janeiro 2024

REFLEXÕES SOBRE O MAL (1)

Certa vez o pregador e autor cristão Samuel Logan Brengle foi covardemente atacado por um indivíduo que agrediu-o na cabeça com um tijolo. Durante o longo período de convalescência, Brengle escreveu muitos artigos inspiradores que mais tarde compuseram um livro sob o título Auxílios Para a Santidade, que se tornou um grande sucesso, levando a esposa do pregador a dizer: “Se não houvesse o tijolo, não teria havido o livro!” E no tijolo que havia guardado, ela escreveu as palavras de José em Gênesis 50.20 para os irmãos que o haviam vendido como escravo: Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida”.

 

Muitas vezes aquilo que nos parece ser a pior coisa que poderia ter nos acontecido, mais tarde revela-se ser o início de uma grande vitória. Achamos que tudo deu errado, que o Senhor não nos abençoou e, pouco tempo depois, constatamos que a bênção foi muito maior do que aquilo que esperávamos. Deus, em Sua sabedoria, misericórdia e graça infinitas nos reserva sempre o melhor, e para nos abençoar grandemente às vezes é capaz de nos dizer não. Ele sabe que poderemos ficar tristes e abatidos com uma resposta negativa Sua, mas sabe também que nos alegraremos muito mais quando a grande bênção por Ele preparada for derramada sobre nós. Por isso, quando nos sentirmos perdidos em trevas, penando em solidão por nossos males, a esperança quase findando, tenhamos a certeza de que a alegria ainda voltará, pois se estamos com Cristo, até o mal se revelará um bem!

 

A perplexidade do homem quanto à questão do mal no mundo tem perpassado os tempos, e a Palavra de Deus registra que cerca do ano 1.000 a.C., em Juízes 6.13,  Gideão queixava-se ao Anjo do Senhor: “… Ai, senhor meu! Se o Senhor é conosco, por que nos sobreveio tudo isto?…”, e quase quatrocentos anos depois, ao redor de 600 a.C., em Habacuque 1.13 o profeta perguntava: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar; por que, pois, toleras os que procedem perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que ele?. Mas será que frente a esse estarrecimento geral há alguma resposta elucidativa convincente?

 

O Dr. Gordon H. Clark, considerado um dos maiores filósofos cristãos do século vinte, afirmou que, “… enquanto diversas outras doutrinas se desintegraram neste ponto, o sistema conhecido como calvinismo e expresso pela Confissão de Fé de Westminster oferece uma resposta satisfatória e completamente lógica”. O calvinismo estabelece que Deus exerce soberania plena sobre todos os domínios da existência, incluindo o espiritual, o físico e o intelectual, quer seja secular ou sagrado, público ou privado, no céu ou na terra, e que qualquer ocorrência é o resultado do plano de Deus, que é o Criador, o preservador e o governador de todas as coisas, sem exceção, como causa última de tudo. Por isso, a resposta a esta questão não poderia se encontrar em outro lugar que não na Palavra de Deus, a base da fé cristã.

 

Os propósitos de Deus não são determinados por nada ou por ninguém além dEle próprio, como Calvino escreveu: “Pois a vontade de Deus é de tal modo a regra máxima de retidão que aquilo que Ele deseja, pelo simples fato de que Ele o deseja, deve ser considerado correto. Quando, portanto, alguém quer saber a razão da vontade de Deus, está procurando uma coisa maior e mais elevada que a vontade de Deus, algo que não pode ser encontrado”.

 

A Bíblia não deixa dúvidas de que o homem é o único responsável pelo seu próprio pecado: no Salmo 51, na oração de arrependimento de Davi, ele assume de forma sincera a culpa por suas ações pecaminosas, e nos Salmos 25, 32, 38, 39, 40, 59, 103 e 109, trata com frequência sobre a questão do pecado, assim como Asafe nos Salmos 78 e 79, os filhos de Coré no Salmo 85, Moisés no Salmo 90, e Paulo em Romanos 5.12 faz a síntese decisiva: “… assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”. Mas Jesus veio para perdoar os pecados dos homens, como o apóstolo afirma de forma conclusiva em Colossenses 1.13-14 dizendo que “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados”.

 

Deus, pela Sua soberania, determina a ocorrência de todas as coisas, mas o homem nunca está indiferente na sua vontade de fazer algo. Todo homem tem capacidade de pensar e de escolher – na verdade não pode fazer mais que escolher – sem o que não poderia empreender qualquer ação, mas a teologia cristã nega a ele a liberdade de ser indiferente. Os decretos eternos de Deus determinam as suas escolhas, e não apenas Adão antes da Queda, como também o homem como decorrência, estão submetidos a elas, com a diferença de que o homem caído perdeu a capacidade de escolher somente aquilo que Deus deseja que escolha – condição que só pode ser restaurada pela regeneração – optando por fazer o que ele mesmo quer, que inevitavelmente é o mal.

 

Entretanto, embora Deus seja a causa soberana e primeira de todas as coisas, muitas delas acabam distorcidas, conspurcadas, como consequência das ações livres do próprio homem, por isso Paulo em Romanos 3.10-12 sustenta que “… como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer”. E complementa esclarecendo em 8.7-8: “Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus”.

 

A Confissão de Fé de Westminster, no capítulo III.1 e no capítulo V.2,4 atesta de forma definitiva: “Desde toda eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou, livre e inalteravelmente, tudo quanto acontece; porém, de modo que nem Deus é o autor do pecado , nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias antes estabelecidas. Posto que, em relação à presciência e ao decreto de Deus, que é a causa primária, todas as coisas acontecem imutável e infalivelmente, contudo, pela mesma providência, Deus ordena que elas sucedam, necessária, livre ou contingentemente, conforme a natureza das coisas secundárias. A onipotência, a sabedoria inescrutável e a infinita bondade de Deus, de tal maneira se manifestam na sua providência, que esta se estende até a primeira queda e a todos os outros pecados dos anjos e dos homens, e isto não por uma mera permissão, mas por uma permissão tal que, para os seus próprios e santo desígnios, sábia e poderosamente os limita, regula e governa em uma múltipla dispensação; mas essa permissão é tal, que a pecaminosidade dessas transgressões procede tão somente da criatura e não de Deus, que, sendo santíssimo e justíssimo, não pode ser o autor do pecado nem pode aprová-lo”.

 

Portanto, Deus, que é absoluta e totalmente santo, perfeito em bondade, que movido por Seu amor inexcedível, cria, sustenta e governa tudo o que existe, decreta que o mal aconteça como meio para atingir Seus propósitos santos e perfeitos em bondade, como Ele próprio declara em Isaías 45.7: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.” Não há dúvida, assim, de que o mal e o pecado existem porque o Senhor os decretou e providencialmente faz acontecer, como parte de seu plano eterno, para a Sua própria glória e para a glória do Seu povo, que somos nós os crentes.

 

Pai Eterno, tal como Jesus, oramos não para que Tu nos tires do mundo, mas sim para que guarde-nos do mal. Embora saibamos que o mal permeia todos os espaços, todas as áreas, todos os caminhos do mundo, e nenhum ser humano está imune a ele, confiamos em Ti que qualquer mal que nos acometa estará sob Teu soberano controle e tem um propósito abençoado a abençoador em nossas vidas. No nome poderoso de Teu filho Amado oramos confiantes e agradecidos. Amém.

 

(Continua)

 

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MARAVILHOSA CERTEZA

Deus (…) não está longe de cada um de nós; pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos (…): Porque dele também somos geração”. Atos 17.27-28 (ARA)

 

 

 

 

Como é maravilhoso hoje acordarmos com a certeza de que, não importa onde estejamos, nem as nossas circunstâncias, o Senhor sempre estará perto de nós! Nossa dependência de Sua providência é total, necessária e constante, muito maior do que do próprio ar que respiramos! A permanência de nossa frágil vida está sob o Seu poder e cuidado paternal, e por Sua ação amorosa nos movimentamos em nossas atividades, nossos pensamentos se articulam e os sentimentos fluem! É pela Sua graça que Ele nos trouxe à existência, por isso todos os dias devemos consagrá-la a Ele, o Deus Pai que no amor de Cristo nos gerou!

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SERVOS

“Porém muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros”. Mateus 19.30 (ARA)

 

 

 

 

O que nos move a sermos cristãos? Jesus adverte que haverá surpresas no juízo final, porque Deus conhece o âmago do nosso coração. Consideremos hoje que, em princípio, tudo o que fizermos pela obra e para a causa de Cristo, o Senhor promete que será objeto de galardão na vida futura, mas é imperioso que não nos deixemos guiar por motivos egoísticos, nem esqueçamos de considerar que não é a partida, e sim a chegada que coroa a carreira do verdadeiro cristão. E não deixemos de levar em conta a instrução essencial que Ele nos dá em Mateus 20.27: “… quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo…”!

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