Louco Amor

Louco Amor

“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura, e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” 1 Coríntios 2.14.

Nesta seção você vai poder conhecer as histórias da vida de missionários cristãos de ontem e de hoje, e de verdadeiros heróis da fé que mudaram o mundo. Você vai poder compartilhar expressões genuinamente cristãs, destacadas de diários, biografias, testemunhos, e até pensamentos marcantes de pessoas dominadas por esta paixão por Deus, contemplando desde “santos”, assim considerados pela Igreja, pastores, missionários, lideranças da Igreja, personalidades da cultura, e até pessoas comuns.

Um Louco Amor por Cristo que o mundo não consegue entender, é o que move estas pessoas especiais que deixam tudo para trás para atender ao Ide do Salvador.

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Tiago, Irmão de Jesus

Ela pesa 25 quilos. Tem 50 centímetros de comprimento por 25 centímetros de altura. A discussão em torno de uma caixa mortuária com os dizeres “Tiago, filho de José, irmão de Jesus” nasceu em 2002, quando o engenheiro judeu Oded Golan, um homem de negócios aficionado por antiguidades, revelou o misterioso objeto para o mundo. A possibilidade da existência de um depositário dos restos mortais de um parente próximo de Jesus Cristo agitou o circuito da arqueologia bíblica. Seria a primeira conexão física e arqueológica com o Jesus do Novo Testamento. Conhecido popularmente como o caixão de Tiago, a peça teve sua veracidade colocada em xeque pela Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA). Em dezembro de 2004, Golan foi acusado de falsificador e a Justiça local entrou no imbróglio. No mês passado, porém, o juiz Aharon Far­kash, responsável por julgar a suposta fraude cometida pelo antiquário judeu, encerrou o processo e acenou com um veredicto a favor da autenticidade do objeto. Este é o início de uma reportagem que a revista IstoÉ publicava em sua edição de 12/11/2010, e que teve grande repercussão no mundo cristão, ao trazer à luz algo tão importante ligado a Tiago, o meio-irmão de Jesus.

O Novo Testamento cita quatro homens chamados Tiago: Tiago, filho de Zebedeu, irmão de João o discípulo amado e, juntamente com este, apelidados de filhos do trovão; Tiago, filho de Alfeu, também discípulo; Tiago, pai do apóstolo Judas (Lucas 6:16; Atos 1:13), que não era apóstolo; e Tiago, o irmão do Senhor, como lemos em Mateus 13:55: “Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas?”. Este último é também considerado o autor da Epistola de Tiago. Os escritos canônicos do Novo Testamento, assim como outras fontes da Igreja antiga nos dão algumas evidências sobre a vida de Tiago e seu papel.

Após a Paixão, os apóstolos selecionaram Tiago como bispo de Jerusalém. Era reconhecido como homem santo, segundo os padrões da Lei, e cognominado “Justo” pelos seus conterrâneos. Uma descrição de seu modo de vida ascético assim relata: “Após os apóstolos, Tiago, irmão do Senhor, chamado o Justo, foi feito líder da igreja de Jerusalém. Muitos de fato são chamados de Tiago. Este era sagrado desde o útero de sua mãe. Ele não bebia vinho ou bebida alcoólica, e não comia carne. Ele teve o privilégio de entrar no Santo dos Santos, pois ele de fato não vestia roupas de algodão, apenas de linho, e entrou sozinho no templo e orou tanto por seu povo que seus joelhos têm a fama de terem adquirido a aspereza dos de um camelo.” Como era ilegal para qualquer um exceto o sumo-sacerdote do templo adentrar o Santo dos Santos e, mesmo assim, uma vez por ano durante o Yom Kippur, a citação indica que Tiago era considerado um sumo-sacerdote.

Paulo descreveu Tiago como sendo uma das pessoas para quem Cristo ressuscitado apareceu, em 1 Coríntios 15:3-8: “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze. Depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormem também. Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos. E por derradeiro de todos me apareceu também a mim, como a um abortivo. Em seguida, na mesma epístola aos coríntios, Paulo o cita de uma forma que parece indicar que ele já teria sido casado: E também o de fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?”. Em Gálatas 2:9, Paulo lista Tiago com Cefas (Simão Pedro) e João, como sendo os três “pilares” da Igreja: “E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão”,  e que irão ministrar aos “circuncidados” em Jerusalém, enquanto Paulo e seus companheiros irão ministrar para os não-circuncidados. Quando Pedro, tendo escapado milagrosamente da prisão, precisa fugir de Jerusalém por causa da perseguição de Herodes Agripa II, ele pede que Tiago seja informado, em Atos 12:17: ”E acenando-lhes ele com a mão para que se calassem, contou-lhes como o Senhor o tirara da prisão, e disse: Anunciai isto a Tiago e aos irmãos. E, saindo, partiu para outro lugar”. Quando Paulo chegou a Jerusalém para entregar o dinheiro que levantou para o fiéis, foi com Tiago que conversou, e foi Tiago que insistiu que ele se purificasse ritualmente no Templo de Herodes para provar sua fé e negar rumores de que estivesse pregando a rebelião contra a Torá, em Atos 21:18: “E no dia seguinte, Paulo entrou conosco em casa de Tiago, e todos os anciãos vieram ali”. Por ocasião do Concílio de Jerusalém, enquanto os cristãos de Antioquia estavam preocupados se o cristãos gentios precisariam ou não ser circuncidados para se salvarem, eles enviaram Paulo e Barnabé para se encontrar com a igreja de Jerusalém, e Tiago teve um papel proeminente na formação da decisão do Concílio, como está registrado em Atos 15:14: “Então toda a multidão se calou e escutava a Barnabé e a Paulo, que contavam quão grandes sinais e prodígios Deus havia feito por meio deles entre os gentios. E, havendo-se eles calado, tomou Tiago a palavra, dizendo: ‘Homens irmãos, ouvi-me: Simão relatou como primeiramente Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para o seu nome.’”. Tiago, dentre os que sabemos o nome, foi o último a falar, após Pedro, Paulo e Barnabé. Ele então proferiu o que chamou de sua “decisão” pacificadora, em  15:19: “Por isso julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus. O sentido original se aproxima mais de “opinião”. Ele apoiou todos, ao ser contra o requisito, e sugeriu proibições sobre consumo de sangue assim como carne utilizada em sacrifícios e também à fornicação. Esta se tornou a regra do Concílio, acordada por todos os apóstolos e anciãos e enviada para todas as igrejas por carta.

Segundo uma passagem nas Antiguidades Judaicas, do historiador contemporâneo Flávio Josefo, “o irmão de Jesus, que era chamado de Cristo, cujo nome era Tiago” encontrou a morte após a do procurador Porcius Festus, e, antes que Lucceius Albinus fosse empossado em 62 d.C. O sumo-sacerdote Ananus ben Ananus tirou vantagem desta falta de controle imperial, para reunir o Sinédrio que condenou Tiago “sob acusação de ter violado a Lei” e logo o executou por apedrejamento. Josefo relata ainda que o ato de Ananus foi amplamente considerado como um assassinato judicial e teria ofendido muitos dos “que eram consideradas as pessoas mais justas da cidade, e estritas na observância da Lei”, que chegaram a se encontrar com o procurador Albinus para pedir-lhe que interferisse no assunto. Como resultado, o rei Agrippa trocou Ananus por Jesus, filho de Damneus.

Outro historiador relata que os escribas e os fariseus foram até Tiago em busca de ajuda para eliminar as crenças cristãs. O relato diz que “Eles vieram, portanto, em grupo até Tiago e disseram:Nós te suplicamos, contenha o povo: pois eles se desviaram em suas opiniões sobre Jesus, como se ele fosse o Cristo. Nós te suplicamos, convença todos que vieram aqui para o dia da Páscoa, sobre Jesus. Pois nós todos ouvimos sua persuasão; pois nós também, assim como todo o povo, somos testemunhas que tu és justo e não mostras preferência por ninguém. Convence portanto o povo a não entreter opiniões errôneas sobre Jesus: pois todo o povo, e nós também, ouvimos a sua persuasão. Tome uma posição firme, então, no alto do templo, de modo que possas ser visto claramente por todos, e tuas palavras possam ser claramente ouvidas por todos. Pois, para comemorar a Páscoa, todas as tribos vieram para cá e também alguns gentios’”. Para desgosto dos escribas e dos fariseus, Tiago corajosamente testemunhou que Cristo “sentava-se no céu do lado direito Grande Poder e retornará nas nuvens celestiais”. Então eles confabularam entre si: “Erramos ao procurar seu testemunho sobre Jesus. Vamos então subir e jogá-lo de lá, para que eles tenham medo e não acreditem nele”. Assim, os escribas e os fariseus “… lançaram abaixo o homem justo… (e) começaram a apedrejá-lo, uma vez que ele não morrera na queda; Mas ele virou, se ajoelhou e disse: ‘Eu imploro-te, Senhor Deus nosso Pai, perdoa-os pois eles não sabem o que fazem.’” E, enquanto eles estava apedrejando-o até a morte, um dos sacerdotes, começou a gritar, dizendo: “Parem, o que estão fazendo? O homem justo está orando por nós”. Mas um dentre eles, compadecido, quis abreviar sua morte, e tomou seu cajado com o qual ele estava acostumado a manipular as vestes que tingia, e atirou na cabeça do homem justo. E assim ele sofreu o martírio, e eles o enterraram ali mesmo, e o pilar que foi erguido em sua memória ainda está lá, perto do templo.

Tiago foi uma testemunha verdadeira tanto para judeus quanto para gregos de que Jesus é o Cristo, e certamente foi um homem que viveu um Louco Amor por Ele.

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A Missão que Surgiu na Madrugada

“Um dos maiores milagres de Deus é permitir que pessoas comuns façam coisas incomuns.” Essa frase do escritor norte-americano H. Jackson Brown traduz nossa certeza de que o Rev. Wildo Gomes dos Anjos é uma dessas pessoas. E que a Missão Vida, fundada por ele há mais de 28 anos, é um desses grandes milagres.  Como um farol que aponta aos navegantes o caminho da orla, essa instituição tem sido um referencial para muitos perdidos, sem esperança e sem chão. Muito mais do que um lugar de recuperação, representa casa, afeto e família àqueles que, invisíveis e abandonados, não têm credibilidade de mais ninguém.

Vocacionado desde cedo

Nas palavras do próprio Rev. Wildo: Meu segundo emprego foi aos 13 anos, em uma firma de torrefação de café. Todas as manhãs, indo para o trabalho, eu passava por um mesmo caminho, onde um grande grupo de pessoas vivia sob as marquises de algumas indústrias. Eram homens, mulheres e crianças que passavam seus dias e noites nas ruas, sobrevivendo das esmolas que recebiam ou de pequenos delitos. A situação daquelas pessoas tocava o meu coração e eu me perguntava por que eles viviam daquela maneira, por que não tinham um lar, por que não eram felizes. A cena era deprimente: o lugar cheirava mal, as pessoas eram sujas, maltrapilhas e, muitas vezes estavam completamente bêbadas. No entanto, apesar de não gostar do que via e da existência de outros caminhos, eu sempre passava por ali. Uma certa manhã, resolvi parar e conversar com eles. Nem todos mostravam-se interessados em conversar com um garoto. Mas um deles, o Sr. João, dispôs-se a me ouvir e responder às minhas perguntas. Ele nunca me disse seu sobrenome, mas contou-me sua história. Era alcoólatra, abandonara a família e fora viver debaixo da marquise; já haviam se passado vários anos que saíra de casa. Na manhã seguinte, levei pão e leite. E assim por vários meses. Levava também alguns remédios, roupas usadas e cobertores. Todos os dias fazia questão de passar alguns minutos conversando com ele, perguntando seu passado, tentando reanimá-lo diante de tanto sofrimento. Um dia quando chamei e não obtive resposta, percebi que estava rígido, inerte: ele estava morto. Tinha morrido durante a noite, sem que ninguém o socorresse. O convívio e a morte do Sr. João fizeram com que a vida daquelas pessoas me incomodasse de uma maneira ainda mais forte. Era Deus falando ao meu coração a partir daquela experiência.”

Influências recebidas do lar

“Meu pai, espírita praticante, minha mãe, católica fervorosa, viviam dentro de um sincretismo religioso. Através do contato com uma missionária inglesa, minha família foi ganha para o Senhor. Doravante nossa casa, apesar de muito simples, esteve de portas abertas para acolher e ajudar aqueles que necessitassem de auxílio.  Para minha mãe, socorrer alguém era tão importante quanto suprir as necessidades de sua própria família. Parava suas tarefas domésticas para preparar um prato de comida para um faminto ou confeccionar um vestido para uma viúva pobre.  Missionários eram recebidos em nossa casa como filhos. Roupas, comida, hospedagem e até mesmo compra de livros, tudo que fosse possível, mamãe providenciava.  Aprendi que é preciso olhar os necessitados e sermos generosos, colocarmo-nos à disposição para ajudar, abrirmos não só a casa, mas o coração para ser bênção na vida das pessoas A verdade é que Deus estava me preparando para uma missão especial.”

Conversão aos 17 anos

Apesar de freqüentar a Igreja com seus pais dominicalmente, Wildo só teve um encontro pessoal com Jesus  aos 17 anos. Sentindo-se atraído pelas farras noturnas, envolveu-se em brigas e más companhias. Vivia em crise. Decidiu que não voltaria mais à igreja, pois ali não encontrava as respostas para suas perguntas e nada preenchia o vazio que sentia.  Convidado para um acampamento, pensando na parte esportiva e nas belas jovens que lá estariam, aceitou. Só participou do último culto, no 4º dia do acampamento. Em suas palavras: “Fiquei decepcionado quando vi que o pastor era um senhor de cabelos grisalhos. À medida em que discorria sobre as pessoas que viviam no mundo à procura de emoções e prazeres e jamais encontravam satisfação, comecei a me identificar, e Deus começou a quebrantar meu coração. Era como se alguém tivesse contado toda a minha vida. Lembro de ter dito: ‘Deus, se o Senhor é tudo isso que esse homem disse, se és verdadeiro, se tens interesse pelas pessoas, muda a minha vida, tira de mim essa vontade de morrer, enche-me de alegria, de satisfação genuína e verdadeira. Se o Senhor é como ele falou, quero te experimentar. Não deixes que eu seja como alguns crentes, que levam a mesma vida miserável que eu. Quero ser diferente, voltar a esse lugar dentro de pouco tempo e pregar a tua palavra. Muda-me! Desejo ser alguém completamente diferente.’ “Enquanto orava, o pastor fez o apelo, e fui o primeiro a ir à frente. Doravante Deus estava transformando a minha vida.”

Preparação para a obra

“Depois de um ano, resolvi entrar para um Seminário Teológico, e ali era o mais jovem, inexperiente e com modesto conhecimento bíblico e pouca experiência com Deus. Tive dificuldades e desilusões no tempo que passei no seminário. Cheguei a ouvir do reitor que eu não era vocacionado, e que deveria voltar à minha função como gerente de um importante Hotel de Anápolis. Enquanto orava pedindo orientação sempre voltava à lembrança daquele mendigo que encontrei aos 13 anos. Certa noite enquanto me dirigia à Igreja, passando por um grupo de mendigos, um deles me chamou a atenção, tinha barba e cabelos brancos e muito compridos e estava completamente bêbado. Ao vê-lo as pessoas mudavam de calçada, enquanto ele gritava e desafiava a todos. A cena me levou a orar: ‘Deus, se o Senhor ama tanto esses mendigos, por que não me usa para salvá-los?’. Eu não tinha noção do que estava pedindo, mas Deus começou a trabalhar em meu coração de uma forma muito especial.  Eu não podia imaginar que, por intermédio daquela oração, a minha vida estava sendo colocada a serviço dos mendigos e necessitados.”

A obra

“Decidi que não ficaria apenas nas palavras e partiria para a ação, mas eu precisava encontrar uma maneira de amenizar o sofrimento daquelas pessoas. A princípio, armado com minha Bíblia, alguns folhetos e muita vontade e determinação, saí para evangelizar os mendigos que encontrasse nas ruas. Debaixo de uma marquise, comecei a falar de Cristo para eles, dando como prova do amor de Deus, Seu sacrifício. Por esse motivo, era vontade do Senhor que todos tivessem vida e fossem felizes. Nesse momento um dos homens me interrompeu dizendo: ‘Se Deus é tão bom como você está dizendo que Ele é, por que eu estou aqui nesta circunstância? É muito fácil para você chegar aqui e dizer que Deus é bom, se amanhã você nem vai se lembrar que a gente existe. Daqui a pouco você vai sair daqui; deve ter uma casa, uma cama limpa para deitar, uma família esperando. E nós? Nós não temos nada. Que Deus bom é esse que nos deixou chegar a essa situação?’ Desconcertado, não tive resposta. Peguei meus folhetos e minha Bíblia e voltei para casa buscando em Deus uma orientação. Resolvi não retornar às ruas até que Ele se manifestasse e me dissesse o que eu deveria fazer para ajudar, de uma maneira prática, aqueles mendigos. Foram semanas de oração, até que o Senhor falou ao meu coração com uma idéia: levar sopa, pão e cobertores para aquelas pessoas. Deus não exige de nós o que não temos, e, por isso o processo de ajuda aconteceu aos poucos. Comecei dando-lhes apenas pão e leite; depois veio a sopa. E cobertores. Dessa forma, ficava muito mais fácil fazer com que os mendigos se interessassem em me ouvir com atenção e pudessem experimentar, de forma palpável, um pouco do amor de Deus. Minha ligação com aqueles homens se tornava cada vez mais forte. O evangelismo das madrugadas começava a dar frutos e eu me via impotente diante daquela situação. Muitos mendigos demonstravam interesse em mudar de vida, mas não tinha onde colocá-los. Procurei auxilio em centros de recuperação, mas nenhum deles se dedicava a mendigos, somente a viciados. Não se davam conta de que a mendicância também é um vício.  Escrevi cartas para todas as instituições, mas não adiantou.  Sem conseguir interná-los, resolvi tirar alguns das ruas e colocá-los em pensões. Com o salário de funcionário público cheguei a pagar 8 quartos. Até que um dia, o Senhor falou por meio de um deles. Ele sugeriu a construção de uma casa onde eu pudesse abrigar todos.”

Isso aconteceu em 1983, com a construção de uma casa que podia acolher 12 mendigos. Hoje são mais de 500 vagas espalhadas pelo Brasil, além de várias outras atividades assistenciais que têm reconhecimento nacional. Para conhecer mais sobre a Missão Vida, acesse www.mvida.org.br e venha conhecer e ouvir o Rev. Wildo Gomes dos Anjos na Igreja Presbiteriana de Curitiba, à Rua Comendador Araujo, 343 – Centro – Curitiba, no próximo dia 20/05/2012, nos cultos das 9:00, 11:00 e 19:00 horas.

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Sundar Singh – O Apóstolo dos Pés Sangrentos

Nascido em 3 de Setembro de 1889 em Rampur, em uma região chamada de Patiala no norte da Índia, foi criado em uma família rica. Sundar foi educado sobre os ensinamentos do hinduísmo e junto com seus pais freqüentava os templos hindus. Com a morte de sua amada mãe, quando tinha 14 anos, sua vida mudou drasticamente. Tornou-se desequilibrado e agressivo e não conseguia encontrar a paz prometida por sua religião. Por decisão da família ele foi matriculado numa escola cristã, única no local com o ensino secular desejado, ressalvando-se porém que se manteria no hinduísmo. Mesmo que a contragosto, lá teve que ouvir falar de Jesus, no entanto estava convencido de que o que Jesus havia ensinado era completamente errado, tendo chegado até mesmo a atirar pedras contra pregadores e encorajado outros a imitá-lo. Seu ódio aos missionários locais e aos cristãos em geral culminou com a queima pública de uma Bíblia que ele rasgou página por página e atirou às chamas.

Ainda assim, por mais que tentasse, não conseguia encontrar a paz que tinha buscado em sua própria religião, escrevendo mais tarde: “… e assim decidi abandonar tudo e acabar com a vida. Três dias depois de queimar a Bíblia, levantei-me às 3:00 horas da manhã, tomei o banho usual e orei: ‘Ó Deus – se é que Deus existe – mostra-me o caminho certo ou eu me mato! Se não encontrar a paz, porei a cabeça no trilho do trem, e quando vier o comboio das cinco ali morrerei.’ Tinha a impressão de que encontraria sossego na outra vida, se não encontrasse nesta, e ali fiquei orando continuamente, sem obter resposta. Às quatro e meia vi algo que nunca imaginara antes: uma grande luz no aposento. Pensei que fosse um incêndio. Olhei ao redor, mas nada descobri. De repente veio-me a idéia que isso podia ser a resposta de Deus, e  enquanto orava e continuava olhando para a luz, vi o vulto do Senhor Jesus Cristo. Era uma aparição gloriosa, plena de amor. Fosse alguma encarnação hindu, eu me teria prostrado diante dele. Mas era o Senhor Jesus Cristo que poucos dias antes eu insultara. Senti que essa visão não poderia ser fruto da imaginação. Uma voz então me disse em hindustani: ‘Até quando me perseguirás? Eu vim salvar-te; oravas para conhecer o caminho verdadeiro. Por que não o tomas?’ Veio-me à mente uma idéia: ‘Jesus Cristo não está morto, mas vive, e este é Ele mesmo!’ Caí a seus pés e senti a paz maravilhosa que não havia encontrado em nenhum outro lugar. Era essa a paz que eu buscava. Aquilo era o próprio Céu. Quando me levantei, a visão tinha desaparecido, mas a paz e a alegria permaneceram comigo para sempre. Saí e fui dizer ao meu pai que me fizera cristão. Ele me respondeu: ‘Vai deitar-te e dormir, anteontem mesmo tu queimavas a Bíblia, como me vens agora dizer que és cristão?’ Respondi: ‘Agora sei que Jesus Cristo está vivo e decidi segui-lo. Hoje tornei-me Seu discípulo e passei a servi-Lo”.

Sundar queria ser batizado, e embora sua família tentasse impedi-lo, ele estava determinado. Em 1905, em seu aniversário de 16 anos, foi finalmente batizado em uma igreja inglesa, em Simla. Tendo-se tornado um cristão, foi renegado pelo pai e condenado ao ostracismo por sua família. Em 16 de outubro de 1905, Sundar vestindo uma túnica amarela para parecer com um sadhu, um asceta hindu, descalço e sem provisões, carregando apenas um Novo Testamento, reiniciou sua vida nômade indo de aldeia em aldeia, mas desta vez seguindo os passos de Jesus. Ele estava convencido de que esta era a melhor maneira de apresentar o Evangelho ao seu povo, vestindo-se como um monge andarilho. Também queria ser livre para se dedicar ao Senhor, e deste momento em diante a vida de Sundar Singh tornou-se mais semelhante à de Cristo.”Eu não sou digno de seguir os passos do meu Senhor”, ele disse, “mas como Ele, eu quero ser sem lar, sem posses. Como Ele eu pertenço à estrada, compartilhando o sofrimento do meu povo, comendo com os quem me dão abrigo, e contando a todas as pessoas  sobre o amor de Deus.” Abandonado pela família e pelos amigos, tornou-se evangelista itinerante, tendo atravessado o Himalaia várias vezes, sob frio intenso, atacado por feras e salteadores, com o propósito de levar a Palavra a quem vivia na mais crassa ignorância das coisas de Deus. Pregou depois na Inglaterra, em diversos países da Europa e nos EUA.

Sundar Singh passou por muitas experiências de feroz perseguição por conta do cristianismo que pregava. Foi na cidade de Rasar que o jovem pregador primeiro travou conhecimento com a perseguição que iria sofrer doravante. Ao começar a pregação alguém na multidão gritou que o santo homem queria mudar a religião deles e que a roupa que vestia não passava de disfarce. Os resmungos e os empurrões se avolumaram e cobriam-lhe a voz, e por fim empurraram-no para a casa do lama, que era a autoridade espiritual da cidade. Interrogado, disse a que vinha, mas quando tentou recomeçar a prédica, o lama, com um gesto feroz pronunciou a sentença condenatória e a multidão arrastou-o para o local da execução. No caminho, entre ameaças e insultos, um budista mais exaltado deu-lhe uma cacetada que inutilizou temporariamente seu braço. Detiveram-no junto de um poço seco que abria para o céu sua boca ameaçadora e fúnebre, com um cheiro nauseante de carne podre exalando do seu interior. Despiram-no e o jogaram no interior do buraco onde havia grande quantidade – tanto de ossos de homens há muito sepultados, quanto de corpos em putrefação.  Quando olhou para o alto, o círculo onde as faces ferozes dos inimigos se inclinavam para vê-lo, desapareceu, pois a boca do poço havia sido trancada, e o sadhu viu-se só no que podia ser chamado de vale da sombra da morte. Mas não estava ele a serviço de Cristo? E por quê Cristo não se manifestava, convertendo almas? As horas perderam a realidade e para o moço cuja alma se debatia entre o gozo de sofrer por Cristo e a dúvida, o tempo transformou-se numa planície gelada e sem fim, e assim se passaram três dias. Inerte, sentado entre os ossos e os cadáveres, aguardava a morte, quando a boca do poço se abriu e um vulto irreconhecível surgiu, negro contra o céu da noite. A voz, ampliada, era como o trovão, ordenando-lhe que agarrasse a ponta da corda. Tateando, encontrou-a e agarrou-se a ela como pôde. Sentiu então que era erguido, e seu corpo oscilou pesadamente de uma parede à outra, até que atingiu a superfície. Fortes mãos o agarraram e o colocaram em terra. O ar fresco invadiu-lhe os pulmões e tossindo, atordoado, ouviu como em sonho o ranger da tampa, e o som na fechadura. Olhou em torno, para conhecer o seu salvador, mas descobriu que estava só na escuridão noturna. Caiu de joelhos e deu graças a Deus. Amanhecia e ele adormeceu. Quando acordou, reiniciou a pregação. Como todos o julgavam morto, seu caso estava encerrado, e o tumulto e o susto foram enormes quando aquele fantasma surgiu. Novamente levado ao lama, narrou sua libertação. O lama tremeu de fúria, gritando: “A chave! Com quem está a chave do poço?” Amedrontados, os oficiais procuravam a chave, mas sem sucesso. Afinal, um dos presentes fez em voz baixa uma observação medrosa e, instantes depois, acompanhando os olhares, o lama levou a mão ao cinto, onde encontrou a chave. Sundar Singh foi expulso sem maiores violências e continuou a jornada. Mais tarde manifestou a tendência para crer que um anjo de Deus o libertara. Mas sempre foi discreto, e insistia que pouco importava saber se o libertara  um amigo secreto do cristianismo, ou outra criatura. Seu libertador real era Cristo, o agente que se encontrava atrás da mão que movera a chave era certamente o seu Mestre.

Ele gostava de ilustrar seus ensinamentos com parábolas que tirava de sua vivência cristã: “É bom sinal sentirmos que somos pecadores. Quando não o sentimos, estamos em perigo. Certa ocasião banhava-me no rio e mergulhei até o fundo da torrente. Sobre a minha cabeça havia toneladas de água, mas eu não sentia o peso. Quando subi à margem enchi de água uma vasilha e ela me pareceu pesada. Enquanto estava mergulhado não sentia o peso da água. O pecador também não sente o peso do pecado enquanto vive nele. Noutra ocasião, quando descia dos montes, sentei-me no portal de uma casa. Começou a soprar forte vento, que impeliu uma avezinha para o meu lado. De repente surgiu um falcão, pronto para a caçada. Atacada, a ave escondeu-se no meu regaço. Era um passarinho arisco, que sempre foge do homem, mas correu para mim na hora do perigo. Assim também o vento do sofrimento nos leva ao regaço de Deus. Quando vemos um grou imóvel à beira da água podemos imaginar, pela sua atitude, que medita na glória de Deus ou na excelência da água. Engano: ele permanece horas a fio imóvel, mas quando vê uma rã ou um peixinho, imediatamente se lança sobre ele e o engole. Tal é a atitude de muitos na oração: sentados à margem do oceano incomensurável do amor de Deus, abrigam unicamente o pensamento de obter favores especiais.“

Em 1906 Sundar Singh foi ao Tibete pela primeira vez em sua vida, e este país o atraía principalmente por causa da grande resistência contra o evangelismo. No final de sua vida tentou várias vezes a travessia do Himalaia, rumo ao Tibete, onde pretendia pregar o evangelho, e da última vez – era primavera – não se conteve: seguindo pela Estrada do Peregrino, em 1929, com 40 anos, contra tudo e contra todos, visitou o país novamente e nunca mais foi visto desde então.  Desapareceu, e por mais que o procurassem sumiu sem deixar vestígio. Sundar manifestou em si mesmo o versículo em Marcos 8:35: Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salvá-la-á.

Ficou conhecido como o apóstolo dos pés sangrentos, pois sempre caminhava sozinho, descalço, e seus pés feridos algumas vezes deixavam um rastro de sangue nas trilhas por onde tinha passado.

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