O CRISTÃO E A CRISE NACIONAL (1)

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O CRISTÃO E A CRISE NACIONAL (1)

Crise nacional é um evento aflitivo e fora de controle que traz consigo uma situação perigosa de instabilidade ao afetar indivíduos, grupos, comunidades, ou toda a sociedade de um país, configurando-se geralmente por mudanças negativas, mormente nas questões morais, éticas, de segurança, econômicas, políticas, sociais e ambientais, sobretudo quando ocorrem de forma abrupta e imprevista. E é inegável que isto é o que acontece com o Brasil há muito tempo.

 

Mas a principal e mais perversa crise que existe transcende o plano das coisas terreais, e é o que se pode chamar de crise espiritual. Ela é a geradora de todas as demais, sendo caracterizada pelo mundanismo irresponsável e desonesto com que o interesse público tem sido tratado, pensado, dito e feito, o que, para a consternação e a indignação das pessoas de bem, é veiculado pela mídia, sem cessar, a cada dia com novas descobertas de vergonhosas falcatruas bilionárias perpetradas por líderes políticos que formam verdadeiras quadrilhas de malfeitores que planejaram cuidadosamente assumir o poder para beneficio próprio à custa das necessidades da população a quem deviam servir.

 

Os desmandos são marcados pela autossuficiência nas decisões, pela arrogância dos poderosos, pelo egocentrismo nas atitudes das autoridades, pela a luta de vale tudo por poder, dinheiro e status e, o que é mais grave, pela rejeição completa a Deus. E embora Seu nome possa até estar sendo por vezes levianamente tomado em vão pela boca de certos políticos, buscando com isto cooptar eleitores – isto apenas caracteriza o uso oportunista e meramente profano do nome santo do Senhor. Então fica nítido que a crise não está no exterior, isto é, nas entidades governamentais, nas ONGs, nos partidos políticos, na mídia, no sistema financeiro, nas bolsas de valores, nas agências de classificação de risco, nas empresas privadas, no sistema de ensino ou nas igrejas, ou no que seja, mas sim no interior de muitas pessoas que exercem poder, perdidas nas trevas da ignorância da verdade que está em Cristo Jesus.

 

É sobre esse tipo de pessoas que se refere Asafe no Salmo 82.5 afirmando que “Eles nada sabem, nem entendem; vagueiam em trevas…”. Assim como ocorria nos tempos do salmista, hoje também por certo o Senhor lamenta a falta de entendimento das autoridades, homens que da verdade nada conhecem, que nada entendem, deste modo vivendo mergulhados na escuridão do mal, e adicionalmente, como a lei e a ordem desapareceram e há profunda ausência de justiça e de sabedoria, pois os próprios fundamentos da sociedade encontram-se enfraquecidos, corrompidos, seriamente comprometidos.

 

Mas atentemos para o fato de que o caráter da crise pode assumir contornos maléficos ou benéficos, dependendo da forma como for gerida: se as medidas tomadas forem corretas, tiverem motivações sérias, elevadas e nobres que visem realmente o bem comum por meio de providências equilibradas e equilibradoras, competentes e sábias, extraídas das lições que toda crise encerra, ela pode ter um tempo de duração encurtado e se transformar em oportunidade de crescimento e maturação; no entanto, caso seja administrada com inaptidão, oportunismo, incúria e má fé, visando na prática continuar beneficiando apenas os poderes dominantes ou grupos de influência, sua solução será inevitavelmente mais demorada, além de mais sofrida por toda a sociedade, em especial por suas camadas mais fragilizadas, mais necessitadas, produzindo um custo social, econômico, político e moral seguramente muito mais alto.

 

Alguém já disse que o ponto final do ônibus da decadência, incompetência e desgoverno é sempre uma crise. Desta forma é sábio aprender com ela, pois quem sai de uma crise com a mesma percepção e atitude que tinha quando navegava nela, inevitavelmente vai embarcar em outra pior, e que, inevitavelmente, será uma repetição da anterior. Como escreveu o filósofo espanhol George Santayana, “Aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”.

 

Fundado em 2003, o Instituto Brasileiro de Ética  Concorrencial (ETCO), é uma organização da sociedade civil de interesse público que promove a integridade no ambiente de negócios, e publicou tempos atrás no jornal O Estado de São Paulo oportuno artigo sob o título Crise Moral publicado, onde denunciava: “As notícias sucedem-se dia a dia. É ministro que cai após acusações de corrupção em sua pasta. É deputado que acusa os colegas de venderem emendas. É detento que consegue regalias na prisão por meio de facilidades concedidas por algum carcereiro. É obra concluída com base em documentos de autorização forjados. É estabelecimento comercial que consegue alvará por meio de propina. A esta altura os cidadãos brasileiros se perguntam como pode um país se desenvolver com base na tão disseminada cultura das transgressões. Isso mesmo, cultura das transgressões – expressão que, no nosso entender, designa de forma clara o conjunto de ideias e atitudes que não respeitam a ética, pondo o interesse pessoal acima do interesse coletivo e das leis. Se queremos mudar essa cultura, precisamos todos entender que o único caminho para chegarmos a um Brasil desenvolvido econômica e socialmente é o do respeito às leis, (…) precisamos exigir de nossos governantes que ajam sempre dentro dos padrões éticos. Afinal, a corrupção instalada na base da sociedade é mais fácil de ser combatida do que a corrupção que permeia esferas elevadas de poder. (…) E é isso que estamos fazendo agora: exigimos que os governantes brasileiros se imbuam de seu dever maior como cidadãos e deem o exemplo de boa conduta a toda a população. Há tempo dizemos que a crise no Brasil não é econômica. É social, não há dúvida. Mas, mais do que tudo, é uma crise moralChegamos a um ponto em que empresários comentam que as regras do jogo são essas mesmo e que sem “molhar a mão” de quem concede licenças e autorizações nada se consegue. Na medida em que a iniciativa privada acaba por se mancomunar com as autoridades de várias instâncias, fica difícil desatar o nó da corrupção. (…) não só políticos e administradores em geral, como fiscais e gestores do que deveria ser a coisa pública, têm sido alvo de denúncias de corrupção. As discussões chegaram ao Poder Judiciário, que, por definição, deveria estar acima e à distância de qualquer suspeita de irregularidade ou malversação. (…) A corrupção não deve ser tolerada em nenhum nível. Se ela chega a dimensões tão escancaradas quanto hoje no país, é impossível calar. É impossível aceitar esse fingir que as leis são cumpridas, pois isso envenena as entranhas da sociedade e provoca, lentamente, sua destruição”.

 

Continua…

 

 

 

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