Fidelidade Tag

FIDELIDADE

O exemplo bíblico da fidelidade de Jacó, – apesar de seu comportamento pouco ético e pecador, – em diversos momentos foi marcante, pois sempre se manteve fiel a Deus e teve reconhecida a sua lealdade quando ordenou ao seu povo que se desfizesse de seus deuses pagãos e adorasse tão somente ao Senhor. Mais tarde foi para terras distantes em busca de uma esposa, quando deu grande exemplo de constância nos compromissos assumidos e inspirou este belo poema escrito por Luís de Camões: Sete anos de pastor Jacó servia / Labão, pai de Raquel, serrana bela, / Mas não servia ao pai, servia a ela, / E a ela só por prêmio pretendia. / Os dias, na esperança de um só dia, / Passava, contentando-se com vê-la; / Porém o pai usando de cautela, / Em lugar de Raquel lhe dava Lia. / Vendo o triste pastor que com enganos / Lhe fora assim negada a sua pastora, / Como se a não tivera merecida, / Começa de servir outros sete anos, / Dizendo: – Mais servira, se não fora / Para tão longo amor tão curta a vida!

 

Fidelidade, uma das palavras mais empregadas na Bíblia, é um dos atributos de Deus mais caros ao homem que, quando diz que Deus é fiel, está afirmando que Ele é confiável e perfeito em todas as Suas formas de expressão e de manifestação, cumprindo sempre tudo o que prometeu. Em Deuteronômio 32.4 Moisés canta a fidelidade de Deus perante toda a congregação de Israel: “Eis a Rocha! Suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são juízo; Deus é fidelidade, e não há nele injustiça; é justo e reto”. Em 1 Coríntios 1.9, Paulo escreve que “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor”, e em 2 Tessalonicenses 3.3, diz “Todavia o Senhor é fiel; ele vos confirmará e guardará do maligno.”

 

A fidelidade de Deus é a Sua persistência no propósito de ser misericordioso e bondoso para conosco, apesar de nós. Pelo Salmo 57.10, sabemos que a Sua misericórdia se eleva até aos céus e a Sua fidelidade, até às nuvens”. Por isto, cada um de nós pode elevar a Ele a sua voz, clamando como Davi no Salmo 69.13: “Quanto a mim, porém, Senhor, faço a ti, em tempo favorável, a minha oração: Responde-me, ó Deus, pela riqueza da tua graça; pela tua fidelidade em socorrer”, e louvando-O como no Salmo 89.1: “Cantarei para sempre as tuas misericórdias, ó Senhor; os meus lábios proclamarão a todas as gerações a tua fidelidade”.

 

Para o cristão, ser fiel é ser digno de confiança, leal e firme na devoção e no compromisso, e constante na crença; fiel é quem não duvida de Deus; fiel é quem anda no Espírito e não se deixa dominar pelas paixões e desejos da carne; fiel é quem começa com Deus e continua caminhando com Ele pela vida afora. Fidelidade, portanto, é marca indelével de uma vida cristã marcada por algumas qualidades essenciais, sem as quais não é possível ser fiel: exclusividade, verdade, persistência e integridade.

 

A exclusividade é um requisito básico para termos comunhão com Deus. Jesus, em Mateus 6.24 alertou: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.” Josué também destaca a importância da exclusividade em Josué 24.14-15: Agora, pois, temei ao Senhor e servi-o com integridade e com fidelidade; deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais dalém do Eufrates e no Egito e servi ao Senhor. Porém, se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei, hoje, a quem sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais que estavam dalém do Eufrates ou aos deuses dos amorreus em cuja terra habitais. Eu e a minha casa serviremos ao Senhor.” É este o tipo de fidelidade exclusiva que Deus requer de nós.

 

A verdade é outra faceta da fidelidade, por isso ser fiel é ser transparente. Infelizmente nos dias de hoje o cristianismo sofre de uma grande falta de transparência, por isto, a oração diária de todo o cristão deveria ser a que Davi proferiu no Salmo 26.2: “Examina-me, Senhor, e prova-me; sonda-me o coração e os pensamentos”. Davi assim se colocava abertamente à disposição de Deus – e despojando-se de toda a armadura que muitos usam para evitar que o seu interior seja perceptível – pedia que Ele vasculhasse o íntimo do seu ser. É isto que todos nós devemos também fazer, prontos em qualquer circunstância a revelar por inteiro o nosso interior, porque como cristãos verdadeiros não podemos ter nada a esconder do Senhor, – e nem conseguiríamos fazê-lo, – por isso sermos fiéis e verdadeiros é o convite do Espírito Santo para cada um de nós.

 

A persistência é uma terceira dimensão da fidelidade. Na vida cristã, há pessoas que são infiéis em tudo o que fazem, oscilando inconstantes entre a euforia e a apatia, não dando sequência em nada que empreendem. Seja na leitura e no estudo da palavra, seja na oração, ou em qualquer ministério da igreja, a atividade verdadeiramente produtiva é aquela realizada no dia a dia, com regularidade, persistência, sem interrupções, ao longo de toda a vida, num prosseguimento constante para o alvo da perfeição em Cristo, como Paulo ensina em Filipenses 3.12: “Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus”.

 

Não existe fidelidade sem integridade. E essa era uma das características da conduta de Daniel que levado cativo para a Babilônia jamais se deixou corromper pelas tentações de que foi alvo. Seu comportamento sempre foi de fidelidade a Deus, o que foi determinante para o seu sucesso, apesar da dura oposição que sofreu e da inveja de seus inimigos, como está escrito em Daniel 6.4: “Então, os presidentes e os sátrapas procuravam ocasião para acusar a Daniel a respeito do reino; mas não puderam achá-la, nem culpa alguma; porque ele era fiel, e não se achava nele nenhum erro nem culpa”.

 

A fidelidade não é meramente uma possibilidade, mas sim uma necessidade básica do verdadeiro cristão. Sem ela, na verdade, não há vida cristã, que deve ser caracterizada por firmeza de propósitos, atitude correta em todas as circunstâncias da vida, incorruptibilidade, sinceridade, compromisso, em suma, pela imitação a Cristo em toda e qualquer conjuntura, pois Ele jamais deixou de ser perfeitamente fiel a Deus e a nós.

 

Não é fácil ser fiel em um mundo que valoriza exatamente o oposto, a infidelidade sob seus mais diversos tipos e matizes, e até mesmo Paulo dizia que servir a Cristo era difícil, mas isso não foi para ele motivo para desânimo e dúvida. Continuou centrado em sua inquestionável fidelidade ao Senhor, dizendo em 2 Coríntios 4.8: “Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados…”. Ele sabia que o objetivo final de nossa vida terreal em completa fidelidade compensará qualquer transitório esforço, sofrimento ou tristeza que tenhamos que passar, afirmando nos versículos 17-18: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas”.

 

Paulo sabia o que estava dizendo, pois já havia enfrentado grandes angústias, sofrimentos e perseguições por pregar as boas novas de Cristo, mas estava certo de que um dia suas provações terminariam, e que então Deus, o Pai Eterno de fidelidade absoluta, lhe daria o descanso de suas lutas como prêmio. Quando nos sobrevêm grandes problemas, tendemos a nos concentrar neles, ao invés de, como seria correto, focarmos na meta final, como fazem os atletas ao passarem pela inevitável dor, desconforto e cansaço de uma competição.

 

Não importa o que nos aconteça nesta vida, temos à nossa frente a plena segurança da vida eterna, quando todas as dores se extinguirão, todas tristezas desaparecerão e todas as lágrimas serão enxugadas pelo próprio Deus, como pela boca do profeta anunciou sobre o Seu Reino Milenar em Isaías 35.10: “Os resgatados do SENHOR voltarão e virão a Sião com cânticos de júbilo; alegria eterna coroará a sua cabeça; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido”.

 

Jesus Cristo foi o ser mais fiel que já viveu sobre a face da terra: com perfeita fidelidade obedeceu ao Pai que O incumbiu de vir salvar pecadores contumazes e desprezíveis como nós; mas com amorosa e absoluta fidelidade, sabendo de antemão o que O aguardava no mundo, submeteu-se a enorme rejeição, incompreensão, maldade e traição humana para cumprir Seu maravilhoso ministério. E é por um amor tão abnegado por nós que chega a ponto de manter-Se fiel mesmo que nós muitas vezes não o sejamos, como Paulo em 2 Timóteo 2.13 aponta: “… se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo”.

 

Pai Amado e Bendito, que possamos, a cada novo dia da nossa peregrinação, sermos mais e mais fiéis a Ti e ao próximo, cada vez mais dignos de confiança, mais corretos e cumpridores das nossas promessas, espelhando-nos em Ti, que És o nosso Deus Fiel. Ajuda-nos, ó Pai, para que um dia sejamos mais assemelhados a Jesus que, – apesar de toda a tentação e sofrimento a que voluntariamente Se submeteu, – nunca pecou e cumpriu cabalmente a missão que Tu Lhe confiasTe. Que hoje e sempre a nossa conduta cristã seja caracterizada por firmeza e certeza de propósitos, justiça, equilíbrio, incorruptibilidade, sinceridade, confiabilidade, lealdade, graça, misericórdia e absoluta lealdade a Ti. Oramos assim com profunda gratidão, no nome de Jesus que está acima de todo nome. Amém.

 

Share
0
0

A Vontade do Senhor

“Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige: Pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus.”  Miqueias 6.8 (NVI)

Este versículo representa um resumo da vontade do Senhor para a nossa vida cristã: que pratiquemos a justiça, que sejamos misericordiosos e que sigamos humildemente ao Seu lado. Que hoje estejamos obedecendo ao nosso Deus integralmente a cada passo que dermos, considerando que a justiça precisa ser guiada pela misericórdia, que não podemos ter misericórdia se não amarmos e perdoarmos ao nosso próximo, e que para segui-Lo com humildade é indispensável nos despojarmos de todo o orgulho, desamor, presunção e egocentrismo.

Share
0
0

Saber e Fazer

Há um antigo e conhecido provérbio oriental que diz que “saber e não fazer, ainda não é saber”, e nessa mesma linha de raciocínio, o grande escritor Johann von Goethe dizia que “não basta saber, é preciso aplicar; não basta querer, é preciso fazer”.

 

Será que nós cristãos fazemos, aplicamos, tudo aquilo que pretensamente conhecemos sobre os ensinamentos de Jesus? Provavelmente não, até porque alcançar a nossa meta comum de nos tornarmos assemelhados a Ele é incrivelmente difícil, e há uma distância abissal intransponível que nos separa da perfeição do Senhor. Dura caminhada, portanto, nos está proposta. Mas é preciso persistência, mirando o exemplo do próprio Jesus, que tudo suportou, abandonando a glória celestial, a honra terreal, escolhendo o caminho da cruz. E é nesse sentido que o autor de Hebreus 12.1 (NAA) nos estimula para que “… livremo-nos de todo peso e do pecado que tão firmemente se apega a nós e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta…”.

 

E o que mais nos diz a Palavra de Deus sobre essa questão tão essencial?

 

Certamente nenhum cristão consciente de suas responsabilidades, em busca da santificação, discorda da exortação de Tiago 1.22-25 (NAA): “Sejam praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando a vocês mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se àquele que contempla o seu rosto natural num espelho; pois contempla a si mesmo, se retira e logo esquece como era a sua aparência. Mas aquele que atenta bem para a lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte que logo se esquece, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar”.

 

Porém o peso de nossas imperfeições é grande, e como pesada âncora que trazemos pendurada ao pescoço, arrasta-nos para baixo, tendendo a fazer-nos afundar no mar de pecaminosidade em que vivemos no mundo.

 

O que nos traz um certo consolo é o que Paulo confessa na conhecida passagem de Romanos 7.15,18-20 (NAA): Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim, mas não o realizá-lo. Porque não faço o bem que eu quero, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim.

 

O que fazer então, se desejamos ser cristãos fiéis, empregando a Palavra de Deus como Ele requer de nós, e não apenas ouvindo-a ou lendo-a episodicamente e logo voltando a ter atitudes reprováveis?

 

Algumas normas de conduta devem passar a fazer parte do nosso dia a dia, são realmente indispensáveis, verdadeiras condições sine qua non se desejamos ser verdadeiros praticantes da Palavra: precisamos, antes de mais nada, ser ávidos por recebê-la e colocá-la em prática, sempre manifestando transbordante alegria e gratidão em nossos corações, com toda a nossa vida expressando Cristo em nós como testemunho de que realmente somos crentes, assim nos identificando com aqueles a quem Jesus referiu-se em Mateus 7.24-26 (NAA), ao afirmar que “Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram com força contra aquela casa, e ela não desabou, porque tinha sido construída sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que construiu a sua casa sobre a areia”.

 

Aplicar a Palavra de Deus, portanto, é uma importante decisão pessoal que o autêntico cristão com humildade deve tomar, certo de que, acima de tudo, ela produz repercussões eternas, mas para isso é crucial dispormo-nos a trabalhar incansavelmente, dia após dia, para que a verdade lance raízes profundas e irremovíveis em nós, e possamos ser plenamente frutíferos na Obra do Senhor.

 

Paulo compara a doutrina cristã a um espelho no qual Deus se apresenta à nossa vista mostrando que “… todos nós, com o rosto descoberto, contemplando a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, que é o Espírito” (2 Coríntios 3.18 – NAA).

 

E como podemos cooperar para que o Espírito Santo que habita em nós opere a transformação de que necessitamos? Perseverando firmemente na busca do conhecimento de Deus e na aplicação da Sua Palavra perfeita, para sermos felizes em tudo o que fizermos, porque a bem-aventurança do crente, como afirma Calvino, só pode ser encontrada no agir, e não no frio ouvir.

 

Em outras palavras, é muito importante ouvir a Palavra e estudá-la diligentemente, mas, mais importante ainda é obedecê-la, colocá-la em prática, permitindo que o Espírito Santo produza a metanoia, a renovação da mente e o quebrantamento que nos alinha com a vontade de Deus, essenciais para o nosso progresso cristão.

 

Somente obedecendo humilde e fielmente à Palavra, aplicando-a em nós próprios e em favor dos outros,  poderemos efetivamente cumprir o propósito para o qual Deus nos colocou no mundo, sendo quem Ele nos predestinou a ser, e então contribuindo – como servos fiéis e úteis – para a Sua Obra da maneira como Ele planejou antes dos tempos eternos, pois só então saber e fazer se complementam.

 

Senhor, concede-nos sabedoria, diligência, perseverança e fidelidade para conhecer-Te melhor por meio da Tua Palavra, para aprendermos tudo aquilo que Tu desejas nos ensinar visando sua aplicação em nossa vida e na vida de todos aqueles que colocares em nosso caminho durante nossa peregrinação terreal, para que assim o façamos para o louvor da Sua glória,  pelo que nós que esperamos em Cristo oramos agradecidos em Seu nome. Amém.

 

Share
0
2