O que comemoramos realmente no Natal? Por certo o nosso modelo de celebração desta data, que envolve uma questão de tão ampla magnitude espiritual e divina, não pode estar baseado simplesmente em aspectos de ordem material e humano como festas, ceias, consumismo, Papai Noel, troca de presentes, viagens de férias, e coisas semelhantes. Ao contrário, apesar de tão envolvidos pelo materialismo da presente era, devemos voltar no tempo e lembrar a profunda pureza, a bela grandeza, a importância e o significado do Primeiro Natal, criado por Deus como preâmbulo de todo o processo de nossa salvação. E se nos propomos a comemorar este magnífico evento como um memorial do advento do Salvador, como Deus aprovaria nosso agir senão tendo como modelo aquele acontecimento de mais de 2.000 anos atrás que impactou o céu e mudou os rumos da humanidade? Que características fundamentais e marcantes, então, podemos discernir e aprender com o Primeiro Natal para podermos aplicar nos dias de hoje?
A primeira delas é a Centralidade de Deus. É óbvio que só o Deus Todo-Poderoso poderia ter concebido e executado um plano de tal perfeição, magnitude, amor, sabedoria e alcance no tempo e no espaço, ao enviar a este planeta decaído Seu Filho Amado para – ao ser sacrificado em nosso lugar – garantir-nos a salvação.
Mas talvez o que marque de forma mais clara a ação maravilhosa de Deus neste episódio, sejam as muitas profecias messiânicas contidas na Sua Palavra no Antigo Testamento, em número de 365 segundo algumas fontes, e fielmente cumpridas no Novo Testamento. Algumas delas, referindo-se ao divino nascimento, só se realizaram cerca de 1.400 anos depois de proferidas. Em torno de 700 anos antes do Primeiro Natal, já era anunciado em Isaias 7.14 o nascimento virginal do Messias, e Miqueias, também aproximadamente neste tempo, profetizava sobre o local do Seu nascimento – a cidade de Belém da Judeia. Por apenas estes poucos exemplos podemos constatar que Deus, através de Sua Palavra, sempre esteve anunciando a chegada de Jesus Cristo, oferecendo – com a antecipação de séculos – detalhes minuciosos da Sua vinda, vida, genealogia, divindade, ensinamentos e obra, demonstrando que o Senhor, o tempo todo, tudo controlou de forma perfeita, soberana e exclusiva. E é este o Natal teocêntrico, cristocêntrico, e nunca antropocêntrico, que sempre devemos comemorar.
A segunda característica do Natal deve ser o Despojamento que marcou a vida de Jesus desde o Seu nascimento: Ele, que é o Rei dos Reis, o Senhor dos Senhores, o Criador e dono do universo, viveu Sua vida em total desconsideração pela posse material, abdicando do infinito tesouro celeste que era Seu por direito, preferindo viver na terra na singela condição de uma flor ou de uma ave a quem o Pai provê toda a necessidade, ao invés de usufruir do fausto de um monarca humano.
E apesar de ser quem era, a primeira rejeição ao único justo que já existiu na face do planeta ocorreu já na chegada de Seus pais a Belém, quando não encontraram aposento na hospedaria, prefigurando o que aconteceria em Sua vida terreal, onde só Lhe foi oferecido lugar na cruz do Calvário. Mas, como sucede até os dias de hoje, Jesus ainda deseja penetrar corações humanos cheios de maldade, miséria e engano, porém muitas vezes não encontra acolhida. Que melhor oportunidade podemos encontrar para viver – a partir deste Natal e por todos os dias de nossa jornada terreal – uma vida despojada de tudo o que é supérfluo, fútil, desnecessário, egoísta e inútil, ao mesmo tempo em que acolhemos a Jesus como o centro do nosso ser e todo aquele que Ele colocar em nossa vida como nosso próximo, para juntos compartilharmos o amor e as bênçãos recebidas?
A propósito, seria possível nos dias que vivemos falar de Natal sem a troca de presentes? No Primeiro Natal, porém, o único a receber presentes materiais foi Jesus: os reis magos ofertaram ao Salvador ouro, incenso e mirra. Contudo, o maior presente do mundo foi Ele quem nos deu: Deus no corpo daquele frágil e indefeso bebezinho vindo entregar-se ao cruel martírio, o Santo colocando-se voluntariamente à mercê da impiedade humana, e assim, por amor resgatando da morte eterna seres como nós, sem qualquer merecimento a não ser a condenação. Por isso, se nos move o menor resquício de amor e gratidão Àquele que nasceu, viveu e morreu por nós, devemos retribuir com a única dádiva que Ele espera de nós, a nossa própria vida a Ele dedicada, com tudo o que temos e somos, assim atendendo à súplica de Paulo em Romanos 12.1 (NTLH): “Portanto, meus irmãos, por causa da grande misericórdia divina, peço que vocês se ofereçam completamente a Deus como um sacrifício vivo, dedicado ao seu serviço e agradável a ele. Esta é a verdadeira adoração que vocês devem oferecer a Deus.”
A terceira marca da vinda de Jesus é o Louvor e a Gratidão a Deus: o anúncio de Sua vinda, um dos mais extraordinários acontecimentos da história da humanidade, gerador de transformações mundiais jamais imaginadas, foi paradoxalmente delegada pelo Senhor a uma classe de pessoas desprezadas e consideradas inferiores pelos líderes da época. Os humildes pastores que naquela noite tão singular provavelmente cuidavam dos cordeiros do templo que iriam ser sacrificados, foram os primeiros a ver o Cordeiro de Deus que tiraria os pecados do mundo pelo Seu próprio sacrifício por nós na cruz.
Então subitamente desceu entre eles um anjo do Senhor, a plácida paisagem campestre em torno deles iluminou-se prodigiosamente com a glória de Deus, e isto provocou-lhes muito temor, mas o anjo tranquilizou-os dizendo nas palavras de Lucas 2.10-14 (NTLH): “Não tenham medo! Estou aqui a fim de trazer uma boa notícia para vocês, e ela será motivo de grande alegria também para todo o povo! Hoje mesmo, na cidade de Davi, nasceu o Salvador de vocês – o Messias, o Senhor! Esta será a prova: vocês encontrarão uma criancinha enrolada em panos e deitada numa manjedoura. No mesmo instante apareceu junto com o anjo uma multidão de outros anjos, como se fosse um exército celestial. Eles cantavam hinos de louvor a Deus, dizendo: – Glória a Deus nas maiores alturas do céu! E paz na terra para as pessoas a quem ele quer bem!”
Enquanto o Céu louvava o Cristo encarnado com glória e esplendor jamais vistos em toda a terra, o mundo O ignorava, desconhecendo totalmente a Sua chegada, como muitos ainda o fazem. Que nossas atitudes, não apenas no Natal, mas em todos os dias de nossa vida, sejam como aquelas que, emanadas dos mensageiros celestiais, coroaram a primeira vinda de Jesus, e sem receio O proclamemos a todos os que pudermos, entoando incessantemente hinos de louvor e gratidão a Deus!
Senhor, nós que somos Teus sabemos que a cada Natal precisamos resgatar o propósito verdadeiro deste memorial, enxergando-o não apenas como evento humano, mas sim profundamente espiritual como foi o Primeiro Natal, buscando ávida, insaciável e perseverantemente a Jesus de todo o nosso coração enquanto podemos achá-Lo, inspirando-nos nos reis magos e nos pastores; adorando-O em espírito e em verdade prostrados a Seus pés, como os magos do Oriente; entregando totalmente nossos caminhos a Deus, que nos protegerá do inimigo, como livrou ao menino Jesus da sanha de Herodes; por fim, transformando cada dia de nossa vida em um novo Natal. Ajuda-nos, Pai, em nome de Jesus. Amém.