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LAODICEIA

No primeiro século de nossa era existiam três cidades principais no Vale do Rio Lico, na Ásia Menor: Colossos, dotada de fontes de água fria, Hierápolis, conhecida por suas fontes de águas termais, e Laodiceia, situada na Turquia moderna perto da cidade de Denizli. Localizada 60 km a leste de Éfeso, 10 km a sudeste de Filadélfia, o local encontra-se atualmente deserto, e é chamado pelos turcos de Eski-hissar (castelo velho). Em Apocalipse, a mensagem a Laodiceia é emblemática: nela Jesus não apontou nenhuma doutrina incorreta, nenhum pecado devido à imoralidade, nenhuma prática idólatra. Mas a igreja em Laodiceia foi duramente criticada por seu orgulho e autossuficiência, por sua exaltação, ao invés da submissão que deveria demonstrar, prostrada humildemente aos pés do Senhor dos Senhores. Por isso Jesus Cristo ordenou ao apóstolo João no livro de Apocalipse 3.14-22, que registrasse dura carta dirigida à igreja, estruturada em três partes essenciais: na primeira, do verso 14 ao 17, o Senhor faz um diagnóstico preciso da condição espiritual da igreja, apontando sua presunção e arrogância, que conduziram a um desinteresse por Ele; a segunda, composta pelos versos 18 e 19, oferece aconselhamento para que a igreja se reconciliasse com a verdade; a terceira, de 20 a 22, é um convite amoroso, humilde, contendo maravilhosa promessa a se cumprir, caso a igreja decidisse vencer seu materialismo, autossuficiência e desprezo por Cristo. Observemos agora em detalhe a carta a Laodiceia.

 

O Diagnóstico

 

v. 14: “Ao anjo da igreja em Laodiceia escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus”.

Amém é palavra de origem hebraica, que colocada no começo de uma afirmação, significa certamente ou verdadeiramente, e escrita no final pode ser entendida como que assim seja. Jesus afirma que Ele é a palavra final e sua autoridade é absoluta. Jesus reitera Apocalipse 1.5, quando João referiu-se a Ele como a Fiel Testemunha… que traz o verdadeiro testemunho sobre o Pai e manifesta a vontade dEle para os homens. Jesus é Emanuel, que em Mateus 1.23 significa “… Deus conosco”, é a origem da criação e Sua divina genealogia encontra-se em João 1.1-3, é Deus que “… se fez carne…” como identifica João 1.14, é o EU SOU”, como Ele mesmo declara em João 8.24,58, é “… o primeiro e o último…” de Apocalipse 1.17, é eterno, pois esteve morto, mas agora está “… vivo pelos séculos dos séculos…” como afirma Apocalipse 1.18, é o soberano “… Senhor dos senhores e o Rei dos reis…” de Apocalipse 17.14, Ele não foi criado, Ele não veio a existir, Ele é Deus, e quem não crer nisto morrerá nos seus pecados, como Ele mesmo assegura em João 8.24.

 

 

v. 15: “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente!”.

Jesus disse em Apocalipse 1.20 que conhecia intimamente as 7 igrejas e suas obras, entre elas Laodiceia. Aqui Ele faz uma analogia entre o que acontecia material e espiritualmente com a cidade, pois Colossos enviava água fria e Hierápolis água quente, mas ambas as águas chegavam mornas a Laodiceia, servindo apenas como vomitório.

 

 

v. 16: “Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca”. O orgulho, a presunção, o desinteresse e a indiferença da igreja local provocavam náuseas em Jesus, que ameaçou expulsá-la da sua presença!

 

 

v. 17: “… pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.”

 

A própria igreja não conseguia perceber o quanto era carente de Deus, pois fixava-se apenas naquilo que era material. O orgulho cegava os crentes, que se achavam fortes, abastados e independentes. No entanto, Jesus, que sonda e conhece os corações e a vida espiritual de pessoas e de igrejas, conhecia a miserabilidade em que viviam interiormente, embora na aparência fossem muito prósperos e bem sucedidos.

 

O Conselho

 

v. 18: “Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas.”

Apesar de toda a sua altivez e presunção, Jesus se condói da igreja e aconselha que em primeiro lugar busque o ouro refinado da verdadeira riqueza, que é a espiritual. As vestiduras brancas são sinal da pureza que Ele espera dos Seus. Só Jesus é o colírio que pode curar a cegueira espiritual dos altivos e presunçosos.

 

v. 19: “Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.”

Em Hebreus 12.5-11 o autor da carta deixa claro que é por causa de Seu amor que Deus nos corrige, pois Sua disciplina é aplicada para que possamos estar em condição de participar de Sua santidade, então assim discorre naquela passagem: “… Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais ( Deus vos trata como filhos ); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos. Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai espiritual e, então, viveremos? Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade. Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça”. Ou seja, em síntese Jesus exorta os crentes de Laodiceia para que tenham zelo por Sua Palavra e arrependam-se de suas más obras.

 

O Convite

 

v. 20: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.”

Jesus bate à porta de nosso coração, mas não força ninguém a abrir; oferece salvação a todos, mas a decisão de aceitar é pessoal e intransferível; a porta não tem maçaneta do lado de fora, portanto somente pode ser aberta pela pessoa que está em sua casa. Entrar e cear significam desfrutar da comunhão plena com Cristo, e em João 14.23 Ele afirma: “… Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada”. Portanto, juntamente com o Pai, ambos farão morada no verdadeiro crente, e cear reporta-se à Ceia do Senhor, como ato que representa a comunhão mais íntima com Seus discípulos.

 

v. 21-22: “Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.”

 

O vencedor, isto é, o verdadeiro crente, humilde e obediente, aquele que for assemelhado a Cristo, alcançará a prerrogativa de reinar com Ele pelos séculos dos séculos, ao contrário dos orgulhosos, presunçosos, arrogantes e autossuficientes. Todas as advertências, conselhos e promessas feitas a todas as igrejas nas sete cartas do Apocalipse, também se aplicam às igrejas locais e aos crentes de qualquer época, que devem manter seus ouvidos abertos para ouvir e obedecer à voz de Cristo!

 

O teólogo e erudito irlandês Adam Clarke certa vez escreveu sobre a igreja de Laodiceia: “Essa é a pior das sete igrejas; no entanto, as mais notáveis promessas são feitas a ela, mostrando que os piores podem arrepender-se e, finalmente, podem tornar-se vitoriosos, atingindo os mais elevados estados da glória”.

 

 

A mensagem a Laodiceia teve o poder de transformar a igreja que, arrependida, tornou-se uma das mais influentes da antiguidade, como comprova o exemplo de Sagaris, bispo de Laodiceia, que cerca de um século após esta carta, foi martirizado por sua fé em Cristo.

 

O escritor cristão inglês Herbert Farmer, em seu livro A Cruz que Cura (The Healing Cross), procura mostrar a maneira maravilhosa como Deus trata os homens, quando eles se aproximam de Cristo: “O contraste entre a severa reprimenda e a mão estendida e amorosa da amizade, é realmente impressionante. E chega como um clímax no quadro do Senhor de tudo, de pé do lado de fora da vida humana, solicitando admissão. O pecador orgulhoso e teimoso continua podendo ser hospedeiro de Deus. Aquele que é o próprio Juiz aguarda, como um humilde suplicante, do lado de fora da porta humana. Essa combinação de severidade e ternura é uma das características centrais do evangelho. Nenhuma das duas atitudes é completa sem a outra; precisam ser vistas conjuntamente.”

 

Soberano e clemente Senhor do universo, permita que sejamos obedientes, humildes, zelosos, despojados, ponderados e dependentes de Ti a todo o tempo e em qualquer circunstância, não importando o lugar. Fala aos nossos ouvidos e corações quando estivermos nos desviando do caminho, e repreende-nos para que voltemos ao Teu redil, porque nosso anelo ardente, definitivo e imutável é reinar conTigo na Vida Eterna. É no nome santo de Jesus, nome precioso, que está cima de todo nome, é que oramos com imorredoura gratidão. Amém.

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