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ENTREGA

O mundialmente conhecido evangelista e teólogo Billy Graham uma vez contou uma historinha sobre a indispensável entrega de si próprio a Deus que todo verdadeiro cristão deve fazer: “Certo dia, enquanto brincava com um vaso muito valioso, um garotinho colocou a mão dentro dele e não conseguia tirá-la. Seu pai tentou ajudá-lo, mas não obteve êxito, e já estava pensando em quebrar o vaso quando lhe disse: – ‘Vamos, meu filho, faça mais uma tentativa. Abra a mão, estique os dedos como eu estou fazendo e puxe com força’. Para sua surpresa, o garotinho disse: – ‘Não posso, papai. Se eu esticar os dedos minha moeda vai cair dentro do vaso.’ Quase todos nós somos como esse garotinho, tão apegados às pequenas coisas do mundo que não podemos aceitar a libertação. Peço que você solte aquela pequena moeda que está dentro do seu coração. Renda-se! Solte-a e permita que Deus conduza a sua vida”.

 

“Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará. Fará sobressair a tua justiça como a luz e o teu direito, como o sol ao meio-dia. Descansa no SENHOR e espera nele…”, disse Davi nesta passagem tão conhecida da Bíblia, que está registrada no Salmo 37, versos 5-7. O salmista aqui nos convida a tudo entregar nas mãos de Deus, vida, família, trabalho, posses, tendo a certeza de que Ele cuidará muito melhor do que nós, e então esperar com paciência por Seu agir perfeito. Mas como fazer isto? Só podemos fazê-lo se O conhecemos muito bem, reconhecemos perfeitamente Seus atributos maravilhosos e confiamos irrestritamente nEle.

 

Muitas pessoas têm grandes dificuldades para entregar seus problemas nas mãos do Senhor, e às vezes até chegam a entregar para logo em seguida retomar, e isto se deve a uma atitude egocêntrica, centralizadora e autossuficiente que não condiz com aquilo que Deus espera dos Seus. Provavelmente nem se dão conta, mas no fundo cometem a heresia de achar que podem mais que o próprio Deus, esquecendo-se do que Jesus disse a Seus discípulos em Lucas 9.23: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me”.

 

E o que significa negar-se a si mesmo? É ignorar a sua própria existência, tratando o eu como se não existisse, ao contrário do que na prática geralmente é feito ao reputar o próprio ego como a coisa mais importante do mundo, desconsiderando que Deus deve estar sempre acima de tudo na vida do cristão autêntico.

 

Não existe também nestas pessoas a confiança nas verdades que Davi proclama exultante no encerramento do Salmo 37.39-40: “Vem do SENHOR a salvação dos justos; ele é a sua fortaleza no dia da tribulação. O SENHOR os ajuda e os livra; livra-os dos ímpios e os salva, porque nele buscam refúgio”.

 

Para sermos capazes de entregar tudo nas mãos de Deus, portanto, é preciso que nos esvaziemos do nosso ego naquilo que pensamos que podemos, e confiemos totalmente no Senhor, assim como a pequena criança segura pela mão de seu pai terreno em quem tem confiança irrestrita e deixa-se conduzir sem titubear.

 

Falta a muitos de nós a atitude humilde que Jesus tão bem exemplificou e que ensinou os Seus a cultivar, convidando-os em Mateus 11.29: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma”. Jesus está tratando aqui da essencialidade de carregar a suave carga que nos outorga, de aprender com Ele, de ser manso e humilde, para só então encontrar o descanso na produtividade espiritual que tem propósito.

 

Jesus nos concede na vida os fardos que são exatamente os adequados e suficientes às nossas capacidades e necessidades e que, embora não sejam fáceis de levar, nos foram entregues com amor e por isso devem ser portados também com amor, e o amor faz com que até a carga mais pesada se torne leve porque no fundo consiste fundamentalmente em amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a nós mesmos.

 

Por que é tão difícil entregar para Deus nossas circunstâncias difíceis, lutas, desafios, problemas e, pela fé, confiarmos que Ele cuidará de tudo e nos ajudará como tem prometido desde sempre, se estamos informados pela Sua Palavra de que é isso que Ele espera que façamos e nós mesmos sabemos que é o que devemos fazer? E o autor do livro de Hebreus 11.1-2 ensina: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem. Pois, pela fé, os antigos obtiveram bom testemunho”.

 

Este livro nos mostra que, mais do que ter confiança para entregar a Deus suas batalhas, vários homens e mulheres do Antigo Testamento que tinham perfeita visão espiritual, pela fé suportaram grande vergonha e sofrimento mas jamais renunciaram à fé. Apesar disso, o autor pontua nos versículos 39-40 que “… todos estes que obtiveram bom testemunho por sua fé não obtiveram, contudo, a concretização da promessa, por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados”.

 

Deus prestou testemunho da fé destes heróis, embora eles tenham morrido antes de receber o cumprimento da promessa, mas o Senhor reservou uma condição superior a nosso respeito, ou seja, eles não foram tão privilegiados quanto nós, porque viveram do outro lado da cruz, enquanto nós estamos debaixo da completa glória da cruz.

 

E o que a fé pode fazer por nós? Ela torna as coisas que esperamos tão reais como se já fôssemos possuidores delas, dando-nos a convicção inabalável de que as bênçãos espirituais para quem entregou sua vida a Cristo são uma plena certeza que traz o futuro ao presente e produz a visibilidade de coisas invisíveis.

 

Portanto, diante desta constatação, concluímos que é impossível entregar nossas aflições a Deus e estarmos convictos de que ele cuidará de tudo se não tivermos fé, e isto nos remete ao que Jesus afirmou diante da falta de fé de Seus próprios discípulos em Mateus 17.14-20: “aproximou-se dele um homem, que se ajoelhou e disse: Senhor, compadece-te de meu filho, porque é lunático e sofre muito (…) Apresentei-o a teus discípulos, mas eles não puderam curá-lo. Jesus exclamou: Ó geração incrédula e perversa! (…) Trazei-me aqui o menino. E Jesus repreendeu o demônio, e este saiu do menino; e, desde aquela hora, ficou o menino curado. Então, os discípulos, aproximando-se de Jesus, perguntaram em particular: Por que motivo não pudemos nós expulsá-lo? E ele lhes respondeu: Por causa da pequenez da vossa fé. Pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível”.

 

Fé é a confiança na fidelidade de Deus, a certeza de que Ele é verdadeiro e de que Suas promessas nunca falham. E nós conhecemos pelas Escrituras Sagradas que as revelações e as promessas que ali encontramos demonstram que a fé que devemos ter não é uma espécie de tateio no escuro mas sim, como alguém afirmou, “a fé começa onde terminam as possibilidades, porque no possível não há glória para Deus”. Sobre este fato é inevitável lembrar de George Müller, pastor e missionário notável por sua fé na providência divina que na Inglaterra do século XIX realizou sua imensa obra de cuidados com as crianças desamparadas sem recursos próprios e sempre obtendo a ajuda humana através das orações, e que certa vez declarou com propriedade que “as dificuldades são o alimento de que a fé se nutre”.

 

E Deus testa a autenticidade da nossa fé com as aflições, como 1 Pedro 1.7-9 (Bíblia Viva) nos mostra: “Estas provações apenas põem à prova a fé que vocês têm, para verificar se ela é forte e pura ou não. Ela está sendo experimentada como o fogo prova o ouro e o purifica – e a fé que vocês têm é muito mais preciosa para Deus do que o simples ouro; portanto vocês O amam, embora nunca O tenham visto; ainda que não O vejam, confiem nele; e até mesmo agora vocês estão felizes com aquela alegria indizível que vem do próprio céu. E a recompensa final que vocês terão por haverem confiado nele, será a salvação das suas almas”.

 

Nossa fé precisa estar fundada em duas palavras poderosas, confiança e certeza, que, por sua vez, necessitam de uma verdade inicial e de outra final que sejam, ambas, seguras e inarredáveis. A verdade inicial da fé é a crença no caráter de Deus, que não é homem para mentir, por isso é o que diz ser; a verdade final é acreditar em Suas promessas que nunca falham, por esta razão Ele fará o que promete.

 

Quando confiamos que Deus cumprirá Suas promessas, ainda que não as vejamos realizadas, estamos manifestando verdadeira fé, como Jesus nos ensina na passagem que está em João 20.24-29, que neste último versículo registra: “Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram”.

 

Senhor Amado, ensina-nos a viver pela fé em Ti, permite-nos seguir pela vida segurando em Tua mão de amoroso e incomparável poder, capacita-nos especialmente a tudo entregar a Ti confiantes e agradecidos, com a certeza de que é isto que desejas que façamos, não importa a dimensão das provações que enfrentarmos. Muitas vezes, Pai, não conseguimos entender, mas queremos continuar confiados em Ti porque sabemos que Tu jamais nos conduzirás por caminhos que não tenhas de antemão abençoado e aplainado para que neles sigamos em paz, amor e segurança. É no nome santo e precioso de Jesus que oramos cheios de gratidão. Amém.

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