A MÃE, A ABELHA E O PAI CELESTE
Ao nutrir a parte mais relevante, sutil e imponderável de nosso ser – o espírito – a Palavra de Deus configura-se como o alimento mais importante que existe para o cristão.
Robert Moffat, o grande missionário da África, gostava de contar uma história verídica como prova do grande poder transformador da Palavra de Deus. Estava ele numa aldeia onde costumava pregar sobre a Palavra, quando observou um africano que conhecia, triste, abatido, de cabeça baixa. Moffat então aproximou-se dele e perguntou se alguém havia morrido: – “Ninguém morreu, disse o homem. É que o meu cachorro comeu uma página da Bíblia.” Surpreso, Moffat tentou consolá-lo: – “Veja, isto não é tão sério. Eu lhe consigo outra página igual da Bíblia”. Mas o homem exclamou: – “Oh, eu não me preocupo com a Bíblia, o problema é que agora meu cachorro não vai mais avançar em ninguém e nem vai lutar contra os chacais. Ele vai ficar tão manso como o povo que crê neste livro. Todos os nossos guerreiros se tornaram tão pacíficos como as mulheres, por causa da influência da Bíblia, e agora o meu cachorro está estragado!”
Esse africano, de forma simplória, demonstrou o quanto cria na transformação que a Palavra de Deus é capaz de fazer, observando a mudança de atitude dos seus concidadãos. Deus pensou em nós quando inspirou Seus profetas a escreverem a Sua Palavra. Na Bíblia há uma mensagem personalizada para cada um de nós, pois através dela Deus quer suprir as nossas necessidades mais profundas. O mesmo Deus que criou tudo o que existe pelo poder da Sua palavra falada, não será capaz, através da Sua Palavra escrita, de fazer-nos novas criaturas? Que nós não deixemos, por um instante que seja de crer no poder da Palavra de Deus, e nos aproximemos dela cada dia mais para que Ele, com seu poder Criador, faça de nós novos homens e novas mulheres, e como em Gênesis 1.31, possa Ele um dia julgar nossa vida como algo “… muito bom.”
O Salmo 19 é um magnífico hino de louvor onde Davi medita sobre a glória de Deus pela revelação natural (vv. 1-6): “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Aí, pôs uma tenda para o sol, o qual, como noivo que sai dos seus aposentos, se regozija como herói, a percorrer o seu caminho. Principia numa extremidade dos céus, e até à outra vai o seu percurso; e nada refoge ao seu calor”.
A seguir, pondera sobre a glória da lei como revelação especial de Deus, Seus preceitos, o temor a Ele e os Seus juízos pelos quais devemos ansiar sempre, exaltando a excelência da Palavra de Deus (vv. 7-10): “A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos. O temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente, justos. São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos”.
Então reconhece que só no Senhor é possível suprir todas as necessidades espirituais humanas e roga que as palavras que profere sejam por Ele acolhidas (vv. 11-14): “Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar, há grande recompensa. Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas. Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão. As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, SENHOR, rocha minha e redentor meu!”
A profunda contemplação da natureza nas Escrituras revela algo da face de Deus: enquanto os céus mostram a glória do Altíssimo, as Escrituras exprimem a Sua grandeza, e a alma reflete a Sua graça. Seu filho amado, Jesus Cristo, veio a nós como a plenitude de Deus visível aos homens. Os céus, significando o universo físico e visível, são uma prova da sabedoria, do poder e da glória de Deus, mas não são suficientes para expressar a vontade de Deus, Seu amor, Sua graça, Seus planos, que são questões espirituais. Por isso, a revelação de característica espiritual precisa ser complementada pelas Escrituras (vv. 7-19), e ainda pelo agir permanente do Espírito no crente. A Palavra de Deus é assim um alimento espiritual excelente e necessário para a alma saudável, em qualquer tempo e ocasião.
No Salmo 19 observamos também que a Palavra recebe seis títulos, cada um deles com seu atributo, produzindo por sua vez cada atributo um resultado de valor incalculável para o homem íntegro: lei perfeita que restaura a alma (v. 7), testemunho fiel que dá sabedoria aos símplices (v. 7), preceitos retos que alegram o coração (v. 8), mandamento puro que ilumina os olhos (v. 8), límpido temor do Senhor que permanece para sempre (v. 9), juízos verdadeiros e justos (v. 9).
Mas é indispensável que o cristão atente para o fato de que não basta buscar a Palavra de forma superficial e descompromissada, apropriar-se dela como quem simplesmente lê um livro qualquer sem rogar por discernimento do alto, sem uma preparação íntima para receber tal tesouro, sem a necessária pureza no coração, sem a reverência exigida.
Pedro, em 1 Pedro 2.1-2, orienta quanto à forma correta de buscar as Escrituras: “Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências, desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação.”
Por outro lado, é preciso que o cristão atente para o fato de que só uma dieta equilibrada pode garantir um crescimento saudável, tanto para o corpo quanto para o espírito. Hoje em dia muitos cristãos são mal alimentados, achando que pode comer de tudo o que é rotulado como cristão ou evangélico, sem discernir seu real valor nutricional. Ingerindo este fast-food religioso, tentam em vão compensar a carência espiritual que sentem, que no entanto só a Palavra de Deus pode saciar.
Como disse com propriedade um servo de Deus: “somente a mãe, a abelha e o Pai celeste nos proporcionam dietas balanceadas”. O menu espiritual que o Senhor pela Sua graça nos concede é perfeito. Em Apocalipse 2.17, Cristo em Sua mensagem à igreja em Pérgamo, prometeu: “Ao vencedor darei do maná escondido…”, referindo-se à Sua suficiência para atender às necessidades espirituais do crente, tal como o maná suprira as necessidades físicas dos hebreus durante a sua peregrinação pelo deserto.
Já em Isaías 55.2 o Senhor admoesta: “Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares.” E em Provérbios 24.13, Salomão ensina sobre a sabedoria cuja fonte é a Palavra: “Filho meu, saboreia o mel, porque é saudável, e o favo, porque é doce ao teu paladar.”
Nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo, é o pão da vida que desceu do céu, a dieta perfeita, balanceada, equilibrada, que satisfaz integralmente a nossa alma, porque nela não há falta de nenhum nutriente, nem excesso de qualquer espécie; é o único alimento que verdadeiramente supre todas as nossas necessidades de forma primorosa e impecável, e a Palavra de Deus é o manual que ensina como a nutrição de nosso ser deve se processar. Porque Jesus declara em João 6.57: “Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá”.
Senhor Deus e Pai, desejamos viver as 24 horas do dia, todos os dias de nossa vida por Ti e por Teu filho Jesus, guiados pelo Teu Santo Espírito. Dá-nos sabedoria para sabermos priorizar, em toda e qualquer circunstância, o alimento espiritual que provém de Ti, o único que pode aplacar verdadeira e completamente toda a nossa fome e a nossa sede. E que então, plenamente saciados pela Tua Palavra bendita, possamos ser Teus instrumentos na proclamação da Tua Verdade Eterna. Em nome de Jesus que assim oramos profundamente agradecidos. Amém.
25 de maio de 2024
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