Reflexões Sobre o Mal (1)

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Reflexões Sobre o Mal (1)

Certa vez o pregador e autor cristão Samuel Logan Brengle foi covardemente atacado por um indivíduo que agrediu-o na cabeça com um tijolo. Durante o longo tempo de convalescência, Brengle escreveu muitos artigos inspiradores que mais tarde compuseram um livro sob o título Auxílios Para a Santidade, que se tornou um grande sucesso, levando a esposa do pregador a dizer: “Se não houvesse o tijolo, não teria havido o livro!” E no tijolo que havia guardado, ela escreveu as palavras de José em Gênesis 50.20 para os irmãos que o haviam vendido como escravo: “Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida“. Muitas vezes aquilo que nos parece ser a pior coisa que poderia ter nos acontecido, mais tarde revela-se ser o início de uma grande vitória. Achamos que tudo deu errado, que o Senhor não nos abençoou e, pouco tempo depois, constatamos que a bênção foi muito maior do que aquilo que esperávamos. Deus é sábio e nos reserva sempre o melhor, e para nos abençoar grandemente, às vezes é capaz de nos dizer não. Ele sabe que poderemos ficar tristes e abatidos com uma resposta Sua, mas sabe também que nos alegraremos muito mais quando a grande bênção por Ele preparada for derramada sobre nós. Quando nos sentirmos perdidos em trevas, penando em solidão por nossos males, a esperança quase findando, tenhamos a certeza de que a alegria ainda voltará. Com Cristo, até o mal se revelará um bem!

A perplexidade do homem quanto à questão do mal no mundo tem perpassado os tempos, e a Palavra de Deus registra que cerca do ano 1.000 a.C., em Juízes 6.13,  Gideão queixava-se ao Anjo do Senhor: “… Ai, senhor meu! Se o Senhor é conosco, por que nos sobreveio tudo isto?…”, e quase quatrocentos anos depois, ao redor de 600 a.C., em Habacuque 1.13 o profeta perguntava: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar; por que, pois, toleras os que procedem perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que ele?”. Mas a esta perplexidade geral há alguma resposta convincente?

O Dr. Gordon H. Clark, considerado o maior filósofo cristão do século vinte, afirmou que, “… enquanto diversas outras doutrinas se desintegraram neste ponto, o sistema conhecido como calvinismo e expresso pela Confissão de Fé de Westminster oferece uma resposta satisfatória e completamente lógica”. O calvinismo estabelece que Deus exerce soberania plena sobre todos os domínios da existência, incluindo o espiritual, o físico e o intelectual, quer seja secular ou sagrado, público ou privado, no céu ou na terra, e que qualquer ocorrência é o resultado do plano de Deus, que é o Criador, o preservador e o governador de todas as coisas, sem exceção, como causa última de tudo. Por isso, a resposta a esta questão não poderia se encontrar em outro lugar que não na Palavra de Deus, a base da fé cristã.

Os propósitos de Deus não são determinados por nada ou por ninguém além dEle próprio, como Calvino escreveu: “Pois a vontade de Deus é de tal modo a regra máxima de retidão que aquilo que Ele deseja, pelo simples fato de que Ele o deseja, deve ser considerado correto. Quando, portanto, alguém quer saber a razão da vontade de Deus, está procurando uma coisa maior e mais elevada que a vontade de Deus, algo que não pode ser encontrado”.

A Bíblia não deixa dúvidas de que o homem é o único responsável pelo seu próprio pecado: no Salmo 51, na oração de arrependimento de Davi, ele assume de forma sincera a culpa por suas ações pecaminosas, e nos Salmos 25, 32, 38, 39, 40, 59, 103 e 109, trata com freqüência sobre a questão do pecado, assim como Asafe nos Salmos 78 e 79, os filhos de Coré no Salmo 85 e Moisés no Salmo 90. Jesus veio para perdoar os pecados dos homens, e Paulo em Romanos 5.12 (NTLH) faz a síntese: O pecado entrou no mundo por meio de um só homem, e o seu pecado trouxe consigo a morte. Como resultado, a morte se espalhou por toda a raça humana porque todos pecaram.

Deus, pela Sua soberania, determina a ocorrência de todas as coisas, mas o homem nunca está indiferente na sua vontade de fazer algo. Todo o homem tem capacidade de pensar e de escolher – na verdade não pode fazer mais que escolher – sem o que não poderia empreender qualquer ação, mas a teologia cristã nega a ele a liberdade de ser indiferente. Os decretos eternos de Deus determinam suas escolhas, e não apenas Adão antes da Queda, como também o homem após ela, estão submetidos a elas, com a diferença de que o homem caído perdeu a capacidade de escolher somente aquilo que Deus deseja que escolha – condição que só pode ser restaurada pela regeneração – optando por fazer o que ele mesmo quer, que inevitavelmente é o mal. Tal fato – que Deus é a causa soberana e primeira de todas as coisas, embora muitas delas sejam conseqüência das ações livres do próprio homem – Paulo em Romanos 3.9-18; 8.7-8 esclarece e a Confissão de Fé de Westminster (3.1, 5.2, 4) atesta: “Desde toda a eternidade, Deus, pelo conselho sábio e santo de Sua própria vontade, livre e imutavelmente, ordenou tudo o que venha a ocorrer: ainda assim, nem Deus é o autor do pecado, nem a vontade das criaturas é violentada, nem a liberdade ou contingência das causas secundárias deixa de existir, sendo, ao invés, estabelecida. Apesar de que, pela presciência e pelo decreto de Deus – a primeira causa – todas as coisas venham a ocorrer de modo imutável e infalível; ainda assim, pela mesma providência, Ele ordena que elas aconteçam de acordo com a natureza das causas secundárias, seja de modo obrigatório, ou livre, ou contingencial. O poder ilimitado, a sabedoria insondável e a bondade infinita de Deus, manifestam-se na Sua providência, que inclui até mesmo a primeira Queda e todos os outros pecados de anjos e homens, não como uma simples permissão, mas de modo tal que reúne a sabedoria e o poder limitante de Deus, que os ordena e governa para os Seus objetivos sagrados; e ainda assim, a pecaminosidade do ato procede apenas da criatura e não de Deus, que, sendo o mais santo e justo, nem é nem pode ser o autor ou aprovador do pecado.”

Portanto, Deus, que é absoluta e totalmente santo, perfeito em bondade, que movido por Seu amor inexcedível, cria, sustenta e governa tudo o que existe, decreta que o mal aconteça como meio para atingir Seus propósitos santos e perfeitos em bondade, como Ele próprio declara em Isaias 45.7: Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.” Não há dúvida, assim, de que o mal e o pecado existem porque o Senhor os decretou e providencialmente faz acontecer, como parte de seu plano eterno, para a Sua própria glória – “para louvar a Sua gloriosa graça…para a Sua própria glória”, como estabelece a Confissão de Fé de Westminster – e para a glória de Seu povo, que somos nós os crentes.

Pai Eterno, tal como Jesus, oramos não para que Tu nos tires do mundo, mas sim para que guarde-nos do mal. Embora saibamos que o mal permeia todos os espaços, todas as áreas, todos os caminhos do mundo, e nenhum ser humano está imune a ele, confiamos em Ti que qualquer mal que nos acometa estará sob Teu soberano controle, e tem um propósito em nossas vidas. No nome poderoso de Teu filho Amado oramos agradecidos. Amém.

(Continua)

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3 Comentários
  • Ethel

    18 de junho de 2012 at 22:11

    Fiz uma leitura um tanto rápida do texto acima e confesso que o que ali se expõe sobre o Calvinismo me despertou a vontade de estudá-lo mais a fundo – e, provavelmente, renunciar a ele. À primeira vista, me parece uma doutrina cheia de paradoxos, contraditória.
    Creio na predestinação para a salvação – isto é líquido e certo de acordo com as Escrituras – porém crer que Deus decretou a existência do mal para alcançar Seus propósitos…é demais para a minha cabeça!

    • Nanny & Winston

      20 de junho de 2012 at 18:17

      Queridas Ethel e Noemy,
      Esta questão é um tanto polêmica, mas temos que ser como os crentes de Bereia, que só aceitavam o que Paulo lhes dizia se tivesse respaldo nas Escrituras. Por isso, vamos ver em Isaias 45.7 que Deus diz: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas.” O termo mal , traduzido na Bíblia ARA, no original hebraico é RA, e significa miséria, tristeza, adversidades (Bíblia Reina Valera), dificuldades, maldições (NTLH), não pecado. O Comentário Moody sobre este versículo diz que: “Jeová é o Criador e Sustentador do universo físico, como também da lei moral. O mal que Ele cria é a antítese da paz. Mas considerando que o oposto da paz não é o pecado ou o mal moral, fica óbvio que o mal físico, ou as calamitosas conseqüências do mal é o que se pretende dizer aqui. Em nenhum lugar as Escrituras atribuem a Deus a criação ou autoria do pecado; este se origina apenas da agência moral livre dos seres criados.” Deus, no entanto, cria o mal, isto é, suscita adversidades, dificuldades, tristezas, visando o cumprimento de Seus perfeitos e justos propósitos. Como justo juiz que é, Deus julga o homem e aplica as penas que, em Sua sabedoria infinita, considera justas. Deus fez o mal possível, mas as criaturas livres são responsáveis por torná-lo real, e se não concordamos Deus criou todas as coisas estaremos negando Sua soberania. Em Romanos 9.6-33, com ênfase nos versos 18-24, Paulo nos ensina que a soberania de Deus prevalece sobre tudo, e embora muitas vezes não compreendamos Seus propósitos eternos – como a doxologia ao final do capítulo 11 de Romanos, se inicia no verso 33 louvando, “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!” – eles seguramente são sempre os melhores.
      Não podemos deixar de lembrar também Jó 2.10, após sua mulher ter dito insensatamente no verso 9 que ele amaldiçoasse a Deus e morresse: “Mas ele lhe respondeu: Falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios.” Sobre este verso, o Rev. Robert Alden certa vez escreveu: “Esta é uma lição difícil de aprender para alguns cristãos, especialmente se eles sentem que lhes foram prometidas saúde riqueza ou entenderam erroneamente que o maravilhoso plano de Deus para as suas vidas envolve só prazer e não problemas.”
      Não houvesse o mal a ser perdoado ou revertido e não haveria manifestação da graça de Deus na vida do homem, por isso o mal é necessário para o seu bem final, como foi para Jó, que entendeu finalmente a verdade, e esta o libertou. Charles Swindoll, em seu livro Jó conclui: “Ele passou a conhecer realmente o Deus vivo, não apesar de seu sofrimento, mas por causa dele. O sofrimento o fez cair de joelhos onde finalmente rendeu-se diante de Deus. Em absoluta confiança, descansou nEle.” Que nós também aprendamos a cair de joelhos, a confiar, e a descansar nEle!

      “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.” Filipenses 4.6-7

  • NOEMY

    19 de junho de 2012 at 11:39

    LI E TAMBÉM NÃO ACEITO QUE DEUS É QUEM NOS DÁ O MAL.
    ABS NOEMY

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