Textos Boas Novas

A Diferença Entre Minúscula e Maiúscula

Por Roland Körber e Miguel Herrera

Uma destas manhãs estava em um momento devocional, em um tempo sozinho com o meu Deus; exatamente naquele dia estava para começar uma nova experiência profissional sobre a qual tinha (e ainda tenho) grande expectativa. Enquanto orava sobre o assunto, coloquei meu coração diante de Deus e disse algo do tipo “estou começando este dia com bastante esperança de que dê certo.” Mas, para traduzir direitinho o que eu queria dizer, talvez fosse melhor se dissesse “estou começando este dia achando que há possibilidade de que as coisas sejam como eu quero e gostaria muito que fosse assim. Torço muito para que dê certo.”

Pensando um pouco mais, perguntei a mim mesmo: Mas, e se não der certo? Minha profissão é extremamente importante (para mim), mas continua sendo circunstancial. A palavra esperança fez soar uma campainha em meu coração: como cristão, tenho ainda outra esperança: sei que algo vai acontecer, apesar de não saber quando, por isto espero, mas com a certeza daquilo que espero. Estou falando da volta de Jesus, quando sei ele vai fazer novas todas as coisas, quando tenho plena certeza de que seu Reino será finalmente consumado e que haverá novos céus e nova Terra; creio de todo coração que então a morte e o mal serão extintos e mais, que eu vou estar lá e viver essa experiência. Vivo por essa esperança; aliás, minha vida só faz sentido por causa dela.

Tenho tentado explicar a diferença entre os dois tipos de esperança… Nessa minha “matutação” matinal me ocorreu fazer uma distinção entre esperança e Esperança. Quer dizer, esperança (com minúscula) para mim se refere à esperança de que o trânsito esteja melhor amanhã, de que meu time ganhe o campeonato, de que meu trabalho dê certo… Melhor traduzida: gostaria de, torço para, tenho muita vontade. Se essa esperança se realizar ou não, seus efeitos serão circunstanciais e não existenciais. Posso ficar circunstancialmente mais contente ou mais chateado, mas não haverá uma mudança do quem sou, para quem vou nem no por que vivo. Isto é, não muda de fato minha existência.

Agora, para mim, Esperança (com maiúscula) é uma só. Ela mudou por completo meu jeito de viver. Pela Esperança, apesar de não saber como Jesus vai surgir em sua volta, sei que vou vê-lo. Não consigo nem imaginar como será a vida no Reino já consumado, quando o mal e a morte tiverem sido eliminados e o mundo viver em justiça e paz, mas sei, que sei, que sei que vou experimentar isso.

Porque creio, espero, isto é, tenho Esperança. E porque tenho Esperança, quero viver desde já de uma forma digna do Reino; quero sinalizar a tantos quantos possa como é que se vive com essa Esperança e convidar a tantos quantos queiram a usufruí-la também.

Agora, mesmo tendo essa Esperança, a verdade é que continuo vivendo no mundo e tendo esperança de que esse meu trabalho dê certo. Mas se não der, continuo tendo a minha Esperança; ela ninguém pode tirar.

Pois tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para nos ensinar, de forma que, por meio da perseverança e do bom ânimo procedentes das Escrituras, mantenhamos a nossa esperança. Rm 15.4

Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que estivermos vivos, seremos arrebatados com eles nas nuvens para encontrar com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre. 1 Ts 4.16-17

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A União Produzida pelo Espírito

Por Reinaldo Muchailh Junior

Dizem que a união faz a força, seja de duas pessoas ou de um grupo de pessoas, independente do tamanho do grupo. Ao contrário, a falta de união ou separação, enfraquece, mina, destrói e mata.

Creio que uma das principais causas da dissolução de uma união é a nossa natural falta de compreensão ou o nosso julgamento de acordo com nossos parâmetros limitados, por não conhecermos nosso próximo e o rotularmos como o vemos, ou por convivermos com alguém a ponto de conhecermos as falhas que todos carregamos e adquirimos ao longo da vida.

Conhecendo pouco ou muito nosso próximo, nossa visão para um julgamento é limitada e parcial. Mas Deus tem a visão integral, detalhada e global (Isaías 55.8-9).

Acontece que facilmente julgamos o outro, achando-nos superiores e não observando o que nos orienta a Palavra (Filipenses 2.3). Falta-nos obedecer, pois sabemos, falamos, mas não agimos. Quando julgamos, também nos falta humildade, como o próprio Jesus nos ensina a ter.

O julgamento entre nós é uma coisa muito séria, que nos cega e encobre a visão do que certamente o nosso próximo possa ter de bom aos Olhos de Deus, para ser usado por Ele (Mateus 7.1-5).

Deus nunca desiste de ninguém, como podemos nós desistir de investir em alguém por julgarmos um caso perdido? É certo que alguns, só por milagre, rsrsrsrsrs, mas não cremos que Deus faz milagres, homens de pouca fé?

Assisti a um filme que recomendo, “A corrente do Bem”. Penso que pode nos inspirar a acreditar e apostar naquele que ninguém acredita e aposta, mesmo se talvez formos julgados por outros como loucos por apostar em “quem não merece”.

Quem sabe poderemos ter a experiência maravilhosa de sermos instrumentos do Amor e do Agir de Deus através de nossas vidas, trazendo para o Corpo de Cristo aquele que ninguém apostava que pudesse ser útil à causa. Precisamos estar conscientes que isto não vem de nós, é poder e dom de Deus, mas que com fé poderemos fazer parte do milagre.

Exercitemos então enxergar nosso próximo pela lente amorosa, mansa e longânime de Deus, e pela fé estenderemos nossa mão insistentemente àquele que ninguém estende, inspirados pelo louco amor de Jesus à humanidade, a fim de promover a unidade e o crescimento do Corpo pela ação do Espírito Santo através do vínculo da Paz, do Amor e da Compaixão.

Lembremos a carta de Paulo aos Efésios 4.1-6:Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz: há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos.”

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Aumenta-nos a Fé

Por Péricles Figueiredo

A fé, conforme demonstrada na Bíblia, ensejou os seguintes comentários de Jesus Cristo: “Então, entrando Ele no barco, seus discípulos o seguiram. E eis que sobreveio no mar uma grande tempestade, de sorte que o barco era varrido pelas ondas. Entretanto, Jesus dormia. Mas os discípulos vieram acordá-lo, clamando: Senhor, salva-nos! Perecemos! Perguntou-lhes, então Jesus: Por que sois tímidos, homens de pequena fé? E, levantando-se, repreendeu os ventos e o mar; e fez-se grande bonança.” (Mateus 8:23-26); e, em outra ocasião: “Partindo Jesus dali, retirou-se para os lados de Tiro e Sidom. E eis que uma mulher cananéia, que viera daquelas regiões, clamava: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim! Minha filha está horrivelmente endemoninhada. Ele, porém, não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos, aproximando-se, rogaram-lhe: Despede-a, pois vem clamando atrás de nós. Mas Jesus respondeu: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Ela, porém, veio e o adorou, dizendo: Senhor, socorre-me! Então, Ele, respondendo, disse: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Ela, contudo, replicou: Sim, Senhor, porém os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos. Então, lhe disse Jesus: Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se contigo como queres. E, desde aquele momento, sua filha ficou sã.” (Mateus 15:21-28).

No primeiro caso Jesus questiona seus discípulos – todos juntos, e que o conheciam pessoalmente, mas com medo – pela pequena fé demonstrada; no segundo caso, Jesus exclama positivamente que grande é aquela fé demonstrada por uma mulher cananéia – sozinha, e que não O conhecia pessoalmente, mas determinada – no contexto, duplamente discriminada, pelo fato de ser mulher, e por pertencer a um povo historicamente desprezado pelos judeus.

Entre pequena e grande existe a possibilidade de crescer na fé:Paulo, Silvano e Timóteo, à Igreja dos tessalonicenses… Irmãos, cumpre-nos dar sempre graças a Deus no tocante a vós outros, como é justo, pois a vossa fé cresce sobremaneira, e o vosso mútuo amor de uns para com os outros vai aumentando.” (II Tessalonicenses 1:3). E este crescimento ocorre num ambiente de batalha: “Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos.” (Judas 1:3).

No mundo de hoje existe muita credulidade e superstição que não é fé em Deus. Até no ambiente religioso, algumas atitudes são apenas aparências de fé, uma forma de conhecimento com menor grau de certeza, uma mera submissão ao ensino de uma igreja, uma obediência cega a uma autoridade religiosa. Por outro lado há muitos relacionamentos de crença, confiança, e formas sutis de obediência, a outros deuses e – particularmente no mundo atual – é possível identificar uma avassaladora inclinação para com o deus dinheiro. Por vezes somos até tentados a seguir os passos para assegurar a prosperidade, em paralelo com nossas atividades religiosas. Afinal, diz o ditado popular, “deus ajuda a quem se ajuda…” (convido-os a ler postagem recente sobre dinheiro em periclesdiacono.blogspot.com).

Como é a fé cristã? A fé cristã apóia-se em três pilares, e a falta de qualquer um deles, implica distorção da fé verdadeira: há uma atividade de crença, um saber a respeito (a cristandade baseia-se no que os cristãos entendem ser uma revelação divina). Há um elemento emocional (ainda que a fé não brote de um turbilhão de sentimentos, esta dimensão afetiva da fé cristã assume a forma de uma relação de confiança num Deus pessoal que salva em Jesus Cristo; o chamamento ao Reino de Deus é um convite a uma relação de irrestrita confiança na fidelidade de Deus e no poder de sua graça salvadora). E há um fazer a vontade de Deus, pois não se conhece Deus a menos que se lhe faça a vontade, e é apenas no fazer que se conhece verdadeiramente a Deus .

A fé cristã é essencialmente uma vida vivida em resposta ao chamado para o Reino de Deus em Jesus Cristo. Esta vida, desenvolve-se a passo a passo de fé: “quem invoca sua fé ou falta de fé como desculpa de sua desobediência ao chamado de Jesus, ao tal Ele diz: sê primeiro obediente, deixa o que te prende, abandona o que te separa da vontade de Deus! Não a terás enquanto permaneceres na desobediência, enquanto não te decidires a dar o passo de fé. Nem dirás: eu já tenho fé e não preciso dar um passo de fé. Não a terás enquanto não deres este passo e porque não o deste, antes te refugias em descrença por trás da aura de uma fé humilde. Se crês, dá o passo da fé. Ele conduz a Cristo. Se não crês, dá-o igualmente, pois a ordem é essa: nada se te pergunta acerca da tua fé ou da falta de fé. Antes, o que se te ordena é a obediência e de a pores em prática”. A Bíblia registra dois passos que foram críticos para seus autores: o ladrão na cruz (um único passo de fé definiu sua vida eterna com Deus) e Judas, ou a impossibilidade de dar um passo de fé em Deus, e, ao mesmo tempo, de fé no deus dinheiro (um passo final em falso definiu sua vida eterna no Inferno).  A natureza desses passos de fé, é sui generis: não se consegue ensiná-los na teoria, e só se aprende dando o passo de fé.

Um caso extremo prova a fé do patriarca Abraão no chamado de Deus para sacrificar seu filho: “Raiava a manhã. Abraão ergueu-se, abraçou Sara, companheira de sua velhice, e Sara beijou a Isaac, que a livrara do escárnio e era o seu orgulho e esperança para todas as gerações futuras. Andaram em silêncio. Abraão manteve o olhar obstinadamente fixo no chão até o quarto dia. Somente então ergueu os olhos e distinguindo no horizonte a montanha de Morija, tornou a baixá-los. Abraão fez os preparativos do sacrifício: silenciosamente preparou o holocausto e atou Isaac. Porém quando se voltou para sacar a faca, observou Isaac que a mão de seu pai estava crispada de desespero, que um arrepio lhe sacudia o corpo e entretanto Abraão sacou a faca. Foi então que enxergou o carneiro que Deus providenciara. Sacrificou-o e tornou à casa… Sara atirou-se ao encontro deles. Deste dia em diante Abraão envelheceu; não conseguia esquecer daquilo que Deus exigira dele…“.

Esta é a transcrição de uma passagem do livro “Temor e Tremor” de Kierkegaard, filósofo de referência do existencialismo cristão, porque em nossa leitura corrida da passagem bíblica original, talvez deixemos passar desapercebida a possível intensa luta íntima deste que foi considerado ícone e pai da fé, fonte de inspiração em nossos chamados pessoais, infinitamente menos exigentes.

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