setembro 2023

CORAÇÕES MOLDÁVEIS

“E ninguém põe vinho novo em odres velhos, pois o vinho novo romperá os odres; entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão”. Lucas 5.37 (ARA)

 

 

 

Odres eram recipientes de pele de cabra que se usavam na Palestina, e se estavam velhos, enrijecidos, não se podia colocar neles vinho novo, que ao fermentar produziria gás que os romperia. Por isso, vinho novo exigia odre novo, flexível, que suportaria o aumento de volume sem rebentar. Os fariseus eram como odres velhos, inflexíveis, incapazes de aceitar a Jesus, cujas verdades não poderiam ser contidas em suas tradições e regras humanas. Que neste dia sejamos como odres novos, prontos a internalizar as boas novas de Cristo, que exigem de nós corações moldáveis, submissos e suscetíveis a permanente renovação!

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HUMILDADE

É paradoxal considerarmos que o ser mais humilde que já passou pela terra foi o maior, o mais importante de todos: o Supremo Soberano agindo como servo, o Magnífico Criador vivendo em extrema pobreza, o Poderoso Salvador entregando Sua preciosíssima existência na carne em favor de seres pecadores, maus, corruptos como nós, que nada merecemos a não ser condenação, mas a quem viera trazer vida abundante e eterna!

 

E Sua humildade era tão grande, tão marcante e expressiva que se repete em várias passagens do Evangelho de João, onde Ele, apesar de não empregar explicitamente a palavra humildade, deixa claro o que é ser verdadeiramente humilde, como um exemplo para nós em nossa pequenez arrogante: “… Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai…” (5.19); “Eu nada posso fazer de mim mesmo; (…) porque não procuro a minha própria vontade, e sim a daquele que me enviou”. (5.30); “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou”. (6.38); “… O meu ensino não é meu, e sim daquele que me enviou”. (7.16); “… não vim porque eu, de mim mesmo, o quisesse…” (7.28); “… nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou”. (8.28); “… eu vim de Deus e aqui estou; pois não vim de mim mesmo, mas ele me enviou”. (8.42); “Eu não procuro a minha própria glória…” (8.50); “… Se eu me glorifico a mim mesmo, a minha glória nada é; quem me glorifica é meu Pai…” (8.54); “Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar”. (12.49); “Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros”. (13.14); “… As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo…” (14.10); “… a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou”. (14.24); “… assim procedo para que o mundo saiba que eu amo o Pai e que faço como o Pai me ordenou…” (14.31); “… tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer”. (15.15).

 

O que Jesus estava demonstrando é que Ele não era nada para que Deus fosse tudo, renunciando integralmente, inteiramente, completamente a Si mesmo, à Sua própria vontade, poder e individualidade para que, como humilde cordeirinho, fosse guiado todo o tempo da Sua peregrinação na terra para realizar a obra que Deus Lhe tinha proposto. E assim Ele nos mostra que somente uma vida de total entrega, abnegação, submissão e dependência da vontade do Pai é uma vida de perfeita paz e alegria.

 

Jesus nada perdeu dando tudo e entregando-Se inteiramente nas mãos do Pai, que fez tudo para Ele e O exaltou à Sua mão direita em glória.  E porque Se humilhou dessa maneira diante do Pai, humilhou-Se também diante dos homens, tornando-Se Servo de todos, humildemente permitindo que o Pai fizesse com Ele o que fosse da Sua vontade, sem importar-Se com o que seria dito dEle ou feito com Ele.

 

Jesus sabia que uma vida de absoluta humildade, desprendimento, altruísmo e absolutas submissão e dependência do Pai, era a única vida verdadeira, e esta é uma lição de extraordinária importância para nós também, quando agimos tal como o Filho Amado e descobrimos que entregar tudo a Deus é a fórmula infalível para nada perdermos e tudo ganharmos.

 

E é para nos trazer esta disposição sábia que nos é permitido ser participantes de Cristo, e apesar de tal privilégio, mantermos o nosso ego – que nada de bom tem em si mesmo – como um vaso sem qualquer conteúdo, porém ávido por ser preenchido com muitas bênçãos para serem distribuídas aos que a nós se achegam. Acima de tudo, portanto, é desta forma que poderemos estar em Cristo, nada sendo, nada tendo e nada tentando fazer de nós próprios para que Deus seja tudo, e esta é a raiz e a natureza da verdadeira humildade.

 

É mister, assim, que aprendamos com Jesus a sermos mansos e humildades de coração, e acharemos a nossa força no conhecimento de que é Deus quem opera tudo em todos, e que se nos rendermos a Ele em total dependência, nada sendo e nada fazendo por nós mesmos, conheceremos a vida verdadeira que Cristo veio nos revelar e conceder, que é a vida vivida para Deus, e alcançada pela morte do pecado e do ego e intensamente desejada no coração.

 

O fundamento, pois, de toda virtude, amor, graça, fé e autêntica adoração, reside na plena e humilde consciência de que em nós não há nada de autêntico valor permanente que não nos tenha sido concedido do alto, que eventuais qualidades elevadas de que disponhamos são originadas e mantidas pelo agir do Espírito Santo que habita em nós, e que tudo o que fizermos não é para o nosso egoístico benefício, mas sim para o louvor e a eterna glória de Deus.

 

No início de Seu ministério, Jesus, nas bem-aventuranças que estão no começo do Sermão do Monte, assim afirma em Mateus 5.3,5: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. (…) Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra”. Aparentemente contraditórias pela visão do mundo, estas afirmações de Jesus definem a forma pela qual Deus deseja que vivamos aqui na terra, frontalmente contradizendo o mundo caído que jaz no maligno, cujos valores rasteiros e deletérios veem como loucura dar ao invés de tirar, amar quando odiar é a regra geral, pacificar ao contrário de contender.

 

Em suma, Jesus assegura que todas as bênçãos dos céus e da terra são para os humildes, pois mansidão e humildade é o que Ele exemplifica e oferece, então em Mateus 11.29-30 convida os Seus: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”.  O jugo era uma pesada peça de madeira que tinha a função de manter dois ou mais bois andando na mesma posição e no mesmo ritmo, enquanto puxavam um arado ou uma carroça. O pesado jugo a que Jesus se referia metaforicamente podia significar a carga do pecado, ou a carga das imposições excessivas dos líderes religiosos, ou a tirania dos governantes, ou a fadiga da busca de Deus, ou tudo isso somado. Jesus promete liberar as pessoas destas cargas, prometendo um descanso que é a paz com Deus, e não uma vida isenta de esforço e dedicação, pois Ele transforma um labor exaustivo e vão em produtividade espiritual com um propósito gracioso.

 

Quando iniciou-se uma discussão entre os discípulos relatada em Lucas 9.46-48 sobre qual deles seria o maior, “… Jesus, sabendo o que se lhes passava no coração, tomou uma criança, colocou-a junto a si e lhes disse: Quem receber esta criança em meu nome a mim me recebe; e quem receber a mim recebe aquele que me enviou; porque aquele que entre vós for o menor de todos, esse é que é grande. Que tremenda lição Jesus nos dá, mostrando que a principal glória dos céus, a graça mais relevante é a humildade como de uma criança!

 

Pregando às multidões e aos discípulos e referindo-se ao amor dos fariseus pelas primeiras cadeiras nas sinagogas, Jesus assegurou em Mateus 23.11-12: “Mas o maior dentre vós será vosso servo. Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado”. Seja onde for que estejamos, mas principalmente no templo, na adoração a Deus, tudo o que não for permeado por profunda humildade é sem valor e jamais terá a aprovação divina.

 

Na mesa da Santa Ceia, no Evangelho de Lucas 22.25-27, os discípulos ainda competiam entre si sobre qual deles seria o maior, “Mas Jesus lhes disse: Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve. Pois qual é maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está à mesa? Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve”. O sistema de liderança do mundo é totalmente diferente daquele que rege o Reino de Deus: enquanto os líderes do mundo muitas vezes são arrogantes, egoístas e soberbos, no Reino Eterno a humildade prevalece acima de tudo, por isso entre os cristãos lidera quem serve mais e melhor, aquele que tem um coração de servo, que busca se assemelhar a Jesus em Sua humildade absoluta. E Jesus nos chama para sermos servos uns dos outros, o serviço mais abençoado de todos, aquele que significa a plena libertação do pecado e do ego. O escritor cristão Andrew Murray em seu livro Humildade – A Beleza da Santidade, escreve poeticamente que “Assim como a água busca e preenche o lugar mais baixo, assim também, no momento em que Deus encontra a criatura rebaixada e esvaziada, Sua glória e poder fluem para exaltar e abençoar”.

 

Paulo, em sua segunda carta aos Coríntios, no capítulo 12.1-10, relata a extraordinária experiência transcendental que havia tido, e no versículo 7 mostra que Deus então cuidou amorosamente para evitar que ele não se exaltasse a si mesmo: “E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte”. O sofrimento de Paulo, portanto, era uma bênção concedida na mansidão e na humilhação, e ele então a invés de simplesmente tolerá-lo, gloriava-se nele, em lugar de focar no livramento, passou a ter prazer nele, o que impediria que o orgulho, a presunção e a soberba se apoderassem de sua conduta, afastando-o de Cristo.

 

Contudo, provavelmente todos nós cristãos, na busca por humildade passamos por duas fases, após aceitar a ordenança do Senhor: a primeira é de temor, rejeição e fuga de tudo o que nos possa ser motivo de humilhação, porque sabemos que os ataques, muitas vezes injustos, ferem nossa alma e então instintivamente buscamos formas de nos defender e contra-atacar quem nos agrediu porque ainda não nos libertamos do domínio do ego. Desta forma, demonstramos que humilhar-nos ainda não se tornou uma expressão automática de uma vida e de uma natureza que devem ser eminentemente humildes, e ainda não temos a suficiente compaixão por nosso agressor e prazer na humilhação, tal como Paulo manifesta em 2 Coríntios 12.9-10, confessando o que Deus lhe falou: “Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte”.

 

Mas, será possível alcançarmos tal estágio de autodomínio, de negação do próprio eu, de tolerância e misericórdia por quem nos ofende? Somente a poderosa presença de Jesus e o agir irresistível do Espírito Santo em nós, poderá expulsar todo o desejo e a reação automática, instintiva, de reação, e buscar em nós mesmos a atitude mansa de aceitação, de perdão e de deleite como resposta que Deus aprova, e que é a nossa maior bênção.

 

Portanto, a mais preciosa lição que um cristão deve aprender para se assemelhar mais a Cristo é a humildade.  Ele pode ser altamente consagrado, fervorosamente zeloso, grande conhecedor da Palavra e ainda assim exaltar-se inconscientemente por causa de sua natureza arrogante. É como a escritora norte-americana Mignon McLaughlin, certa vez afirmou: “A pessoa orgulhosa pode aprender a ser humilde, mas terá orgulho da sua humildade”.

 

Através de problemas, sofrimento e fraqueza Deus nos exercita para sermos humildes, para que aprendamos que a Sua prodigiosa graça é fundamental para nós, e que por isso devemos ter profundo júbilo em tudo o que nos humilha e que nos mantém humildes. Então o Seu poder se aperfeiçoará em nossa fraqueza, e Sua augusta presença preencherá e saciará completamente a nossa sede dEle, o Único que pode plenificar totalmente o nosso vazio da alma, que então será inundada de alegria. Jesus Se humilhou e por isso Deus O exaltou e ele nos humilhará e nos manterá humildes porque esse é o segredo do verdadeiro regozijo que nada nem ninguém pode macular.

 

Ó Senhor, dá-me humildade para reconhecer a minha tão grande desprezível pequenez! E que permitas que eu diminua mais e mais para que Jesus cresça mais e mais em mim, tornando-se tudo para mim! Que na vida eu sempre aja buscando exaltar-Te acima de todas as coisas, jamais sendo orgulhoso, soberbo ou arrogante, e por mais que as circunstâncias possam levar os outros a tecer elogios sobre mim, que eu esteja sempre ciente de que tudo vem de Ti, e tudo é feito para Ti, exclusivamente para o Teu louvor, glória e honra hoje e sempre, por toda a eternidade. Porque Paulo ensina em 1Coríntios 1.28-2 que “Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus”. Assim oro contrito e agradecido em o nome santo e precioso de Jesus, que está sobremaneira exaltado acima de todo nome. Amém.

 

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OLHOS CRISTÃOS

“Pedro, porém, lhe disse: Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!”. Atos 3.6 (ARA)

 

 

 

 

Alguém afirmou que o amor a Deus e o amor ao homem devem sempre andar de mãos dadas. Foi por amor a Deus e ao homem que esse milagre foi realizado por Jesus através de Pedro, da mesma forma como muitos outros prodígios foram produzidos pelos apóstolos naquela época. Por que deixaram de acontecer? Alguns ponderam que na fase inicial de difusão do cristianismo pelo mundo eles eram essenciais para chancelar a veracidade e o poder da mensagem cristã. Mas será que milagres não acontecem mais? Se tivermos olhos cristãos para enxergar, hoje mesmo os veremos ocorrer em quantidade à nossa volta!

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