Galardões (2)

Galardões (2)

O poeta, filósofo e viajante inglês Sam Walter Foss, certo dia cansado e sedento depois de uma longa jornada, agradavelmente surpreendido chegou a uma cabana pequena e rústica situada no topo de uma colina, onde deparou com uma placa que dizia: “Sirva-se da água fresca.” A pouca distância avistou uma linda fonte de água fresca, acima da qual estava pendurada uma caneca, e sobre um banco próximo alguém caprichosamente colocara uma cesta de maçãs e outra placa que convidava o transeunte a servir-se. Curioso para conhecer as pessoas que demonstravam tanta hospitalidade para com estranhos, Foss bateu à porta da cabana. Um casal idoso atendeu, e foi perguntado sobre a fonte e as maçãs. Contaram então que não tinham filhos, que o seu pedacinho de terra produzia apenas uma pequena colheita, mas como tinham abundância de água fresca, queriam simplesmente compartilhá-la com quem passasse por ali. “Somos muito pobres”, disse o marido, “mas achamos que mesmo assim podemos fazer algo pelas pessoas.” Conta-se que o gesto altruísta daquele casal inspirou o poema “A Casa Junto ao Caminho”, escrito por Foss, e que tornou-se um dos mais amados pelo povo inglês.

Precisamos ter em mente que não são os grandes presentes dados com ostentação que o Céu mais considera, mas sim os pequenos atos de amor e de bondade. E é desta forma que o próprio Jesus em Marcos 9.41 insta Seus discípulos a praticar boas obras… e colher a recompensa: “Porquanto, aquele que vos der de beber um copo de água, em meu nome, porque sois de Cristo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão”.

Lembremo-nos no entanto que não é pelas boas obras que somos salvos, somos salvos pela graça de Deus, para então realizarmos boas obras de acordo com a Sua soberana vontade. Muitas pessoas estão iludidas, achando que ao empenhar-se em praticar a caridade, fazer benemerência, dar esmolas, estão praticando ações que pavimentam seu caminho para o céu. Estas atitudes são enganosas, porque não partem necessariamente de Deus: via de regra se originam na crença difundida em certos meios de que praticar a caridade é a única maneira de obter a salvação, como se pudéssemos negociar com Deus os nossos pretensos “méritos”. É óbvio que sermos caridosos, piedosos, é básico se nos denominamos cristãos; o erro é prescindir da determinação divina, é tomar um princípio humano como regra de conduta, sem considerar o que a Palavra ensina. E a Palavra ensina claramente por meio do apóstolo Paulo em Efésios 2.8-10: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.” Por isso o recebimento dos galardões que eventualmente nos couberem pelas boas obras que praticamos, só pode ocorrer após sermos salvos pela graça, e assim os galardões jamais poderão ser almejados em primeiro lugar, como se fossem um fim em si mesmos. Que trabalhador pode requerer seu salário antes de concluído satisfatoriamente o serviço sob seu encargo?

Não somos nada sem Deus: a despeito de nossos “achismos”, de nossa vã sabedoria, de nossa presunção, Ele tem o controle de tudo, como o apóstolo Paulo ensina em 1 Coríntios 3.5-8: “Quem é Apolo? E quem é Paulo? Servos por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um. Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um; e cada um receberá o seu galardão, segundo o seu próprio trabalho.”

Mas o que são estes galardões e como ganhá-los, segundo a Palavra de Deus? Como já vimos, nossas recompensas na vida eterna poderão ser boas, ou positivas, ou más, dependendo de nossas obras na vida terreal. Embora não saibamos exatamente como serão, a Bíblia nos ensina sobre as seguintes coroas ou galardões que poderemos colher:

A Coroa da Alegria pode ser auferida ao ganharmos almas para Cristo, como lemos em 1 Tessalonicenses 2.19 e em Filipenses 4.1. Paulo faz menção dos irmãos que levou a Cristo como sua alegria e coroa, e Jesus em Lucas 15.7 diz que quando um pecador se arrepende há alegria no céu;

A Coroa da Vida está reservada àqueles que, ao passarem por provas, aflições e tentações, permanecem fiéis, e está registrada em Tiago 1.12 e em Apocalipse 2.10. Muitos cristãos imaginam que esta coroa é a vida eterna, porém a fidelidade nos momentos de tribulação jamais poderia garantir a salvação, que é concedida exclusivamente pela graça de Deus. Embora a fidelidade seja requerida a todo o salvo, Hebreus 12.5-11 nos mostra que muitos cristãos são considerados inabilitados em suas provações, mas apesar disto não perdem a salvação;

A Coroa da Incorruptibilidade é outorgada aos que procuram viver uma vida irrepreensível, íntegra diante de Deus e dos homens, aos que em tudo se dominam, como está escrito em 1 Coríntios 9.25, aos que negam-se a si mesmos, tomam a sua cruz e seguem a Cristo, como Ele ensina em Lucas 9.23;

A Coroa da Glória está destinada aos que têm a responsabilidade de pastorear, de liderar seus rebanhos e o fazem como Deus quer, de boa vontade, nunca como dominadores, mas tornando-se modelos do rebanho, buscando sempre o bem das ovelhas, alimentando-as e conduzindo-as na fé e no amor a Deus e de uns pelos outros, como o apóstolo Pedro em 1 Pedro 5.4 nos doutrina sobre a graça que significa o serviço;

A Coroa da Justiça será concedida àqueles crentes que amarem, que ansiarem com toda a sua alma pela volta de Cristo, como Paulo ensina em 2 Timóteo 4.8. São estes os que entregam suas vidas inteiramente ao serviço do reino, os que buscam em primeiro lugar o Seu reino e a Sua justiça, como nosso Senhor ensina em Mateus 6.33; são os que oram intensamente no espírito, como somos ensinados em Apocalipse 22.17, 20: “Vem… Vem, Senhor Jesus.”

E para os que imaginam que a questão dos galardões tem origem apenas com a Nova Aliança, Crônicas 15.7 demonstra que Deus, aproximadamente 450 anos a.C., já prometia recompensa para o crente que se mantivesse forte e confiante nEle, fazendo as obras que ele ordenava, com todo o empenho e dedicação, sem desfalecer: “Mas sede fortes, e não desfaleçam as vossas mãos, porque a vossa obra terá recompensa”. O Senhor merece ser servido com toda a energia de que dispomos, e Seu serviço é digno de qualquer coisa que de nós for exigida, por isso Ele é credor de todas as coisas que nos ordenar.

Senhor Deus e Pai glorioso, sustenta-nos para que não hesitemos em lançar toda a nossa alma na Tua causa, para sermos merecedores dos galardões que tens preparados para nós. No nome de Cristo Jesus oramos a Ti, louvamos-Te e agradecemos. Amém.