Rumo à Glorificação
O grupo de cristãos estudava o livro do profeta Malaquias quando, no capítulo 3, verso 3, deparou com uma frase enigmática: “Assentar-se-á como derretedor e purificador de prata;…” O que estaria sendo profetizado naquele trecho? Depois de alguns palpites pouco convincentes, um dos membros do grupo lembrou que tinha um amigo refinador de metais que talvez pudesse ajudar a trazer alguma luz à questão. No dia seguinte procurou-o em sua oficina, e o refinador começou a tentar explicar, mas decidiu que seria mais esclarecedor se mostrasse como acontecia o processo na prática. Chamou-o então ao outro lado da oficina, acendeu o fogo, pegou um martelo e começou a esmagar um pedaço de rocha, transformando-o em uma massa informe. A seguir colocou tudo em um cadinho, que cuidadosamente levou ao fogo. De imediato sentou-se, sem desviar a atenção do fogo, explicando que a observação permanente era essencial, que a prata era muito valiosa e poderia perder-se devido a alguma distração sua. Vagarosamente o minério foi amolecendo, e a prata – que primeiro se funde por ter menor temperatura de fusão – surgiu chiando e borbulhando ao liberar o oxigênio nela contido. Lentamente as impurezas incrustadas soltavam-se e subiam à superfície, ficando bem à vista do refinador, que lançava-as fora imediatamente, uma após a outra. Esse processo de limpeza se repetiu muitas vezes, até que um líquido prateado emergiu, com tal consistência e pureza que o refinador podia ver nele refletida sua própria imagem. Então, depois deste longo, doloroso e paciente processo, levantou os olhos para dizer ao outro que finalmente a prata estava refinada. Agora, o que antes era feio e grosseiro, tornou-se belo e precioso, mas teve que passar por duras provas e tremendas provações, dando concretude à exclamação do salmista no Salmo 66.10: “Pois tu, ó Deus, nos provaste; tu nos refinaste como se refina a prata”. Então o rapaz compreendeu que o profeta dizia que Deus, para nos purificar, para nos santificar, estabelece um processo de limpeza de toda a sujeira, de toda a escória acumulada, com uma habilidade celestial só Sua, e sabe como ninguém extrair toda a impureza que pode toldar o nosso brilho pessoal, para que possamos um dia refletir em nós a Sua divina imagem.
A salvação do crente passa pela regeneração e pela justificação, continua com a santificação, e é cumprida plenamente na glorificação: todos os que foram regenerados e justificados estão sendo santificados; todos os que estão sendo santificados serão no final glorificados. E embora possamos distinguir entre regeneração, justificação, santificação e glorificação, não devemos separá-las, pois a pessoa que experimenta verdadeiramente uma, experimentará todas as outras.
Enquanto que a regeneração é uma ressurreição espiritual, o começo de uma nova vida, a santificação é o crescimento deste novo homem; a primeira é um evento único e instantâneo, a segunda, de acordo com o teólogo Augustus Strong em sua Teologia Sistemática, “é a operação contínua do Espírito Santo, pela qual a santa disposição concedida na regeneração mantém-se e se fortalece.” Da regeneração decorre a justificação e a santificação, e ao final, com a volta de Cristo, a glorificação, como Paulo revela em Romanos 8.17: “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofrermos, para que também com ele sejamos glorificados”. A justificação é a declaração de Deus de que a nova criatura, criada segundo a natureza divina, é justa. Deus declara justo aquele que ressurgiu com Cristo dentre os mortos, porque o velho homem que recebeu a proposta de salvação não poderia ter sido declarado justo. A santificação refere-se à nova natureza recebida na regeneração, quando o homem sepultado com Cristo se reveste das condições pertinentes a Ele, como Paulo declara em Gálatas 3.27. Segundo o Breve Catecismo de Westminster na pergunta 35, “santificação é a obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem de Deus, e habilitados a morrer cada vez mais para o pecado e a viver para a retidão.”
Santificação é a obra da maravilhosa graça de Deus, pela qual a pessoa é renovada em todo o seu ser segundo a imagem de Deus. Significa a cada dia morrer para o pecado e viver segundo o coração do Pai, num processo de transformação que faz com que o cristão – pelo poder do Espírito Santo – vá se tornando na semelhança do Senhor Jesus, não meramente na aparência, mas na realidade de todo o seu ser. Trata-se de um processo progressivo, que nunca poderá ser completado nesta vida, pois só será cumprido de maneira plena na glorificação. Santificar-se, para o cristão, é um requisito básico, pois como o autor de Hebreus 12.14 ensina, “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”.
E de acordo com o apóstolo Paulo em Efésios 1.4-13, para ser participante da natureza divina, para ser regenerado, justificado, santificado e para um dia ser finalmente glorificado, o cristão foi abençoado com a predestinação, por força da qual aquele que crê em Cristo não possui outro destino que não seja o de ser feito Filho de Deus.
Diferentemente da regeneração, obra exclusiva de Deus, na santificação há muito esforço humano, possibilitado pelo enchimento do Espírito. Por um lado, “porque é Deus quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”, nas palavras de Paulo em Filipenses 2.13; por outro, somos ordenados pelo mesmo Paulo em 1 Timóteo 4.7: “…Exercita-te, pessoalmente, na piedade”. Deus usa os meios da graça para nos santificar, sendo os principais deles as disciplinas espirituais, tanto pessoais quanto corporativas. Entre as pessoais, estão incluídas o estudo da Palavra de Deus, a leitura dos devocionais, a oração, a adoração privada, o jejum, o silêncio, as vigílias, a manutenção de um diário espiritual, a separação de um dia da semana para estar a sós com Deus, a visitação a bairros pobres, a hospitais e asilos, a leitura de bons livros cristãos, o sacrifício de algo de que gostamos. A estas, somamos as disciplinas espirituais que praticamos junto aos irmãos na fé: a adoração pública, o ouvir da Palavra de Deus pregada, a observância das ordenanças divinas, a oração coletiva, a comunhão, o estudo bíblico conjunto, o louvor. E durante todo o tempo, nossa confiança e foco devem estar em Deus, e não em nós mesmos, como Paulo expressa confiantemente em Filipenses 1.6: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus”, e em Romanos 8.18: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não são para se comparar com a glória por vir a ser revelada em nós.”
Senhor Deus e Pai glorioso, que a regeneração que Tu promoveste em nós, transformando-nos um dia em árvores boas, possa prosseguir com a nossa santificação produzindo bons frutos enquanto estivermos na carne, e seja coroada com a nossa glorificação na segunda vinda de Cristo. É no nome precioso d’Ele que oramos. Amém.
Marcia maria de almeida
6 de agosto de 2012 at 16:29Este é um execelente estudo sobre o processo que todo Cristão precisa passar para chegarmos na Gloriosa presença de DEUS.Que muitos possam ter a maravilhosa oportunidade desta leitura e no poder do Espirito de Deus abrir seus corações e desejar Jesus em suas vidas, pois sem Jesus não há VIDA realmente.Glória a Deus! amém.
Nanny & Winston
6 de agosto de 2012 at 16:57Prezada Márcia,
Agradecemos por seu comentário e por suas palavras que demonstram que você é uma verdadeira cristã. Esperamos que continue a nos dar a satisfação de sua participação no blog, dando a sua contribuição que por certo será preciosa não só para nós, como também para todos os leitores.
Que Deus a abençoe prodigamente.