Provavelmente a maioria de nós nunca foi perseguido, humilhado, injuriado, discriminado, nem sofreu qualquer abuso por conta de nossa fé em Cristo. Se em países do Ocidente gozamos de liberdade religiosa, precisamos lembrar que, para que isto assim fosse, muitos santos pagaram alto preço, a começar pelo próprio Senhor Jesus, cruelmente sacrificado ao vir ao mundo para nos salvar, levando os nossos pecados sobre Si por amor a nós que nada merecemos a não ser punição.
Desde que a Igreja Cristã surgiu, os seguidores de Jesus têm sido torturados, martirizados, decapitados, queimados vivos, apedrejados, empalados, crucificados, estraçalhados por feras nos circos romanos, e nessa linha de sofrimentos que os cristãos têm suportado, Paulo testemunha a respeito de si próprio de forma veemente em 2 Coríntios 11.23-27 (NTLH), ao defender-se de injúrias e mentiras assacadas contra ele por falsos mestres: “Eles são servos de Cristo? Mas eu sou um servo melhor do que eles, embora, ao dizer isso, eu esteja falando como se fosse louco. Pois eu tenho trabalhado mais do que eles e tenho estado mais vezes na cadeia. Tenho sido chicoteado muito mais do que eles e muitas vezes estive em perigo de morte. Em cinco ocasiões os judeus me deram trinta e nove chicotadas. Três vezes os romanos me bateram com porretes, e uma vez fui apedrejado. Três vezes o navio em que eu estava viajando afundou, e numa dessas vezes passei vinte e quatro horas boiando no mar. Nas muitas viagens que fiz, tenho estado em perigos de inundações e de ladrões; em perigos causados pelos meus patrícios, os judeus, e também pelos não-judeus. Tenho estado no meio de perigos nas cidades, nos desertos e em alto mar; e também em perigos causados por falsos irmãos. Tenho tido trabalhos e canseiras. Muitas vezes tenho ficado sem dormir. Tenho passado fome e sede; têm me faltado casa, comida e roupas”.
E as perseguições violentas, que ao longo dos séculos têm acometido impiedosamente milhões de cristãos nas mãos de tiranos cruéis, continuam nos dias de hoje especialmente em países totalitários que vivem sob regimes ateus, muçulmanos ou comunistas.
O planeta em que vivemos é território inimigo dominado por satanás, o príncipe do mundo, como Jesus o chama em João 14.30, e enquanto Deus, por Sua vontade soberana e perfeita não encerrar a supremacia maligna do diabo que, de acordo com as profecias bíblicas, só acontecerá com a segunda vinda de Cristo, o sofrimento humano não cessará.
Porém lembremos que tudo o que Deus faz é perfeito, e assim sendo, o sofrimento que Ele permite aos Seus, sempre tem o bom propósito de nos trazer bênçãos no presente e na eternidade, porque é parte do Seu plano amoroso para os Seus filhos. Assim, Ele nunca nos abandona, sustentando-nos em toda tribulação, como nos tranquiliza em Isaías 43.2 (NTLH) “Quando você atravessar águas profundas, eu estarei ao seu lado, e você não se afogará. Quando passar pelo meio do fogo, as chamas não o queimarão”. Por isso alegremo-nos com a promessa de Paulo em Romanos 8.18 (NTLH), pois “… o que sofremos durante a nossa vida não pode ser comparado, de modo nenhum, com a glória que nos será revelada no futuro”.
Mas em quê o sofrimento pessoalmente nos pode abençoar e beneficiar? Em primeiro lugar conservando-nos humildes, submissos e dependentes de Deus porque, como a Paulo em 2 Coríntios 12.9, Ele nos assegura que “… a minha graça te basta”; depois, a aflição aprimora e fortalece o nosso caráter cristão e a nossa fé, aproximando-nos cada vez mais do nosso alvo – como Jesus mostrou em Mateus 5.48 (NVI) – que é sermos “… perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês”; as tribulações também fortalecem nossa fé, como 1 Pedro 1.7 (NTLH) ensina: “Essas provações são para mostrar que a fé que vocês têm é verdadeira. (…) E assim vocês receberão aprovação, glória e honra, no dia em que Jesus Cristo for revelado”; além disso, passar por experiências de sofrimento nos prepara para melhor servir aqueles que estão passando por elas, dando-lhes esperança, e é assim confiado que Paulo estimula a todos os que são de Cristo em Romanos 5.3-4 (NTLH), ensinando que “… nos alegramos nos sofrimentos, pois sabemos que os sofrimentos produzem a paciência, a paciência traz a aprovação de Deus, e essa aprovação cria a esperança”; mas a dor adicionalmente nos motiva a buscar a Deus de forma mais consistente e profunda, dando-nos uma maior compreensão dos propósitos divinos e do Seu poder, abrindo nossos corações para adquirirmos maior conhecimento e comunhão com Ele, e assim podermos amá-Lo cada vez mais, como vemos acontecer em Jó 42.5 (NTLH) onde, – apesar de que nenhuma forma física de Deus tivesse sido manifestada, – o que o Senhor revelou de Si mesmo tornou-O visível a Jó, que exclamou maravilhado: “Antes eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora eu te vejo com os meus próprios olhos”.
Jesus, então, de forma cabal, definitiva, categórica, proclama em Mateus 5.10-12 (NTLH): “Felizes as pessoas que sofrem perseguições por fazerem a vontade de Deus, pois o Reino do Céu é delas. Felizes são vocês quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por serem meus seguidores. Fiquem alegres e felizes, pois uma grande recompensa está guardada no céu para vocês. Porque foi assim mesmo que perseguiram os profetas que viveram antes de vocês”.
Se nas sete primeiras bem-aventuranças, nosso Senhor discorreu sobre a condição interior que devemos ter como seguidores Seus com relação a Deus, aos outros e a nós mesmos, nas duas últimas, contidas na passagem acima, o Mestre trata da questão da atitude do mundo com relação a nós como cidadãos do Reino e fala dos galardões que nos estão reservados nos céus.
A princípio, por se caracterizar como uma pessoa humilde, sensível, mansa, que ama a justiça, que tem misericórdia dos outros, que é puro de coração e promove a paz, seria de se esperar que o mundo recebesse um embaixador de Cristo com respeito, consideração e alegria, dando-lhe as boas–vindas onde quer que se apresentasse, não?
Não. Ao contrário, Jesus surpreendentemente nos adverte que seremos objetos de perseguição, mentiras e ódio! Aliás, o Filho de Deus em vários momentos alertou para o fato de seríamos perseguidos como Ele próprio o foi, como alerta em João 15.18-20 (NTLH): “… Se o mundo odeia vocês, lembrem que ele me odiou primeiro. Se vocês fossem do mundo, o mundo os amaria por vocês serem dele. Mas eu os escolhi entre as pessoas do mundo, e vocês não são mais dele. Por isso o mundo odeia vocês. Lembrem do que eu disse: o empregado não é mais importante do que o patrão. Se as pessoas que são do mundo me perseguiram, também perseguirão vocês…”.
Como é possível compreender as razões dessa intolerância tão injustificada, aguda e cruel? Consideremos que o grande anelo do cristão é ser semelhante ao Cristo que, embora sendo a fonte suprema do amor, tanto ódio suscitou; que sendo o único justo, foi condenado e executado cruelmente pelos injustos; que trazendo luz ao mundo, contrariou aqueles que odiavam a claridade que expunha suas obras iníquas. Convenhamos: não seria lícito esperar outro tipo de reação de um mundo dominado pelas trevas, como João 3.19-20 (NTLH) pondera com Nicodemos: “Deus mandou a luz ao mundo, mas as pessoas preferiram a escuridão porque fazem o que é mau. Pois todos os que fazem o mal odeiam a luz e fogem dela, para que ninguém veja as coisas más que eles fazem”.
Apesar de tudo, os motivos de exultação de todo discípulo de Jesus são muitos, pois a imposição de tormentos pelos agentes do mal só acontece porque o caráter do Senhor está sendo revelado nele. Além disso, há a certeza inequívoca de que nunca é debalde sofrer por Cristo, como Ele próprio antecipou sobre o recém-convertido Paulo a Ananias em Atos 9.16 (NTLH): “Eu mesmo vou mostrar a Saulo tudo o que ele terá de sofrer por minha causa”.
Mais tarde, na carta aos Romanos 8.17 (ARA), o apóstolo ensina: “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados”, e conclui em Filipenses 1.28-19 (NTLH), nos encorajando: “Não tenham medo dos seus inimigos. Sejam sempre corajosos, pois isso será uma prova para eles de que serão derrotados e de que vocês serão vencedores. Porque é Deus quem dá a vitória a vocês. Pois ele tem dado a vocês o privilégio de servir a Cristo, não somente crendo nele, mas também sofrendo por ele”.
Nenhuma aflição que o mundo possa nos infligir – por mais intensa maldade que manifeste – deve ter o poder de provocar apreensão em quem tem a garantia do amparo permanente de Deus e a promessa de ser recompensado com as verdadeiras riquezas da Vida Eterna ao lado de Jesus. Lá todas as nossas lágrimas serão enxugadas, a morte não mais existirá e o sofrimento terá ficado para trás, por isso tenhamos a jubilosa sabedoria de deixar o transitório que não podemos manter, para alcançar o eterno que não podemos perder!
O apóstolo Pedro em sua primeira epístola, no capítulo 4, versos 12 a 16 (NTLH) reitera o valor do sofrimento ao afirmar: “Meus queridos amigos, não fiquem admirados com a dura prova de aflição pela qual vocês estão passando , como se alguma coisa fora do comum estivesse acontecendo a vocês. Pelo contrário, alegrem-se por estarem tomando parte nos sofrimentos de Cristo, para que fiquem cheios de alegria quando a glória dele for revelada. Vocês serão felizes se forem insultados por serem seguidores de Cristo, porque isso quer dizer que o glorioso Espírito de Deus veio sobre vocês. Se algum de vocês tiver de sofrer, que não seja por ser assassino, ladrão, criminoso ou por se meter na vida dos outros. Mas, se alguém sofrer por ser cristão, não fique envergonhado, mas agradeça a Deus o fato de ser chamado por esse nome”.
Por mais difícil que possa parecer, esta deve ser a nossa atitude quando perseguidos e sofrendo por causa de Jesus, porque perseguição e sofrimento são componentes intrínsecos da vida cristã, como comprovam as vidas de todos os irmãos na fé que viveram antes de nós. Abel foi perseguido e assassinado por seu irmão Caim, Moisés foi perseguido pelos egípcios, Davi foi caçado anos a fio por Saul, Elias e Jeremias também sofreram, Isaías foi martirizado, Jesus Cristo padeceu o mais cruento de todos os suplícios na cruz, os apóstolos sofreram, os primeiros cristãos suportaram terríveis martírios, e nos dias de hoje, em vários países o mundo, cristãos são perseguidos e mortos cruelmente.
Parece difícil de compreender a razão pela qual pessoas justas têm sido tão perseguidas ao longo da história humana, e D. Martyn Lloyd-Jones em seu livro Estudos no Sermão do Monte pondera: “Os crentes são perseguidos porque são diferentes das outras pessoas. Essa foi a razão pela qual os fariseus e os escribas odiavam o Senhor Jesus. Não foi porque Ele fosse um homem bom; o motivo é que Ele era tão diferente. Havia nEle alguma coisa que fazia aquela gente sentir-se condenada. Sentiam que a sua própria retidão, em comparação com a de Cristo, parecia tão mesquinha. Nisso residia a aversão deles”. E é este mesmo sentimento de repugnância, de rancor, de ódio, que predomina até os dias de hoje contra aqueles que são semelhantes a Cristo em todo o mundo.
No entanto, recordemos o que Jesus nos ensina em Mateus 5.12 (NTLH): “Fiquem alegres e felizes, pois uma grande recompensa está guardada no céu para vocês”. Não sabemos exatamente o que serão estes galardões ou recompensas que Deus tem preparadas para aqueles que se mantiverem fieis até o fim, pois a Bíblia não explicita como serão. Mas algumas coisas que nos estão esperando na eternidade ficam claras: grande alegria, glória, santidade, pureza, deslumbramento, paz e felicidade perene!
Por isso, se estamos em Cristo, que não nos furtemos um só instante de acalentar estas maravilhas que nos aguardam, preferindo manter-nos apegados às coisas deste mundo infeliz e desafortunado, a esta existência fugaz e sofrida de tão curta duração, esquecendo-nos da verdadeira vida na eternidade com Jesus, o que levou Paulo a declarar convicto, em alto e bom som na passagem de Filipenses 1.21 (NTLH): “Pois para mim viver é Cristo, e morrer é lucro”.
Há, portanto, uma diferença abissal entre o sofrimento do homem natural, o homem sem Deus, e o homem que, pela graça divina, vive para Deus, dedicado exclusivamente à Sua glória: enquanto o primeiro se limita a sofrer as consequências da Queda como descendente de Adão e está destinado à morte e ao padecimento para sempre, aquele que é filho do Pai Eterno, pois descende de Cristo, sofre pela Sua divina causa, por amor e obediência a Ele, por isso tem a certeza plena da gloriosa existência ao Seu lado pela eternidade afora.
“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”, proclamou Jesus em João 3.16 este versículo em que está centrado todo o Evangelho. E Ele nos garante que basta crer nEle para alcançarmos a existência sublime, de duração ilimitada, onde não mais haverá morte, enfermidade, inimizade, pecado ou tristeza. Mas crer significa depositar toda a confiança nAquele que é o único que pode nos salvar, colocando em Suas mãos não apenas o presente, mas também nosso destino após deixarmos a vida terreal, confiando irrestritamente em Sua Palavra e em Suas promessas inefáveis e infalíveis.