Vida + Fruto

Vida + Fruto

O discípulo procurou seu mentor e informou: “Não posso mais continuar meu discipulado. Moro longe, numa pequena casa com meus pais e meus irmãos, e minhas condições para o estudo e a concentração são péssimas. Não tenho meu próprio quarto, e seja onde quer que vá para tentar estudar, me vejo cercado de vozes, barulho, agitação. Desisto! Não dá mais!”
O orientador apontou para o Sol e pediu que seu discípulo colocasse a mão na frente do rosto de modo a ocultá-lo. Ele obedeceu, e então o mentor disse: “Observe, sua mão é pequena, porém conseguiu bloquear por completo a força, a luz, o calor e a majestade do imenso sol. Da mesma maneira, os pequenos problemas conseguem lhe dar a desculpa necessária para não seguir adiante em seu crescimento espiritual. Assim como a mão tem o poder de esconder o sol, a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior. Não deixe que isso aconteça.”

Quantas vezes nós buscamos – e frequentemente acabamos encontrando – desculpas para não crescer no conhecimento e na obra de Deus. Cristo nunca disse que segui-lo seria fácil, que seria um passeio tranquilo e isento de tropeços, livre de obstáculos, com muito descanso, bem-estar e prosperidade mundana. Ao contrário, em Mateus 16.24, constatamos que “Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me;” Em Mateus 4.19, ao convocar os primeiros discípulos, Jesus já havia dito: “…Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens”, estabelecendo em primeiro lugar a condição para o discipulado, e depois o objetivo do chamado. Mas a nossa atenção deve se concentrar, não somente na evangelização – que é o primeiro passo do ide, mas no seu produto, isto é, naquilo que é aos olhos de Deus um discípulo. Em Mateus 28.18-20 lemos a ordem divina: “E, aproximando-se, Jesus lhes disse: Todo o poder me foi dado no céu e na terra; ide, pois, fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei. E eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo” . Atentemos para as três curtas palavras que expressam um mundo de verdade que precisamos obedecer: “Ide… fazei… discípulos”.

Para fazer discípulos, temos necessidade de estar em comunhão com nosso próximo em amor, agindo como enviados do Senhor, movidos por seu mandato, caminhando em busca dos necessitados. Se queremos alcançar as pessoas e entendemos que somos nós os que devemos mover-nos, teremos dado o primeiro passo em direção à verdadeira evangelização e obediência ao mandato do Senhor.

Para formar discípulos, precisamos ensinar ou doutrinar, e cada crente deve ir e fazer discípulos. Este é o lema que devemos seguir, e o Senhor deseja que cada redimido esteja ocupado nesta tarefa celestial. Mas não é apenas aquele que está professando que necessita ser ensinado, mas também aquele que ensina. Ao assumir a responsabilidade de formar outra vida, promove-se também a formação da própria.

Nada podemos por nós mesmos, porém Cristo sempre nos capacita para o que nos chamou! A obra foi confiada somente a nós; não há outro ser no universo que possa realizar aquela obra específica. Cristo exige que cada um dos enviados participe ativamente da transformação espiritual dos discípulos: somos todos participantes de sua graça, de seus dons e de seu poder. Como consequência, cada um deve sentir-se responsável por fazer o que o Senhor define em uma só palavra: discípulos. E é preciso que compreendamos bem o que é um convertido, um crente, ou melhor, um discípulo, segundo o conceito de Deus. Mateus começa a usar o termo no capítulo 5.1 para designar os que seguiam a Jesus, e foi empregado nos quatro evangelhos, na igreja de Jerusalém, nas igrejas fundadas pelos apóstolos e nas Escrituras, para denominar aqueles que foram chamados cristãos em Atos 11.26. Portanto, um discípulo não é nada mais nada menos que um crente, um redimido, que aprende com a finalidade de pôr prática o que aprendeu; tendo nascido do Espírito Santo, está sujeito ao Senhor, sofre por Ele e produz fruto. Como Jesus em João 20.21 nos ensina: “Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio”. O Mestre, com seu exemplo e ensinamento quer que cheguemos a ser semelhantes a Ele, caminhando como Ele caminhou, falando como Ele falou, assim dando continuidade à obra que Ele iniciou.

O plano do Senhor em Sua infinita sapiência, estabelece que o fruto seja parte intrínseca do discípulo, como Ele pontua em Mateus 7.16: “Por seus frutos os conhecereis…”, e é precisamente pelos frutos que se conhece um discípulo. O fruto é aquela parte nele que nos faz saber que estamos diante de uma vida aprovada por Deus, é a sua parte visível, é o seu testemunho, é o que está manifesto a todos e que o qualifica para a obra. Duas coisas estão inextricavelmente unidas e nascem juntas da mesma fonte: vida e fruto. Se há vida, há fruto; se há fruto, há vida; há vida porque há comunhão com Cristo, fonte de vida. Portanto, a equação do plano de Deus é vida + fruto = discípulo, e desta forma não existe discípulo verdadeiro sem fruto, como fica claro em João 15.16: “…e vos designei, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça...” A vida do discípulo não lhe pertence, pois que está destinada a outros; como seu Senhor, ele não está aí para ser servido, mas sim para servir! E aqui se configura um divisor de águas: ou há abundância de vida e de fruto – caso a união com Cristo seja verdadeira – ou há mera religiosidade estéril. Sua união com Cristo garante fruto abundante, e o discípulo recebe do Senhor a vida em abundância prometida em João 10.10.

O fruto do discípulo não é aquilo que recebe, mas sim aquilo que produz e reparte. Num processo dinâmico, ininterrupto, que se desenvolve ao longo de toda a existência, a vida do discípulo se projeta mormente em dois planos: o vertical em direção a Deus, e o horizontal em direção aos homens, subdividindo-se este último em dois aspectos: um orientado à igreja e outro focado no mundo. Ao discipular, devemos ajudar o discípulo a unir ambos os planos, mostrando que tudo o que recebe deve distribuir entre os seus condiscípulos e o mundo. Desta forma, primeiro o discípulo gera frutos ao receber vida própria como consequência de sua união com Cristo, depois ao partilhar essa vida com seus condiscípulos e por fim ao comparti-la com os que estão perdidos.

E assim o discípulo consegue dar seu fruto, comunicando aos outros aquilo que recebe do Senhor, ou seja, permitindo o fluir da vida de Cristo que está nele para alcançar outros, pois o fruto de um discípulo de Jesus Cristo deve ser obrigatoriamente outros discípulos.

Deus Amado, que possamos – apesar de nossa pequenez, mas graças a Cristo, fonte de vida abundante em nós – sermos frutíferos na Tua obra, indo e fazendo discípulos para Ti, a fim de espraiar Teu Reino por toda a terra. No nome de Cristo Jesus oramos e agradecemos. Amém.