CICATRIZES DA ALMA
Os embates da vida muitas vezes ferem a nossa alma e a deixam marcada por cicatrizes, muitas vezes difíceis de desaparecer. Todos nós somos portadores delas porque, da mesma maneira como somos todos pecadores e todo pecado deixa em nossa alma marcas por vezes indeléveis, não há como o homem deixar de tê-las, cada uma com as suas características próprias, pois não há ninguém que tenha passado pela vida sem ter experimentado decepções, tristezas e dores de diferentes tipos, dimensões e durações.
As cicatrizes do corpo são mais facilmente visíveis e identificáveis, especialmente quando localizadas nas regiões normalmente mais expostas; as da alma, contudo, muitas vezes mantêm-se ocultas, secretas, disfarçadas, só sendo claramente percebidas quando determinadas circunstâncias fazem-nas emergir, revelar-se a partir dos escaninhos sombrios do nosso ser interior, ao ultrapassar as camadas protetoras, ocultadoras, que as mascaravam, e então chegam à superfície do nosso ser manifestando muitas vezes toda a sua feiura, pois tal como as cicatrizes da carne, as da alma nunca podem ser consideradas belas, agradáveis e prazerosas de se ver.
Entretanto, há cura para elas, mas somente a ação poderosa do Espírito Santo pode sarar as feridas da alma, produzindo a restauração do nosso homem interior, da sua mente, emoções e más lembranças, num processo em que, através da oração a Deus Pai, em nome de Jesus, somos libertos de sentimentos de mágoa, rejeição, raiva, depressão, medo, culpa, tristeza, complexo de inferioridade, entre outros. Ou seja, precisamos da cura interior que só pode ser alcançada pela renovação da nossa mente, produzindo a cura de feridas emocionais, como Paulo exorta em Romanos 12.2: “… mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
O Senhor deseja que sejamos aquela pessoa que Ele concebeu quando nos criou, mas para isso é preciso que admitamos precisar de cura, rompendo o domínio do diabo sobre nós, para superarmos toda e qualquer rejeição, culpa, complexo, medo e outros tantos sentimentos deletérios que por vezes cultivamos por anos a fio. Mas isso só pode ser alcançado por meio de fervorosa e contínua oração rogando a Deus que nos torne sãos ao limpar a nossa mente de todo o lixo acumulado, para que sigamos pela vida leves e soltos, como Hebreus 12.1-2 nos estimula: “… desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus…”.
Sim, somente o Médico dos Médicos pode realizar a metanoia, a mudança total de mente de que tanto carecemos. E só em Jesus poderemos encontrar o pleno restabelecimento da nossa saúde espiritual, como Ele realizou tantas vezes, como no caso relatado pela Bíblia em Mateus 8.2-3: “E eis que um leproso, tendo-se aproximado, adorou-o, dizendo: Senhor, se quiseres, podes purificar-me. E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra”.
Aquele leproso teve uma atitude que possibilitou a sua cura: rogou a Jesus para recuperar a saúde, pois ninguém consegue sarar se não desejar profundamente, como alguns fazem. Por isso, ao invés de nos sentirmos ressentidos, apartados de Deus por causa da enfermidade, é fundamental para a cura que O busquemos contritos, com fé, como Jesus em Marcos 11.24 ensina: “… tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco”.
Somos seres relacionais, mas muitas vezes, quando nos encontramos enfermos, especialmente de doenças da mente e do espírito, queremos nos afastar de tudo e de todos, e é nestas circunstâncias que precisamos analisar nossas relações conosco mesmos, com as outras pessoas e, principalmente, com Deus. Será que estamos nos valorizando, amando-nos e amando o nosso próximo com a nós mesmos? Será que estamos com o coração cheio de mágoa e rancor para com os outros, nos isolando e rejeitando-os, mergulhados em profunda e magoada solidão? E a nossa relação com Deus, como está? Estamos ressentidos com Ele porque as coisas não acontecem como queremos e quando queremos, ou nos sucedem coisas que não desejamos, e então manifestamos uma atitude infantil, imatura e rancorosa? Cuidado: quanto mais afastados do Senhor, mais enfermos ficaremos. Urge, portanto, que nos voltemos contritos a Ele, prostrados aos Seus pés reconhecendo-O como o Senhor das nossas vidas, Aquele que nos deu a existência e que tem cuidado de nós antes mesmo de nascermos, e que continuará cuidando de nós quando com Ele estivermos na eternidade, peçamos perdão por nossos pecados e supliquemos pela cura da nossa alma.
Jeremias em Lamentações 3.1-26, num dos momentos mais sombrios da sua vida, chorando lamentoso pela completa destruição de Jerusalém, teve sua esperança renascida e fortalecida com esta certeza: Deus tinha sempre sido fiel e continuaria sendo, eternamente. O profeta tinha testemunhado tanto o julgamento divino quanto o Seu amor inquebrantável: no tempo do julgamento Sua misericórdia o havia sustentado, no tempo da manifestação do Seu amor infinito, o usara para profetizar sobre o Seu juízo infalível.
Então o profeta se queixa amargamente, numa longa e detalhada lamentação nos versos de 1-20: “Eu sou o homem que viu a aflição pela vara do furor de Deus. Ele me levou e me fez andar em trevas e não na luz. Deveras ele volveu contra mim a mão, de contínuo, todo o dia. Fez envelhecer a minha carne e a minha pele, despedaçou os meus ossos. Edificou contra mim e me cercou de veneno e de dor. Fez-me habitar em lugares tenebrosos, como os que estão mortos para sempre. Cercou-me de um muro, e já não posso sair; agravou-me com grilhões de bronze. Ainda quando clamo e grito, ele não admite a minha oração. Fechou os meus caminhos com pedras lavradas, fez tortuosas as minhas veredas. Fez-se-me como urso à espreita, um leão de emboscada. Desviou os meus caminhos e me fez em pedaços; deixou-me assolado. Entesou o seu arco e me pôs como alvo à flecha. Fez que me entrassem no coração as flechas da sua aljava. Fui feito objeto de escárnio para todo o meu povo e a sua canção, todo o dia. Fartou-me de amarguras, saciou-me de absinto. Fez-me quebrar com pedrinhas de areia os meus dentes, cobriu-me de cinza. Afastou a paz de minha alma; esqueci-me do bem. Então, disse eu: já pereceu a minha glória, como também a minha esperança no SENHOR. Lembra-te da minha aflição e do meu pranto, do absinto e do veneno. Minha alma, continuamente, os recorda e se abate dentro de mim”.
Mas, pela graça divina, ele se recompõe e recobra o ânimo, nos versos 21-26 recordando as bênçãos com que havia sido cumulado anteriormente em sua vida de serviço a Deus, agora expressando um tom confiante ao voltar-se para o passado pleno das graças do alto que lhe davam a certeza de que o Senhor é eternamente fiel e que não o desampararia, curando todas as cicatrizes da sua alma: Quero trazer à memória o que me pode dar esperança. As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade. A minha porção é o SENHOR, diz a minha alma; portanto, esperarei nele. Bom é o SENHOR para os que esperam por ele, para a alma que o busca. Bom é aguardar a salvação do SENHOR, e isso, em silêncio”.
Pai Amado e Bendito de amor, graça e bênçãos sem fim, não permita que as almas dos que são Teus, que entregaram suas vidas as Ti e são por isso totalmente dependentes de Ti, que Te amam acima de todas as coisas, continuem cobertas de cicatrizes provocadas pela dor, pelo desânimo, pelo mal que persiste atacando-os dia e noite, sem cessar, sem tréguas. Manifesta, Pai, poderosamente, o Teu amor invencível em suas vidas, para que eles cada vez mais sejam servos Teus fieis e bons. Que as Tuas infinitas misericórdias inundem suas vidas a cada novo dia, para a Tua honra e glória eterna. É no nome santo e precioso de Jesus que oramos profundamente agradecidos. Amém.
27 de julho de 2024
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