Ser Feliz – Promovendo a Paz

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Ser Feliz – Promovendo a Paz

A poluição atmosférica há muito vem preocupando cientistas, governantes e as populações mais informadas em todo o mundo, afetando em especial, no entanto, as comunidades mais fragilizadas. Esta forma de deterioração dá-se pela contaminação do ar que respiramos, através da ação de vários elementos, como gases, partículas sólidas, líquidos em suspensão e material biológico, causando prejuízos à saúde humana e aos ecossistemas, de forma cada vez mais crítica.

 

Mas há um outro tipo de poluição – tão ou mais grave – que acomete toda a humanidade e que, apesar disso, pouca ou nenhuma atenção merece de autoridades e pessoas comuns: é a poluição espiritual – que por meio do ódio, da inveja, da competição desenfreada, da discriminação, do consumismo exacerbado, do desamor, do egocentrismo, infecta poderosamente o “clima” em que vivem pessoas, comunidades, nações – e é consequência da falta de Deus e da permanente desobediência à Sua Palavra, gerando por isso os muitos e permanentes conflitos humanos existentes por todo o globo, com as mais variadas dimensões e efeitos destrutivos.

 

É nestas circunstâncias deletérias – que transgridem os princípios de paz com que Deus criou o mundo – que nós, como cristãos, devemos assumir o papel de pacificadores, obedecendo ao que a Palavra nos insta, se desejamos ser verdadeira e permanentemente felizes, buscando realizar em pequena escala o que o próprio Deus produz em magnífica proporção universal.

 

Jesus afirma categoricamente em Mateus 5.9, que um dos requisitos para ser feliz e receber a bênção inaudita de ser denominado Filho de Deus, é trabalhar pela paz, é ser agente da união entre os homens, e entre estes e Ele mesmo, ao proclamar que “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”.

 

Trata-se, sem dúvida, de um grande desafio, porque diz respeito não apenas à atitude pessoal de desejar e fazer a paz, mas implica em que outros também sejam levados a aceitá-la, e assumam igualmente um espírito de mansidão e uma conduta conciliadora. Muitas vezes alguém ama a paz, porém assume uma postura omissa, preferindo não fazer nada, temendo se envolver e até agravar o conflito, sem perceber que evitando o enfrentamento da conjuntura com decisão, pode estar permitindo o acúmulo de tensões que mais adiante poderão explodir de forma incontrolável.

 

Quando Jesus proferiu esta bem-aventurança, não estava referindo-se apenas àquelas pessoas que, mediadoras por temperamento, propósito e prática, costumam buscar – sempre que se veem envolvidas em uma contenda – uma solução negociada para situações conflituosas, aparentemente atendendo ao que Paulo ensinou em Romanos 12.18: “… se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens…”.

 

Jesus não estava sugerindo uma fuga do centro da questão causadora da discórdia, ao contrário, fez uma exortação para que a paz seja perseguida com perseverança, como o apóstolo nos estimula em 1 Pedro 3.11: “… busque a paz e empenhe-se por alcançá-la. Para isso é necessário o emprego de uma ação firme e decidida visando o enfrentamento do mal para atingir o objetivo, embora isso possa significar lutar árdua e persistentemente.

 

A missão do verdadeiro pacificador também vai além da escala humana – horizontal – e estende-se a uma dimensão muito mais elevada – vertical – ao procurar trazer o homem a um estado de paz com o próprio Jesus Cristo, que declarou de forma a nos tranquilizar, em João 14.27: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”.

 

É útil considerar também que o sentido original da palavra paz – no hebraico shalom – não é simplesmente o de ausência de conflito, mas traduz a existência de tudo o que contribui para o bem-estar supremo do ser humano, por isso quando duas pessoas no Oriente se encontram, desejam-se mutuamente shalom, isto é, tudo o que é bom e desejável uma à outra.

 

A maioria dos primeiros teólogos da Igreja considerava que o sentido desta bem-aventurança era o de que feliz é aquele que implanta a paz em seu próprio coração e alma, conquistando a concórdia interior ao cessar todas as lutas internas e entregar todo o seu coração a Deus; alguns sugeriram que pacificador é aquele que procura incessantemente, de todas as formas, fazer com que o mundo seja um lugar melhor para se viver; outros, no entanto, acreditam que o que Jesus tinha em mente era a criação de relações justas entre os homens, o que a reconhecidos estudiosos do Novo Testamento como William Barclay, tem parecido mais plausível.

 

Estas relações justas são estabelecidas por aqueles pacificadores em cuja presença as dissensões não prosperam, as pontes são construídas sobre os abismos, a luz dissolve as trevas e a doçura do mel extingue o amargor do fel. Estas pessoas fazem a vontade de Deus ao expressar em suas atitudes pessoais o fruto do Espírito, como Paulo lista em Gálatas 5.22-23: “… amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio…”. Desta forma, feliz é aquele que contribui para que se estabeleçam relações justas, sadias e fraternais entre os homens e entre eles e Deus, porque seu agir reflete a vontade do Senhor e coopera para a Sua Obra.

 

Mas o autêntico pacificador que Jesus deseja que todos sejamos, precisa, acima de tudo, estar em paz com Deus, reconciliado com o Pai e por Ele justificado, podendo então usufruir da verdadeira, absoluta e incomparável paz, como Paulo pontua em Romanos 5.1, dizendo que “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo…”, pois só assim estaremos por fim gozando da alvissareira  promessa de Filipenses 4.7: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus”.

 

Quando a paz de Cristo impera em nossos corações, a graça neles instilada transborda e produz misericórdia, bondade, humildade, mansidão, longanimidade, perdão e amor a todos os que nos cercam, concretizando o que o apóstolo propõe sabiamente em Colossenses 3.12-15: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos”.

 

A maneira como Deus usa os pacificadores para Seus propósitos é extraordinária: o famoso romancista Leon Tolstoi, tentou ser um pacificador, mas foi impedido por seu temperamento colérico, irritadiço, porém escreveu belamente sobre o Sermão do Monte, e seu livro meio século mais tarde influenciou decisivamente ao Mahatma Gandhi, levando-o a viver e lutar pelos princípios proclamados por Jesus.

 

Anos depois um pastor chamado Martin Luther King Jr. tomou conhecimento do que Gandhi havia feito na Índia, libertando por métodos pacíficos o país da dominação inglesa, então estudou suas estratégias de não violência e aplicou-as nos Estados Unidos, desta forma produzindo uma revolução na questão dos direitos humanos naquele país. E apesar de todos os ataques verbais, morais e físicos que ele e seus correligionários receberam por anos, jamais deixou de ser fiel aos princípios da paz, nunca revidando, falando sempre de amor, quando à sua volta muitos clamavam por vingança.

 

Martin Luther King Jr., tal como Gandhi, foi covardemente assassinado, mas suas atitudes pacificadoras influenciaram pessoas pelo mundo todo: nas Filipinas, o povo ajoelhado em oração nas ruas fez parar tanques e soldados armados, como seu houvesse um muro intransponível invisível aos olhos, e assim derrubou um governo corrupto e ditatorial; no ano de 1989, na União Soviética, Hungria, Polônia, Iugoslávia, Bulgária, Romênia, Tchecoslováquia, Albânia, Mongólia, Alemanha Oriental, Nepal e Chile, países oprimidos por regimes totalitários injustos e impopulares, as populações destronaram seus opressores por meio de ações não violentas, desfilando pelas ruas pacificamente orando, cantando hinos de louvor a Deus e portando velas, demonstrando cabal e irrefutavelmente o poder da Palavra de Deus.

 

Que o Senhor nos permita servi-Lo como arautos da Sua paz, que nos capacite a sermos fiéis à Sua Palavra, seja qual for circunstância, instância ou situação de conflito, transformando-nos assim em Seus instrumentos de paz no mundo, e então preparando-nos para o glorioso dia antevisto por Isaías 65.25, quando “O lobo e o cordeiro pastarão juntos, e o leão comerá palha como o boi; pó será a comida da serpente. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o SENHOR”.

 

 

Continua a seguir, com o último estudo da série: Ser Feliz – Sofrendo por Cristo

 

 

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