pessoal, gradativa e definitiva. E foi o próprio Senhor Jesus que, ao anunciar Seu ministério na sinagoga de Nazaré, cidade onde fora criado, leu a passagem contida no livro do profeta Isaías 61.1, aplicando-a a Si mesmo: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados…”.
E a cura se dá inevitavelmente em meio ao sofrimento causado pelo pecado, e somente para aquelas pessoas que, com humildade, reconhecem seus pecados, arrependem-se e buscam o perdão divino, ou seja, os quebrantados de coração a que se refere a passagem de Isaías.
A eliminação da doença é geralmente um lento processo, porque cada caso tem o seu próprio tempo de evolução – amorosa e cuidadosamente determinado pelo Supremo Médico dos médicos. Assim, gradativamente vão sendo ministrados os tipos e doses dos medicamentos e terapias necessários para a restauração da saúde, principalmente a de ordem espiritual, muitas vezes origem dos males do paciente.
Jesus Cristo é o Deus Filho, detentor de todo o poder para curar, como atestam extensamente as Escrituras, embora saibamos que muitos outros milagres de cura e de outros tipos Ele fez e que não estão registrados, como o Evangelho de João 20.30-31 relata: “Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.”
A metodologia de cura do Senhor é perfeita, completa, e tem como pressuposto básico o alinhamento com Seus propósitos soberanos: Ele cura primeiro o espírito, livrando o coração do pecado e dando libertação; depois pode curar o corpo, livrando da doença física e pode recuperar também a saúde da alma, sarando sentimentos feridos e dores advindas de traumas, culpas e outras causas, podendo restaurar integralmente aquele que crê, se esta for Sua vontade onisciente.
Jesus é o nosso Salvador que veio ao mundo para resgatar todos os que acreditam que Ele é o Filho de Deus que morreu na cruz sacrificando-Se pelos nossos pecados e manifestando-Se para destruir as obras do diabo, tendo ressuscitado para continuar nos curando até os dias de hoje, como o apóstolo em 1 Pedro 2.24 afirma: “… carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados”.
Tal como o corpo humano é sustentado pelo alimento material, nossa vida espiritual é nutrida pelo alimento do espírito, que é o próprio Jesus Cristo; não é a Sua vida, a Sua morte, a Sua Palavra ou a Sua obra isoladamente, mas Ele mesmo, incluindo todas estas coisas, que nos são o alimento essencial, completo e insubstituível. Desta forma, é fundamental que tenhamos o pleno discernimento de que Jesus não pode ser para nós apenas algo exterior, mas sim que deve fazer parte de nós, e que devemos incorporar, impregnar, saturar todo o nosso ser com a Sua vida, para que possamos usufruir da verdadeira vida! Por isso Jesus ensina em João 6.57: “Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá.”
Mas, atenção: existe um princípio universal basilar que estabelece que se buscarmos a cura onde ela efetivamente pode ser encontrada, pela graça de Deus alcançaremos melhora em nossa condição de saúde e, quiçá, a própria cura; no entanto, se não procurarmos a ajuda de que necessitamos, ou procrastinarmos, nossa condição enfermiça inevitavelmente se agravará e até poderá se tornar irreversível.
Além do mais, nem todos são passíveis de cura: há os rebeldes, os que não querem ver, os incrédulos, os ímpios, os egocentrados, os soberbos, os orgulhosos, os envolvidos com práticas demoníacas que são impermeáveis à penetração da Verdade, do bem e da graça divina, e por isso perecem para sempre como consequência das doenças que matam o espírito, apesar de a cura divina ter estado – às vezes pelo tempo de uma vida inteira – à sua disposição. Que lástima, que desperdício!
Em Sua misericórdia, no entanto, até o último instante, até o exalar do último suspiro, o Senhor estará ao lado do enfermo, pronto a mitigar dores e sofrimentos, pronto a dar cura e salvação eterna para aqueles que desejam ser transformados, num grande processo de metanoia, de transformação espiritual que é sempre pessoal e intransferível.
Se formos obedientes à Sua Vontade Soberana, amando-O acima de todas as coisas, amando nosso próximo como a nós mesmos e cumprindo todos os demais mandamentos que nos ordenou, Ele nos promete em Isaías 58.8 que “Então, romperá a tua luz como a alva, a tua cura brotará sem detença, a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será a tua retaguarda…”.
Deus nos criou à Sua imagem e semelhança e, portanto, perfeitos como Ele. No entanto, quando no Jardim de Éden optamos pelo mal, rejeitando a Fonte Sublime de todo o Bem, vimo-nos subitamente devastados por todo tipo de enfermidade e imperfeição imaginável que comprometem nossos corpos, almas e espíritos, produzindo dor e sofrimento por vezes indizíveis, e a morte.
O mundo, como um grande organismo vivo e pulsante, encontra-se no momento extremamente enfermo, mas sua cura pela graça de Deus acontecerá, resultando na necessária transformação física, mental, emocional e espiritual da humanidade. Mas ele nunca mais será o mesmo, porque Deus está agindo poderosamente no sentido de promover a transformação imprescindível para que Seus elevados propósitos se cumpram.
O momento planetário que vivemos espelha, para os que querem ver, este ciclo virtuoso que Deus rege sem cessar em todas as dimensões e escalas do existir humano: doença, cura, transformação. A crise multifacetada que hora atravessamos é a fase de doença; a cura, embora aos nossos olhos pareça tardar, inevitavelmente se sucederá; e a transformação individual das pessoas e da humanidade como um todo, que não podemos sequer cogitar como será, sem dúvida virá no tempo de Deus.
A transformação pessoal visando assemelhar-se mais a Cristo – processo almejado por todo aquele que é verdadeiro cristão – chama-se santificação, e está no centro da vontade de Deus em todos os tempos para todo aquele que crê, como Paulo em 1 Tessalonicenses 4.3,7 explicita: “Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, (…) porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação.”
Esta é a transformação espiritual e moral que ocorre no salvo e que o credencia a ser adorador e servo de Deus, é ressaltada pelo apóstolo Paulo em Filipenses 1.6 como uma promessa do Senhor que se cumprirá fielmente, como tudo o que Ele promete e sempre no Seu tempo perfeito: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus.”
A boa obra de Deus que já se iniciou em nós, que prosseguirá por toda a nossa vida na terra, e que só se concluirá quando estivermos face a face com Cristo, começou por nós quando Ele morreu na cruz em nosso lugar, começou em nós quando entregamos nossa vida a Ele, e agora que o Espírito Santo passou a habitar em nós, estamos a cada novo dia sendo transformados à semelhança de Cristo, até que Ele volte.
No momento de nossa conversão fomos separados para Deus, tornando-nos o que a teologia denomina de posicionalmente santos (1 Coríntios 1.2; 6.11); estamos todos no presente em uma ação continuada de transformação pessoal, por obra do Espírito crescendo mais e mais no que se chama de santificação prática ou progressiva, dia a dia separando-nos paulatinamente de todo tipo de mal, como prova de nossa nova vida interior transformada; por fim, quando formos para o céu, libertos do pecado para sempre, com nossa velha natureza completamente removida, só então nossa santificação será completa ou perfeita, franqueando-nos o direito de ver ao Deus Santo.
É por esta razão que o autor de Hebreus 12.14 nos exorta para a importância fundamental da santificação, como condição indispensável para experimentarmos a própria natureza de Deus: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor…”.