O Bom Líder
Caminhando solitário, ele olhou com olhos perscrutadores para a margem cheia de vegetação daquela estrada tão seca e poeirenta, atraído pelo som murmurante e tão improvável de água correndo. Entrou no mato e descobriu: era uma tímida fonte de água límpida, que brotava alegre por entre o pequeno aglomerado de pedras caprichosamente disposto pela natureza. E ele sentiu o impulso de seguir o fio d’água que gradativamente ia encorpando, alargando e aumentando o volume do precioso líquido. Depois de vários quilômetros, o que havia nascido tão pequeno e acanhado – agora convertido em um rio de porte – subitamente transformou-se em uma cachoeira belíssima que compunha cortina líquida translúcida lançada no espaço, produzindo um magnífico espetáculo visual e sonoro. Curioso e emocionado, começou a descer cautelosamente pelas pedras escorregadias que ladeavam a cachoeira, e quando chegou em uma plataforma quase ao nível do rio, percebeu que por detrás da cortina de água existia uma gruta. Completamente encharcado, foi entrando naquela obra de arte criada por mãos não humanas, e seus olhos, que aos poucos se acomodavam à luminosidade ambiente, descortinavam paredes e teto formados por fantásticas formas de pedra esculpidas ao longo do tempo. De repente, lá ao fundo, percebeu um pequeno retângulo que destoava das formas naturais predominantes, e por isso se destacava da parede onde estava fixada. Aproximou-se mais e viu que era uma placa com algo escrito! Acendeu a lanterna que tinha na mochila, chegou mais perto, e então pode ler: “Não foi o martelo que deixou perfeitas estas pedras, mas a água, com sua doçura; onde a dureza destrói, a suavidade esculpe.”
No coração humano, muito mais que numa pedra, é a suavidade que modela, esculpe, inscreve, e não a dureza, a aspereza ou o rigor. Paulo descreve metaforicamente em 2 Coríntios 3.3, que para discipular, é no coração que é preciso imprimir a Palavra de Deus, da mesma forma como Ele escreveu Suas leis nos corações de Seu povo, dando-lhes um novo desejo e a capacidade de Lhe serem obedientes:“sendo manifestos como carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne do coração.”
A inscrição no coração, Deus a faz com o cinzel suave de Seu infinito amor por nós. E este amor que nos salvou, precisa ser transferido aos discípulos, como se fossem nossos filhos, ao servi-los, buscando sempre atender às suas necessidades, nunca visando servir a si próprios.
Jesus foi o maior líder que jamais existiu, porque exercia Sua liderança com amor, com um amor inexcedível, o maior amor já visto, como Ele próprio expressa em João 15.13: “Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.”
E o jugo de Jesus, embora exigente, é suave porque provém daquele que é manso e humilde de coração, pois aceitava incondicionalmente o plano de Deus para a Sua vida na terra, quer como líder, quer como servo. Moisés, o grande líder que Deus usou para tirar o povo hebreu do cativeiro egípcio, era também manso, “mais do que todos os homens que havia sobre a terra.” (Números 12.3).
Charles Swindoll enfatiza em seu livro Paulo: “A boa liderança equilibra o cuidado terno de uma mãe com o encorajamento amoroso de um pai.” Os líderes devem ser sensíveis às necessidades dos discípulos, agindo com espírito carinhoso e compassivo, exteriorizando este fruto do espírito que está expresso em Gálatas 5.23. Paulo, o líder forte, apaixonado, firme, era também conhecido por sua gentileza e graça; os bons líderes devem ter e demonstrar afeto pelas pessoas. O evangelho sozinho não basta: Paulo se importava tanto com os discípulos de Tessalônica, que deu-se a eles, como o apóstolo externa em 1 Tessalonicenses 2.8; os bons líderes são encorajadores entusiásticos, como ele lembra em 1 Tessalonicenses 2.10, 11.
Mas como Paulo aprendeu a liderar desta forma, após ter sido boa parte da vida um fariseu arrogante e cruel para com os cristãos? Simples: ele passou dócil e alegremente de comandante a liderado, depois de encontrar o Mestre Jesus.
Hans Finzel, renomado especialista e consultor na área de liderança, é atualmente presidente e CEO de WorldVenture, uma organização americana voltada para o desenvolvimento mundial de líderes, que possui uma equipe de 600 missionários espalhados por 65 países. Ele diz que “os líderes servos devem estar dispostos a viver submissos em muitos níveis: submissão à autoridade, a Deus Pai, ao cônjuge, aos princípios da vida sábia e às obrigações. Embora a sabedoria convencional diga que todos devem se submeter ao seu líder, a verdade é que os líderes, para serem eficientes, devem aprender a submeter-se.”
Mas precisamos estar conscientes de que seguir a Cristo, ser Seu liderado, Seu discípulo, tem um custo, que muitas vezes não é pequeno, como Paulo pagou, depois que passou de convertido a discípulo e depois a discipulador.
O escritor evangélico e ministro John F. MacArthur Jr., diz em seu livro O Evangelho Segundo Jesus: “Quando Jesus chamava discípulos, Ele os instruía cuidadosamente quanto ao custo de segui-lo. Pessoas de coração dúbio, que não estavam dispostas a se comprometerem com Ele, não O seguiam. Desse modo Ele afastava os que relutavam em pagar o preço, como no caso do jovem rico. Ele advertia a todos os que pensavam tornar-se discípulos a que calculassem o preço disso cuidadosamente. Discípulo não é quem simplesmente faz um “seguro contra incêndio”, como quem se alista para fugir de uma vida pós-morte desagradável. Discípulo é alguém cuja fé se expressa em submissão e obediência. Discípulo é alguém que segue a Cristo, que está inquestionavelmente comprometido com Cristo como seu Senhor e Salvador; alguém que deseja agradar a Deus. Seu objetivo é ser EM TUDO um discípulo de Jesus Cristo. Quando peca, busca o perdão e dispõe-se a continuar avante. Este é o seu espírito e o seu caminhar. O chamado ao discipulado exige explicitamente esse tipo de dedicação total.”
Amado Deus, que a Tua inesgotável misericórdia nos alcance em todos os momentos de nossa vida, para que nos tornemos discípulos e discipuladores verdadeiramente cristocêntricos, desenvolvendo os ministérios que Tu nos outorgastes com o amor e a suavidade que Jesus nos ensina. É em Seu santo nome que, sempre agradecidos, oramos. Amém.
Paulo
15 de março de 2011 at 13:28Acredito que se realmente tivéssemos dentro da igrejas este exemplo de autoridade exercida não pelo cargo, mas sim pelo exemplo, teríamos igrejas fortes, sem divisões, e teríamos grande redução da quantidade de placas.
antonio carlos
15 de março de 2011 at 15:03Liderar é se colocar no lugar do outro. Fazer ao outro o que gostaria que lhe fosse feito. Liderar é ser paciente, ser bom ouvinte. Pensar para falar; não falar o que pensa, ou seja: ir falando sem pensar nas consequencias. LIDERAR É TER UM BOM EXEMPLO A SEGUIR, JESUS. LIDERAR É TER UM BOM MANUAL, A BÍBLIA. LIDERAR É OUVIR UM BOM CONSELHEIRO, O ESPÍRITO SANTO. LIDERAR É AMAR A DEUS ACIMA DE TODAS AS COISAS, AO INVÉS DE TODAS AS COISAS DEPOIS DEUS.
ANTONIO CARLOS
Nanny & Winston
15 de março de 2011 at 19:02Caro Antonio Carlos, bela síntese. Você conseguiu relacionar brilhantemente os aspectos essenciais da boa liderança. Que Deus continue a abençoá-lo na sua participação na Grande Obra.
Nanny & Winston
15 de março de 2011 at 20:48Querido Paulo, você tocou em um ponto crucial: a predominância tão comum do discurso sobre a atitude, em algumas lideranças de igrejas. Enquanto continuarem a se valer, antes da oratória que do agir segundo o modelo de Cristo, pouco poderemos esperar do discipulado assim gerado.