Pizza
Por Miguel Herrera
Quem me conhece sabe que gosto muito de pizza (e se você não me conhecia, agora também sabe). Assim, não deve ser por acaso esta mania que tenho de comparar a vida com uma pizza: é necessário decidir de forma equilibrada o tamanho de cada pedaço. Se eu cortar um deles muito grande, os demais serão obrigatoriamente menores, e dependendo da falta de planejamento, alguém ficará sem comer. Com isto quero dizer que é fundamental saber balancear bem o quanto investir em determinadas atividades que, embora relevantes, não devem roubar o espaço de outras que são, possivelmente, mais relevantes para que consiga obter uma vida verdadeiramente bem sucedida.
Mas esta “Teoria da Pizza Vital” (desculpe, não resisti) tem um defeito: embora seja verdadeira com relação ao estabelecimento de prioridades, pode dar a impressão de que a vida se divide em setores, como acontece na TV, em que posso zapear entre notícias, esportes, novela, religião, documentário, filme – cada canal completamente separado, sem nada a ver com os demais. Neste sentido, por muito tempo procurei cuidar de minha “vida espiritual”, mas também da “vida profissional”. Ah sim, não podia também esquecer-me de cuidar da “vida familiar”. Agora, pensando bem, quantas vidas tenho eu, afinal?
Muita gente (muita mesmo) tem uma espécie de “modo religião”. Quando o sujeito está nesse modo comporta-se bem, faz pose de honesto, vai à igreja, assume cargos, fala coisas bonitas, canta, manifesta amor e gratidão a Deus, muda até a entonação da voz. Mas logo a seguir volta para o modo “vida normal” e… você sabe.
O apóstolo Paulo escreveu: “Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus.” (1 Coríntios 10.31)
Até que Jesus entregasse sua vida na cruz, havia uma separação entre o divino e o humano; particularmente, havia um lugar no Templo ao qual só o Sumo Sacerdote podia ter acesso, e mesmo assim só em condições especialíssimas. Este lugar era separado por um pesado véu. “Mas, quando Jesus entregou o espírito, o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo.” (Mateus 27.51)
A separação foi rompida – e de alto a baixo! Agora não apenas temos livre acesso à presença do Deus Santo, mas a santidade transbordou para o secular. Agora a presença de Deus não mais está em um lugar restrito, só alcançável por rituais religiosos, mas em todo lugar, aqui e agora, em todas as circunstâncias.
O trabalho não é menos santo do que o momento da adoração, assim como o tempo de oração não é mais santo do que a reunião com amigos. Note bem que não estou, de forma alguma, desmerecendo a adoração ou a oração, antes dizendo que, por causa de Jesus, todas coisas agora são santas. Todo lugar é o lugar da presença de Deus e toda atividade, seja qual for, é realizada na presença dele. Portanto, o que eu não faria no “modo religião” também não posso fazer no “modo vida normal”.
Fazer tudo para a glória de Deus é cortar a cada dia tal da “pizza vital” com sabedoria e equilíbrio, sabendo que cada um dos pedacinhos é santo.
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