Tiago, Irmão de Jesus
Ela pesa 25 quilos. Tem 50 centímetros de comprimento por 25 centímetros de altura. A discussão em torno de uma caixa mortuária com os dizeres “Tiago, filho de José, irmão de Jesus” nasceu em 2002, quando o engenheiro judeu Oded Golan, um homem de negócios aficionado por antiguidades, revelou o misterioso objeto para o mundo. A possibilidade da existência de um depositário dos restos mortais de um parente próximo de Jesus Cristo agitou o circuito da arqueologia bíblica. Seria a primeira conexão física e arqueológica com o Jesus do Novo Testamento. Conhecido popularmente como o caixão de Tiago, a peça teve sua veracidade colocada em xeque pela Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA). Em dezembro de 2004, Golan foi acusado de falsificador e a Justiça local entrou no imbróglio. No mês passado, porém, o juiz Aharon Farkash, responsável por julgar a suposta fraude cometida pelo antiquário judeu, encerrou o processo e acenou com um veredicto a favor da autenticidade do objeto. Este é o início de uma reportagem que a revista IstoÉ publicava em sua edição de 12/11/2010, e que teve grande repercussão no mundo cristão, ao trazer à luz algo tão importante ligado a Tiago, o meio-irmão de Jesus.
O Novo Testamento cita quatro homens chamados Tiago: Tiago, filho de Zebedeu, irmão de João o discípulo amado e, juntamente com este, apelidados de filhos do trovão; Tiago, filho de Alfeu, também discípulo; Tiago, pai do apóstolo Judas (Lucas 6:16; Atos 1:13), que não era apóstolo; e Tiago, o irmão do Senhor, como lemos em Mateus 13:55: “Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas?”. Este último é também considerado o autor da Epistola de Tiago. Os escritos canônicos do Novo Testamento, assim como outras fontes da Igreja antiga nos dão algumas evidências sobre a vida de Tiago e seu papel.
Após a Paixão, os apóstolos selecionaram Tiago como bispo de Jerusalém. Era reconhecido como homem santo, segundo os padrões da Lei, e cognominado “Justo” pelos seus conterrâneos. Uma descrição de seu modo de vida ascético assim relata: “Após os apóstolos, Tiago, irmão do Senhor, chamado o Justo, foi feito líder da igreja de Jerusalém. Muitos de fato são chamados de Tiago. Este era sagrado desde o útero de sua mãe. Ele não bebia vinho ou bebida alcoólica, e não comia carne. Ele teve o privilégio de entrar no Santo dos Santos, pois ele de fato não vestia roupas de algodão, apenas de linho, e entrou sozinho no templo e orou tanto por seu povo que seus joelhos têm a fama de terem adquirido a aspereza dos de um camelo.” Como era ilegal para qualquer um exceto o sumo-sacerdote do templo adentrar o Santo dos Santos e, mesmo assim, uma vez por ano durante o Yom Kippur, a citação indica que Tiago era considerado um sumo-sacerdote.
Paulo descreveu Tiago como sendo uma das pessoas para quem Cristo ressuscitado apareceu, em 1 Coríntios 15:3-8: “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze. Depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormem também. Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos. E por derradeiro de todos me apareceu também a mim, como a um abortivo. Em seguida, na mesma epístola aos coríntios, Paulo o cita de uma forma que parece indicar que ele já teria sido casado: “E também o de fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?”. Em Gálatas 2:9, Paulo lista Tiago com Cefas (Simão Pedro) e João, como sendo os três “pilares” da Igreja: “E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão”, e que irão ministrar aos “circuncidados” em Jerusalém, enquanto Paulo e seus companheiros irão ministrar para os não-circuncidados. Quando Pedro, tendo escapado milagrosamente da prisão, precisa fugir de Jerusalém por causa da perseguição de Herodes Agripa II, ele pede que Tiago seja informado, em Atos 12:17: ”E acenando-lhes ele com a mão para que se calassem, contou-lhes como o Senhor o tirara da prisão, e disse: Anunciai isto a Tiago e aos irmãos. E, saindo, partiu para outro lugar”. Quando Paulo chegou a Jerusalém para entregar o dinheiro que levantou para o fiéis, foi com Tiago que conversou, e foi Tiago que insistiu que ele se purificasse ritualmente no Templo de Herodes para provar sua fé e negar rumores de que estivesse pregando a rebelião contra a Torá, em Atos 21:18: “E no dia seguinte, Paulo entrou conosco em casa de Tiago, e todos os anciãos vieram ali”. Por ocasião do Concílio de Jerusalém, enquanto os cristãos de Antioquia estavam preocupados se o cristãos gentios precisariam ou não ser circuncidados para se salvarem, eles enviaram Paulo e Barnabé para se encontrar com a igreja de Jerusalém, e Tiago teve um papel proeminente na formação da decisão do Concílio, como está registrado em Atos 15:14: “Então toda a multidão se calou e escutava a Barnabé e a Paulo, que contavam quão grandes sinais e prodígios Deus havia feito por meio deles entre os gentios. E, havendo-se eles calado, tomou Tiago a palavra, dizendo: ‘Homens irmãos, ouvi-me: Simão relatou como primeiramente Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para o seu nome.’”. Tiago, dentre os que sabemos o nome, foi o último a falar, após Pedro, Paulo e Barnabé. Ele então proferiu o que chamou de sua “decisão” pacificadora, em 15:19: “Por isso julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus. O sentido original se aproxima mais de “opinião”. Ele apoiou todos, ao ser contra o requisito, e sugeriu proibições sobre consumo de sangue assim como carne utilizada em sacrifícios e também à fornicação. Esta se tornou a regra do Concílio, acordada por todos os apóstolos e anciãos e enviada para todas as igrejas por carta.
Segundo uma passagem nas Antiguidades Judaicas, do historiador contemporâneo Flávio Josefo, “o irmão de Jesus, que era chamado de Cristo, cujo nome era Tiago” encontrou a morte após a do procurador Porcius Festus, e, antes que Lucceius Albinus fosse empossado em 62 d.C. O sumo-sacerdote Ananus ben Ananus tirou vantagem desta falta de controle imperial, para reunir o Sinédrio que condenou Tiago “sob acusação de ter violado a Lei” e logo o executou por apedrejamento. Josefo relata ainda que o ato de Ananus foi amplamente considerado como um assassinato judicial e teria ofendido muitos dos “que eram consideradas as pessoas mais justas da cidade, e estritas na observância da Lei”, que chegaram a se encontrar com o procurador Albinus para pedir-lhe que interferisse no assunto. Como resultado, o rei Agrippa trocou Ananus por Jesus, filho de Damneus.
Outro historiador relata que os escribas e os fariseus foram até Tiago em busca de ajuda para eliminar as crenças cristãs. O relato diz que “Eles vieram, portanto, em grupo até Tiago e disseram: ‘Nós te suplicamos, contenha o povo: pois eles se desviaram em suas opiniões sobre Jesus, como se ele fosse o Cristo. Nós te suplicamos, convença todos que vieram aqui para o dia da Páscoa, sobre Jesus. Pois nós todos ouvimos sua persuasão; pois nós também, assim como todo o povo, somos testemunhas que tu és justo e não mostras preferência por ninguém. Convence portanto o povo a não entreter opiniões errôneas sobre Jesus: pois todo o povo, e nós também, ouvimos a sua persuasão. Tome uma posição firme, então, no alto do templo, de modo que possas ser visto claramente por todos, e tuas palavras possam ser claramente ouvidas por todos. Pois, para comemorar a Páscoa, todas as tribos vieram para cá e também alguns gentios’”. Para desgosto dos escribas e dos fariseus, Tiago corajosamente testemunhou que Cristo “sentava-se no céu do lado direito Grande Poder e retornará nas nuvens celestiais”. Então eles confabularam entre si: “Erramos ao procurar seu testemunho sobre Jesus. Vamos então subir e jogá-lo de lá, para que eles tenham medo e não acreditem nele”. Assim, os escribas e os fariseus “… lançaram abaixo o homem justo… (e) começaram a apedrejá-lo, uma vez que ele não morrera na queda; Mas ele virou, se ajoelhou e disse: ‘Eu imploro-te, Senhor Deus nosso Pai, perdoa-os pois eles não sabem o que fazem.’” E, enquanto eles estava apedrejando-o até a morte, um dos sacerdotes, começou a gritar, dizendo: “Parem, o que estão fazendo? O homem justo está orando por nós”. Mas um dentre eles, compadecido, quis abreviar sua morte, e tomou seu cajado com o qual ele estava acostumado a manipular as vestes que tingia, e atirou na cabeça do homem justo. E assim ele sofreu o martírio, e eles o enterraram ali mesmo, e o pilar que foi erguido em sua memória ainda está lá, perto do templo.
Tiago foi uma testemunha verdadeira tanto para judeus quanto para gregos de que Jesus é o Cristo, e certamente foi um homem que viveu um Louco Amor por Ele.