Solidão (1)
Conta uma antiga fábula que certo dia várias sensações más se reuniram num canto escuro e escuso de uma casa, para discutir sobre o que fazer para perturbar a existência daquela família que ali vivia rodeada de muita Felicidade, e decidiram que voluntárias seriam enviadas com a missão de atrapalhar a vida pessoal e familiar dos moradores. A primeira sensação má a se candidatar foi a Solidão, que logo depois voltou derrotada, sem no entanto admitir aos outros a razão do fracasso; a seguir a Mágoa saiu para investir sobre os habitantes da casa, mas também em pouco tempo retornou com ar de decepção, também sem contar porquê havia sido vencida; e assim uma após outra – Ansiedade, Raiva, Culpa, Cobiça, Tristeza e outras – saíram à luta para tentar o êxito almejado, porém nada conseguiram e voltaram arrasadas ao canto trevoso. Certo dia porém, a família saiu para passear acompanhada da inseparável Felicidade, do que se aproveitaram a Bisbilhotice e a Indiscrição para tentar descobrir porquê nenhuma sensação má conseguia prevalecer na vida daquela família. E aí levaram grande choque: sob a luz que inundava os ambientes daquela casa, perceberam que o Amor de Deus estava presente em tudo. E elas sabiam que onde o Amor de Deus domina, a Felicidade predomina, e não resta espaço para qualquer mal.
A solidão é um mal universal considerado como uma epidemia emocional dos nossos tempos, afetando pessoas de ambos os sexos e de todas as idades, raças, nacionalidades, profissões, credos e níveis econômico-sociais e educacionais. Para a maioria da população, trata-se de uma sensação passageira, mas para muitos ela encontra-se entranhada em suas próprias existências de forma crônica e permanente.
Solidão é a sensação de ser incompreendido, de não poder contar com ninguém, de estar sozinho no mundo, e de acordo com psicólogos, é mais perigosa para a saúde de uma pessoa do que estar acima do peso ou fumar – condições tradicionalmente ligadas a problemas cardíacos e a cânceres – que pode também provocar a doença de Alzheimer. Segundo estudos recentes, a solidão seria um gatilho para desencadear o aumento da pressão sanguínea, alterações no sistema imunológico, arteriosclerose e diabete. Além disso, pessoas não inseridas em algum grupo social seriam mais suscetíveis ao alcoolismo e à compulsão alimentar.
Mas enquanto o combate à obesidade e ao vício de fumar têm tratamentos já aceitos pela comunidade médica e que produzem bons resultados, poucos sabem como tratar a solidão. O psicólogo John T. Cacioppo, diretor do Centro de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade de Chicago, que com o jornalista William Patrick, escreveu o livro Solidão – A natureza humana e a necessidade de vínculo social, considera que a evolução do homem foi maximizada ao longo do tempo por meio da colaboração social, e que tal necessidade humana de companhia está marcada em nossos genes, e por isso é tão vital. Para comprovar sua assertiva, ele cita que o maior castigo imposto a um prisioneiro do sistema carcerário é o isolamento na solitária, o afastamento total do convívio social.
Estar só, mas junto com alguém que nos ama como somos é algo difícil, pois até mesmo nossas mães que tanto nos amaram, sempre tiveram expectativas e carências que produziram certas projeções inconscientes sobre nós, resultando em um amor condicional. Só em Deus podemos encontrar o amor incondicional, e podemos nos despir do falso eu que construímos ao longo dos anos para sermos apreciados. E é quando estamos envoltos pela solidão que nosso ser clama por este amor que afasta todo o medo da rejeição, permitindo que descubramos quem verdadeiramente somos, e então nos assumamos como tal. Não necessitamos utilizar nenhum artifício, basta sermos nós mesmos, com toda a nossa miserabilidade, pequenez e fraqueza, porém com gratidão, louvor e adoração, para recebermos este amor incomparável.
Philip Yancey, em seu livro Maravilhosa Graça, escreve com sabedoria que “Não há nada que você possa fazer para Deus te amar mais; e não há nada que você possa fazer para Deus te amar menos”. Ele nos ama apesar de nós, não pelos eventuais méritos que tivéssemos – e que na realidade não possuímos – e tem dado provas de Seu imensurável amor por nós ao longo de toda a nossa existência, por isso podemos crer integralmente nEle, e então proclamar como Davi nos Salmos 23.4 (NTLH): “Ainda que eu ande por um vale escuro como a morte, não terei medo de nada. Pois tu, ó Senhor Deus, estás comigo; tu me proteges e me diriges.” E é no vale escuro da solidão que encontramos não só nossa enorme debilidade, penúria e vulnerabilidade, mas principalmente Seu infinito amor, proteção e direção, conduzindo-nos no processo de aperfeiçoamento espiritual que leva a nos assemelharmos cada vez mais a Cristo.
Envoltos em densa solidão clamamos como Davi nos Salmos 40.17 (NTLH): “Eu sou pobre e necessitado, mas tu, Senhor, cuidas de mim. Tu és a minha ajuda e o meu libertador; não te demores em me socorrer, ó meu Deus!” E ele suave e ternamente responde em Isaias 41.10 (ARA): “… não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel.”
Continua…
ieda amaral egg silveira
14 de janeiro de 2013 at 16:27Nanny e Winston, que saudade! Espero estar mais com vocês neste Novo Ano!
É muito reconfortante sabermos que Deus nunca nos deixa sós e que, com Ele, podemos ser o que realmente somos, pois não adiantaria posarmos de “bonzinhos”, “capazes”, “fortes”, “fiéis”, até mesmo de “verdadeiros cristãos”… Pelo menos, na Sua presença, podemos simplificar as coisas , deixando cair a máscara … Ah! Que alívio! Ele nos conhece melhor que nós mesmos!
Ieda
Nanny & Winston
14 de janeiro de 2013 at 20:43Querida irmã Ieda,
Nós também sentimos muita saudade, e igualmente esperamos poder neste ano voltar a privar mais de sua amizade e comunhão cristã tão importantes para nós.
Agradecemos muito seu comentário caracteristicamente direto e objetivo, fazendo uma síntese preciosa da mensagem, que por certo levará uma contribuição importante para nossos irmãos que compartilham conosco os temas tratados no blog.
Que Deus a esteja abençoando sempre e cada vez mais, a você e a todos os seus familiares.
Eni Amaral Braga Bley
16 de janeiro de 2013 at 15:32Que confortadoras palavras sobre o amor de Deus em face da solidão
crescente nos dias de hoje, quando as pessoas ( amigos e familiares) parecem
não ter mais tempo para dividir conosco!!!
Nunca estamos sós, quando descobrimos Deus. A.W.Tozer diz em seu livro
“Em busca de Deus” que a procura deve ser empenhada como quem tem sede,
muita sede, mas quando o achamos é como uma brisa suave a nos confortar e suprir nossas carências.
Nanny & Winston
16 de janeiro de 2013 at 18:27Prezada Eni,
Agradecemos muito a sua preciosa contribuição. Você sintetizou muito bem a questão, e esperamos contar sempre com sua participação.
Valentim
18 de janeiro de 2013 at 8:59Meus queridos Nanny+Winston, que bela mensagem sobre SOLIDÃO. Graças a Deus não estamos só, Deus está no controle de tudo, e também porque temos amigos especiais como vocês.
Beijos da família Valentim
Nanny & Winston
18 de janeiro de 2013 at 10:17Queridos irmãos e amigos,
Ficamos muito felizes com a sua participação e agradecidos por suas palavras sempre tão gentis e encorajadoras.
Que Deus continue a abençoá-los prodigamente e louvamos a Ele por nossa amizade tão preciosa.