NAÇÕES MAIS ELEVADAS
O que caracteriza uma nação mais elevada? Certamente não é sua condição geodésica ou topográfica, como é o caso do Tibete, que situa-se a mais de 4.900 metros de altitude, nem do Nepal, onde está o Everest, e muito menos da Bolívia, cuja capital, La Paz, está implantada a 3.660 metros de altitude.
Nação elevada é a nação justa, onde os valores que norteiam as atitudes, ações e decisões do governo e do povo são ditadas por princípios verdadeiramente cristãos, ou seja, o lugar em que a Palavra de Deus é a balizadora, a referência única que guia o que se pensa, decide e executa.
Alguns dizem que o Brasil é o maior país cristão do mundo, mas há indícios evidentes de que isto não é verdadeiro, revelados pela falta de justiça, de segurança e de paz. É a justiça que eleva a nação, não o pecado que a envergonha, como nos ensina Salomão em Provérbios 14.34: “A justiça exalta as nações, mas o pecado é o opróbrio dos povos.”
Nestes tempos em que os rumos da política geram tanta preocupação e apreensão com o presente e com o futuro, é importante relembrarmos de que forma o profeta Isaías – no capítulo 32 de seu livro, nos versículos 1 a 8 (versão bíblica NTLH) – traça um retrato do rei e do governo ideais, o que no entanto só será plenamente concretizado quando o Messias vier novamente para estabelecer Seu justo, perfeito e transcendente governo sobre o planeta.
Eis a maravilhosa promessa de Deus respondendo cabalmente às nossas inquietações quanto à atualidade que vivemos e ao porvir que nos espera: “Virá o dia em que um rei reinará com justiça e as autoridades governarão com honestidade. Todas elas protegerão o povo como um abrigo protege contra a tempestade e o vento; elas serão como rios numa terra seca, como a sombra de uma grande rocha no deserto. Então todos poderão ver claramente de novo e de novo ouvirão tudo facilmente; serão ajuizados, entenderão as coisas e poderão falar com clareza e inteligência. Ninguém dirá que um sem-vergonha é uma pessoa de valor, nem que o malandro merece respeito. Pois o sem-vergonha diz mentiras e está sempre planejando fazer maldades. O que ele diz a respeito do Senhor é falso; ele faz estas coisas que Deus detesta: nega comida aos que têm fome e água aos que estão com sede. O malandro faz trapaças; inventa mentiras para prejudicar a causa dos pobres, mesmo quando eles têm razão. Mas quem é direito faz planos honestos e é correto em tudo o que faz.”
Mais adiante no mesmo capítulo, nos versículos 17 a 19, Isaías profetiza: “O efeito da justiça será paz, e o fruto da justiça, repouso e segurança, para sempre. O meu povo habitará em moradas de paz, em moradas bem seguras e em lugares quietos e tranquilos, ainda que haja saraivada, caia o bosque e seja a cidade inteiramente abatida.”
Sem justiça não pode haver paz, e a palavra profética revela que no reino Milenar o justo viverá em paz, a tal ponto que sua habitação não será atingida, mesmo que tudo à sua volta seja totalmente destruído. Mas é necessário que façamos a nossa parte como filhos de Deus, como servos fiéis usados por Ele para a construção do Seu Reino. E como deve ser nossa atitude como cristãos, para que nossa influência sobre o entorno – onde quer que estejamos – seja positiva e transformadora?
Martinho Lutero dizia que um evangelho que não trata dos assuntos atuais não é o verdadeiro Evangelho, e sabemos que Deus tem como alvo de Seu agir tanto o céu como a terra, como está expresso em Mateus 6.10, quando Jesus nos ensinou a Oração do Senhor: “… venha o teu reino, faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu”.
Davi, por outro lado, afirma no Salmo 24.1 que “Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam”, enquanto Paulo confirma em 1 Coríntios 10.26 que “… do Senhor é a terra e a sua plenitude”, e é sobre ela que Deus imprime Seu amor, Sua justiça e Sua retidão, agindo em cada nação.
Jesus ensinou que a única maneira de entrar no Reino dos Céus é por intermédio dEle, mas sempre colocou a salvação dentro do contexto da mensagem completa do Reino. Ele nunca se referiu ao Evangelho da salvação; Jesus ensinou o Evangelho do Reino, composto tanto da salvação quanto das verdades sobre cada aspecto da nossa vida. O teólogo e pastor luterano Dietrich Bonhoeffer, sobre isto certa vez emitiu seu famoso conceito: “Salvação sem discipulado é ‘graça barata’”.
Na mesma linha, a experiente líder cristã e missionária Landa Cope em seu livro “Modelo Social do Antigo Testamento – Redescobrindo Princípios de Deus para Discipular as Nações” defende a tese de que certas áreas da vida devem ser usadas estrategicamente para discipular as nações. Entre elas estão principalmente o Governo, a Família, as Artes, a Educação, a Ciência, a Comunicação e a Economia, mas enfatiza que também é necessário redefinir o papel da Igreja neste contexto. Ela faz um apelo para que oremos, primeiramente para que haja uma revolução global na Política e na Justiça Social, somada a uma “explosão” de integridade individual e familiar. Depois, para que a glória de Deus seja revelada; e, finalmente, para que todos os cristãos do mundo sigam o que Francisco de Assis ensinou dizendo que é preciso dar testemunho de Deus todos os dias e, quando necessário até usar palavras, porque proclamar o Evangelho pelo exemplo é mais virtuoso do que proclamá-lo com a voz.
Deus é eternamente imutável, enquanto nós, o Seu povo, necessitamos muito ser mudados, por isso, enquanto as verdades de Deus permanecem inalteráveis, a transformação das nações pelos discípulos de Cristo só poderá vir a ser alcançada se aplicarmos essas mesmas verdades em nossas vidas e através delas.
Na versão da Bíbia NTLH, o Senhor nosso Deus em Jeremias 9.24 disse: “Se alguém quiser se orgulhar, que se orgulhe de me conhecer e de me entender; porque eu, o Senhor, sou Deus de amor e faço o que é justo e direito no mundo. Estas são as coisas que me agradam. Eu, o Senhor, estou falando.”
Essa passagem realça a poderosa afirmação de que, não somente o Senhor é um Deus de amor constante, justiça e retidão como características fundamentais do Seu ser, mas que Ele efetivamente coloca tudo isso em prática, no céu e na terra.
William Carey foi um exemplo de cristão usado como instrumento de Deus não só para salvar, mas também para discipular, utilizando as várias áreas da vida. Nascido em agosto de 1761, em uma humilde cabana de uma pequena vila da Inglaterra, aos 14 anos aprendeu o ofício de sapateiro. Na sua pequena oficina pendurou um mapa-múndi que ele mesmo havia desenhado, onde incluíra todas as informações disponíveis sobre os países. Enquanto trabalhava, olhava para o mapa, orava e sonhava! Sentiu a chamada de Deus em sua vida através de um missionário e médico que havia trabalhado por vários anos em Bengali, na Índia. Em Junho de 1793, William Carey deixou a Inglaterra e nunca mais voltou, partindo num navio para a Índia com sua família, onde, em condições dificílimas e sempre enfrentando forte oposição, trabalhou durante 41 anos. Não era dotado de inteligência superior e nem de qualquer dom que deslumbrasse os homens. Entretanto, era extremamente perseverante, tinha espírito indômito, e este foi o segredo do maravilhoso êxito da sua vida missionária. Apesar de não haver recebido educação formal em sua mocidade, Carey chegou a ser um dos maiores especialistas do mundo em sânscrito e em outras línguas orientais. Na Índia fundou 26 igrejas, 126 escolas que acolhiam 10.000 alunos, traduziu as Escrituras em 44 línguas, produziu gramáticas e dicionários usados ainda hoje, organizou a primeira missão médica à Índia, fundou seminários e uma escola para meninas, publicou o primeiro jornal de toda a Ásia na língua Bengali e criou um banco para emprestar dinheiro aos pobres. Foi autor de vários experimentos agrícolas, fundou a Sociedade de Agricultura e Horticultura da Índia, a primeira imprensa, uma fábrica de papel e traduziu a Bíblia para o Sânscrito, Bengali, Marati, Telegu e para o idioma dos Siques. Quando chegou de navio à Índia, os ingleses negaram-lhe permissão para desembarcar. Ao morrer, porém, o governo mandou içar as bandeiras a meio pau em homenagem a um herói que fizera mais para o país do que todos os generais britânicos, dando tão grande contribuição para a elevação das nações.
Ao longo da história os cristãos influenciaram – pela sua forma de pensar e de agir – as comunidades e as nações onde viviam. Muito dessa influência foi positiva, contribuindo para a educação pública, para a liberdade de imprensa, para o auxílio às vítimas de cataclismos e aos desassistidos em geral. Será que atualmente podemos ter certeza de que, quanto maior o número de cristãos, maior é o benefício para a sociedade?
Não muito tempo atrás uma pesquisa feita nos Estados Unidos se propôs a avaliar o impacto do cristianismo na transformação para melhor de uma cidade. Foi escolhida a cidade de Dallas, no Texas, por ser considerada a cidade mais evangélica do país, aquela onde havia a maior percentagem de cristãos frequentando regularmente as igrejas protestantes.
As surpresas com os resultados foram grandes: o crime, o sistema social falido, as doenças, as discrepâncias na economia, a injustiça racial, tudo desqualificava aquela comunidade quanto à qualidade de vida. Qual a razão? Na análise da missionária Landa Cope, a degeneração que hoje está sendo vista em muitos campos missionários, é produto do abandono da pregação da verdade bíblica completa, como se apenas salvação fosse a única mensagem de Deus. Muitas igrejas e missionários tomam a mensagem integral ensinada no Antigo e no Novo Testamento e a reduzem a uma mensagem a respeito apenas do ponto de entrada no Reino, fazendo do início o alvo final: a salvação!
A mensagem que reformou as culturas ocidentais e construiu nações com valores cristãos sólidos não foi o evangelho da salvação, mas sim, o evangelho do Reino, incluindo a salvação. As verdades do evangelho do Reino existem para nos transformar, enquanto nos ensinam sobre como viver em cada área de nossas vidas. Só então vidas transformadas podem ser sal e luz para as famílias, para a vizinhança, para as comunidades e, finalmente, para as nações, elevando-as, fazendo delas lugares melhores para se viver, porque a influência do bem pode e deve ser maior que a do mal.
Ao final de Sua vida terrena, Jesus fez a seguinte oração a Deus em João 17.4: “Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer”. O Pai O enviara para que cumprisse objetivos que Ele sabia quais eram e os cumpriu fielmente. A missão de alcançar o mundo inteiro não foi concluída durante o Seu ministério na terra, mas Jesus sabia que não tinha sido enviado para fazer tudo.
Sabiamente Jesus outorgou uma grande parte da missão para ser assumida e completada pela Igreja que deixou, instruindo Seus discípulos clara e objetivamente em Mateus 28.19,20: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações (…) ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”. Dessa forma o Senhor delineou a missão da Igreja com duas dimensões: a primeira é a amplitude necessária para alcançar cada criatura; a segunda é a profundidade necessária e suficiente para discipular todos os países, transformando-os em nações mais elevadas.
Pai, cremos na Tua Sublime e Inerrante Palavra e confiamos em Ti quando dizes que desejas abençoar todas as nações da terra e usar a Tua Igreja para isso. Senhor, sabemos que nos dias de hoje não estamos tendo o tipo de influência cristã que deveríamos ter no mundo, por isso ajuda-nos a enxergar o caminho que Tu desejas que trilhemos para cumprir o propósito para o qual nos chamaste. Em nome de Cristo Jesus oramos agradecidos e prontos a Te obedecer. Amém.
19 de fevereiro de 2022
In
Textos Mensagens