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TEMOR E OBEDIÊNCIA

A contista e romancista norte-americana Joanne Greenberg, escreveu um conto cujo título inspirado no Livro de Eclesiastes, é “Things in Their Season” (Cada Coisa a Seu Tempo), onde um grupo de pessoas descobre casualmente que o governo está cobrando secretamente um imposto sobre o tempo, nos moldes do imposto de renda, pois afinal… tempo é dinheiro! O grupo então rouba uma carga de tempo de um depósito do governo para prolongar a vida de um seu amado professor que está morrendo.

 

No entanto, ficção à parte, a realidade que permeia Eclesiastes se impõe. Não podemos roubar tempo e prolongar os dias de quem quer que seja, mas devemos, isto sim, usar bem o tempo de que dispomos, vivendo com temor e obediência a Deus, como expressam os versos 13-14 do capítulo 12, que encerram o livro, literalmente afirmando: “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más”. Portanto, a ordem teme a Deus é paralela à outra determinação guarda os seus mandamentos, mostrando que a verdadeira reverência a Deus deve e manifestar na obediência a Ele, porque isto é o dever de todo homem.

 

O título hebraico do livro de Eclesiastes é Qohelet, que significa “aquele que convoca uma assembléia e fala a ela”, ou seja, um eclesiástico ou um pregador.  A tradição judaica afirma que seu autor foi Salomão, e embora o texto não o identifique como tal, o autor refere-se a si mesmo no primeiro capítulo, verso primeiro do livro como “… filho de Davi, rei de Jerusalém”, e as menções à sua própria sabedoria em 1.16, ao seu hedonismo em 2.3, à sua riqueza em 2.7 e ao seus grandes empreendimentos de construção em 2.4-6, apontam para Salomão, único descendente de Davi que preenche as características citadas. Segundo a maioria dos especialistas, o livro foi escrito em torno do ano 935 a.C., e embora alguns opinem que tenha sido escrito mais tarde, após o exílio babilônico, fragmentos de papiros encontrados em Qumran eliminam qualquer possibilidade de que tenha sido redigido após o ano 150 a.C.

 

Muitas vezes o questionamento humano tem sido ao longo das eras: será que a vida é um absurdo, um caos totalmente sem finalidade? Eclesiastes, em sua parte inicial,  parece intencionalmente ter a função de levar-nos a achar que tudo realmente é sem sentido.  E se tudo efetivamente caminha para  a morte, chegamos à conclusão aparente de que nada tem significado, de que nada vale a pena debaixo do sol, para ao final podermos perceber que tudo na verdade vale a pena, que tudo tem sentido desde que confiemos no Criador de tudo o que existe.

 

Para os padrões dos nossos dias, temer e obedecer a Deus é algo absurdo e descabido sob a ótica dos valores terreais vigentes e pela sabedoria do mundo, mas em contraposição a esta visão míope, o livro de Eclesiastes aponta, ao contrário, para a futilidade, a transitoriedade e a falibilidade dos empreendimentos humanos que não levam em conta o propósito de Deus, ao confiarem exclusiva e presunçosamente na capacidade humana.

 

Este livro da Bíblia – o único que não recebeu qualquer menção no Novo Testamento, e sobre o qual o pastor Ed René Kivitz escreveu uma obra sob o título “Eclesiastes, o Livro Mais Mal-Humorado da Bíblia” – foi escrito por alguém que, após viver uma boa parte de sua vida usufruindo à exaustão de todas as benesses que Deus lhe proporcionou, faz agora – já na fase final da sua existência – uma reavaliação dos valores que a pautaram.

 

É interessante observarmos que, embora o Novo Testamento não faça nenhuma referência direta a Eclesiastes, há uma extraordinária e fiel inter-relação entre ambos. Por exemplo, enquanto Eclesiastes 3.17 diz que “Deus julgará o justo e o perverso; pois há tempo para todo propósito e para toda obra”, Paulo, em 2 Coríntios 5.21 complementa asseverando que são justos somente os que estão em Cristo, dizendo que “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus”; Eclesiastes 3.11 proclama que Deus “… pôs a eternidade no coração do homem…”, e Jesus em João 3.16 revela que “… Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”; Eclesiastes 5.10  censura:  “Quem ama o dinheiro jamais dele se farta; e quem ama a abundância nunca se farta da renda; também isto é vaidade”, e Jesus em Marcos 8.36 pondera: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”. Em suma, se Eclesiastes descreve vaidades e decepções experimentadas pelo homem debaixo do sol, o Novo Testamento deixa claro que somente em Cristo podemos encontrar significado e razão para a vida terreal.

 

A narrativa do Pregador mostra o equívoco frustrante que inevitavelmente resulta de procurar a felicidade no prazer temporário do mundo, mas ao final conclui que o temor a Deus e a observância de Seus mandamentos e ordenanças – os valores eternais – fundamentam o único caminho para encontrar um significado pessoal transcendente e verdadeiro para a existência. Esta conclusão está claramente assinalada na Bíblia, quando Jó 28.28 assevera: “… Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento”, seguida pelo questionamento de 1 Samuel 15.22: “… Tem,  porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra?…”, e finalmente consolidada por Eclesiastes 12.13: …Teme a Deus e guarda os seus mandamentos …”.

 

Eclesiastes nos dirige duas expressões que se repetem várias vezes, com o claro objetivo de enfatizar sua importância na tese defendida pelo Pregador: a primeira é a palavra vaidade, usada 34 vezes para caracterizar a transitoriedade das coisas materiais, e a segunda é a expressão debaixo do sol, que encontramos 29 vezes, significando o mundo físico. Como exemplo, recordemos o verso 1.2: “Vaidade de vaidades! diz o Pregador; vaidade de vaidades! Tudo é vaidade”, complementado pela conclusão de 2.11, “Considerei todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também o trabalho que eu, com fadigas, havia feito; e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol”.

 

Para uma melhor compreensão do Livro de Eclesiastes, pode ser útil nos valermos de um esboço sintético baseado em The Ryrie Study Bible, na qual, em sua primeira parte, capítulo 1, versos 1-3 apresenta a tese do livro: Tudo é Vaidade.

A segunda parte, de 1.4 a 2.26, faz a Demonstração da Tese: A Futilidade dos Ciclos da Vida (1.4-11), A Futilidade da Sabedoria Humana (1.12-18), A Futilidade do Prazer e da Riqueza (2.1-11), A Futilidade do Materialismo (2.1-11), e chega à Conclusão: Desfrutar e Contentar-se com a Providência Divina (2.24-26).

A terceira parte é O Desígnio de Deus para a Vida (3.1-22): Deus Estabelece a Ordem dos Eventos da Vida (3.1-11), Concede as Coisas Boas da Vida (3.12-13), Mostra a Perspectiva do Juízo Futuro (3.14-21), e apresenta uma Conclusão (3.22).

A quarta parte relaciona A Futilidade das Circunstâncias da Vida (4.1-5.20): Opressão (4.1-3), Trabalho (4.4-12), Sucesso Político (4.13-16), Adoração Falsa (5.1-7), Riquezas Acumuladas (5.8-17) e novamente apresenta uma Conclusão (5.18-20).

A quinta parte ocupa-se do tema A Futilidade das Riquezas (6.1-12).

A sexta parte oferece Conselhos para a Vida (7.1-12.8): Considerando a Maldade Humana (7.1-29), A Inescrutável Providência Divina (8.1-9.18), As Incertezas da Vida (10.1-20) e O Processo de Envelhecimento (11.1-12.8).

E a sétima e última parte consolida uma Conclusão Final (12.9-14).

 

Embora Eclesiastes seja permeado por um ceticismo aparentemente contrário ao tom predominante das Escrituras – contendo afirmações que se tomadas isoladamente podem até parecer incoerentes com o ensino bíblico – quando entendidas em seu contexto, tais asserções em seu conjunto nos oferecem a oportunidade de compreender a vacuidade da vida daqueles que não conhecem a Deus. Se para eles Deus não existe, ou se existe, mas não tem significado em suas vidas, se não há salvação, que sentido e propósito pode haver na existência humana?

 

A vida neste mundo, debaixo do sol, para os que estão apartados de Deus, é pura vaidade, é injusta, é deprimente, é frustrante, é cruel, é uma luta inglória, é correr atrás do vento. Entretanto, para os que têm Cristo, a vida terreal é apenas um exercício, um período de aprendizado e maturação espiritual, mera jornada sombria em nada comparável à verdadeira e iluminada vida, aquela por vir na eternidade, plena da deslumbrante glória de Deus!

 

Pai Celeste, que tenhamos sempre em nossos corações os maravilhosos, perfeitos e imprescindíveis ensinamentos que Tu nos proporcionas através da Tua Palavra magistral, e capacita-nos a ter dela a compreensão que esperas que tenhamos, não apenas para a empregarmos em nossa própria vida, mas também para proclamá-la àqueles que não a conhecem, agindo a cada instante como exemplos de temor e obediência a Ti. No nome santo, maravilhoso, doce e perfeito de Jesus Cristo assim oramos agradecidos. Amém. 

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ARMA INVENCÍVEL

“… assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem (…), assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei”. Isaías 55.10-11 (ARA)

 

 

 

 

Ela é “… viva e eficaz”, assegura o autor de Hebreus, enquanto Paulo ensina que devemos usá-la como “… a espada do Espírito…”, para constituir-se em parte integrante de nossa armadura cristã na defesa contra os pertinazes ataques do maligno. Portanto, que hoje e em todos os dias de nossa vida, tenhamos a Palavra de Deus permanentemente na boca e no coração, pois só com ela nos lábios e os joelhos no chão, poderemos travar com êxito a batalha diária por nossos queridos de sangue e na fé, apropriados então do poder de Deus em seu favor, porque contra essa arma invencível o inimigo jamais poderá prevalecer!

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PECADO DELIBERADO

“Se continuarmos a pecar deliberadamente depois que recebemos o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo…”. Hebreus 10.26-27 (NVI)

 

 

 

 

Se nós, cristãos, dizemos não ter pecados, estamos na verdade iludindo a nós próprios, como o apóstolo afirma em 1 João 1.8. Porém, se reconhecemos nossas transgressões não devemos desesperar da graça sempre abundante de Cristo, confiantes nas palavras de Davi no Salmo 51.17: “… um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás”. No entanto, caso nosso pecado seja deliberado, caracterizado por total abandono da fé em Cristo, desprezo por Seu sacrifício na cruz e blasfêmia contra o Santo Espírito de Deus, não resta qualquer recurso para alcançar o perdão divino: só remanesce a condenação!

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