FÉ OPEROSA

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FÉ OPEROSA

John era um alpinista muito experiente que já havia enfrentado enormes desafios ao escalar algumas das montanhas mais altas, íngremes e difíceis do mundo. Agora estava pronto – após se preparar meticulosamente durante meses – para conquistar sozinho a mais alta e difícil de todas – o temível Everest. Fama e fortuna eram as grandes motivações de sua vida, e assim iniciou a escalada naquele primeiro dia com enorme entusiasmo, disposto a correr riscos além daqueles normais para obter sucesso a qualquer custo. O dia terminava, a iluminação já era precária, mas ele continuava a escalar impetuosa e indomitamente, como que movido por força desconhecida. Então chegou a noite de céu nublado, e contrariando o bom senso que sempre o havia norteado em suas aventuras, prosseguiu escalando, apesar de já não poder enxergar quase nada. De repente escorregou e viu-se caindo em velocidade vertiginosa por uma traiçoeira fenda no gelo, desamparado, sem nada poder fazer. Após um tempo que pareceu interminável, subitamente sentiu um forte solavanco que quase o fez desmaiar, e a queda cessou! A corda à qual estava amarrado havia se prendido em algum ponto muito acima! Balançando no ar gelado sem nenhum controle da situação, nada podendo fazer, totalmente só, sem conseguir enxergar um palmo adiante do nariz, John lembrou-se então de Deus, e pediu: “Deus, me ajude!”. Silêncio total. Tentou de novo: “Por favor, Deus, socorro!”. Então ouviu-se uma voz poderosa, vindo não sabia de onde: “O que você quer que eu faça?”. John balbuciou trêmulo: “Salva-me, Deus!”. Novamente a voz se fez ouvir: “Você crê verdadeiramente que posso salvá-lo?” Já desesperado, o alpinista responde: “Sim, senhor, creio”. A voz ordena: “Corte a corda!”. Fez-se um silêncio profundo, e John agarrou-se ainda mais firmemente à corda. “Você não disse que crê em mim?”, insistiu a voz. “Se você crer em mim, verá a glória de Deus”. Dias depois uma equipe de resgate que vasculhava a montanha em busca do alpinista desaparecido, finalmente encontrou-o morto, congelado como um bloco de gelo, firmemente agarrado à corda, com os pés a apenas meio metro do chão.

 

Em Isaías 41.10 nosso Deus nos promete segurança em meio às nossas tribulações, garantindo: “… não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel. Ou seja, Deus nos insta a ter fé nEle, prometendo estar sempre conosco porque estabeleceu uma relação de profundo e incomparável amor para com os Seus, e nos dá a segurança de nos fortalecer e ajudar em todos os desafios que tivermos que enfrentar.

 

Mas o que é fé?  O autor do livro de Hebreus no capítulo 11 de seu livro inicia com uma descrição do que a fé faz por nós: ela torna aquilo que esperamos tão real como se já tivesse acontecido, ou como se já tivéssemos obtido algo que confiávamos alcançar, reiterando a convicção inabalável de que as bênçãos espirituais invisíveis do cristianismo são indiscutivelmente certas, reais, trazendo o futuro para o presente, ao mesmo tempo em que torna visíveis fatos que não são ainda vistos. Fé é a confiança irrestrita na fidelidade de Deus, é a convicção inabalável de que Ele sempre afirma a verdade e eternamente cumpre o que promete.

 

A fé em Deus não é um cego tatear no escuro, mas sim a clara evidência de cumprimento das promessas contidas na Sua Palavra e fielmente realizadas ao longo dos tempos, afirmando no versículo 1: Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem”.

 

Muitos homens e mulheres do Antigo Testamento eram dotados de perfeita visão espiritual, o que levou-os a ter de suportar muita vergonha e atroz sofrimento sem, contudo, renunciar à própria fé. E como andavam pela fé e não pelo que viam, recebiam a aprovação divina, afirma o versículo 2: “Pois, pela fé, os antigos obtiveram bom testemunho”.

 

A fé nos apresenta o único relato verdadeiro, real, palpável, constatável da criação, pois Deus é quem o faz em Sua Palavra inerrante, o que a própria ciência humana já admite. O mundo diz “ver para crer”, mas Deus diz que é preciso “crer para ver”, mostrando que em questões espirituais a fé sempre precede o entendimento. Por isso o autor de Hebreus afirma no versículo 3: “Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem”.

 

Nos capítulos posteriores, até o versículo 39, o autor de Hebreus nomeia grandes exemplos de fé, como Abel, Enoque, Noé, Abraão, Sara, Isaque, Jacó, José, Moisés, Raabe, Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel, só para citar alguns. Entretanto, nenhum deles foi tão privilegiado como nós somos, pois vivemos na completa glória da cruz, então percebemos como somos desafiados: em que a nossa vida se compara com as vidas desses heróis da fé? O que nos falta para termos verdadeira, consistente e permanente fé em Deus? Será que como John só nos lembramos de Deus em última instância, quando não temos outra alternativa, quando entendemos que fizemos tudo o que podíamos e então só nos resta apelar a Ele? Que fé é esta? Fé oportunista, fé pela metade que, ao invés de ter Deus como centro da vida, reserva a Ele apenas um cantinho escondido para que não atrapalhe as decisões que tomamos “soberanamente” o tempo todo?  Mas… se a situação se complicar, Ele que venha rápido dar um jeito! É isto que fazemos (ou pensamos fazer) com Deus? Que poder é este que pretendemos ter, de manipular o próprio Criador? E quando Ele, misericordioso apesar de nosso desrespeito infiel, bondosamente responde às nossas súplicas, e ainda duvidamos hesitando em obedecer, e muitas vezes acabamos não o fazendo? Convenhamos: só Deus para nos suportar e amar apesar de sermos como somos!

 

Mas a desobediência às ordenanças de Deus tem sempre um alto preço a ser pago: se o alpinista tivesse obedecido, possivelmente ainda estaria vivo. Se semeamos desobediência, colhemos problemas. Ou não sabemos que os planos de Deus não podem ser mudados, a não ser por Sua própria soberana vontade, e que são sempre infinitamente melhores que os nossos?

 

Há também um outro tipo de falsa fé, porque é egoísta, centrando-se no próprio eu e a ele limita-se, desconsiderando que a fé existe para que sejamos produtivos, para que demos frutos para a glória de Deus. Paulo, em 1 Tessalonicenses 1.2-3, exalta sobremaneira a fé dos irmãos de Tessalônica, que era operosa, produtiva, frutuosa, escrevendo-lhes: Damos, sempre, graças a Deus por todos vós, mencionando-vos em nossas orações e, sem cessar, recordando-nos, diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé, da abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo”. Esta é a fé que Deus espera que tenhamos, uma fé viva e operante que nos mantém firmados em Cristo mesmo quando a adversidade e a tribulação nos assolam, lembrados que só somos cristãos mediante o dom imerecido de Deus, jamais como resultado de algum esforço, habilidade ou ato de serviço de nossa parte, como o apóstolo em Efésios 2.8 ensina: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”.

 

É muito provável que Paulo tenha escrito 1 Tessalonicenses enquanto estava em Corinto, e foi escrevendo aos coríntios alguns anos depois, que ele produziu o que alguns consideram como o mais lindo poema da história da humanidade sobre o amor. Neste poema, falando grandiosamente sobre o amor agape, o apóstolo, em 1 Coríntios 13.13 afirma que há três características indispensáveis ao cristão: a fé, a esperança e o amor.  Se o problema dos coríntios era a falta de amor, a virtude dos tessalonicenses era justamente a presença do amor, que os tornava referência para todos os contemporâneos. Em 1 Tessalonicenses 5.8, Paulo, ensinando sobre o dia do Senhor, faz sua magnífica síntese acerca da jornada cristã: é uma vida vestida com a couraça da fé, revestida da força do amor e protegida pelo capacete da esperança. São estes os três componentes indispensáveis da vida cristã: a fé que opera, o amor que move o fazer e a esperança do porvir que motiva o seguir em frente. A fé que se fundamenta no amor e se projeta na esperança é muito mais que um sentimento. A fé que operava em Jesus era dirigida pelo amor, e Ele é a nossa única verdadeira referência e infinita esperança.

 

Pai Divino, dá-nos sempre a Tua direção para que a fé que temos em Ti nos mova para o Teu serviço, para que as obras que Tu desejas que realizemos espelhem a Tua vontade e reflitam o Teu maravilhoso plano para cada um de nós. Sabemos que há dificuldades e problemas na vida de fé e entendemos também que Tu nos testas para mostrarmos que nossa fé resiste às provações a que nos submetes e que, portanto, é genuína. Por isso, Senhor, queremos fazer nossas as palavras de Teu servo George Muller que dizia: “As dificuldades são o alimento de que a fé se nutre”. É no santo nome de Cristo Jesus que agradecidos e contritos fazemos esta oração. Amém.

 

 

 

 

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