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SEIXOS ROLADOS

A geologia, ciência que se dedica ao estudo os processos que ocorrem no interior do globo terrestre e em sua superfície, diz que seixos rolados são pedras arredondadas, sem arestas, resultante do desgaste que sofrem pelo embate das águas caudalosas do mar e dos rios e também pelo atrito provocado entre elas num contínuo e incerto processo de deslocamento.

 

Nossa vida na terra de certa forma nos faz semelhantes a seixos rolados sendo levados para lá e para cá pelo incessante e imprevisível movimento das águas, e tal como eles vamos nos aperfeiçoando ao longo da jornada, aparando nossas arestas por vezes tão pontiagudas, nos “arredondando” espiritualmente para que, passo a passo, nos assemelhemos mais a Cristo, nosso Senhor, modelo e alvo.

 

Ao enfrentarmos os desafios, os embates e as lutas da vida que – mercê do Seu amor e da Sua graça – Deus nos propõe com o abençoado propósito de nos fazer mais fortes, mais puros, mais humildes e mais próximos dEle, devemos com gratidão nos somar a Paulo, fazendo eco às suas palavras registradas em Romanos 5.3-4: E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança.

 

É por este motivo que o renomado comentarista bíblico e pastor William Barclay afirma sobre esta passagem: “Quando a esperança do homem está posta em Deus não pode se tornar pó e cinza. Quando a esperança do homem está posta em Deus não pode ser frustrada. Quando a esperança do homem está posta no amor de Deus nunca pode ser uma ilusão, porque Deus nos ama com um amor eterno, respaldado por um poder eterno”.

 

Moldados pela graça divina ao longo da nossa vida cristã, temos então a fundada esperança do nosso ego diminuído, das nossas arestas da personalidade, do caráter e do temperamento amaciadas, desbastadas, suave e paulatinamente aprimoradas até que se constituam em superfícies de mais belas e harmônicas formas, mais suaves e agradáveis à vista e ao contato, perdendo a rudeza natural que anteriormente nos caracterizava.

 

A Bíblia relata em 1 Samuel 17.40 que Davi, ao enfrentar o tão temido guerreiro Golias, preparou-se da seguinte forma: “Tomou o seu cajado na mão, e escolheu para si cinco pedras lisas do ribeiro (seixos rolados), e as pôs no alforje de pastor, que trazia, a saber, no surrão; e, lançando mão da sua funda, foi-se chegando ao filisteu”.

 

Ante as palavras debochadas e depreciadoras do gigante, “Davi, porém, disse ao filisteu: Tu vens contra mim com espada, e com lança, e com escudo; eu, porém, vou contra ti em nome do SENHOR dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado”.

 

O final da história todos conhecem, mas é importante observar que Deus usou Davi e lhe concedeu como arma letal meros cinco pequenos seixos rolados, sendo que apenas um deles, lançado de forma certeira, foi suficiente para derrotar o gigante Golias e, por consequência, os temíveis e poderosos filisteus que ameaçavam Israel.

 

Ao contrário de Davi, quantas vezes nós mesmos, no enfrentamento dos gigantes que por vezes surgem inesperadamente à nossa frente ao longo da vida, lembramos do que deveríamos esquecer e esquecemos daquilo que precisávamos lembrar: recordamos nossos fracassos, erros e derrotas, e olvidamos as promessas de Deus e as vitórias que nos concede a todo momento!

 

E um dos maiores triunfos que podemos almejar é, ao permitir que arrostemos circunstâncias desafiadoras, provações e sofrimentos, com a Sua ajuda amorosa os superemos e, ao mesmo tempo, no processo estejamos nos submetendo ao “arredondamento” de nossos caráter, atitudes e personalidade. Desta forma estaremos sendo transformados, santificados, num processo que continua ao longo de todo o tempo de nossa peregrinação na terra, só se concluindo quando da volta de Cristo, como Paulo descreve em Filipenses 1.6: Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus.

 

Mas é no convívio com os nossos semelhantes, os outros “seixos humanos”, por assim dizer, de carne e osso, alma e espírito com quem pela vida afora convivemos, – muitas vezes em meio a desarmonia, conflitos e desavenças, – é que Deus possibilita que cresçamos no amor, na fé, na paciência, no perdão, na graça, na misericórdia. Então estaremos nos assemelhando mais a Cristo, o único ser que viveu na terra sem ser submetido a este tipo de embate permanente – com exceção da ferrenha oposição por parte dos sacerdotes judeus – porque já era eternamente santo em Sua natureza divina antes mesmo da eternidade mais remota, como Ele próprio ora em Sua oração sacerdotal em João 17.5: “… agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo.

 

E isto para que obedeçamos ao que Pedro em sua primeira carta, capítulo 1, versos 15-16, nos exorta dizendo: “… segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo, nesta última parte remetendo a Levítico 20.7, quando o próprio Deus ordena que nos santifiquemos.

 

Depois que passamos a dedicar nossa vida a Cristo, é comum levarmos algum tempo para nos desapegar de certos hábitos e valores cultivados por vezes ao longo de décadas. Porém, indo na contramão dessa tendência humana, Pedro ensina que em nossa nova condição devemos buscar ser como nosso Pai celestial, santos em tudo o que fizermos. Mas o que é ser santo?

 

O Breve Catecismo de Westminster, respondendo à pergunta “o que é santificação?”, assevera categórico: “Santificação é a obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem de Deus, habilitados a morrer cada vez mais para o pecado e a viver para a retidão”.

 

E faz a seguinte complementação esclarecedora: somente os eleitos são santificados, e somente o Espírito Santo pode aperfeiçoar o crente para servir a Deus e garantir a sua preservação, como lemos em 1 Pedro 1.2: “… eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito…”; além disso, a santificação é obra da graça de Deus para o aperfeiçoamento dos seus eleitos, portanto não é instrumento para a salvação e sim consequência da salvação, como Paulo em Romanos 3.21-24 ensina: Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que creem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus…”.

 

Portanto, a santificação é a separação do crente para Deus, baseada unicamente na justiça de Cristo, e não um processo pelo qual o homem por seu próprio esforço ou pela ação de outrem, pode se tornar justo ou aceitável a Deus. E não existe qualquer tipo de hierarquia de santidade, nenhum crente é mais santo que outro e quando da justificação todos os eleitos são igualmente santificados, isto é, separados para servir a Deus e ao próximo, como o apóstolo em Romanos 5.19 esclarece: Porque, como, pela desobediência de um só homem (Adão), muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só (Cristo), muitos se tornarão justos.

 

Este processo de “polimento”, de transformação progressiva do crente, tem o sublime objetivo de qualificá-lo sempre mais e mais para o serviço de Deus, propiciando o crescimento gradativo do fruto do Espírito em si próprio, caracterizado não só pelas virtudes explicitadas na tão conhecida passagem de Gálatas 5.22-23, e que são, “… amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio, como também pelo conhecimento e a prática de tudo o que a Palavra de Deus instrui.

 

Senhor amado e bendito, um dia já fomos seixos de pedra, empedernidos e insensíveis, mas hoje transformados por Ti, queremos ser seixos de carne, mansos, amorosos, tenros e suaves, totalmente amoldáveis à Tua vontade suprema, e juntos aos nossos irmãos na fé queremos constituir lindos painéis que espelham no mundo a beleza da Tua santidade. Assim sendo, Senhor, ansiamos pela maravilhosa promessa por Ti proferida em 2 Samuel 7.14 que Paulo em 2 Coríntios 6.18 reproduz, quando dizes, “… serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso, no que é complementada em 7.1 por esta exortação: Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus. É no nome santo e precioso de Jesus que assim oramos com nossos corações repletos de gratidão. Amém.

 

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ALÉM DE TODO ENTENDIMENTO

Até quando, SENHOR? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto?” Salmos 13.1 (ARA)

 

 

Talvez hoje estejamos passando por momentos difíceis, nossa tribulação pareça infindável, e clamamos como Davi: até quando, Senhor? Mas lembrando-nos das inesgotáveis bênçãos que têm sido derramadas sobre nós ao longo de nossa jornada terreal, vem-nos a certeza de que temos um Pai celestial que se importa conosco, que deseja participar das nossas lutas, que nos entende e se compadece de nós. Os dias de sofrimento podem parecer intermináveis, mas como Davi, sabemos que é possível cantar em meio às provações, pois somos filhos do Deus que nos ama além de todo o entendimento!

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AÍ ESTÁ A IGREJA!

“Não vi templo algum na cidade, pois o Senhor Deus todo-poderoso e o Cordeiro são o seu templo.”  Apocalipse 21.22 (NVI)

 

 

A Jerusalém celestial, a cidade onde um dia pela graça de Deus viveremos, terá uma característica única: não existirá um lugar separado para cultuá-Lo, será ela mesma o Templo de Deus, porque nela Deus e o Cordeiro estarão presentes de forma perfeita, permanente e absoluta. Tenhamos hoje claro que a Igreja não se resume aos seus edifícios, à sua denominação ou à sua liturgia, pois somente a presença de Deus e a de Jesus pode caracterizar como Corpo de Cristo um grupo humano devotado ao Criador: onde Deus está, aí está a Igreja; onde Jesus Cristo está, aí está a Igreja!

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