Quando enfermados, nosso maior desejo é recuperarmos a sanidade, mas enquanto a cura não vem é oportuno meditarmos sobre o estado em que nos encontramos, porque na face da terra e nos altos céus tudo acontece “… segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade…”, como Paulo assevera em Efésios 1.11.
E isso inclui a doença e outros males que embora eventualmente possam ter como causa o agir do maligno, só se concretizam se Deus permitir que nos afete para cumprir um desígnio benéfico, como consentiu a respeito dos padecimentos e da morte de Seu próprio filho unigênito para nos salvar.
O Senhor nada permite que não redunde em nosso bem, como ensina Romanos 8.28: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” Porém, Ele não está ocupado em nos fazer felizes o tempo todo aqui na terra, mas sim em cumprir os Seus elevados propósitos nas vidas daqueles que fazem parte dos Seus planos, para que alcancem a eterna felicidade.
Estes se empenham em adquir uma nova mentalidade e confiam no poder, no amor, na graça do Pai, e não nas benesses desta curta jornada terreal, e assim aprendem a aceitar a dor e o sofrimento porque sabem que Deus os ampara, e que num glorioso dia por vir “… lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram”, promete Apocalipse 21.4.
Nosso Deus de suprema sabedoria usa a doença para nos ensinar a confiarmos mais nEle, e assim poder nos abençoar mais ainda no corpo, na alma e no espírito, e além disso nos ter mais próximos de Si, pois é na aflição que tendemos a nos voltar mais ao Criador e a buscarmos e valorizarmos com mais persistência as coisas do alto.
A doença é bênção quando nos concede a oportunidade de glorificar mais a Deus exemplificando a todos os que nos cercam, como Paulo revela em 2 Coríntios 12.7-9 quando adoeceu e prostrado aprendeu a confiar de forma irrestrita na graça do Pai, pois “… foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza…”.
A doença também foi bênção para Paulo quando Deus lhe proporcionou a oportunidade de pregar o Evangelho aos que estavam tratando dele, como relembra a seus discípulos em Gálatas 4.13-15 (NTLH): “Lembram por que foi que lhes anunciei pela primeira vez o evangelho? Foi porque eu estava doente. Mas vocês não me desprezaram, nem me rejeitaram, embora o meu estado de saúde fosse uma dura prova para vocês…”.
Charles Haddon Spurgeon, celebrado como um dos pastores mais dedicados e brilhantes da história, cognominado de “o príncipe dos pregadores”, – sofreu continuamente não apenas de forte depressão, como também de gota, reumatismo, de uma grave doença renal e cuidou de sua esposa doente e acamada por mais de 26 anos – em meio às suas muitas aflições tinha uma fé inabalável na soberania e na providência de Deus, o que era um poderoso lenitivo durante cada crise, permitindo-lhe até, apesar da dor, certa vez comentar com fino senso de humor que “… me atrevo a dizer que a maior bênção terrena que Deus pode dar a cada um de nós é a saúde, com exceção da doença…”.
Comprovando sua asserção, é forçoso observar que, dentre as várias bênçãos que Spurgeon recebeu e que podem ser creditadas à sua desanimadora doença, destaca-se o fato de que por meio dela Deus o capacitou a pregar às almas sofredoras e desesperadas de seu rebanho com um conhecimento de causa deveras ampliado, proporcionando-lhe uma compreensão mais profunda e uma compassividade mais elevada por suas ovelhas.
J. C. Ryle, notável pregador e prolífico escritor cristão inglês que viveu no século XIX, conhecido por sua erudição e piedade, certa vez ponderou sabiamente sobre a doença: “É uma professora rude, admito, mas é uma verdadeira amiga da alma do homem”.
Sim, é no leito da enfermidade que muitas vezes podemos enxergar, em meio ao sofrimento, a luz de Cristo afastando as trevas e acalentando-nos o coração, sustentando-nos a alma e fazendo-nos distinguir as bênçãos da esperança em dias melhores. Porque é então que temos a circunstância oportuna para comprovar que “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações”, canta o salmista em Salmos 46.1, esperando e confiando em Deus, no Seu poder, na sua providência e na Sua graciosa presença nos momentos difíceis que atravessava.
Enquanto vivermos neste mundo pecaminoso devemos agradecer a Deus por Sua sabedoria que permite que nele haja a doença como um instrumento de crescimento na fé, no amor, na misericórdia, na paciência e na santificação, contribuindo para a transformação do nosso caráter para sermos mais e mais assemelhados a Jesus, como Paulo em 2 Coríntios 3.18 anuncia para nosso regozijo: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”.
E é o que Deus certamente está ensejando à humanidade nestes dias de agruras que vivemos com a pandemia que assola o mundo, uma oportunidade de metanoia, de uma mudança radical de mentalidade para todos os que desejam nascer de novo e assim poder entrar no Reino de Deus.
Contudo, para que esse processo ocorra devemos renunciar aos nossos próprios desejos e atitudes, devotando-nos inteiramente a obedecer à vontade de Deus, não vivendo de acordo com os princípios e tendências do tempo presente, mas sim como se a era vindoura já tivesse chegado, como Paulo em Romanos 12.2 peremptoriamente estatui: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
(Continua)