FANATISMO
Fanatismo é um estado psicológico caracterizado por uma intensidade exagerada de sentimentos, é uma atitude irracional e persistente a respeito de qualquer coisa ou assunto e que, se historicamente tem tido como temas questões de ordem religiosa e política, mais recentemente passou a envolver também assuntos relacionados com clubes de futebol, convicções partidárias e pessoas famosas.
A psiquiatra Elisa Brietzke, orientadora do programa de pós-graduação em psiquiatria da Unifesp explica didaticamente que “Ele é um comportamento disfuncional, mas não é considerado um transtorno mental, e se caracteriza por uma crença ou comportamento que não admite refutação, que é defendida de forma obsessiva e apaixonada e que deixa muito pouco espaço para a tolerância às ideias contrárias”.
O fanático é um indivíduo profundamente frustrado, preconceituoso, desencantado como o mundo e com as pessoas. Trata-se de uma pessoa que perdeu toda a esperança de viver em equilíbrio social, cujas referências saudáveis de vida se esvaíram por entre as densas trevas da revolta, da dor, do negacionismo, do inconformismo por vezes violento, do egocentrismo exacerbado, e então se apega doentia e irracionalmente a algo que represente uma convicção de mudança do status quo que não aceita. É aquele que muitas vezes falsamente falando em nome de Deus que é todo amor, que é todo bondade, que sintetiza toda a benignidade do universo, distorce o Bem Supremo e o transforma em mal, pois permitiu-se ser dominado e usado pelo maligno, o inimigo de Deus e de nossas almas.
Winston Churchill dizia que o fanático “é um sujeito que não muda nem de ideia, nem de assunto”. O escritor, historiador e editor brasileiro Jaime Pinsky, afirma que “fanáticos são indivíduos que possuem uma certeza absoluta e incondicional a respeito do que consideram suas verdades”, e de forma intolerante não admitem discussões. O escritor israelense Amós Oz, fundador do movimento pacifista Paz Agora, em seu livro “Contra o Fanatismo”, escreve: “O fanatismo é mais antigo que o Islã, mais velho que o cristianismo, que o judaísmo, que qualquer Estado, governo ou sistema político, que qualquer ideologia ou fé no mundo”, o que mostra que trata-se de um mal ancestral.
O fanatismo está atualmente tão difundido pelo mundo que o termo passou a ser empregado como desacato, como quando alguém quer criticar a outrem por conta de seu apego que considera exagerado a respeito de alguma coisa ou de alguém, como por exemplo: “fulano é fanático por surfe”, e ele é apenas um atleta dedicado que gosta do que faz; “beltrano é crente fanático”, e muitas vezes não se trata de fanatismo, mas de fidelidade e compromisso com Cristo, e assim por diante. Por isso é importante – antes de designar uma atitude como de fanatismo, ou alguém como fanático – verificar se não se trata apenas de dedicação intensa, que é essencial a qualquer atividade humana. É preciso, no entanto, distinguir até mesmo esse tipo de comprometimento daquela dedicação mais elevada que é o zelo, a diligência, o cuidado, a devoção, produzidos em nós pelo Espírito Santo, e que é indispensável quando se trata de servir a Deus, como o apóstolo Paulo em Romanos 12.11 exorta: “No zelo, não sejais remissos; sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor…”, agregando porém uma recomendação fundamental que em 1 Coríntios 14.40 coloca a questão na ótica correta: “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem”.
Mas, em oposição à saudável e equilibrada dedicação à obra de Deus, satanás incute e incentiva no cristão o fanatismo doentio, que vem de encontro ao seu propósito maléfico de provocar a falência de ministérios, a destruição de famílias, os conflitos nas igrejas, e como decorrência desta moléstia insidiosa, milhões de pessoas pelo mundo têm abandonado a fé cristã.
O apóstolo Paulo, em 2 Timóteo 1.7, escrevendo a seu jovem filho na fé, ensinou: “… Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação. Este último termo no original grego sofronismou, tem sido traduzido pelos comentaristas bíblicos como comedimento, moderação, equilíbrio, disciplina, domínio próprio, significando a sanidade da santidade, uma espécie de autocontrole que permite que uma pessoa seja um líder justo e equilibrado, sem fanatismo, porque antes de mais nada é servo de Cristo, e vive sob Seu controle perfeito e soberano. Portanto, a moderação, o equilíbrio e o domínio próprio são as armas com que o cristão conta para não deixar-se dominar pelo fanatismo.
Em João 5.34 (ARA), a afirmativa de Jesus, dizendo que “Eu, porém, não aceito humano testemunho…”, complementada no verso 37 pela frase “O Pai, que me enviou, esse mesmo é que tem dado testemunho de mim”, é taxativa: se Jesus, que é Deus, só aceitava o testemunho do Pai, como poderíamos nós acatar o testemunho humano que se apresenta discordante da Palavra, na forma ou no conteúdo, por mais incisivo e convincente que pareça ser? Desta forma, a Palavra de Deus é o único instrumento confiável de autenticação, o único selo que nos é lícito respeitar, a única referência que chancela a palavra humana. Assim sendo, qualquer um que se apresente proclamando palavras ou cometendo atos que não provenham da vontade santa de Deus, está na verdade sendo usado pelo maligno para confundir e arrastar para as trevas aqueles que não estão firmados em Cristo Jesus.
E os fanáticos, geralmente transformados em falsos mestres – quase sempre desconhecem a Palavra de Deus, e Paulo admoesta seu discípulo em 1 Timóteo 1.6-11, dizendo que eles “… perderam-se em loquacidade frívola, pretendendo passar por mestres da lei, não compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações. Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo, tendo em vista que não se promulga lei para quem é justo, mas para transgressores e rebeldes, irreverentes e pecadores, ímpios e profanos, parricidas e matricidas, homicidas, impuros, sodomitas, raptores de homens, mentirosos, perjuros e para tudo quanto se opõe à sã doutrina, segundo o evangelho da glória do Deus bendito, do qual fui encarregado”.
Senhor Bendito, amado Deus, nunca permita que sejamos desleixados em nosso zelo pelas Tuas coisas, mas que jamais nos deixemos dominar pelo fanatismo. Estamos convencidos de que a nossa vida terreal se desenrola em um campo batalha entre o bem e o mal, que o tempo de que dispomos de preparação para a eternidade é curto, mas também sabemos que Cristo não suporta o cristão morno. Por isso, Senhor, ajuda-nos a manter nosso espírito em ponto de ebulição, servindo-Te a todo o tempo com dedicação máxima, proclamando a Tua sã doutrina a todos que colocares em nosso caminho, porém nunca deixando de aproveitar qualquer oportunidade que Tu nos ofereças de tudo fazer para a Tua glória eterna. Em nome de Cristo Jesus assim oramos. Amém.
4 de março de 2023
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