CONVIVENDO COMO ELEITOS

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CONVIVENDO COMO ELEITOS

O que significa ser um eleito de Deus? É ser predestinado para a salvação, de antemão separado por Ele, é fazer parte daquela fração da humanidade escolhida para compor na eternidade a família de Deus, o que só pode acontecer pela vontade e ação divina, como Jesus ensina em João 6.44: “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia”.

 

E de que maneira Deus elege aqueles que serão salvos? A Confissão de Fé de Westminster afirma que uns são predestinados à salvação, enquanto outros são preordenados para a perdição, citando várias passagens das Escrituras: “Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna” (Atos 13.48); “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Romanos 8.29-30); As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar” (João 10.27-29).

 

Não somos salvos porque merecemos, mas sim pela graça de Deus, e não podemos influir na Sua decisão para que nos salve, porque tudo se faz segundo o Seu propósito soberano e imutável, porque “… nos escolheu nele [em Cristo] antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele…”, é a maneira como o apóstolo Paulo em sua carta aos Efésios 1.4 se refere a nós, Seus eleitos para constituirmos a família de Deus e para O honrarmos e glorificarmos em espírito e em verdade.  E o apóstolo Pedro, em 2 Pedro 1.5-7 também nos exorta que … reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor.

 

Estamos porventura correspondendo a esta bênção extraordinária da eleição em Cristo, a esta graça imensurável que recebemos? Como estamos convivendo com nossos irmãos, notadamente os da família da fé? Será que os amamos efetivamente – uma vez que a família de Deus é composta daqueles que são tão nossos próximos quanto se poderia esperar – ou a murmuração, a rejeição e a crítica estão tomando conta de nossos relacionamentos? Cuidamos mais das exterioridades, dos comportamentos, do que é visível, que dos aspectos da alma, focando apenas nossos próprios umbigos, cegos para as ordenanças de Deus? Participamos de alguma “panela” que exclui irmãos? Manifestamos desrespeito e desconsideração pelas pessoas que, na nossa avaliação, não são “dignas” de pertencer ao nosso tão seleto “círculo de amizades”?

 

Muitas vezes compromissos de ordem social, comercial ou profissional nos exigem meses de planejamento. Mas Jesus, em Marcos 13.33 nos alerta para uma planificação muito mais importante, crucial, e que deve ser cotidiana: Estai de sobreaviso, vigiai e orai; porque não sabeis quando será o tempo. E se Cristo voltasse amanhã? Será que estaríamos tranqüilos e seguros quanto à aprovação pelo Senhor da nossa conduta com relação a nossos irmãos? Poderíamos receber o juízo de Deus certos de que temos convivido com eles da maneira que Ele espera de Seus eleitos? Não nos iludamos. Em 1 Pedro 4.17, o apóstolo alerta: Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada;…”, pois até mesmo os crentes serão julgados para a purificação da igreja. E é oportuno relembrarmos também Gálatas 5.19-21 para que nos mantenhamos alertas: “Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam.

 

O verdadeiro cristão não pode ser deferente para com aqueles que detêm o poder, ou cargos, ou bens materiais, e indiferente com relação aos demais que sejam desprovidos de tais privilégios. A fraternidade que Deus espera de nós, Sua família, deve se manifestar sempre como amor equânime de uns para com os outros em Cristo, com respeito, consideração, cuidado, cortesia, atenção, delicadeza, boa educação, gentileza, carinho e afeição entre todos, indistintamente, sem discriminação de qualquer espécie, numa perfeita comunhão e mutualidade.

 

E isto deve partir em especial das lideranças que, por sua posição, concentram maior parcela de responsabilidade na construção do sadio ambiente cristão em que o Senhor espera que convivamos, como eleitos que somos. O líder cristão precisa ser modelo de relacionamento e agente agregador de seus liderados, luz que ilumina os caminhos que são de todos, sal que dá sabor aos desafios enfrentados em conjunto. O corpo não pode subsistir saudável, equilibrado e harmônico se a mão maltrata os olhos, a língua fala mal dos ouvidos, a boca detesta o nariz e o pé desfere agressões contra a perna. Se isto vale para o corpo humano, que dirá para o Corpo de Cristo, não sujeito ao controle centralizado de um cérebro, que faz valer automaticamente o instinto de autopreservação.

 

Como na historinha do sapo e do escorpião, que precisavam atravessar aquele córrego, e para isso tinham de ser solidários apesar da diferença de suas naturezas pessoais, assim nós precisamos ser igualmente solidários uns com os outros – malgrado nossa natureza pecaminosa – para conseguirmos bem atravessar o rio por vezes turbulento da vida terrena. Não podemos viver em rivalidades inúteis e fúteis – seguindo o mau exemplo dado em muitos campos de atividade – permanentemente nos espicaçando, criticando uns aos outros, murmurando, procurando rebaixar o nosso próximo em toda e qualquer oportunidade. Precisamos constantemente lembrar que somos irmãos em Cristo, e nossa vitória não é, definitivamente, de um contra o outro, mas de todos juntos contra o mal e as trevas que nos envolvem e ameaçam. E não para gloriarmo-nos a nós próprios, mas sim para que fraternalmente irmanados tudo façamos para honra e glória de nosso Pai celeste, como Paulo exorta em Colossenses 3.12-14: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição.”

 

O que são e como se caracterizam estas vestes com as quais devemos nos revestir, segundo o apóstolo Paulo?

A primeira delas é a da misericórdia, que é, literalmente, o amor de Deus em nós, fluindo para alcançar os nossos semelhantes. Jamais desprezaremos um ser humano se o amarmos como Deus o ama.

Em seguida vem a veste da bondade, que é o amor em ação. Nunca conseguiremos ser hostis, desagradáveis ou ásperos com alguém se o amarmos.

Em sequência temos a veste da humildade, pois um dos piores pecados da carne é o orgulho. Hoje, muitas pessoas são presunçosas, egocentradas e arrogantes. Mas quando verdadeiramente estamos em Cristo, nos tornamos humildes de espírito, pois o Espírito de Cristo nos quebranta. É como Paulo afirma em Romanos 12.3: Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Portanto, “amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros.”

A próxima veste celestial é a mansidão. Se os outros são vaidosos, presunçosos e orgulhosos, envolvendo-se em conversas caluniosas, odiosas, gerando intrigas e maledicências, nós que levamos o nome de Cristo precisamos nos lembrar da Sua exemplar mansidão, que foi uma das qualidades mais notáveis do Senhor Jesus. A mansidão é um dos instrumentos mais poderosos de que dispomos para levar Cristo a todos aqueles que não O conhecem.

A seguir, temos que nos revestir com a veste da paciência. Talvez não haja graça que precise ser mais cultivada entre os filhos de Deus do que esta. Devemos ser pacientes na tribulação, na perseguição, nas aflições, pacientes com pessoas de relacionamento difícil. A instrução santa aqui dada por Paulo em Efésios 4.2, e associada à paciência, é que devemos “suportar-nos uns aos outros“.

A próxima veste que precisamos usar é o espírito de perdão. Assim como Cristo nos perdoa, devemos também perdoar, e devemos fazê-lo por amor a Ele, revestindo-nos de amor igualmente para como o nosso próximo. Neste sentido Paulo reitera na carta aos Romanos 13.9-10: “… Amarás o teu próximo como a ti mesmo. O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor”.

 

O amor é a resposta a todos os problemas de relacionamento com os nossos semelhantes, e especialmente com nossos irmãos em Cristo. Revestidos do amor de Cristo, todos os nossos preconceitos desaparecerão; toda a nossa raiva, malícia, má vontade e ciúmes cessarão, quando o amor de Deus tomar conta de nossos corações, como lemos em 1 Coríntios 13.13: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três: porém o maior destes é o amor.” E podemos justapor estas palavras preciosas do apóstolo Paulo a outras suas, escritas em Colossenses 3.15,16: Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos. Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração.”

 

Senhor, nosso Deus e Pai, dá-nos a unção do teu Santo Espírito para que a nossa convivência como eleitos seja aquela que agrade ao Teu coração; ajuda-nos a nos revestir com todas as vestes de justiça, especialmente com o amor de Cristo – que é verdadeiramente o cumprimento da Tua lei – e com a gratidão a Ti – que nos perdoas infinitas vezes, e não somente setenta vezes sete. Em nome de Jesus oramos contritos e agradecidos. Amém.

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