Ser Feliz – O Método Perfeito

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Ser Feliz – O Método Perfeito

Baseado em fatos reais, o filme À Procura da Felicidade conta história de um pai de família, vendedor fracassado de aparelhos médicos que tem de lutar duramente pela sobrevivência e sustento de sua família. Após muita dificuldade, consegue uma vaga de estagiário em uma importante corretora de ações, sem qualquer remuneração, acreditando que será futuramente contratado. Abandonado pela esposa, é obrigado a tomar conta do filho de apenas cinco anos de idade, e por falta de pagamento é despejado do apartamento em que vivia, passando a dormir em estações de metrô, albergues e banheiros públicos.

 

Apesar de tudo isto, não desiste de sua esperança de melhores dias, o que acontece no final do filme, quando consegue vencer na vida, tornando-se o afortunado proprietário de sua própria corretora. Desta forma, o “feliz” epílogo do filme, com o herói alcançando o que desejava exclusivamente por seu trabalho denodado, é uma ilusão que leva as pessoas a cometerem o equívoco de julgar que as conquistas essenciais da vida limitam-se à obtenção – unicamente por esforço pessoal – dos bens materiais perecíveis, transitórios e fugazes, em frontal contradição com tudo aquilo que Jesus ensina em Lucas 16.13: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”.

 

Muitas vezes o ser humano age como este pai de família: procura a felicidade onde pensa ou deseja que esteja, naquilo que está mais próximo e acessível, no mundo, e não onde efetivamente está, nas coisas do alto, em Cristo Jesus. Só Ele era verdadeira e plenamente feliz, e só Ele em nós pode nos tornar igualmente felizes. E muitos cientistas, sociólogos e psicólogos têm se rendido a esta evidência, que cada vez mais transcende os limites da religião.

 

Por exemplo, segundo o dr. James R. Hine, diretor da Fundação McKinley da prestigiosa Universidade de Illinois, EUA, existem cinco coisas essenciais para se alcançar a felicidade: a saúde do corpo e da mente, a certeza de amar e de ser amado, a maturidade emocional, propósitos elevados para a vida, e a fé inabalável de que nossos melhores esforços são auxiliados e dirigidos por um poder que está acima e além de nós próprios, ou seja, por Deus Todo-Poderoso, que detém o controle de tudo.

 

Em Sua missão na terra, Jesus concedeu saúde física, mental, emocional e espiritual, derramou o amor de Deus sobre os que criam nEle, exortou os homens para que buscassem ideais elevados, abençoou aqueles que tinham fé, e deixou para nós um testamento inigualável: a Sua Palavra. O Reino de Deus que Ele veio trazer, predito já no Antigo Testamento, foi assim inaugurado pelo Messias como um novo estágio do programa redentor de Deus, trazendo graça, mas também juízo, como João Batista havia profetizado.

 

Jesus Cristo, no âmago do maravilhoso Sermão do Monte, na passagem contida em Mateus 5.3-12, que trata das assim chamadas bem-aventuranças, apresenta a proposta da vida no Reino, e faz uma revelação detalhada da justiça de Deus, instruindo todos nós que fazemos parte da Sua família a respeito do caminho da existência justa que devemos viver.

 

Makarios, no original grego, recebe traduções várias em diversas versões da Bíblia, sem que o sentido básico que Jesus quis dar ao termo se perca: bem-aventurados, abençoados, felizes, mais que felizes, afortunados. No entanto, seja qual for a tradução em português, é de suma importância compreendermos que a felicidade a que Jesus se refere não é a felicidade humana passageira, um estado emocional proveniente apenas de estímulos que, quando ausentes, a fazem desvanecer. Também não se refere a um sentimento nosso, mas sim àquilo que Deus pensa. A condição social e/ou econômica e o poder temporal não têm significado no Reino de Deus, mas sim a obediência fiel do coração, e não apenas a religiosidade ou a observância legalista.

 

A verdadeira felicidade é fundamentada no Senhor, na obediência e prática da Sua Palavra e na fé, que permitem a ação do Espírito Santo em nós, e isto produz a felicidade verdadeira e duradoura, capaz de resistir até às circunstâncias mais difíceis. É este estado que caracteriza as pessoas muito ditosas, benditas, venturosas, que recebem a aprovação de Deus por suas atitudes, como é descrito no Salmo 1: “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido. Os ímpios não são assim; são, porém, como a palha que o vento dispersa. Por isso, os perversos não prevalecerão no juízo, nem os pecadores, na congregação dos justos. Pois o SENHOR conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá”.

 

E apesar de que todos – crentes e gentios – buscam a felicidade, só a alcançarão aqueles que a procuram nas coisas de Deus, como podemos constatar nas palavras do Mestre no assim chamado Sermão do Monte: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós”.

 

Esta pregação de Jesus – em particular a passagem das bem-aventuranças – é uma conclamação para que os crentes sejam diferentes dos pagãos, dos incréus, revelando atitudes coerentes com o caráter cristão que deseja que tenhamos e manifestemos perante o mundo, não somente em ocasiões especiais, como aos domingos, porém no nosso cotidiano.

 

O Reino que Ele veio proclamar é na verdade uma espécie de “contracultura”, embasada em conceitos, valores e princípios que contrariam e contrastam com aqueles que são aceitos, entendidos e praticados pelo mundo. Jesus ensina, por meio das bem-aventuranças, sobre simplicidade, consolação, mansidão, justiça, misericórdia, pureza, paz e a recompensa por cultivarmos estas qualidades, exortando-nos e desafiando-nos a segui-Lo alegres e felizes, apesar de nossa “leve e momentânea tribulação”.

 

Jesus nos assegura que é possível ser feliz no mundo, malgrado o próprio mundo no qual estamos temporariamente inseridos, e não obstante nós mesmos, pecadores contumazes que somos. O teólogo Dennis Allan diz que “é da maior urgência que olhemos frequente e cuidadosamente para o sermão do Filho de Deus que, talvez, mais do que qualquer outro, define a própria essência do reino do céu. Aqui, se ouvirmos humildemente, nossas vidas poderão ser transformadas, nossos espíritos revigorados e nossas almas salvas.”

 

Na época do ministério terreno de Jesus, as multidões o seguiam principalmente em busca dos benefícios pessoais que esperavam auferir, e mais de 2.000 anos depois, ainda hoje muitos cristãos nominais agem da mesma forma. Até mesmo os discípulos deixaram-se por instantes seduzir pelo mal, tendendo a sentir-se importantes, a buscar prestígio pessoal e popularidade, por isso em alguns episódios mostraram-se orgulhosos e possessivos. Mas o Mestre alertou-os para não esperarem fama e fortuna material, mas sim provações, fome e perseguição, advertindo-os sobre as tentações que enfrentariam ao segui-Lo. Contudo asseverou-lhes que aqueles que o estivessem com Ele em espírito e em verdade receberiam o reconhecimento divino, embora possivelmente não nesta existência. Este alerta se aplica também a nós que, caso façamos ouvidos moucos às palavras do Salvador, estaremos valorizando e promovendo apenas e tão somente nossos próprios interesses pessoais, e não os do Reino, e então na mesma medida colheremos a paga que nos é devida.

 

As bem-aventuranças são bênçãos que tratam do caráter perfeito que deve ter o cidadão do Reino, das suas qualidades espirituais, e não das preocupações humanas quanto ao acúmulo de riquezas materiais, à busca de posições sociais e à valoração da sabedoria secular, pois o Seu Reino não é deste mundo, não possui fronteiras físicas, está dentro de nós, como Jesus afirma em Lucas 17.21.

 

O respeitado comentarista bíblico William Barclay afirma: “As bem-aventuranças, com efeito, dizem: ‘Que felicidade é ser cristão! Que alegria seguir a Cristo! Que alegria conhecer a Jesus como Mestre, Salvador e Senhor!’ A forma mesma das bem-aventuranças nos indica que são exclamações de gozosa surpresa e radiante felicidade pela realidade da vida cristã. Em face das bem-aventuranças se faz impossível toda interpretação do cristianismo como uma religião triste e carente de entusiasmo contente.”

 

Mas para compreendermos as bem-aventuranças, precisamos considerar acima de tudo que: representam um código de ética e norma de conduta para todos nós crentes; estabelecem um vívido contraste entre os valores eternos do Reino de Deus e os passageiros do mundo; marcam claramente a contraposição entre o legalismo, o farisaísmo, e a vida de fé legítima e verdadeira que Jesus pregou; são uma revelação de que as promessas do Antigo Testamento estavam se cumprindo com a vinda do Filho de Deus; cada uma delas é parte de um conjunto indivisível que compõe o método perfeito para ser feliz que Jesus ensinou, portanto não podem ser objeto de escolha ou de seleção, porque só o todo vivido dia após dia caracteriza um verdadeiro discípulo de  Cristo. Cabe, portanto, questionarmos a nós mesmos: estarão nossas atitudes refletindo apenas o materialismo, o orgulho, o egocentrismo, a busca por poder e fama que o mundo cultua, ou estamos realmente cultivando os valores do Reino de Deus para o qual fomos chamados?

 

 

Continua a seguir, com o próximo artigo: Ser Feliz – A Humildade de Espírito 

 

 

 

 

 

 

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