CULTO RACIONAL (1)

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CULTO RACIONAL (1)

C.S. Lewis, o grande apologista da fé cristã, teólogo, poeta e escritor britânico, antes de sua conversão dizia que costumava perguntar a si mesmo: “Que Deus vaidoso é esse que exige sempre que seus súditos o adorem?” Após tornar-se cristão, Lewis descobriu que não é Deus quem precisa ser adorado. Adorado ou não, Ele continua sendo o mesmo Deus. Nós é que precisamos adorá-Lo. Somos nós que temos essa necessidade e esse dever interior de prestar culto e de reconhecer o amor e o cuidado do Criador de tudo dando sentido à vida e à história.

 

É sob este aspecto que o apóstolo Paulo, em Romanos 12.1-2, ensina-nos sobre a verdadeira adoração a Deus, e o que precisamos mudar em nós mesmos para oferecê-la da forma que Ele deseja: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”

 

Paulo nos diz para usarmos nosso corpo – nas tarefas cotidianas em casa, no escritório, na fábrica, na loja, na escola, na igreja, no cinema, no teatro, no parque, circulando de um lugar para outro – oferecendo-o em uma atitude permanente e contínua de adoração a Deus. Nosso corpo é o templo do Espírito Santo, o instrumento através do qual Ele opera, e pertence a Deus, assim como a nossa mente e o nosso espírito, e devemos servir a Ele com todo o nosso ser, como Jesus o fez. Somos como uma catedral concebida na mente do Divino Arquiteto para que o espírito do homem ali O adore.

 

Desta forma, o culto verdadeiro, racional, significa a oferta a Deus do nosso corpo e de tudo o que fazemos diariamente com ele; não é ofertando preces bem elaboradas e altissonantes, nem uma liturgia pomposa e formalmente perfeita, que estaremos cultuando a Deus da forma que O agrada. Adorar em espírito e em verdade é oferecer a Deus a nossa vida de cada dia, dia após dia, e não pode se limitar às paredes da igreja, mas deve estender-se ao mundo inteiro, visto como realmente deve ser: o templo do Deus vivo, onde cada uma de nossas atitudes deve ser um ato de adoração a Ele.

 

Culto racional, no original grego é a palavra latreia e é o substantivo para o verbo latreuein. Originalmente, a palavra latreuein significava trabalhar por um salário ou pagamento. Chegou a significar servir; mas também aquilo a que homem dedica a totalidade de sua vida. Na Bíblia nunca significa serviço humano, mas sempre serviço e culto a Deus.

 

Mas para prestarmos este culto racional, é preciso haver uma mudança radical na nossa mente, no nosso caráter, na essência de nosso ser, produzida pelo Espírito Santo. Isto implica em não aceitarmos que o mundo nos dite como devemos agir e ser, tentando amoldar-nos a ele com todos os seus descaminhos, enganos, ilusões, vícios e depravações. É preciso deixarmos de ter uma vida centrada em nós mesmos, passando a viver uma vida cristocêntrica pela renovação da nossa mente. Nós nascemos de novo, e então o centro do nosso ser é outro, o poder impulsionador de nossa vida é outro, nossa mente é outra, porque Cristo se transformou no polo irradiador da verdadeira vida em nós. Só então poderemos oferecer a Deus um culto verdadeiro, representado pela oferta de cada momento, de cada circunstância, de cada ação de nossa vida para a Sua honra e glória.

 

Karl Barth, teólogo suíço, definiu em poucas palavras o culto cristão como sendo o ato mais importante, mais relevante, mais glorioso na vida do homem, dizendo: “O culto constitui a ação mais momentosa, mais urgente e mais gloriosa que pode acontecer na vida humana.” O renomado pregador e professor William Temple, por sua vez afirmou: “Cultuar é avivar a consciência pela santidade de Deus, alimentar a mente com a verdade de Deus, purificar a imaginação pela beleza de Deus, abrir o coração ao amor de Deus, devotar a vontade aos propósitos de Deus”. John Piper, um dos mais influentes pregadores calvinistas e autores do século XXI, em um de seus livros, chamado Que as nações sejam alegres, escreve sobre a adoração: “Fazer missões não é o objetivo final da igreja. Missões existem porque não há adoração. Deus é o objetivo último da nossa missão e não o homem. Quando este tempo acabar e os intocáveis bilhões de redimidos prostrarem-se sobre seus rostos para adorar o Rei da Glória, não haverá mais missões. Realizar missões decorre de uma necessidade temporária, mas adorar é um mister para toda a eternidade.” O dr. Erwin W. Lutzer, professor, autor e pastor sênior da Igreja Moody de Chicago, Illinois, disse: “O lugar santíssimo é o corpo de cada cristão. A adoração pode ocorrer em qualquer lugar; estamos sempre na presença de Deus, e Ele está sempre aberto para nossa adoração”.

 

Jesus disse à mulher samaritana em João 4.24: “Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”. Mas o que significa adorar em espírito e em verdade? É fazê-lo em harmonia com o Espírito, pois só assim é possível adorá-Lo verdadeiramente. Assim sendo, o culto em espírito e em verdade não é aquele que é prestado de forma meramente ritualística, mecânica, protocolar, em que a boca fala de coisas que não brotam de um coração cheio de amor, temor e tremor pelo Altíssimo, – como deveria invariavelmente acontecer.

 

Devemos refletir com profundo cuidado a respeito de nossa vida com Cristo: estamos verdadeiramente, de segunda-feira a sábado, dispostos a adorar a Deus com as nossas atitudes, palavras e pensamentos, onde quer que estejamos, fazendo o que quer que façamos? Se a resposta for positiva, então estaremos prontos para adorar no domingo, do contrário nossa adoração no santuário será sem nenhuma expressão e valor perante o Senhor!

 

Continua…

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