A Missão que Surgiu na Madrugada

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A Missão que Surgiu na Madrugada

“Um dos maiores milagres de Deus é permitir que pessoas comuns façam coisas incomuns.” Essa frase do escritor norte-americano H. Jackson Brown traduz nossa certeza de que o Rev. Wildo Gomes dos Anjos é uma dessas pessoas. E que a Missão Vida, fundada por ele há mais de 28 anos, é um desses grandes milagres.  Como um farol que aponta aos navegantes o caminho da orla, essa instituição tem sido um referencial para muitos perdidos, sem esperança e sem chão. Muito mais do que um lugar de recuperação, representa casa, afeto e família àqueles que, invisíveis e abandonados, não têm credibilidade de mais ninguém.

Vocacionado desde cedo

Nas palavras do próprio Rev. Wildo: Meu segundo emprego foi aos 13 anos, em uma firma de torrefação de café. Todas as manhãs, indo para o trabalho, eu passava por um mesmo caminho, onde um grande grupo de pessoas vivia sob as marquises de algumas indústrias. Eram homens, mulheres e crianças que passavam seus dias e noites nas ruas, sobrevivendo das esmolas que recebiam ou de pequenos delitos. A situação daquelas pessoas tocava o meu coração e eu me perguntava por que eles viviam daquela maneira, por que não tinham um lar, por que não eram felizes. A cena era deprimente: o lugar cheirava mal, as pessoas eram sujas, maltrapilhas e, muitas vezes estavam completamente bêbadas. No entanto, apesar de não gostar do que via e da existência de outros caminhos, eu sempre passava por ali. Uma certa manhã, resolvi parar e conversar com eles. Nem todos mostravam-se interessados em conversar com um garoto. Mas um deles, o Sr. João, dispôs-se a me ouvir e responder às minhas perguntas. Ele nunca me disse seu sobrenome, mas contou-me sua história. Era alcoólatra, abandonara a família e fora viver debaixo da marquise; já haviam se passado vários anos que saíra de casa. Na manhã seguinte, levei pão e leite. E assim por vários meses. Levava também alguns remédios, roupas usadas e cobertores. Todos os dias fazia questão de passar alguns minutos conversando com ele, perguntando seu passado, tentando reanimá-lo diante de tanto sofrimento. Um dia quando chamei e não obtive resposta, percebi que estava rígido, inerte: ele estava morto. Tinha morrido durante a noite, sem que ninguém o socorresse. O convívio e a morte do Sr. João fizeram com que a vida daquelas pessoas me incomodasse de uma maneira ainda mais forte. Era Deus falando ao meu coração a partir daquela experiência.”

Influências recebidas do lar

“Meu pai, espírita praticante, minha mãe, católica fervorosa, viviam dentro de um sincretismo religioso. Através do contato com uma missionária inglesa, minha família foi ganha para o Senhor. Doravante nossa casa, apesar de muito simples, esteve de portas abertas para acolher e ajudar aqueles que necessitassem de auxílio.  Para minha mãe, socorrer alguém era tão importante quanto suprir as necessidades de sua própria família. Parava suas tarefas domésticas para preparar um prato de comida para um faminto ou confeccionar um vestido para uma viúva pobre.  Missionários eram recebidos em nossa casa como filhos. Roupas, comida, hospedagem e até mesmo compra de livros, tudo que fosse possível, mamãe providenciava.  Aprendi que é preciso olhar os necessitados e sermos generosos, colocarmo-nos à disposição para ajudar, abrirmos não só a casa, mas o coração para ser bênção na vida das pessoas A verdade é que Deus estava me preparando para uma missão especial.”

Conversão aos 17 anos

Apesar de freqüentar a Igreja com seus pais dominicalmente, Wildo só teve um encontro pessoal com Jesus  aos 17 anos. Sentindo-se atraído pelas farras noturnas, envolveu-se em brigas e más companhias. Vivia em crise. Decidiu que não voltaria mais à igreja, pois ali não encontrava as respostas para suas perguntas e nada preenchia o vazio que sentia.  Convidado para um acampamento, pensando na parte esportiva e nas belas jovens que lá estariam, aceitou. Só participou do último culto, no 4º dia do acampamento. Em suas palavras: “Fiquei decepcionado quando vi que o pastor era um senhor de cabelos grisalhos. À medida em que discorria sobre as pessoas que viviam no mundo à procura de emoções e prazeres e jamais encontravam satisfação, comecei a me identificar, e Deus começou a quebrantar meu coração. Era como se alguém tivesse contado toda a minha vida. Lembro de ter dito: ‘Deus, se o Senhor é tudo isso que esse homem disse, se és verdadeiro, se tens interesse pelas pessoas, muda a minha vida, tira de mim essa vontade de morrer, enche-me de alegria, de satisfação genuína e verdadeira. Se o Senhor é como ele falou, quero te experimentar. Não deixes que eu seja como alguns crentes, que levam a mesma vida miserável que eu. Quero ser diferente, voltar a esse lugar dentro de pouco tempo e pregar a tua palavra. Muda-me! Desejo ser alguém completamente diferente.’ “Enquanto orava, o pastor fez o apelo, e fui o primeiro a ir à frente. Doravante Deus estava transformando a minha vida.”

Preparação para a obra

“Depois de um ano, resolvi entrar para um Seminário Teológico, e ali era o mais jovem, inexperiente e com modesto conhecimento bíblico e pouca experiência com Deus. Tive dificuldades e desilusões no tempo que passei no seminário. Cheguei a ouvir do reitor que eu não era vocacionado, e que deveria voltar à minha função como gerente de um importante Hotel de Anápolis. Enquanto orava pedindo orientação sempre voltava à lembrança daquele mendigo que encontrei aos 13 anos. Certa noite enquanto me dirigia à Igreja, passando por um grupo de mendigos, um deles me chamou a atenção, tinha barba e cabelos brancos e muito compridos e estava completamente bêbado. Ao vê-lo as pessoas mudavam de calçada, enquanto ele gritava e desafiava a todos. A cena me levou a orar: ‘Deus, se o Senhor ama tanto esses mendigos, por que não me usa para salvá-los?’. Eu não tinha noção do que estava pedindo, mas Deus começou a trabalhar em meu coração de uma forma muito especial.  Eu não podia imaginar que, por intermédio daquela oração, a minha vida estava sendo colocada a serviço dos mendigos e necessitados.”

A obra

“Decidi que não ficaria apenas nas palavras e partiria para a ação, mas eu precisava encontrar uma maneira de amenizar o sofrimento daquelas pessoas. A princípio, armado com minha Bíblia, alguns folhetos e muita vontade e determinação, saí para evangelizar os mendigos que encontrasse nas ruas. Debaixo de uma marquise, comecei a falar de Cristo para eles, dando como prova do amor de Deus, Seu sacrifício. Por esse motivo, era vontade do Senhor que todos tivessem vida e fossem felizes. Nesse momento um dos homens me interrompeu dizendo: ‘Se Deus é tão bom como você está dizendo que Ele é, por que eu estou aqui nesta circunstância? É muito fácil para você chegar aqui e dizer que Deus é bom, se amanhã você nem vai se lembrar que a gente existe. Daqui a pouco você vai sair daqui; deve ter uma casa, uma cama limpa para deitar, uma família esperando. E nós? Nós não temos nada. Que Deus bom é esse que nos deixou chegar a essa situação?’ Desconcertado, não tive resposta. Peguei meus folhetos e minha Bíblia e voltei para casa buscando em Deus uma orientação. Resolvi não retornar às ruas até que Ele se manifestasse e me dissesse o que eu deveria fazer para ajudar, de uma maneira prática, aqueles mendigos. Foram semanas de oração, até que o Senhor falou ao meu coração com uma idéia: levar sopa, pão e cobertores para aquelas pessoas. Deus não exige de nós o que não temos, e, por isso o processo de ajuda aconteceu aos poucos. Comecei dando-lhes apenas pão e leite; depois veio a sopa. E cobertores. Dessa forma, ficava muito mais fácil fazer com que os mendigos se interessassem em me ouvir com atenção e pudessem experimentar, de forma palpável, um pouco do amor de Deus. Minha ligação com aqueles homens se tornava cada vez mais forte. O evangelismo das madrugadas começava a dar frutos e eu me via impotente diante daquela situação. Muitos mendigos demonstravam interesse em mudar de vida, mas não tinha onde colocá-los. Procurei auxilio em centros de recuperação, mas nenhum deles se dedicava a mendigos, somente a viciados. Não se davam conta de que a mendicância também é um vício.  Escrevi cartas para todas as instituições, mas não adiantou.  Sem conseguir interná-los, resolvi tirar alguns das ruas e colocá-los em pensões. Com o salário de funcionário público cheguei a pagar 8 quartos. Até que um dia, o Senhor falou por meio de um deles. Ele sugeriu a construção de uma casa onde eu pudesse abrigar todos.”

Isso aconteceu em 1983, com a construção de uma casa que podia acolher 12 mendigos. Hoje são mais de 500 vagas espalhadas pelo Brasil, além de várias outras atividades assistenciais que têm reconhecimento nacional. Para conhecer mais sobre a Missão Vida, acesse www.mvida.org.br e venha conhecer e ouvir o Rev. Wildo Gomes dos Anjos na Igreja Presbiteriana de Curitiba, à Rua Comendador Araujo, 343 – Centro – Curitiba, no próximo dia 20/05/2012, nos cultos das 9:00, 11:00 e 19:00 horas.

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3 Comentários
  • IEDA

    3 de maio de 2012 at 11:47

    Que biografia invejável (no bom sentido…)! Tenho acompanhado o trabalho desse servo de Deus há anos, e o quanto sua semeadura tem produzido de frutos para a glória do Senhor. Temos que admitir: quando a pessoa se coloca à disposição para ajudar, Deus estende a mão e abençoa. Deixemos de lado os impedimentos tais como: o medo, o comodismo, a indecisão, a falta de tempo, e tudo o mais que nos leva a fugir da responsabilidade. Aproveitemos a vinda desse pastor à nossa igreja, divulgando e orando, e também doando roupas e calçados masculinos para que ele leve aos seus internos, “homens em recuperação”, uma campanha da Escola Dominical.

    • Nanny & Winston

      3 de maio de 2012 at 18:36

      Jesus, em Mateus 25.34-40, disse: “…Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” Oremos para que Deus coloque em nossos corações o amor que Ele deseja que tenhamos por nossos semelhantes desvalidos, e assim façamos a Sua vontade!

  • Lia Ester Taporosky (Nanny)

    3 de maio de 2012 at 18:18

    Realmente, nós cristãos precisamos nos mobilizar em favor dessas pessoas excluídas da sociedade, que muitas vezes fazemos de conta que não vemos ou até nos desviamos delas. Cristo, em sua passagem aqui na terra, sempre se compadeceu dos necessitados, ajudando, ensinando, curando e amando a ponto de morrer por eles e por nós. Ele também deixou essa missão para nós, seus seguidores.
    Podemos participar dessa missão orando, contribuindo e ou participando diretamente, quando tocados por Deus, assim como aconteceu com nosso irmão Wildo, que saiu da zona de conforto para servir ao Senhor, aceitando o desafio com coragem e determinação.
    Que exemplo! Fico envergonhada por fazer tão pouco. Oremos por ele.

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