Preparados para Servir
Vivemos dias confusos e de muita egolatria, em que a mídia e a sociedade por um lado nos incitam a sermos independentes, autossuficientes, “donos do nosso próprio nariz”, e por outro, nos induzem a sermos servidos – seja por aparelhos, equipamentos, sistemas, empresas, seja por pessoas – em todo o lugar: em casa, no trabalho, nas ruas, na academia, no restaurante e até na igreja: há até mais crente querendo ser servido do que almejando ser servo. Vivemos dias em que vicejam grandes empreendimentos religiosos, onde as lideranças ditas “evangélicas” autodenominam-se “bispo”, “apóstolo”, nunca “servo”, talvez porque ser servo significa ser um escravo de Cristo; e quando é que um escravo poderá imaginar-se dono de um avião, de um iate, de mansões, de grandes fazendas, de muito dinheiro em paraísos fiscais? Isto faz um contraponto com o que o presidente norte-americano Abraham Lincoln costumava dizer no século 18: “quem não vive para servir, não serve para viver”, ecoando naquilo que no século 20 afirmou o cientista Albert Einstein: “Chegou a hora de substituir o ideal de sucesso pelo ideal de serviço”.
Agostinho de Hipona dizia que “Deus não se torna maior se você o reverencia, mas você se torna maior se o serve.” Paulo em Filipenses 2.5-7 (NVI) enfatiza que “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens.“ E o próprio Cristo em Marcos 10.44-45 (ARA) afirma que “… quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos. Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.”
Porém ninguém consegue servir adequadamente, seja em que função for, se não estiver preparado, e isto vale especialmente para o cooperador na construção do Reino de Deus. Calvino dizia que a primeira atitude a tomar para servir a Deus é deixar de visar preferencialmente a vida material, e focar prioritariamente a vida no espírito: “Nunca seremos aptos para o serviço de Deus, se não olharmos para além desta vida passageira.” E o renomado teólogo inglês do século 17, Richard Sibbes, afirmava com convicção: “Deus qualifica aqueles a quem chama.” Há um hino cristão que diz: “Usa-me, Senhor, usa-me; como um farol que brilha à noite; como uma ponte sobre as águas; como um abrigo no deserto; como uma flecha que acerta o alvo”. É esta entrega incondicional que precisa ser feita por todo o servo de Deus, como fez Isaias intrepidamente quando de seu chamamento para tornar-se um servo dEle e proclamador da Sua mensagem, em Isaias 6.8 (ARA): “… eis-me aqui, envia-me a mim.”
Jesus, através de várias parábolas, ensinou a importância da preparação para a Sua obra, e talvez a mais conhecida seja a das dez virgens que esperavam o noivo chegar à festa do casamento, registrada em Mateus 25.1-13: as cinco insensatas, que não se prepararam adequadamente, não puderam tomar parte da celebração nupcial, enquanto que as cinco prudentes, que haviam se preparado convenientemente, tiveram a alegria de poder participar das bodas.
Na passagem registrada no Evangelho de Lucas 14.28-33 (Bíblia Viva), Jesus exorta Seus discípulos a que considerem cuidadosamente o custo do pleno compromisso com Ele numa vida de serviço, ilustrando o ensinamento com o preparo para a construção de um edifício e para o enfrentamento de uma guerra:“Pois quem começaria a construção de um edifício sem primeiro fazer os cálculos e depois verificar se tem dinheiro suficiente para pagar as contas! De outra forma só poderia completar os alicerces antes de se acabarem os recursos. E então como todo mundo se riria dele! Estão vendo aquele sujeito ali diriam em tom de caçoada: ‘Começou aquela construção e ficou sem dinheiro antes de terminar!’ E qual é o rei que algum dia pensou em ir à guerra sem primeiro sentar-se com os seus conselheiros e discutir se seu exército de 10. 000 tem força suficiente para derrotar os 20. 000 homens que vêm marchando contra ele! Se acharem que não, enquanto as tropas inimigas ainda vêm longe, ele mandará uma comissão para combinar as condições de paz. Assim ninguém pode ser meu discípulo se primeiro não resolver abrir mão de todas as outras coisas, por mim.”
Mas Jesus, além do ensino por meio de parábolas, ensinou Seus discípulos principalmente na prática, fazendo-os acompanhá-lO para aprenderem com Ele, selecionando por fim os doze apóstolos para terem um treinamento mais intensivo, com a finalidade de – após Sua morte e ressurreição – constituírem-se nas pedras vivas, que seriam a base, as fundações da Sua igreja na terra.
A servidão ao Pai exige do crente uma vida de humildade, de disponibilidade e de entrega total a Ele, para que a missão que o Senhor lhe confiou possa ser executada segundo os Seus propósitos soberanos. Jesus, em Lucas 17.7-10 (NVI), para ensinar a Seus discípulos esta forma de viver, contou-lhes esta parábola: “Qual de vocês que, tendo um servo que esteja arando ou cuidando das ovelhas, lhe dirá, quando ele chegar do campo: ‘Venha agora e sente-se para comer’? Pelo contrário, não dirá: ‘Prepare o meu jantar, apronte-se e sirva-me enquanto como e bebo; depois disso você pode comer e beber’? Será que ele agradecerá ao servo por ter feito o que lhe foi ordenado? Assim também vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer: ‘Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever’”.
Esta parábola nos mostra algumas características necessárias a um servo de Deus: em primeiro lugar, a prontidão para receber o chamado divino e aceitá-lo incondicionalmente, dedicando-se à Obra de Deus como o servo da parábola, que após um dia árduo de trabalho no campo precisou preparar a ceia e servi-la a seu senhor, sem titubeio, sem hesitação, porque Jesus afirmou em Lucas 9.61, “… ‘Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus’”; em segundo lugar, deve em tudo obedecer ao Pai, sem esperar receber qualquer palavra de gratidão ou qualquer vantagem imediata em troca, a não ser a graça de servir a Ele, pois o servo precisa entender que obedecer não é nada mais que sua obrigação, e que não está fazendo um favor a Deus, embora por Sua bondade imensurável o Senhor tenha lhe reservado galardões na vida eterna, como Jesus em João 12.26 (NVI) afirmou: “Quem me serve precisa seguir-me; e, onde estou, o meu servo também estará. Aquele que me serve, meu Pai o honrará”, e em Apocalipse 22.12 (NVI): “Eis que venho em breve! A minha recompensa está comigo, e eu retribuirei a cada um de acordo com o que fez”; em terceiro lugar, o servo deve ter em mente que é um privilégio sem preço ser chamado para cooperar na Obra de Deus, porque a seara é grande, os trabalhadores são poucos, e servir ao Pai é uma responsabilidade filial e uma enorme regalia que Ele concede por Sua graça infinda. Foi por isso que Ele nos ordenou em Mateus 9.37-38 (NVI) que oremos para que Deus amplie o quadro de servos Seus para juntarem-se a nós:“Então disse aos seus discípulos: “A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Peçam, pois, ao Senhor da seara que envie trabalhadores para a sua seara”.
Depende, portanto de nós estarmos preparados para ouvir naquele dia maravilhoso o Senhor nos dizer, como em Mateus 25.21, na parábola do dinheiro investido, disse ao servo que bem se houve na missão que Ele lhe confiou: “Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.”
Deus e Senhor nosso, que a cada dia nos levantemos e caminhemos para nosso servir a Ti confiantes e agradecidos, porque sabemos que amanhã nos levantaremos e caminharemos para receber nossa recompensa. Ajuda-nos a nos assemelharmos a Jesus em tudo, especialmente quando Ele afirmou que não veio para ser servido, porém para servir e dar Sua vida preciosa por nós; que possamos declarar de todo o nosso coração como João Batista, que convém que Ele cresça e que nós diminuamos; que sejamos como Paulo, Tiago, Pedro e Judas, que proclamavam com gratidão a condição de servos de Cristo, em nome de quem oramos. Amém.
AUGUSTO RIBAS
19 de setembro de 2013 at 14:47Ótima mensagem!! Lembrei da seguinte passagem: sentando-se, chamou os Doze e disse-lhes: Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos.
(Marcos 9:35). Que nós possamos servir sem murmurar mas com alegria no coração! Deus abençoe!!! abraços
Nanny & Winston
19 de setembro de 2013 at 19:10Querido irmão Augusto,
Muito oportuna a sua lembrança desta passagem! Agradecemos a participação e a preciosa contribuição!