Como o Primeiro Natal
Que gesto mais extraordinário e sublime de amor e humildade pode haver que este, em que o Deus Todo-Poderoso abdica de Sua grandeza e magnificência e, de Criador de tudo o que existe transforma-se em criatura humana, assumindo a debilidade da carne, despojando-se de toda a Sua riqueza e majestade, apenas para salvar seres indignos como nós?
Como compreender que o Criador do universo um dia decidiu fazer morada neste planeta insignificante chamado Terra, minúscula partícula de pó cósmico num universo infinito, deixando Sua celeste habitação no céu para surgir em um rústico estábulo, numa manjedoura? No entanto, este nascimento tão singelo teve o condão de afetar o mundo de uma forma tão poderosa e extraordinária, que dividiu a história para sempre em duas partes: o que ocorreu antes de Cristo e o que aconteceu depois de Cristo.
É por Ele que o profeta em Isaias 9.2,6 (ARA), 700 anos antes deste evento único na história da humanidade, cantou jubiloso: “O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz. (…) Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”.
Apesar de onipotente, contudo, ao nascer como um indefeso bebê em um local tão precário, Jesus abriu mão de Seus justos direitos divinos para marcar, com o sinal da humilde pobreza de Sua chegada, todo o Seu ministério terreal, estabelecendo definitivo contraste entre os efêmeros reinos humanos – baseados em riqueza material, privilégios espúrios, poder corrupto e autoridade imposta – e o Seu Reino Eterno de amor incondicional, verdadeira justiça e riqueza incorruptível.
Paulo em Colossenses 1.15-16 (NTLH) sintetiza este quadro de forma admirável – embora as poucas testemunhas oculares de Sua divina chegada tenham se deparado apenas com um frágil recém-nascido, impotente, empenhado na luta de todo nascituro para inalar o vital oxigênio – ao expressar este aparente paradoxo: “Ele, o primeiro Filho, é a revelação visível do Deus invisível; ele é superior a todas as coisas criadas. Pois, por meio dele, Deus criou tudo, no céu e na terra, tanto o que se vê como o que não se vê, inclusive todos os poderes espirituais, as forças, os governos e as autoridades. Por meio dele e para ele, Deus criou todo o Universo”.
E Ele não deixou de ser Deus quando se tornou o homem Jesus, mantendo todos os Seus atributos divinos, como a onipotência, a onipresença, a onisciência, a impecabilidade, o amor, a justiça e a santidade, porém deixando de lado voluntariamente a glória da Sua relação face a face com o Pai e a Sua própria autoridade independente, ao submeter-se completamente à vontade paterna: através de Seu auto esvaziamento ou kenosis, Jesus humildemente assumiu a natureza humana com todas as suas limitações, à exceção do pecado.
O que comemoramos realmente no Natal? Por certo o nosso modelo de celebração desta data, que envolve uma questão de tão ampla magnitude espiritual e divina, não pode estar baseado simplesmente em aspectos de ordem material e humano como festas, ceias, consumismo, Papai Noel, troca de presentes, viagens de férias, e coisas que tais. Ao contrário, apesar de tão envolvidos pelo materialismo da presente era, devemos voltar no tempo e lembrar a profunda pureza, a bela grandeza, a importância e o significado do Primeiro Natal, criado por Deus como preâmbulo de todo o processo de nossa salvação. E se nos propomos a comemorar este magnífico evento como um memorial do advento do Salvador, como Deus aprovaria nosso agir senão tendo como modelo conceitual aquele acontecimento de mais de 2.000 anos atrás, que impactou o céu e mudou os rumos da humanidade? Que características fundamentais e marcantes, então, podemos discernir e aprender com o Primeiro Natal para podermos aplicar? Vamos abordar quatro delas: Centralidade de Deus, Despojamento e Rejeição, Dádivas, e Proclamação e Louvor Celestial.
Centralidade de Deus
É óbvio que só o Deus Todo-Poderoso poderia ter concebido e executado um plano de tal perfeição, magnitude, amor, sabedoria e alcance no tempo e no espaço, ao enviar a este planeta decaído Seu Filho Amado para – ao ser sacrificado em nosso lugar – garantir-nos a salvação.
Mas talvez o que marque de forma mais clara a ação maravilhosa de Deus neste episódio, sejam as muitas profecias messiânicas contidas na Sua Palavra no Antigo Testamento, em número de 365 segundo algumas fontes, e fielmente cumpridas no Novo Testamento. Algumas delas, referindo-se ao divino nascimento, só se realizaram cerca de 1.400 anos depois de proferidas, como a de Gênesis 49.10 sobre o tempo da Sua vinda, cumprida em Lucas 2.1-7, a de Números 24.17-19 sobre a vinda do Governante-Messias de Israel, consumada em Mateus 2.2, e a de Deuteronômio 18.15 sobre o ofício de profeta assumido por Jesus, realizada em João 6.14. Em torno de 700 anos antes do Primeiro Natal, já era anunciado em Isaias 7.14 o nascimento virginal, cumprido em Mateus 1.22-23, e Miqueias, também aproximadamente neste tempo, profetizava sobre o local de nascimento do Messias, que se daria em Belém. Por estes poucos exemplos podemos constatar que Deus, através de Sua Palavra, sempre esteve anunciando a chegada de Jesus Cristo, oferecendo – com antecipação de séculos – detalhes minuciosos da Sua vinda, vida, genealogia, divindade, ensinamentos e obra, demonstrando que Ele, o tempo todo, tudo controlou de forma perfeita, soberana e exclusiva.
E é este o Natal teocêntrico, cristocêntrico, e nunca antropocêntrico, que sempre devemos comemorar.
Despojamento e Rejeição
Desde Seu nascimento a vida de Jesus se desenrolou em meio à total desconsideração pela posse material. Ele, que é o Rei dos Reis, o Senhor dos Senhores, o Criador e dono do universo, abdicou do infinito tesouro que era Seu por direito, preferindo viver na condição singela de uma flor ou de uma ave a quem o Pai provê toda a necessidade, ao invés de usufruir do fausto de um monarca humano.
A primeira rejeição ao único justo que já existiu na face do planeta, ocorreu já na chegada de Seus pais a Belém, quando não encontraram aposento na hospedaria, prefigurando o que aconteceria em Sua vida terreal, onde só Lhe foi facultado lugar na cruz do Calvário. Mas, como sucede até os dias de hoje, Jesus ainda deseja penetrar corações humanos cheios de maldade, miséria e engano, porém muitas vezes não encontra acolhida. Que melhor oportunidade podemos encontrar para viver – a partir deste Natal e por todos os dias de nossa jornada terreal – uma vida despojada de tudo o que é supérfluo, fútil, desnecessário, egoísta e inútil, ao mesmo tempo em que acolhemos a Jesus como o centro do nosso ser, e aquele que Ele colocar em nossa vida como nosso próximo, para compartilhar conosco o amor e as bênçãos recebidas?
Dádivas
Elevados à condição de imprescindibilidade no Natal dos dias que correm, os presentes que as pessoas dão umas às outras estão sempre presentes nesta data – com o perdão do trocadilho – e muito poucas criaturas, neste mundo extremamente consumista e açulado pela mídia comercial, poderiam imaginar um Natal sem eles. No Primeiro Natal, porém, o único a receber presentes materiais foi Jesus: os reis magos ofertaram ao Salvador ouro, incenso e mirra. No entanto, o maior presente do mundo foi Ele quem nos deu: Deus no corpo daquele frágil e indefeso bebezinho vindo entregar-se ao cruel martírio, o Santo colocando-se voluntariamente à mercê da impiedade humana, e assim, por amor resgatando da morte eterna seres como nós, sem qualquer merecimento a não ser a condenação.
Por isso, se nos move o menor resquício de amor e gratidão Àquele que nasceu, viveu e morreu por nós, devemos retribuir com a única dádiva que Ele espera de nós, a nossa própria vida, com tudo o que temos e somos, atendendo à súplica de Paulo em Romanos 12.2: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”.
Proclamação e Louvor Celestial
O anúncio de Sua vinda, um dos mais extraordinários acontecimentos da história da humanidade, gerador de transformações jamais imaginadas, foi paradoxalmente delegada por Deus a uma classe de pessoas desprezadas e consideradas inferiores pelos ortodoxos da época. Os humildes pastores que naquela noite tão singular provavelmente cuidavam dos cordeiros do templo que iriam ser sacrificados, foram os primeiros a ver o Cordeiro de Deus que tiraria os pecados do mundo pelo Seu próprio sacrifício por nós na cruz.
Então subitamente desceu entre eles um anjo do Senhor, a plácida paisagem campestre em torno deles iluminou-se prodigiosamente com a glória de Deus, e isto provocou-lhes muito temor, mas o anjo tranquilizou-os dizendo nas palavras de Lucas 2.10-14 (NTLH): “Não tenham medo! Estou aqui a fim de trazer uma boa notícia para vocês, e ela será motivo de grande alegria também para todo o povo! Hoje mesmo, na cidade de Davi, nasceu o Salvador de vocês – o Messias, o Senhor! Esta será a prova: vocês encontrarão uma criancinha enrolada em panos e deitada numa manjedoura. No mesmo instante apareceu junto com o anjo uma multidão de outros anjos, como se fosse um exército celestial. Eles cantavam hinos de louvor a Deus, dizendo: – Glória a Deus nas maiores alturas do céu! E paz na terra para as pessoas a quem ele quer bem!”.
Enquanto o Céu louvava o Cristo encarnado com glória e esplendor jamais vistos em toda a Terra, o mundo ignorava-O, desconhecendo totalmente a Sua chegada, como muitos ainda o fazem. Que nossas atitudes, não apenas no Natal, mas em todos os dias de nossa vida, sejam como aquelas que, emanadas dos mensageiros celestiais, coroaram a primeira vinda de Jesus, e sem receio O proclamemos a todos os que pudermos, entoando incessantemente hinos de louvor e gratidão a Deus!
Senhor, nós que somos Teus, sabemos que a cada Natal precisamos resgatar o propósito verdadeiro deste memorial, enxergando-o não apenas como evento humano mas sim profundamente espiritual como foi o Primeiro Natal, buscando ávida, insaciável e perseverantemente a Jesus de todo o nosso coração enquanto podemos achá-Lo, inspirando-nos nos reis magos e nos pastores; adorando-O em espírito e em verdade prostrados a Seus pés, como os magos do Oriente; entregando totalmente nossos caminhos a Deus, que nos protegerá do inimigo, como livrou ao menino Jesus da sanha de Herodes; por fim, transformando cada dia de nossa vida em um novo Natal. Ajuda-nos, Aba, em nome de Jesus. Amém.
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