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SOLIDÃO
Aquela mulher vivia sozinha numa casinha nas montanhas se lamentando o tempo todo porque ninguém vinha visitá-la. Certa manhã chovia muito e, para sua surpresa, alguém bateu à porta: era um homem de pequena estatura que molhado da cabeça aos pés tremia de frio. Surpresa com o visitante inesperado, imediatamente convidou-o a entrar, e o homenzinho, com as vestes pingando, foi obrigado a ouvir pacientemente a mulher tagarelar por mais de uma hora lastimando a sua solidão. Ela não lhe ofereceu roupas secas ou alguma bebida quente para se aquecer, tão concentrada estava em suas próprias queixas, enquanto ele se limitava a manter os olhos firmemente fixados naqueles lábios que não paravam de se mover. Subitamente a chuva cessou e ele fez menção de sair da casa, mas a mulher colocou-se à sua frente, angustiada: “Já vai? Mas nem sei seu nome! Você voltará outro dia?” Então o visitante pôs a mão no bolso do casaco e estendeu-lhe um papel que para surpresa dela estava totalmente seco, e onde se lia: “Sou o Anjo Surdo. Não ouço vozes, só escuto corações. Trago comigo um remédio que cura a solidão, chamado Jesus Cristo. Mas ele não faz efeito nas pessoas que só se importam consigo próprias.” E desapareceu. Assim foi a primeira e última vez que alguém bateu naquela porta…
A solidão é um mal universal, uma epidemia emocional dos nossos tempos que afeta a todos, homens e mulheres, jovens e velhos, especialmente em tempos de crise, como da pandemia que vivemos e que teima em não desaparecer. Para a maioria das pessoas a solidão é uma sensação passageira, mas para muitos está entranhada em seu próprio ser, de forma crônica e permanente.
Solidão é a sensação de ser incompreendido, de não poder contar com ninguém, de estar sozinho no mundo, mesmo em meio a uma multidão. Contudo, nunca estamos sós se temos Cristo em nossos corações, se confiamos nEle e se entregamos nossas vidas a Ele, como louva Paulo em Gálatas 2.20 (ARA): “… já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”. E ninguém nunca enfrentou – e jamais enfrentará – solidão maior do que o Filho de Deus naquelas terríveis horas de entrega voluntária de Sua preciosíssima vida por nós na cruz do Calvário, por isso não há ninguém melhor que Ele para nos compreender e ajudar.
Por isso, se estamos com Deus nunca nos sentiremos sós. Ele nos ama apesar de sermos como somos, não por méritos que não temos, e tem dado provas de Seu amor sem medida por nós ao longo de toda a nossa existência, por isso podemos crer integralmente nEle, e seguros proclamar como Davi nos Salmos 23.4 (NTLH): “Ainda que eu ande por um vale escuro como a morte, não terei medo de nada. Pois tu, ó Senhor Deus, estás comigo; tu me proteges e me diriges.” E é no vale escuro da solidão que encontramos – de um lado nossa enorme fraqueza, penúria e vulnerabilidade – mas, de outro, Seu infinito amor, proteção e direção, conduzindo-nos no processo de aperfeiçoamento espiritual que leva a nos assemelharmos cada vez mais a Cristo.
Envoltos em profunda solidão, clamemos como Davi nos Salmos 40.17 (NTLH): “Eu sou pobre e necessitado, mas tu, Senhor, cuidas de mim. Tu és a minha ajuda e o meu libertador; não te demores em me socorrer, ó meu Deus!” E então o Senhor suave e ternamente responde em Isaías 41.10: “… não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel.”
Mas, por outro lado, a solidão pode desempenhar um papel muito importante quando necessitamos de silêncio e de concentração, como nas atividades criativas, como estudar, ler, fazer música erudita, escrever, orar, meditar, realizar trabalhos muito minuciosos, e outras circunstâncias que requerem geralmente uma solidão controlada, isto é, uma solidão que está sob nosso controle e que podemos fazer cessar quando quisermos. A Bíblia relata que o próprio Senhor Jesus muitas vezes, após um dia de trabalho exaustivo cercado pelas multidões que O buscavam, sentia necessidade de isolar-Se, ficando a sós com o Pai em oração.
Está claro, portanto, que a solidão não pode ser vista sempre como uma inimiga, até porque as pessoas são diferentes em suas maneiras de ser, havendo aquelas mais introspectivas que sentem necessidade de estar mais tempo a sós, assim como existem as que não conseguem nunca viver isoladas, precisando permanentemente ter pessoas à sua volta, e entre estes extremos há uma gama muito variada de características pessoais.
Além de orar, de pedir a Deus, de confiar, de descansar e de esperar nEle, o que podemos fazer com que os muros da solidão sejam rompidos quando não a desejamos? Eis algumas atitudes fundamentais:
Olhar para o alto
Nosso foco ao longo da vida – e especialmente quando enfrentamos a solidão indesejada – deve ser sempre vertical, visando o alto de onde provém o auxílio que só o Pai, o Filho e o Espírito Santo podem oferecer, e Jesus apontou a crucial diferença entre o enfoque horizontal e o vertical da vida, assim dizendo aos judeus que não O conheciam, em João 8.23 (NTLH): “Vocês são daqui debaixo, e eu sou lá de cima. Vocês são deste mundo, mas eu não sou deste mundo”.
Como cristãos nós O conhecemos, por isso sabemos que vivendo neste mundo imerso nas trevas do mal é indispensável estarmos sempre fixados nas coisas elevadas que estão acima da mundanidade, que são de Deus, em oração buscando Aquele que nos livra da solidão deletéria, o Senhor de nossas almas que nos dirige, ampara e sustenta em meio às duras tribulações terreais.
Mudar atitudes
Muitas vezes a solidão nos faz sentir perdidos e sem rumo, mas se orarmos entregando o controle das nossas circunstâncias a Deus e pedirmos a Ele que nos mostre o que devemos mudar para fazer a nossa parte, por certo Ele nos dirá para buscarmos a comunhão com Ele e com nossos irmãos em Cristo, como o apóstolo nos ensina em 1 João 1.7 (Bíblia Viva): “Mas se estivermos vivendo na luz da presença de Deus, tal como Cristo, então temos alegria e uma comunhão maravilhosa uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.”
Sair da caverna
Quando nos sentimos tristes e deprimidos, tendemos a entrar em nossa caverna particular para evitar todos os contatos pessoais, como o profeta Elias fez no Monte Horebe, em 1 Reis 19.9a: “Ali, entrou numa caverna, onde passou a noite; e eis que lhe veio a palavra do Senhor e lhe disse: Que fazes aqui, Elias?” Então mais adiante, no verso 11a veio a ordem divina: “O Senhor Deus disse: Saia e vá ficar diante de mim no alto do monte.” E o Senhor tirou Elias para fora da caverna escura da tristeza, da autocomiseração, da desmotivação e o trouxe para a Sua maravilhosa luz, porque Ele tinha uma tarefa para o profeta na Sua obra, como tem para todos nós.
A história do profeta Elias reafirma que nos momentos em que nos sentimos tristemente solitários, desamparados e entristecidos, a atitude correta a tomar é a de sempre olhar para cima buscando ao Senhor que nos alça acima da tempestade que está nos envolvendo e imobilizando. Além disso, é preciso modificar nossa postura de autopiedade e entregarmos nossas circunstâncias ao Senhor, o único que pode dar-nos a força de que necessitamos para enfrentarmos as agruras que só Ele pode transformar em bênçãos abundantes. Por isso urge ir para fora do sombrio lugar em que nos escondemos para fugir da dor, da tristeza e do desamparo em que nos encontrávamos, indo ao encontro da divina luz da graça do nosso Deus que encontra-Se eterna e incondicionalmente de braços abertos para acolher-nos amorosamente e dar-nos a paz que excede todo entendimento!
Pai bendito, sabemos que nunca estamos sós, que Tu és a nossa melhor companhia, basta querermos estar conTigo. Que tenhamos sabedoria para empregar nossos momentos de solidão para buscar-Te no silêncio e na paz que só Tu podes nos proporcionar. Que então, rendidos a Teus pés, possamos ter plena comunhão conTigo, para Te obedecermos e então sermos abençoados com a realização de Teus propósitos para conosco. Em nome de Teu Filho Amado oramos agradecidos. Amém.
9 de abril de 2022
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