O Conhecimento Fundamental (parte 2)
O ser humano é um grande paradoxo: geralmente investe todo o seu tempo, dinheiro e energia nesta vida finita, e desdenha a vida infinita, como se a finita jamais fosse terminar e a eterna não existisse. Quando os filhos são pequenos, os pais se preocupam em dar a eles uma boa formação escolar, investem em atividades esportivas, em formação cultural, porém esquecem que tudo isto é voltado para um tempo extremamente curto da vida, que “passa como uma nuvem”, e que o foco de seus investimentos – sem deixar de contemplar este tipo de formação – deveria ser a formação espiritual, que será de muito maior proveito para esta vida, mas principalmente essencial para a eterna. O conceito que adotam é que o objetivo da vida terrena é o de obter “sucesso”: ganhar dinheiro, adquirir bens materiais, ser famoso, ter poder. Esquecem, ou não conhecem, o ensinamento de Jesus em Mateus 6.19-20 (ARA), que tem se comprovado sábio e irretorquível – para quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir – desde que foi pronunciado pelo Mestre, no início de nossa era: “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.”
Já nos perguntamos por que o conhecimento tecnológico tem evoluído tanto nos últimos 2.000 anos, enquanto o conhecimento espiritual – para a maioria das pessoas – continua tão ou até mais limitado que nos tempos da primeira vinda de Jesus? Enquanto, por exemplo, os meios de locomoção e transporte tiveram um processo evolutivo que foi do andar a pé, a cavalo ou de carroça, para os requintados automóveis, ônibus, caminhões, trens e aviões; os meios de comunicação pessoal que eram somente através da voz humana e das cartas transportadas na algibeira, hoje utilizam o telefone fixo ou móvel, a internet e as redes sociais; a comunicação de massa, que do discurso feito sobre uma plataforma, hoje é feita pelo rádio, a televisão, o cinema e a mídia impressa; a medicina que empregava um limitado saber empírico, atualmente se baseia em incríveis equipamentos informatizados que permitem sondar os recessos mais íntimos do corpo humano; a farmacopeia que se valia somente de ervas e chás, agora dispõe de incontáveis tipos de drogas para praticamente todas as doenças conhecidas, e assim por diante. Mas, é preciso reconhecer que para cada evolução humana tem correspondido uma grave involução: os meios de transporte atuais têm posto a perder a qualidade do ar que respiramos, provocando muitas doenças graves, acidentes veiculares são responsáveis por mais mortes que as guerras “oficiais”, as cidades caminham rapidamente para a paralisação por conta dos congestionamentos sem fim, e assim a qualidade de vida deteriorou-se sobremaneira; os meio de comunicação pessoal tornaram-se um vicio para muitos, que são forçados até a buscar ajuda profissional para livrar-se deles; a comunicação de massa em muitos casos tornou-se uma ameaça à liberdade e à fidelidade de informação, e um desserviço ao povo, quando submetida ao controle político e econômico de poderosos e de governos manipuladores e autoritários; a medicina transformou-se em lucrativo negócio, que ao invés de visar servir às pessoas, prefere servir-se delas, focada quase que exclusivamente em lucros financeiros, enquanto que a indústria farmacêutica é um poderosíssimo, multibilionário cartel multinacional movido exclusivamente por interesses comerciais. Cabe, assim, uma pergunta: até onde o conhecimento material pode ser considerado uma evolução humana? Qual é o verdadeiro objetivo de todas estas “conquistas”? Será que todo este saber tornou a humanidade mais feliz, mais justa, mais realizada? Certamente que não, ao contrário.
É óbvio que há avanços benéficos nos vários campos da atividade do homem que são bem-vindos, pois fazem parte da ânsia de crescer, de avançar, de atingir patamares superiores de progresso que movem o ser humano desde o alvorecer de sua existência. Porém, parece claro que, sem que haja um crescimento paralelo da comunhão do homem com seu Criador, cujo conhecimento precisa permear, balizar e governar tudo o que a criatura faz no âmbito secular, o esforço humano é vão.
Enquanto isso não acontece, como aponta incisivamente o evangelista inglês Arthur W. Pink em Gleanings in the Godhead, “O Deus deste século não se assemelha mais ao Soberano das Sagradas Escrituras do que a fraca chama de uma vela representa a glória do sol ao meio-dia. O Deus que é falado comumente nos púlpitos, mencionado na Escola Dominical e comentado em muitas das literaturas religiosas de hoje em dia, e pregado em muitas das chamadas conferências bíblicas, é uma ficção da imaginação humana, uma invenção de um sentimentalismo embriagado. A idolatria fora do âmbito da Cristandade forma deuses de madeira e pedra, enquanto milhões de idólatras dentro da Cristandade fazem um deus originado de suas mentes carnais.”
Por isso urge livrarmo-nos da “craca” do humanismo que apegou-se tenazmente à pele de muitos cristãos hoje em dia, do pós-modernismo que corrompe e desvia, e revermos com humildade Calvino em sua Institutas, quando dizia que o conhecimento que o homem pode ter acerca de Deus tem uma dupla origem: a realidade criada e as Escrituras Sagradas; que a sabedoria é constituída de dois tipos de saberes, o conhecimento de Deus e do homem, e que a felicidade ou bem-aventurança, por sua vez, é dependente da sabedoria, caracterizada pelo conhecimento de Deus, que o permite ter a compreensão humilde de si mesmo e de sua total precariedade e miserabilidade; que o conhecimento de Deus é o conhecimento em função do qual somos capazes não só de reconhecer Sua existência, mas também de apreender o que importa saber a respeito dEle, aquilo que é relevante para a Sua glória.
E compulsarmos também Louis Berkhoff em sua influente obra Teologia Sistemática, onde diz: “A igreja cristã confessa, por um lado, que Deus é o Incompreensível, mas também, por outro lado, que Ele pode ser conhecido e que conhecê-lo é um requisito absoluto para a salvação. Ela reconhece a força da questão levantada por Zofar, ‘Porventura desvendarás os arcanos de Deus ou penetrarás até a perfeição do Todo-Poderoso?’ Jó 11.7. E ela percebe que não tem resposta para a indagação de Isaías. ‘Com quem comparareis a Deus? Ou que cousa semelhante confrontareis com ele?’ Isaías 40.18. Mas, ao mesmo tempo, ela também está atenta à afirmação de Jesus: ‘E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste’ João 17.3.” (…) Os Reformadores não negam que o homem possa aprender alguma coisa da natureza de Deus por meio da Sua obra criadora, mas sustentam que ele só pode adquirir verdadeiro conhecimento de Deus por meio da revelação especial, sob a influência iluminadora do Espírito Santo. (…) Assim, o homem pode obter um conhecimento de Deus perfeitamente adequado à realização do propósito divino na sua vida. Contudo, o verdadeiro conhecimento de Deus só pode ser adquirido graças à auto-revelação divina, e somente pelo homem que aceita isso com fé semelhante à de uma criança.”
Grandioso Deus, sabemos que Tu nos criaste para que Te conhecêssemos em espírito e em verdade. Ajuda-nos, pois, ó Pai, a Te conhecermos para Te proclamarmos onde quer que estejamos, e que tudo isto se faça sempre segundo a Tua perfeita e soberana vontade. No nome de Jesus. Amém.
ieda amaral egg silveira
30 de novembro de 2013 at 3:48Winston e Nanny:
Que bom ter lido este ensinamento tão bem elaborado, inegavelmente inspirado pelo Espírito Santo . O Deus que muitas vezes eu não entendo , é o mesmo que posso conhecer e amar, porque Ele se faz conhecer e me ama. Nele posso confiar, dele posso depender e para Ele devo e quero viver. É isso que Ele espera de mim. Aquilo que não entendo perfeitamente ainda tem o tamanho da fé que preciso exercitar.
Que o nosso Senhor continue iluminando sua mente e seu coração para o estudo e a ministração da Sua Palavra!
Nanny & Winston
1 de dezembro de 2013 at 6:46Querida Ieda,
Mais uma vez agradecemos sua participação, com comentários sempre lúcidos e que vêem contribuir de forma consistente para com o assunto que está sendo estudado. Obrigado também por suas orações das quais tanto precisamos.