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AGRIDOCE

Simultaneamente amargo e doce é o significado do termo agridoce, e nossa vida na terra parece se revestir de características semelhantes: há momentos agradáveis, doces, que no entanto se alternam com outras situações amargas, de sabor áspero, muito desagradáveis.

 

O poeta e escritor George Herbert, citado por John Piper em seu livro “Quando a Escuridão não Passa”, escreveu um poema chamado Bitter-sweet (Agridoce), através do qual procura expressar esta marcante característica dos nossos dias na terra, em que frequentemente vagueamos entre situações agradáveis e outras que causam desgosto:
Ah, meu querido Senhor irado,
Visto que amas e ainda sim golpeias,
Subjugas e ainda assim socorres,
Sem dúvida farei o mesmo.
Reclamarei e ainda assim louvarei,
Chorarei e consentirei;
E todos os meus dias agridoces
Lamentarei e amarei.

 

Matthew Henry, o renomado comentarista bíblico, em certa ocasião foi assaltado por um marginal e ao voltar para casa registrou em seu diário: “Estou agradecido, em primeiro lugar porque nunca havia sido roubado antes; em segundo, porque, apesar de terem me tirado a carteira, não me tiraram a vida; em terceiro, porque, apesar de terem levado tudo o que tinha, não perdi muita coisa; e, em quarto, porque eu é que fui roubado, não fui eu quem roubou.”

 

Assim, apesar de ter passado por uma situação chocante, estressante e triste, procurou ver e agradecer pelo lado bom, pelo ângulo doce e benfazejo do ocorrido, destacando-o e valorizando-o, ao invés de se deixar afetar pelo amargor do evento.

 

Paulo em 2 Coríntios 6.10 (NTLH), lembra poeticamente das nossas circunstâncias sempre tão oscilantes, no entanto concluindo que Deus ao final nos concede sempre o melhor: “Às vezes ficamos tristes, outras vezes ficamos alegres. Parecemos pobres, mas enriquecemos muitas pessoas. Parece que não temos nada, mas na verdade possuímos tudo”.

 

Não há quem ao longo da vida não tenha, como nós, se desesperançado, entristecido e abatido com as conjunturas desfavoráveis, com as derrotas, com a incompreensão pelas quais passou. Em nosso socorro então nos vem à memória a bela e sempre oportuna exortação de Paulo em 1 Tesssalonicenses 5.16-18, lembrando-nos de que Deus deseja que estejamos agradecidos a Ele em todas as ocasiões, porque se estamos unidos a Cristo, o nosso maravilhoso salvador e redentor, somos abençoados pela maior alegria que podemos auferir na terra, por isso nos exorta: “Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”.

 

O apóstolo deixou-nos pungente testemunho sobre o desígnio e os efeitos das aflições que nos estão destinadas no mundo, expondo, no entanto, os motivos da sua coragem e paciência inabaláveis, que repousavam sobre a expectativa, o desejo e a garantia de felicidade após a morte, relatando em 2 Coríntios 5.1,6-10 (ARA): “Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus. (…) Temos, portanto, sempre bom ânimo, sabendo que, enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor; visto que andamos por fé e não pelo que vemos. Entretanto, estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor. É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe sermos agradáveis. Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo”.

 

Nesta passagem plena de metáforas agridoces, Paulo enfatiza a dicotomia existente entre a vida e a morte do cristão que, em sua peregrinação terreal é cercado por sofrimentos e angústias que antecedem a glória futura que nos aguarda, por isso no versículo 1 refere-se ao nosso corpo mortal como uma tenda, uma habitação transitória e transportável, própria para viajantes.

 

A morte é designada como a desintegração desta habitação efêmera que, então, é colocada numa sepultura, enquanto a alma e o espírito vão para junto de Deus, constituindo-se em uma edificação eterna perfeita que espera o cristão no além, não mais sujeita a dores, doenças, decomposição e morte, a ser recebida quando da volta de Cristo.

 

Será o corpo glorificado de que trata o apóstolo em Filipenses 3.20-21, enfatizando que “… a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas”.

 

E era a confiança inabalável de Paulo nestas magníficas verdades que lhe possibilitava sempre estar otimista, sabendo que, embora vivendo no corpo, temporariamente ausente do Senhor, estava na verdade disposto a viver deste modo para servir a Cristo, contudo, pela fé focado na maravilhosa vida por vir pela qual tanto expectamos.

 

Ele não temia sofrer ou morrer porque estava perfeitamente seguro de que viveria a eternidade com Cristo, e esta segurança de que desfrutava deve ser nossa também, e embora não possamos contemplá-Lo com os nossos olhos físicos, podemos vê-Lo, no entanto, pela fé. A morte, considerada meramente como uma separação entre a alma e o corpo, não é só indesejada como temida; contudo, se for uma passagem para a glória, uma troca dos trapos da mortalidade pelas sublimas vestes da glória eterna, é algo de imensurável, incomparável valor!

 

Como cristãos, portanto, devemos nos esforçar para sermos agradáveis ao Senhor – apesar de que nossa salvação não depende de nossas obras – com a plena consciência de que nossa recompensa futura será diretamente proporcional à nossa fidelidade a Deus, lembrados de que enquanto a tem relação estrita com a salvação, as obras estão diretamente ligadas às recompensas.

 

Ou seja, somos salvos por intermédio da fé e não das obras, porque somente salvos poderemos realizar boas obras e então sermos agraciados pelas recompensas, ao mesmo tempo em que é preciso, como Paulo ensina, termos sempre em mente que nosso serviço a Deus na terra deve objetivar alegrar o coração do Pai.

 

Sermos agradáveis a Deus também terá implicações no fato de que todos deveremos comparecer perante o Tribunal de Cristo, onde teremos toda a nossa existência integralmente exposta, revelando com perfeição como foi a nossa vida de serviço a Cristo. Não apenas a quantidade de nosso serviço será avaliada, como também a qualidade e as nossas motivações para realizá-lo.

 

Permita o Senhor que naquele dia estejamos entre os que souberam enfrentar os amargores da vida terreal focados na doçura da existência eterna junto do Senhor, continuando a servi-Lo fielmente para sempre, ouvindo extasiados e com os corações jubilosos o doce convite de Jesus registrado em Mateus 25.34: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”.

 

Mesmo que censurados e amaldiçoados pelo mundo, contudo abençoados por Deus, Jesus de braços abertos nos chama para irmos a Ele para sempre, porque O seguimos carregando a nossa amarga cruz e agora podemos caminhar com Ele carregando a doce coroa, o que fará com que a nossa felicidade, – reservada para aqueles que O amam, adoram e servem, – seja inominável, infinda, incessante, indescritível.

 

Senhor amado, Te agradecemos por esta felicidade infinita que não merecemos, mas que Te aprouve designar para nós e nós para ela desde antes dos tempos eternos e que seguirá imutável por toda a eternidade. Te louvamos pelo ato de Tua vontade perfeita e soberana que nos fez herdeiros dos céus por conta da nossa condição de filhos adotivos que buscam incessantemente se assemelhar mais a Cristo, no nome de que oramos com profunda gratidão em nossos corações. Amém.

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