EQUILÍBRIO

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EQUILÍBRIO

O universo infinito criado por Deus é o maior e mais completo exemplo de equilíbrio que existe. Nele convivem trilhões de gigantescos corpos celestes que se movem silenciosamente, cada um gravitando em sua órbita com perfeição absoluta, sem se tocarem, numa silenciosa, harmônica e majestosa dança eterna, extraordinária e bela que só o Deus Todo Poderoso poderia ter criado e que mantém eternamente.  É nessa imensidão sem limites que nosso planeta, minúsculo grão de poeira cósmica se situa e participa, abrigando o ser humano criado originalmente pelo Senhor em irretocável harmonia e equilíbrio com tudo o que o cercava, fossem as coisas maiores que ele, fossem as menores, chegando até àquelas de tamanho microscópico. Tudo em maravilhoso, cabal e divino equilíbrio que, em parte, até hoje se mantém, apesar das deletérias atitudes humanas cometidas a partir da Queda.

 

Alguém certa vez fez uma analogia entre o ser humano e um malabarista que utilizando varas equilibra pratos fazendo-os girar incessantemente e em velocidade apropriada para evitar que caiam ao chão. Deus criou-nos com três tipos de pratos: o primeiro pode ser considerado como feito de madeira e se cair e quebrar ainda pode ser recuperado: é o corpo. O segundo é como se fosse de cerâmica, portanto mais quebradiço, mas que eventualmente pode ser restaurado caso caia e quebre: é a alma. O terceiro prato é de cristal, portanto tão frágil que se cair, inevitavelmente se estilhaça em mil pedaços, e dificilmente pode ser restaurado: é o espírito.

 

Assim como o malabarista, que precisa manter os três pratos girando para evitar que caiam, para termos uma vida plena, abundante, para que haja equilíbrio total em todo o nosso ser, precisamos concentrar nossa atenção e dispensar cuidados a todos os três, corpo, alma e espírito, e ao percebermos que um deles está perdendo estabilidade, dedicarmo-nos à sua restauração e recomposição junto aos demais para que o todo funcione de forma integrada e harmônica como Deus planejou.

 

O corpo é a parte do homem que lhe dá consciência do mundo enquanto a alma que inclui o intelecto, as emoções e os sentidos é a sede da personalidade, e é através do espírito que temos comunhão com Deus e somente por meio dele podemos adorá-lO . E é assim que Paulo em Efésios 4. 15-16 tão bem define a condição cristã essencial do nosso ser integral que deve ser buscada : “Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor”.

 

E zeloso, Paulo ora por seus discípulos, instruindo-nos e exortando-nos em 1 Tessalonicenses 5.23, dando a entender, contudo, que espírito, alma e corpo não devem ser considerados como divisões, mas como uma expressão representativa do homem como um todo: “E o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.”

 

Nosso corpo exige cuidados diários: alimentação balanceada, higiene, exercícios físicos e repouso. Nossa alma, por sua vez, precisa ter alimentação especial. Ela se nutre por meio dos ouvidos e dos olhos, criando em nossos consciente e subconsciente um registro de tudo o que foi apreendido, o que produz repercussões diretas na forma como reagimos ao mundo à nossa volta. Por isso devemos selecionar cuidadosamente a qualidade do alimento que fornecemos à nossa alma.

 

Que tipo de informações permitimos que sejam diariamente captadas por nossos ouvidos? Más notícias, tragédias, crises, corrupção, problemas? E os nossos olhos? Têm sido focados em coisas boas, edificantes, elevadas e construtivas, ou apenas em violência, sensualidade, prostituição e conflitos? Em que medida temos usado os nossos olhos para estudar a Palavra de Deus e nos deliciarmos em viver e contemplar a Sua Criação, e até até onde os nossos ouvidos estão abertos e sensíveis para escutar boas palavras, boa música e os sons maviosos da natureza?

 

Nossas bocas têm sorrido e proferido palavras de agradecimento, louvor e adoração, ou, crispadas, têm apenas exprimido desânimo, ira, reclamações, queixas e murmurações? Temos usado o poder e a graça  que Deus nos deu para abençoarmos nossas vidas e as vidas daquelas pessoas que estão ao nosso redor? Antes de expormos nossas almas à poluição visual e auditiva dos dias atuais, lembremo-nos de que se filtrarmos as informações externas que chegam a elas, teremos razoável controle sobre nossos sentimentos e emoções.

 

A Bíblia revela de forma clara que o nosso corpo é apenas a nossa temporária habitação terrestre, que tem a função básica de manter contato  com o mundo físico,  como Paulo relembra em 2 Coríntios 5.1-4: “Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E, por isso, neste tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial, se, todavia, formos encontrados vestidos e não nus. Pois, na verdade, os que estamos neste tabernáculo gememos angustiados, não por querermos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida”.

 

Nosso corpo não pode ser refeito, não tem conserto nem salvação, por isso na vida eterna precisaremos receber um novo corpo, como Paulo revelou em Filipenses 3.21: “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador,  o Senhor Jesus Cristo,  o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de  até subordinar a si todas as coisas.”

 

Mas, acima de tudo, mais ainda que o corpo e a alma, nosso espírito necessita de nutrição especial,  e ele só deve receber o alimento provindo do Deus Trino, por isso Paulo encerra de forma sublime sua carta aos  Filipenses 4.23, rogando que “A graça do Senhor Jesus Cristo seja com o vosso espírito”.

 

E esse equilíbrio que, como cristãos, devemos perseguir permanentemente, se caracteriza pelo domínio próprio que a carta aos Gálatas 5.23 define como fruto do Espírito, ao lado do poder e do amor com que fomos galardoados por Deus, e estão à nossa disposição porque o Seu Santo Espírito vive em nós, e é assim que o apóstolo nos alenta em 2 Timóteo 1.7 (NVI): “Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio”. E esse equilíbrio ou domínio próprio significa literalmente termos o controle de nós mesmos, vivendo uma vida disciplinada onde as paixões,  os apetites e o mau gênio estão totalmente dominados e domados, para que assim tenhamos paz com Deus, com o próximo e com nós próprios.

 

A verdadeira prosperidade humana é aquela que resulta, de um lado, do equilíbrio entre corpo, alma e espírito, o que poderíamos denominar de equilíbrio funcional cristão, implicando em ajustes e aperfeiçoamentos permanentes ao longo de nossa vida. Mas há outro tipo de equilíbrio coexistente,  porém ainda mais importante, que talvez pudesse ser chamado de equilíbrio operacional cristão, pelo qual devemos, como discípulos de Jesus, buscar ardentemente, e que John Stott mostra que está  consolidado  na passagem de 1 Pedro 2.1-17, apontando que: “Em primeiro lugar somos chamados tanto para o discipulado  individual quanto para a comunhão corporativa. Bebês, apesar de nascerem numa família, têm sua identidade própria. Até os gêmeos nascem separados! Porém, a função fundamental das pedras usadas em construção é ser parte de alguma coisa. Elas cederam sua individualidade ao prédio. Sua importância não está nelas mesmas, mas no conjunto. Então, precisamos enfatizar tanto as nossas responsabilidades individuais quanto as corporativas. Em segundo lugar, somos chamados tanto para adorar quanto para  trabalhar. Como sacerdócio, nós adoramos a Deus. Como povo de propriedade de Deus, testemunhamos ao mundo. A igreja é uma comunidade de adoração e testemunho. Em terceiro lugar, somos chamados tanto mundo. A igreja é uma comunidade de adoração e testemunho. Em terceiro lugar, somos chamados tanto para a peregrinação quanto para a cidadania. Em cada par, somos chamados ao equilíbrio e não à ênfase de um em detrimento do outro. Assim, somos tanto discípulos individuais quanto membros da igreja, tanto adoradores quanto testemunhas, tanto peregrinos quanto cidadãos.”

 

Jesus cumpriu Sua missão aqui na terra com perfeito e inigualável equilíbrio. Não há registro nas Escrituras de que Ele alguma vez estivesse apressado, Ele não pressionava os discípulos para ultrapassarem seus seus limites, para negligenciarem o descanso ou para deixarem de se alimentar,  mas concentrava seus ensinamentos no mais importante, nas coisas do Reino dos Céus que são  as do espírito, o que fica claramente demonstrado no que Ele afirmou em João 6.63:  “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito  são espírito e são vida.”

 

O princípio do equilíbrio estabelece que quando vários elementos formam um todo interdependente – ou ou seja, um sistema – é preciso haver dedicação a cada um deles,  para que tanto o todo quanto cada um dos elementos que o compõe não sejam prejudicados. Imaginemos, como exemplo, uma família:  ela pode ser um sistema que funciona bem ou que funciona mal, isto é, pode ser uma família feliz ou infeliz, dependendo do cuidado e atenção que receba cada um dos familiares, por um lado, e o conjunto familiar,  por outro. Nela há interesses que são particulares de seus membros, e outros que dizem respeito ao grupo familiar como um todo. A prevalência de interesses individuais em detrimento dos familiares,  pode provocar desentendimentos e conflitos; o interesse familiar predominando, sufocando os individuais,  pode gerar prejuízos sérios para seus membros.

 

Quer queiramos ou não admitir, vivemos em meio a uma batalha permanente entre a  carne e o espírito,  e se alimentarmos bem o espírito com o Pão da Vida, que é Cristo Jesus, esta batalha de antemão já está ganha. Nossa tendência diária é nutrir prioritariamente a carne, mas Deus nos convida a alimentar nosso espírito através do estudo e da prática da Palavra, da oração, do louvor, da adoração, do jejum, do testemunho e da comunhão com o Corpo de Cristo, alimentos sadios que nos garantem  vitória final.

 

Que tenhamos hoje e sempre hoje e sempre em nossos em nossos lábios o louvor que provém de  corações que almejam render sem  cessar graças ao Senhor das nossas vidas pelas incontáveis bênçãos recebidas, por meio das quais no passado nosso espírito foi regenerado,  no presente nossa alma está sendo transformada, e no futuro nosso corpo será glorificado e então, como o salmista no Salmo 104.33, podermos proclamar: “Cantarei ao Senhor enquanto eu viver; cantarei louvores ao meu Deus durante a minha vida”.

 

Amado e Bendito e Bendito Pai, dá-nos o entendimento que vem do alto para que saibamos viver esta curta vida terrena com o equilíbrio que Tu desejas que a vivamos, cuidando permanentemente do nosso corpo, da nossa alma e do nosso espírito,  crescendo espiritualmente para a salvação como bebês recém-nascidos, vivendo em comunhão como pedras vivas, adorando-Te como sacerdotes santos, como povo Teu dando testemunho de Ti, como estrangeiros e peregrinos sendo santificados, e como Teus servos sendo autênticos cidadãos do Teu Reino. Dá-nos sabedoria para que estejamos, dia após dia, dedicados a assim preparar-nos para a verdadeira vida, a Vida Eterna com Cristo Jesus que tanto almejamos, e em nome de quem oramos com profunda gratidão. Amém.

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