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SER FELIZ: O Método Perfeito
O ser humano sempre buscou ser feliz, como o personagem principal do filme À Procura da Felicidade de 2006, baseado em fatos reais, que conta a história de um pai de família, vendedor fracassado de aparelhos médicos que tem de lutar duramente pela sobrevivência e o sustento de sua família. Após muita dificuldade, consegue uma vaga de estagiário em uma importante corretora de ações, sem qualquer remuneração, acreditando que será futuramente contratado. Abandonado pela esposa, é obrigado a tomar conta do filho de apenas cinco anos de idade, e por falta de pagamento é despejado do apartamento em que vivia, passando a dormir em estações de metrô, albergues e banheiros públicos. Apesar de tudo isto, não desiste de sua esperança de alcançar a felicidade, o que acontece no final do filme, quando consegue “vencer na vida”, tornando-se o afortunado proprietário de sua própria corretora.
O “feliz” epílogo do filme, com o herói alcançando o que desejava exclusivamente por seu trabalho denodado, é uma ilusão que leva as pessoas a cometerem o equívoco de julgar que as conquistas essenciais da vida limitam-se à obtenção – unicamente por esforço pessoal – dos bens materiais perecíveis, transitórios e fugazes, em frontal contradição com tudo aquilo que Jesus ensinou.
E muitas vezes o ser humano age como este pai de família: procura a felicidade onde pensa ou deseja que ela esteja, naquilo que está mais próximo e acessível, no mundo, e não onde efetivamente está, nas coisas do alto, em Cristo Jesus. Só Ele era verdadeira e plenamente feliz, e só a condição sine qua non de estar Ele em nós e nós nEle pode nos tornar igualmente felizes, e muitos cientistas, sociólogos e psicólogos têm se rendido a esta evidência que cada vez mais transcende os limites da religião.
Por exemplo, segundo o dr. James R. Hine, diretor da Fundação McKinley da prestigiosa Universidade de Illinois, EUA, existem cinco coisas essenciais para se alcançar a felicidade: a saúde do corpo e da mente, a certeza de amar e de ser amado, a maturidade emocional, propósitos elevados para a vida, e a fé inabalável de que nossos melhores esforços são auxiliados e dirigidos por um poder que está acima e além de nós próprios, ou seja, por Deus Todo-Poderoso, que detém o controle de tudo.
Em Sua missão na terra, Jesus concedeu saúde física, mental, emocional e espiritual, derramou o amor de Deus sobre os que criam nEle, exortou os homens para que buscassem ideais elevados, abençoou aqueles que tinham fé, e deixou para nós um testamento inigualável: a Sua Palavra. O Reino de Deus que Ele veio trazer, predito já no Antigo Testamento, foi assim inaugurado pelo Messias como um novo estágio do programa redentor de Deus, trazendo graça e também juízo, como João Batista havia profetizado.
Jesus Cristo, no âmago do maravilhoso Sermão do Monte, na passagem contida em Mateus 5.3-12, que trata das assim chamadas bem-aventuranças, apresenta a proposta da vida no Reino, e faz uma revelação detalhada da justiça de Deus, instruindo todos nós que fazemos parte da Sua família a respeito do caminho da existência justa que devemos viver, obedecendo a todas as determinações que Ele ali estabeleceu para sermos verdadeiramente felizes, independentemente do que possa estar ocorrendo à nossa volta.
Aliás, é exatamente envolvidos por circunstâncias tão graves como esta que atualmente vivemos de pandemia pelo covid-19, que é mister aprendermos a nos voltar prioritariamente às “… coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus…”, como nos ensina Colossenses 3.1, e assim obedecermos aos ditames do Filho de Deus como única possibilidade duradoura e real de sermos autenticamente ditosos apesar de todo o mal que possa nos advir.
Makarios, palavra grega, recebe traduções várias em diversas versões da Bíblia, sem que o sentido básico que Jesus quis dar ao termo se perca: bem-aventurados, abençoados, felizes, mais que felizes, afortunados. No entanto, seja qual for a tradução em português, é de suma importância compreendermos que a felicidade a que Jesus se refere não é a felicidade humana passageira, um estado emocional proveniente apenas de estímulos que, quando ausentes, a fazem desvanecer. Também não se refere a um sentimento nosso, mas sim àquilo que Deus pensa.
A condição social e/ou econômica e o poder temporal não têm significado no Reino de Deus, mas sim a obediência fiel do coração, e não apenas a religiosidade ou a observância legalista. A verdadeira felicidade é fundamentada no Senhor, na observância e na prática da Sua Palavra e na fé, que permitem a ação do Espírito Santo em nós, e isto produz a felicidade verdadeira e duradoura que, – capaz de resistir até às circunstâncias mais difíceis, – deveria ser usufruída por todos os crentes.
É este estado que caracteriza as pessoas muito ditosas, benditas, venturosas, que recebem a aprovação de Deus por suas atitudes, como é descrito no Salmo 1. E apesar de que todos – crentes e ímpios – buscam a felicidade, é preciso reiterar que só a alcançarão aqueles que a procuram nas coisas de Deus, como podemos constatar nas palavras do Mestre contidas na passagem de Mateus 5.3-12 (NTLH): “Felizes as pessoas que sabem que são espiritualmente pobres, pois o Reino do Céu é delas. Felizes as pessoas que choram, pois Deus as consolará. Felizes as pessoas humildes, pois receberão o que Deus tem prometido. Felizes as pessoas que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus, pois ele as deixará completamente satisfeitas. Felizes as pessoas que têm misericórdia dos outros, pois Deus terá misericórdia delas. Felizes as pessoas que têm o coração puro, pois elas verão a Deus. Felizes as pessoas que trabalham pela paz, pois Deus as tratará como seus filhos. Felizes as pessoas que sofrem perseguições por fazerem a vontade de Deus, pois o Reino do Céu é delas. Felizes são vocês quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por serem meus seguidores. Fiquem alegres e felizes, pois uma grande recompensa está guardada no céu para vocês. Porque foi assim mesmo que perseguiram os profetas que viveram antes de vocês”. Este, pois, é o caminho autêntico, perfeito, reto, que conduz à plena felicidade disponível para todo aquele que realmente deseja alcançá-la!
O Sermão do Monte – em particular a passagem das bem-aventuranças acima – é uma conclamação de Jesus para que os crentes sejam diferentes dos pagãos, dos incréus, revelando atitudes coerentes com o caráter cristão que deseja que tenhamos e manifestemos perante o mundo, não somente em ocasiões especiais, porém no nosso cotidiano, em tudo o que fizermos.
O Reino que Jesus veio proclamar é na verdade uma espécie de “contracultura”, embasada em conceitos, valores e princípios que contrariam e contrastam com aqueles que são aceitos, entendidos e praticados pelo mundo. O Mestre ensina, por meio das bem-aventuranças, sobre simplicidade, consolação, mansidão, justiça, misericórdia, pureza, paz e a recompensa por cultivarmos estas qualidades, exortando-nos e desafiando-nos a segui-Lo alegres e felizes, apesar de nossa “… leve e momentânea tribulação…” a que Paulo se refere em 2 Coríntios 4.17.
E Jesus nos alenta sobremodo ao assegurar que é possível ser feliz no mundo, malgrado o próprio mundo no qual estamos temporariamente inseridos, e não obstante nós mesmos, pecadores contumazes que somos. O teólogo Dennis Allan diz que “é da maior urgência que olhemos frequente e cuidadosamente para o sermão do Filho de Deus que, talvez, mais do que qualquer outro, define a própria essência do reino do céu. Aqui, se ouvirmos humildemente, nossas vidas poderão ser transformadas, nossos espíritos revigorados e nossas almas salvas.”
Na época do Seu ministério terreno, as multidões seguiam a Jesus principalmente em busca dos benefícios pessoais que esperavam auferir, e mais de 2.000 anos depois, ainda hoje muitos cristãos nominais agem da mesma forma. Até mesmo Seus discípulos deixaram-se por instantes seduzir pelo mal, tendendo a sentir-se importantes, a buscar prestígio pessoal e popularidade, enquanto em outros episódios mostraram-se orgulhosos e possessivos.
Mas o Senhor alertou-os para não esperarem fama e fortuna material, mas sim provações, fome e perseguição, advertindo-os sobre as tentações que enfrentariam ao segui-Lo. Contudo asseverou-lhes que aqueles que fossem após Ele em espírito e em verdade receberiam o reconhecimento divino, embora possivelmente não nesta existência. Este alerta se aplica também a nós que, caso façamos ouvidos moucos às palavras do Salvador, estaremos valorizando e promovendo apenas e tão somente nossos próprios interesses pessoais, e não os do Reino, e então receberemos a paga correspondente na mesma medida.
As bem-aventuranças são bênçãos que tratam do caráter perfeito que deve ter o cidadão do Reino, das suas qualidades espirituais, e não das preocupações humanas quanto às vantagens materiais, à busca de posições sociais e à valoração da sabedoria secular, pois o Seu Reino não é deste mundo, não possui fronteiras físicas, mas está dentro de nós, como Jesus afirma em Lucas 17.21.
O respeitado comentarista bíblico William Barclay afirma: “As bem-aventuranças, com efeito, dizem: ‘Que felicidade é ser cristão! Que alegria seguir a Cristo! Que alegria conhecer a Jesus como Mestre, Salvador e Senhor!’ A forma mesma das bem-aventuranças nos indica que são exclamações de gozosa surpresa e radiante felicidade pela realidade da vida cristã. Em face das bem-aventuranças se faz impossível toda interpretação do cristianismo como uma religião triste e carente de entusiasmo contente.”
Mas para compreendermos as bem-aventuranças, precisamos considerar acima de tudo que representam um código de ética e norma de conduta para todos nós, crentes; que estabelecem um vívido contraste entre os valores eternos do Reino de Deus e os passageiros do mundo; que marcam claramente a contraposição entre o legalismo, o farisaísmo, e a vida de fé legítima e verdadeira que Jesus pregou; que são uma revelação de que as promessas do Antigo Testamento estavam se cumprindo com a vinda do Filho de Deus, e que cada uma delas é uma parte de um conjunto indivisível que compõe o método perfeito para ser feliz que Jesus ensinou, e portanto não podem ser objeto de escolha, de preferência ou de seleção, porque só o todo vivido dia após dia caracteriza um verdadeiro discípulo de Cristo e faz dele um ser autenticamente feliz.
Portanto, é oportuno nos questionarmos: estarão as nossas atitudes refletindo apenas o materialismo, o orgulho, o egocentrismo, a busca por poder e fama que o mundo cultua, ou estamos realmente cultivando os valores do Reino de Deus para o qual fomos chamados? O nosso convite é para que juntos conheçamos mais a fundo cada uma destas bênçãos para que possamos delas usufruir plenamente. Deus nos abençoe.
Continua no próximo fim de semana com o estudo Ser Feliz: A Humildade de Espírito.
3 de outubro de 2020
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