Solidão (3)
Na solidão dos tempos eternos, o Pai trouxe-nos à vida; na solidão da cruz no Calvário, o Filho trouxe-nos a salvação. Foi também na solidão que os grandes heróis bíblicos da fé oraram, tiveram comunhão com Deus e deixaram registrada a Palavra Eterna para a posteridade. Assim foi com Moisés, Davi, Isaias, Jeremias, Paulo, João, Samuel, José e tantos outros. Mas, acima de todos, Jesus ensinou-nos que somente a sós podemos ter verdadeira comunhão com Deus, quando permitimos que Ele ocupe todos os espaços do nosso ser: coração, mente e alma. Em Mateus 14.23, Ele “… subiu ao monte para orar sozinho…”; em 26.36 disse aos discípulos, “… Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar”; em Marcos 1.35, “… foi para um lugar deserto, e ali orava”; em Lucas 6.12, “… retirou-se para o monte a fim de orar…”.
Na solidão daqueles que são Seus, Deus tem propósitos por vezes inimagináveis, muitas vezes grandiosos, que quase sempre produzem extraordinárias transformações, apesar do sofrimento que possa acompanhá-la.
Quando nos queixarmos de nossa solidão, achando-a insuportável, injusta e sem fim, lembremo-nos da cruenta morte de Jesus por nós, que nada merecemos. Quem de nós conseguiria imaginar em sua plenitude, e sentir em toda a sua dimensão, a profunda, agonienta, terrível solidão que Jesus viveu na cruz do Calvário? Ele morreu totalmente só, abandonado e injustiçado, como nenhum outro homem morreu, antes ou depois dEle. Quem de nós poderia se imaginar no lugar dEle? Quem de nós resistiria àquela dor física excruciante, pavorosamente somada à dor moral extrema pela qual passou o Deus-homem sem pecado, por longas e angustiantes seis horas? E ainda assim Ele levou sobre Seu corpo alquebrado, por amor, todos os nossos pecados, todos os corações partidos, todas as experiências dilacerantes de sofrimento humano, todas as feridas espirituais abertas que não querem fechar, desde que o mundo foi criado. Como explicar tal amor? Nenhum de nós pode. E como avaliar tamanha solidão do Filho, que nem o Pai amado rompia? Ninguém consegue. Então Ele clama – na mais profunda solidão jamais por alguém experimentada – repetindo a lamentação de Davi no Salmo 22.1 (NVI): “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste? Por que estás tão longe de salvar-me, tão longe dos meus gritos de angústia?”
Jesus, na carne, naquela hora cheia de dor e de tormento, sentia-se abandonado, mas Deus na verdade nunca O abandonou, nem nunca abandonará a nós que somos Seus filhos, pois em Hebreus 13.5b (NVI) prometeu: “Nunca o deixarei, nunca o abandonarei”. Então, se Jesus sentiu em Si próprio a mais profunda e dolorosa solidão, quem melhor que Ele para vir em nosso auxílio quando nos sentimos solitários? O autor de Hebreus 2.18 (PJFA) confirma:“Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados.” E o próprio Senhor Jesus já havia prometido aos discípulos em Mateus 28.20b (NVI): “… E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”. Temos assim a garantia dAquele que é a verdade, dAquele que é santo, o Emanuel, o Deus conosco que nos assegura que ninguém jamais poderá separar-nos dEle, de que nunca seremos deixados sós, e que onde quer que estejamos – mesmo que em aparente solidão – se O buscarmos Ele sempre estará presente!
A solidão, portanto, é parte integrante e necessária da existência – desde que relativa e controlável – e o próprio Senhor nosso Deus andou em solidão nos tempos eternos, conforme escreveu o renomado evangelista e estudioso das Escrituras Arthur Walkington Pink, mais conhecido como A. W. Pink (1886-1952), autor de um texto magistral denominado A Solidão de Deus, onde escreveu:
“Houve tempo, se é que se lhe pode chamar ‘tempo’, em que Deus, na unidade de Sua natureza, habitava só (embora subsistindo igualmente em três pessoas divinas). ‘No princípio… Deus…’. Não existia o céu, onde agora se manifesta particularmente a Sua glória. Não existia a terra, que Lhe ocupasse a atenção. Não existiam os anjos, que Lhe entoassem louvores, nem o universo, para ser sustentado pela palavra do Seu poder. Não havia nada, nem ninguém, senão Deus; e isso, não durante um dia, um ano ou uma época, mas ‘desde sempre’. Durante uma eternidade passada, Deus esteve só – completo, suficiente, satisfeito em Si mesmo, de nada necessitando. Se um universo, ou anjos, ou seres humanos Lhe fossem necessários de algum modo, teriam sido chamados à existência desde toda a eternidade. Ao serem criados, nada acrescentaram a Deus essencialmente. Ele não muda (Malaquias 3.6), pelo que, essencialmente, a Sua glória não pode ser aumentada nem diminuída. Deus não estava sob coação, nem obrigação, nem necessidade alguma de criar. Resolver fazê-lo foi um ato puramente soberano de Sua parte, não produzido por nada alheio a Si próprio; não determinado por nada, senão o Seu próprio beneplácito, já que Ele ‘faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade’ (Efésios 1.11). O fato de criar foi simplesmente para a manifestação da Sua glória.
A consciência da presença de Deus em nossos corações é o primeiro passo para vencermos a solidão. Este princípio é ilustrado na Bíblia em diversas ocasiões. Em Deuteronômio 31.6-8, encontramos Moisés falando a Josué. Estava se aproximando a hora da morte de Moisés e Josué tinha sido escolhido para assumir o comando do povo de Israel. Então Moisés lhe disse: ‘Esforça-te e anima-te, pois com este povo entrarás na terra que o Senhor jurou a teus pais lhe daria, e tu os farás herdá-lo. O Senhor é que vai adiante de ti; Ele será contigo, não te deixará, nem te desamparará. Não temas; não te espantes.’ (Deuteronômio 31.7-8).
Repare que, por duas vezes, vemos a promessa de que Deus não vai desamparar Josué. Moisés tinha avisado Josué sobre a sua morte; era natural que o sentimento de solidão se abatesse sobre Josué. Nas Moisés tranqüilizou Josué: ‘O Senhor será contigo, não te deixará, nem te desamparará.’ O sentimento de solidão podia ser dissipado com a promessa que Deus não o deixaria só.
O segundo passo para vencermos a solidão é a atividade espiritual. Deus falou ao profeta Elias em 1 Reis 19.15: ‘Disse-lhe o Senhor: vai, volta pelo caminho para o deserto de Damasco. Quando lá chegares, unge a Hazael rei sobre a Síria.’ Nos versículos 16 a 18, Deus determina a Elias uma tarefa e o adverte em não ficar escondido na caverna. Ele deve empenhar-se na realização do trabalho que lhe foi determinado. Quando estamos ocupados realizando a vontade Deus, podemos sentir sua presença e sua aprovação bem dentro de nós. Ociosidade não é a vontade de Deus para o homem.
Há um terceiro passo no versículo 18: ‘Também conservei em Israel 7.000 – todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que não o beijou.’ Elias sentia-se sozinho porque julgava ser o único que amava a Deus. Mas Deus lhe disse que saísse e fosse se ajuntar a outros que também amavam a Deus, o mesmo Deus a quem ele amava. A maioria dos conselhos populares e de orientação técnica para a cura da solidão começa dizendo que a pessoa deve se ocupar com alguma coisa, deve andar sempre com as mãos ocupadas. Mas isto é atacar o problema partindo de uma premissa completamente errada. Deus não mandou que Elias primeiro ficasse ocupado e depois encontrasse alguns amigos. Deus começou revelando a sua presença. Qualquer atividade ou amizade que você estabeleça sem considerar a presença pessoal de Cristo na sua vida, nunca poderá satisfazer sua necessidade. Finalmente, através da comunhão com aqueles que professam o amor e a fé em Deus, nos libertamos da solidão. Quando tentados a nos escondermos em nossas cavernas, como Elias, que possamos experimentar a presença real de Deus em nossas vidas. Deus está no teu coração. Você não está só.”
Pai bendito, sabemos que nunca estamos sós, que Tu és a nossa melhor companhia, basta querermos estar contigo. Que tenhamos sabedoria para empregar nossos momentos de solidão para buscar-Te no silêncio e na paz que só Tu podes nos proporcionar. Que então, rendidos a Teus pés, possamos ter plena comunhão conTigo, para Te obedecermos e então sermos abençoados com a realização de Teus propósitos para conosco. Em nome de Teu Filho Amado oramos agradecidos. Amém.
ieda amaral egg silveira
4 de fevereiro de 2013 at 20:10Muito bem lembrado, amigos! Quantas vezes a gente se envolve em atividades, até mesmo na igreja, sem estes momentos preciosos de “solidão a dois”, isto é, “Deus e eu” apenas, para o abastecimento imprescindível.
Por outro lado, também é importante a comunhão com os irmãos, o cultivo da amizade e o trabalho em equipe.
Como diz na Palavra, a fé sem obra é morta.
Lendo o seu maravilhoso texto, pensei em muitas coisas e acabei saindo do foco principal, mas entendi perfeitamente o que v. disse: “A solidão, portanto, é parte integrante e necessária da existência – desde que relativa e controlável”
Nanny & Winston
5 de fevereiro de 2013 at 7:07Obrigado, Ieda, por sua sempre preciosa participação. Que o Senhor nosso Deus permita que tenhamos sabedoria para fazer de nossos momentos de solidão instantes de cuidadoso, dedicado e reverente louvor e agradecimento a Ele.
Seozy
6 de fevereiro de 2013 at 15:38Só experimentamos solidão quando nos esquecemos o que o Pai nos disse… “eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.”
Nanny & Winston
11 de fevereiro de 2013 at 7:24É verdade, Seozy! Obrigado por sua contribuição!
NOEMY
11 de fevereiro de 2013 at 1:35OLA QUERIDOS
MUITO BOM SEU ESTUDO. EU NUNCA SINTO A SOLIDÃO PORQUE SINTO A PRESENÇA DO PAI SEMPRE COMIGO. BEM CERTO O QUE VCS PASSARAM. MÃOS OCUPADAS, MENTES SÃS.E A COMUNHÃO COM O PAI NA NOSSA SOLIDÃO É UM PRESENTE. ABRAÇOS
Nanny & Winston
11 de fevereiro de 2013 at 7:26Querida Noemy,
Você é um exemplo abençoado e abençoador de cristã! Que Deus a conserve sempre assim!
Luiz Filipe Jordão
20 de fevereiro de 2013 at 16:07Parabéns meus amados por este ministério abençoador…
Nanny & Winston
20 de fevereiro de 2013 at 20:26Obrigado, querido Jordão, por seu apoio e incentivo. Que o Senhor continue a abençoá-lo prodigamente e à sua família.