Nossa Única Esperança
Quando Jesus iniciou seu ministério na terra, muitos eram os que tinham uma perspectiva política da promessa messiânica, nutrindo grande ambição de liberdade e independência do conquistador romano.
Jesus mais tarde – quando ressurreto e pouco antes de ser elevado às alturas – foi questionado pelos discípulos tal como está registrado em Atos 1.6: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?”
Ao que – em Atos 1.7,8 – Jesus retorquiu: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.”.
É claro, assim, que o projeto de Jesus para os Seus discípulos não é político; longe de se vincular às coisas da matéria, está permeado de um caráter essencialmente espiritual.
Isto não significa, no entanto, que Seus seguidores não devam exercer seus deveres de cidadãos, e não possam atender a responsabilidades de cidadania política, quando a tanto forem solicitados ou as oportunidades e a vocação surgirem. Mas não podemos esquecer o que Jesus disse em João 18.36: “O meu reino não é deste mundo.”
Como cristãos, não podemos deixar de reafirmar a centralidade da pessoa e da obra de Jesus Cristo como Senhor e Salvador, a autoridade das Sagradas Escrituras, a busca da santidade e a ênfase na missão integral da Igreja. E não podemos esquecer que a missão prioritária dos cristãos e da Igreja é divulgar, proclamar, anunciar, compartilhar as Boas Novas da Salvação e da reconciliação com Deus, tendo como foco uma nova realidade global que ansiosamente esperamos, num futuro determinado pelo Senhor.
A história tem demonstrado repetidamente ao longo dos tempos, que a aliança e a conivência entre o espiritual e o secular inevitavelmente leva a descaminhos deletérios. Na qualidade de cristãos não podemos excluir a fé e o espiritual – no que representa relacionamento e intimidade com Deus – de qualquer área da nossa vida. A dimensão espiritual deve permear toda a nossa existência e estar presente em toda e qualquer área em que atuemos, contrariando a tese que alguns equivocadamente defendem de que a nossa vida é feita de dimensões separadas, a espiritual, a profissional, a familiar e a política, entre outras.
É preciso lembrar que no mundo vivemos em batalha espiritual permanente, e que por isso há um alto preço a pagar por procurarmos que a cidade dos homens reflita a cidade de Deus e não a cidade do diabo.
Calvino aprovava o engajamento político – não necessariamente partidário, mas cidadão – dos cristãos dizendo: “…não se deve pôr em dúvida que o poder civil é uma vocação, não somente santa e legítima diante de Deus, mas também mui sacrossanta e honrosa entre todas as vocações.”
Sabemos que o mundo nunca será perfeito antes do advento da Nova Jerusalém, mas é certo que poderá estar muito pior em razão da nossa omissão ou do nosso apoio aos egoístas de plantão que visam exclusivamente seus próprios interesses. Ao contrário, devemos ter uma postura ativa atuando no ensino e esclarecimento e por meio de orações, intercedendo tanto em conjunto – na igreja, em grupo e em família – quanto individualmente como cidadãos, mas também por meio de movimentos e instituições cristãs, conscientizando, exortando e preparando para o exercício da política.
A ação política cidadã não deve se limitar ao partidário nem, muito menos, ao eleitoral, mas a uma atitude de responsabilidade, sensibilidade, disponibilidade e intervenção no cotidiano, traduzida em obediência à Palavra e testemunho de Cristo.
Nem direita ou esquerda totalitárias, nem direita ou esquerda autoritárias, nem sociedades altamente estratificadas dos poucos com muito e dos muitos com pouco, nem os modos de produção que concentram propriedade, renda, poder e saber, são congruentes com os valores do Reino de Deus, em que nós cristãos cremos, professamos, defendemos e promovemos.
Por isso é inimaginável, inaceitável, que sejamos coniventes com políticas e políticos que estejam a serviço exclusivo dos reinos da terra e de seus mesquinhos e egoístas interesses pessoais e de grupos.
Pai de misericórdia, ante um cenário político tão preocupante como o atual em nosso país, clamamos pelo Teu agir para que a iniqüidade e as forças do mal que o governam, sejam detidas em seus propósitos diabólicos, enquanto esperamos pela volta de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, nossa única, eterna e real esperança. Oramos suplicantes no Nome Santo que está acima de todo o nome. Amém.
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