Acolhimento
Lá estava aquele rapaz com a família, em férias, num acampamento isolado e com o carro enguiçado. Depois de uma hora e com um tornozelo torcido, encontrou finalmente um posto de gasolina, fechado, pois era domingo. Por sorte havia um telefone público e conseguiu ligar para a única empresa de auto-socorro que encontrou na lista. “Não tem problema”, atendeu alguém do outro lado, “normalmente não trabalho aos domingos, mas posso chegar aí em mais ou menos meia hora”. Quando chegaram ao acampamento no caminhão-guincho, percebeu com espanto o motorista descer com aparelhos nas duas pernas e a ajuda de muletas para se locomover. Santo Deus! Ele era deficiente físico!!! “É só uma bateria descarregada”, disse ele. Feita a carga, o rapaz perguntou quanto lhe devia. “Oh…Nada não!…”, respondeu, para sua surpresa. “Há muitos anos atrás, alguém me ajudou a sair de uma situação muito pior, quando perdi as minhas pernas, e o sujeito que me socorreu, simplesmente me disse: Passe Isto Adiante.”
Isto é amor incondicional! Será que estamos passando adiante as coisas boas que nos fazem? E será que estamos fazendo aos outros uma parcela mínima que seja das coisas maravilhosas que Deus já nos fez e que continua a fazer, e que nós às vezes sequer percebemos ou valorizamos, ou que até mesmo esquecemos de agradecer?
Na igreja, a Casa de Oração de Deus, esta atitude tem relação direta com a forma como tratamos nossos irmãos e com a qualidade do acolhimento que lhes damos.
Há mais ou menos 2.700 anos o profeta Isaias, como porta-voz do Senhor, escreveu em seu livro, no capítulo 56, verso 7: “também os levarei ao meu santo monte e os alegrarei na minha Casa de Oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar, porque a minha casa será chamada Casa de Oração para todos os povos”.
Mas aproximadamente 700 anos depois, na época do ministério terreno de Jesus, a Casa de Oração de Deus já se achava poluída pelo mundanismo de então, obrigando o Mestre a expulsar os vendilhões do Templo. Em torno do ano 60 de nossa era, quase 2.000 anos atrás, o apóstolo Paulo, quando o cristianismo emergente era abrigado nas casas daqueles que eram do Caminho, escreveu em 1 Coríntios 16.19: “As igrejas da Ásia vos saúdam. No Senhor, muito vos saúdam Áqüila e Priscila e, bem assim, a igreja que está na casa deles”, revelando mudanças importantes que a Casa de Oração de Deus tinha sofrido: por um lado havia perdido em imponência física, mas ganho em valor espiritual, ao recuperar a pureza exigida por Cristo. Por outro, agora passava a abrigar o Corpo de Cristo, a Sua Igreja.
Deus criou Sua Casa de Oração, para que Seus filhos nela pudessem congregar em união e amor por Ele e uns pelos outros, para adorá-lO em espírito e em verdade. Ela é o abrigo que o Senhor fez construir, com a finalidade de que o amor permeasse a tudo e a todos, como um verdadeiro espaço de retribuição por tudo o que temos recebido.
Na volta de Cristo, o mundo todo será uma gigantesca Casa de Oração, onde não haverá distinção entre criaturas e filhos de Deus, pois todos faremos parte da Sua família. Até que este dia chegue, no entanto, precisamos nos empenhar na busca do aprendizado do que é ter verdadeira comunhão simultaneamente com Ele e com nosso irmão.
O acolhimento pela igreja não pode se resumir apenas ao primeiro dia ou aos primeiros tempos em que o visitante é recebido, pois para acolher é preciso amar sinceramente, e para amar aos outros é preciso tolerantemente aceitá-los exatamente como são naquele estágio de suas vidas.
Deus nos pede que ajamos acolhedoramente, como Ele sempre fez com relação a nós: “Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai” (Lucas 6.36). Por isso, é questão de sermos tolerantes e, sob a direção divina, relevarmos as mútuas diferenças. Em Jesus temos um ideal não apenas de santidade, mas, também, de aceitação, como Paulo ensina em Romanos 15.7: “Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus”.
Um verdadeiro cristão nunca pode dizer a outro “Eu te amo se…”, mas deve sempre dizer: “Eu te amo como tu és”.
Na carta aos Romanos, Paulo mostra o que acolher significa: não julgar o outro em assuntos que não são considerados pecado (14.1-3); viver em paz com o outro, edificando-o (14.19); suportar as debilidades dos mais fracos (15.1); não ser orgulhoso, pretensioso, condescendo com o que é humilde, e nunca sendo sábio aos próprios olhos (12.16).
Assim como Cristo nos acolheu para a eternidade, a Sua Casa de Oração deve acolher sempre, e o acolhimento deve ser renovado todos os dias, até a Sua volta.
Que o Senhor Nosso Deus nos dê a graça de entendermos e praticarmos o bom acolhimento, que é permitir que o outro tenha prioridade em nosso coração, a despeito das nossas próprias necessidades. Em nome de Cristo Jesus. Amém.
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