Avivamento e Missões

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Avivamento e Missões

Os três sapinhos estavam eufóricos naquela noite de sábado: enquanto se preparavam para ir à festa para a qual haviam sido convidados, conversavam animadamente sobre o que os esperava, e como iriam se divertir.

Saíram à rua e foram noite adentro saltitando, afinal eram sapos, mas também porque estavam muito alegres. Chovera o dia todo, a estrada estava enlameada, e os veículos tinham produzido fundos sulcos que agora se apresentavam cheios de água. Mas eles animados seguiam em frente, saltando um sulco aqui, outro ali, quando depararam com um sulco bem maior, uma verdadeira vala feita com certeza por um grande caminhão. Estacaram na borda, o primeiro sapinho deu um impulso e… zupt, aterrissou do outro lado. O segundo sapinho preparou-se, respirou fundo e, zupt, juntou-se ao primeiro. Era a vez do terceiro sapinho. Ele ficou titubeante, e tremendo de medo, não se decidia a pular, apesar dos gritos de incentivo dos outros dois. Repentinamente tomou coragem, pulou, e tchá!, mergulhou na lama. Esperneou um bocado, os outros dois encorajavam-no a fazer mais força para sair fora da vala, mas ele não conseguia, e por fim, esgotado desistiu. Os dois então resolveram: “Já que ele não consegue sair, nós vamos à festa e na volta achamos um jeito de tirá-lo daí”. E seguiram estrada afora saltitando. Já era madrugada alta quando voltaram ao lugar onde tinham deixado o amigo e em vão procuraram por ele. Não estava mais na vala! Começaram a vasculhar a redondeza e acabaram achando o sapinho dormindo encostado em uma árvore à beira da estrada. Acordaram-no e perguntaram-lhe como havia conseguido sair da vala. Ainda sonolento ele respondeu: “Logo depois de vocês irem embora, de repente vi se aproximarem os faróis de uma grande carreta, fiquei aterrorizado, não sei de onde reuni forças, mas num salto me vi fora da vala!”

Isto não lembra o que acontece com alguns de nós cristãos? Parece que só quando enfrentamos situações muito difíceis, de doença grave, de desemprego, de perda de um ente querido, de crise afetiva, de injustiça, nos mobilizamos com toda a nossa força para buscar o auxílio, o socorro, o amparo que só Cristo dá. Este maior envolvimento com Deus abre portas para que o Espírito Santo passe a atuar mais poderosamente em nós, pois que estaremos atendemos ao convite de Jesus em Apocalipse 3.20: Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.” Mas seguramente há outra motivação ainda maior para nos mobilizarmos para a obra de Deus: é o agir do Espírito Santo em nós coletivamente como Igreja, resultado de um genuíno avivamento, cujos componentes essenciais são o aquecimento do fervor religioso – revelado através de santidade, pureza, renúncia (“não eu, mas Cristo”) – vitória sobre o pecado, amor entre os irmãos, devoção pessoal, vontade de evangelizar e total consagração a Cristo.

O pastor e missionário Ronaldo Lidório no artigo de sua autoria “O Espírito Santo e as Missões”, demonstra que há uma clara relação de causa e efeito entre os ciclos de avivamento e o crescimento do movimento missionário no mundo. Relata ele que, frutos de  avivamento, “a partir de 1730  John Wesley durante 50 anos pregou cerca de 3 sermões por dia, a maior parte ao ar livre, tendo percorrido 175.000 km a cavalo pregando 40.000 sermões ao longo de sua vida; em 1727 a Igreja moraviana passa a enviar missionários para todo o mundo conhecido da época, chegando ao longo de 100 anos a enviar mais de 3.600 para diversos países; em 1784, após ler a biografia do missionário David Brainerd,  o estudante Wiliam Carey foi chamado por Deus para alcançar os indianos. Após uma vida de trabalho conseguiu traduzir a Palavra de Deus para mais de 20 línguas locais e sua influência permanece ainda hoje; em 1806 Adoniram Judson tem uma forte experiência com Deus e se propõe a servir a Cristo, indo depois para a Birmânia, onde é encarcerado e perseguido durante décadas, mas deixa aquele país com 300 igrejas plantadas e mais de 70 pastores. Hoje, Myanmar, a antiga Birmânia, possui mais de 2 milhões de cristãos; em 1882 Moody pregou na Universidade de Cambridge e 7  homens se dispuseram ao Senhor para a obra missionária e impactaram o mundo da época. Foram chamados “os 7 de Cambridge”, que incluía Charles Studd (sua biografia publicada no Brasil chama-se “O homem que obedecia”). Foi para a África,  percorreu 17 países e pregou a mais de meio milhão de pessoas. Fundou A Missão de Evangelização Mundial (WEC International) que conta hoje com mais de 2.000 missionários no mundo; em 1855 Deus falou ao coração de um jovem franzino e não muito saudável para se dispor ao trabalho transcultural em um país idólatra e selvagem. Vários irmãos de sua igreja tentavam dissuadí-lo dizendo: “para que ir tão longe se aqui na América do Norte há tanto o que fazer ?”Ele preferiu ouvir a Deus e foi. Seu nome é Simonton (1833-1867) que veio ao nosso país e fundou a Igreja Presbiteriana do Brasil; em 1950 no Wheaton College cerca de 500 jovens foram chamados para a obra missionária ao redor do mundo. E obedeceram. Dentre eles estava Jim Elliot que foi morto tentando alcançar a tribo Auca  na Amazônia em 1956. A partir de seu martírio houve um grande avanço missionário em todo o mundo indígena, sobretudo no Equador.  Outro que ali também se dispôs para a obra missionária foi o Dr Russel Shedd que é tremendamente usado por Deus em nosso país até o dia de hoje.”

Nos dias que correm é muito comum encontrar cristãos instalados em suas zonas de conforto, totalmente satisfeitos por cumprir burocraticamente os compromissos na igreja, indo ao culto no domingo, eventualmente participando de uma ou outra atividade, mas dedicando 90% ou mais de seu tempo à vida secular. São cristãos sem iniciativa, sem ousadia espiritual, sem frutos, sem criatividade na obra, temerosos de qualquer mudança que possa afetar o statu quo em que se encontram, tornando-se assim inúteis para a expansão do Reino de Deus, porque são incapazes de discernir o muito que o Senhor pode e deseja realizar por meio de seus testemunhos. Esquecem que Jesus veio para nos dar vida eternamente abundante, mas que é preciso que haja mudanças de alguns hábitos e costumes antigos que estejam bloqueando o acesso à vida que Ele nos quer dar. Esquecem também da maravilhosa promessa de Paulo em 1 Coríntios 6.17: Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele”. John Piper, o conhecido escritor, pastor e conferencista norte-americano, defende a tese de que onde quer que a paixão por Deus seja fraca, o zelo por missões terá a mesma intensidade, e vice-versa. Raciocinemos: se não houver paixão por Cristo, como poderá haver paixão pela causa do Evangelho? Deus é um Deus missionário, a Bíblia é um livro missionário, a igreja é a agência do Reino de Deus para as nações, e nós precisamos rogar ao Pai que nos mostre a Sua soberana vontade para que não sejamos omissos frente à seara que nos espera.

Mas é necessário que consideremos que a característica do avivamento autêntico não é o exagero emocional, o barulho, a histeria, a agitação descontrolada, mas sim uma igreja que age poderosa e suavemente sob o mover do Espírito Santo – como o livro de Atos 2.42-47 descreve – em que há: centralidade em Cristo e em sua Palavra; comunhão que produz um corpo bem ajustado, como Paulo ensina em 1 Coríntios 12.12; oração incessante – atendendo à exortação de Paulo em 1 Tessalonicenses 5.17 – porque é a comunhão com Deus que desencadeia todo o processo de renovação espiritual; dedicação a missões, pois o poder do Espírito habilita o crente a pregar o evangelho, a ser testemunha, como lemos em Atos 1.8; e, ação social – característica de todos os legítimos avivamentos – exemplificada em Atos 9.36. Atualmente fala-se muito em reavivamento, mas o que é?  Os teólogos afirmam que é o sopro de Deus para tirar a poeira que foi acumulada ao longo dos anos, no período de tempo compreendido entre o último avivamento e o momento atual. Em seu livro “A Verdade do Evangelho”, John Stott afirma que reavivamento é uma visitação inteiramente sobrenatural do Espírito soberano de Deus, pela qual uma comunidade inteira toma consciência de sua santa presença e é surpreendida por ela. Os inconversos se convencem do pecado, arrependem-se e clamam a Deus por misericórdia, geralmente em números enormes e sem qualquer intervenção humana. Os desviados são restaurados. Os indecisos são revigorados. E todo o povo de Deus, inundado de um profundo senso de majestade divina, manifesta em suas vidas o multifacetado fruto do Espírito, dedicando-se às boas obras.”
Trate-se de avivamento ou de reavivamento, devemos ter em mente que toda a vida espiritual, seja no indivíduo ou na comunidade, na igreja ou na nação, é obra do Espírito Santo. O teólogo F. Carlton Booth, em “Dicionário de Teologia”, diz que” nenhum homem pode programar um reavivamento, porque só Deus é doador de vida”, e a única coisa que o homem pode fazer é orar por um reavivamento que redirecione, vitalize e fortaleça espiritualmente o corpo de :Cristo , como fez o salmista no Salmo 85.6: “Porventura, não tornarás a vivificar-nos, para que em ti se regozije o teu povo?”

Senhor, que Tu nos enchas com o Teu Santo Espírito, que Tu nos fortaleças e sustentes com a Tua graça, que Tu nos guies em todos os nossos caminhos e nos faça servos úteis na comissão que nos conferiu. Oramos todo o tempo como o profeta em Habacuque 3.2: “… aviva a tua obra, ó Senhor, no decorrer dos anos, e, no decurso dos anos, faze-a conhecida…”. Em nome do Senhor Jesus. Amém.

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