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CRIADOS PARA SERVIR

José era o que se chama no jargão da construção civil, “peão de obra”, e naquele dia, tal como já havia feito tantas vezes, logo cedo entrou em mais uma obra procurando o mestre para saber se havia vaga de emprego que, por não ter qualificação, estava encontrando grandes dificuldades para conseguir. Quando o mestre informou que estava precisando de alguém para fazer as escavações previstas no projeto, ao mesmo tempo que apontava com o dedo para uma demarcação que havia sido feita, sentiu o coração bater mais forte no peito. Então, como se fosse um sonho, ouviu a tão desejada ordem: “Pode começar!” Ainda não totalmente refeito do impacto, José olhou em volta no terreno limpo sem deparar com qualquer instrumento de trabalho, mas precisando desesperadamente do emprego, começou a escavar com as próprias mãos. Horas depois o mestre volta e encontra José exausto, com as mãos sangrando, unhas quebradas, lutando para ampliar um pequeno sulco no chão. O mestre então, admirando o esforço de José e sua postura servil, manda buscar pá e picareta. O peão, humildemente, sem emitir palavra, apanha as ferramentas e reinicia o trabalho. Após mais algum tempo, o mestre retorna para ver o progresso da escavação, deparando com um buraco maior, mas também com um José que mal conseguia firmar-se em pé, totalmente esgotado. Então pergunta a ele: “Você sabe usar uma retro-escavadeira?” José, surpreso, responde com outra pergunta: “Existe retro-escavadeira aqui na obra? É claro que sei manobrá-la! Por que o senhor não me falou antes?” Ao que o mestre replica: “Ela esteve sempre à sua disposição, mas como você não perguntou, achei que não sabia usá-la…”!

 

Quantas vezes os cristãos fazem a obra de Deus usando apenas suas próprias mãos ou, quando muito, empregando ferramentas humanas toscas, deixando de contar com o extraordinário, incomparável poder do Espírito Santo que nos concedeu os dons para o serviço. Em tais circunstâncias esquecemos o que Paulo nos diz em 1 Coríntios 12.1,4-11: A respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. (…) Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos. A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso. Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria; e a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento; a outro, no mesmo Espírito, a fé; e a outro, no mesmo Espírito, dons de curar; a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um, variedade de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las. Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente.

 

Se hoje somos cristãos, não é por qualquer mérito nosso, mas sim porque Deus nos ama de uma forma incompreensível porque, por nós mesmos, como resultado de algum esforço, habilidade ou mérito, nada mereceríamos, a não ser condenação por nossos muitos pecados. Entretanto, se nos é concedida a bendita oportunidade sermos servos de Deus, a gratidão que devemos manifestar deve se manifestar através de extremos, amor, carinho e benevolência para com o próximo, conscientes de que nenhuma obra que possamos realizar, por si só, poderá nos garantir a salvação eterna, como Paulo ensina em Efésios 2.8-9: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”. Porque fomos criados para servir – a Deus e ao nosso próximo – exclusivamente para a honra e a glória dEle, como em Efésios 2.10 o apóstolo ensina: Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”.

 

Infelizmente alguns cristãos entendem que dom espiritual é conquista pessoal meritória que lhes confere a capacidade, não de ser servo, não de ser o menor de todos, como Jesus instruiu em Marcos 10.43-45: “… quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos. Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”. Não, equivocadamente imaginam e agem como se fossem superiores em espiritualidade e, portanto, mais importantes que seus irmãos em Cristo.

 

Paulo, corroborando poderosamente as palavras do Salvador, em Efésios 4.12 esclareceu a seu rebanho naquela cidade sobre o uso exclusivo dos dons espirituais “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo”. Muitas vezes, no entanto, o que se vê e ouve é exatamente o contrário no meio cristão: o uso dos dons não para servir, mas sim para dividir. Os crentes que assim comportam-se, ingratos, vivem unicamente para a glória dos seus dons e não para a glória de Deus, em oposição ao que o apóstolo exorta em 1 Pedro 4.10-11, destacando os dons como instrumentos de serviço a Deus e ao próximo: “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!” 

          

Em momento algum podemos nos esquecer que todos os que fomos eleitos por Deus antes da fundação do mundo, assim o fomos criados para servir, não para ser servidos. Ser servo não é receber um título honorífico, mas assumir – a partir do novo nascimento – um estilo de vida de entrega total a Jesus, como ele nos ensinou em Mateus 20.26-28: “… quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”.

 

O servo fiel, no Reino de Deus, é aquele que tem verdadeira paixão pelo ministério para o qual foi conduzido pelo Espírito e, sempre procurando aprimorar seus dons espirituais, imprime ao serviço seu estilo, sua forma pessoal de realizá-lo. A paixão, a alegria que sente no coração por determinada maneira de servir, aponta para onde está sendo chamado; os dons espirituais que detém indicam o que fará naquele ministério, e seu estilo pessoal mostrará como servirá, confiado naquilo que Paulo, em 2 Coríntios 9.8 promete: “Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra…”.

 

Pai Amado, que a nossa meta prioritária, na vida que Tu nos deste, seja sempre Te servir no limite das nossas capacidades tão limitadas, cientes de que os dons que nos concedeste são bênçãos que nos concedeste, não como prêmio que nos possa orgulhar, mas sim como tarefa que nos faz mais humildes, agradecidos e responsáveis. Faz-nos assim servos bons e fiéis, utilizando os dons espirituais conferidos por Tua graça exclusivamente para Te glorificar e edificar ao nosso próximo. É no nome de Jesus Cristo, nosso modelo perfeito de servo, que assim oramos agradecidos. Amém.

 

 

 

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