Benditos de Meu Pai
Giovanni di Pietro di Bernardone nasceu em uma cidadezinha do centro da Itália, em 5 de julho de 1182, era filho de um rico comerciante italiano, e quando jovem levou uma vida mundana e irresponsável, de muita paixão pelas aventuras, pelas roupas da moda e pela bebida, esbanjando muito dinheiro, sendo por isso muito popular entre seus amigos. Durante uma das muitas farras de que participava, foi tocado pela presença divina, e começou a perder o gosto por aquele estilo de vida devasso, passando então a se sensibilizar pelas pessoas necessitadas.
Certa vez foi eleito “rei da juventude” em uma festa tradicional da região em que vivia mas, em vez de na sequência preparar-se para a vida de casado, como era costume na época, optou por retirar-se para uma caverna onde foi meditar, acompanhado de apenas um amigo fiel, para quem revelou suas preocupações e seu desejo de obter sabedoria e de dedicar-se à vida religiosa. Mas este era ainda era um período de hesitação, que aumentava quando ele manifestava aos outros sua vontade de deixar a vida vazia que até então levava, e era por isso criticado e ridicularizado.
Um dia estava percorrendo a cavalo os campos que cercavam a cidade, quando ouviu o som de um sino que os leprosos usavam para avisar de sua aproximação, e de repente viu-se face a face com um indivíduo repugnante, todo deformado. Era inverno, e o leproso, em meio à neve e ao gelo, tinha apenas alguns trapos sujos sobre o corpo para protegê-lo do frio intenso. O rapaz, que sempre sentira muita repulsa pelos leprosos, num impulso desceu do cavalo, tirou o rico manto que trazia e com ele cobriu o homem. Foi um momento de espanto para ambos, e ao perceber a gratidão estampada nos olhos e no sorriso do doente, o jovem comoveu-se, chorou e beijou o rosto desfigurado do leproso. A partir deste dia passou a dedicar-se a uma vida piedosa de completa pobreza, percorrendo a região e pregando em todos os lugares por onde passava, numa época em que os religiosos viviam isolados em mosteiros.
Defendendo a tese de que o Evangelho devia ser seguido à risca pela imitação da vida de Cristo, adquiriu uma profunda identificação com os problemas de seus semelhantes e com a humanidade de Jesus. Louvava sem cessar a perfeição, a bondade e as maravilhas da natureza, a Criação de Deus, num tempo em que o mundo era visto como essencialmente mau, e dedicou-se a ajudar aos mais miseráveis dos seres humanos, revelando ainda seu amor por todas as criaturas de Deus, chamando-as de irmãs e irmãos.
Quem era este homem? Francisco de Assis é como ficou conhecido ao longo dos séculos este ser notável, bendito filho de Deus, cuja atitude parece espelhar a parábola que Jesus contou em Mateus 25.31-36, onde fala sobre o critério que utilizará para nos julgar no Dia do Juízo: “Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à esquerda; então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me.”
Observemos que esta parábola de Jesus ensina que seremos julgados simplesmente pelo que fizermos para atender às necessidades de nosso próximo. Não seremos julgados pelo acúmulo de conhecimentos adquiridos, nem pelo poder alcançado, nem pela riqueza material conquistada, nem pela fama que tivemos, mas sim pelo auxílio amoroso que prestamos a quem precisava.
E como Jesus diz que deve ser a nossa ajuda?
Em primeiro lugar deve ser simples, por isso acessível a qualquer pessoa: saciar a fome e a sede de alguém, hospedar quem precisa de um teto, agasalhar quem não tem roupa, visitar os doentes e os idosos, levando-lhes conforto espiritual, carinho e amparo psicológico, assistir a um detento. Jesus não está nos dizendo que devemos criar entidades assistenciais ou nos tornar vultos heroicos, inscrevendo nossos nomes nos anais da história, nem doar milhares de reais a causas sociais, Ele quer apenas que ajudemos pessoas que encontramos no nosso dia a dia, algumas que até chegam a bater à nossa porta.
Em segundo lugar, não devemos ajudar visando receber em troca o lucro terreno da gratidão, do prestígio e da promoção pessoal, como fazem muitos que querem egoisticamente se sentir mais importantes e ser louvados: nossa assistência precisa ser generosa e abnegada, e assim devemos até mesmo desconsiderar as recompensas celestiais que Jesus já nos prometeu, que não podem ser nosso objetivo principal quando praticamos a caridade. Devemos ajudar porque somos impelidos de forma natural e espontânea pelo agir do Espírito Santo em nossos corações, em uma reação automática, instintiva, desinteressada, como se estivéssemos doando-nos a nós próprios a Cristo, que doou incondicionalmente Sua vida por nós na cruz.
Em terceiro lugar, devemos ter em mente a maravilhosa verdade que, quando ajudamos alguém necessitado, estamos fazendo isto para Jesus, como Ele nos mostrou em Mateus 25.37-40: “Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” De forma simétrica, similar, se negarmos nossa ajuda a alguém, será a Ele que a estaremos negando, como somos ensinados em Mateus 25.45: “Em verdade vos digo que, sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer”. E o Senhor conclui de forma contundente no versículo 46: “E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna.”
Amado Senhor nosso Deus, sabemos que no juízo cada um de nós deverá prestar contas a Ti, e que Tu, que exerces sempre a perfeita justiça, por meio de Cristo Jesus retribuirá a cada um segundo o seu procedimento. Nós vivemos dias maus em um mundo corrompido, e até mesmo ao ajudarmos de boa fé alguém ou alguma entidade, corremos o risco de estarmos sendo enganados pelas artimanhas do maligno e de pessoas por ele influenciadas. Pai, queremos ajudar aqueles que Tu colocares em nosso caminho, queremos ser contados entre os Teus benditos, e somos totalmente dependentes de Ti, por isso rogamos que Teu Santo Espírito nos faça discernir quando a ajuda que intentarmos prestar seja produtiva, seja verdadeiramente para Ti. E que possamos perseverar sempre no amor ao nosso próximo, em nome de Jesus. Amém.
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