NOVOS CÉUS E NOVA TERRA
Deus, o Arquiteto do Universo, como Calvino, em sua célebre obra “Institutas da Religião Cristã” denomina repetidamente, idealizou, projetou e construiu o mundo para ser o maravilhoso lar da humanidade, com um amor e uma criatividade extraordinários, de forma magistral e absolutamente perfeita em todos os aspectos de sua constituição.
Mas a casa não é nossa, somos apenas inquilinos, ocupantes transitórios a quem o Supremo Proprietário incumbiu de cuidar e administrar com zelo e respeito, e nela estão incluídas todas as maravilhas que a equipam com absoluta perfeição para que todas as necessidades da nossa vida sejam atendidas, e foram entregues em confiança, a par do compromisso de que vivêssemos em paz, amor e harmonia uns com os outros.
Será que estamos cumprindo o que foi acordado? Claramente não. E após muito tempo de uso, o planeta que nos foi entregue perfeito, – inclusive acompanhado pelo completo manual do usuário que é a Bíblia – cada vez mais se ressente dos maus tratos, do descuido e do desrespeito que lhe tem sido dispensado, exigindo assim uma reforma total, completa, que deve envolver até mesmo nós, os próprios usuários. Aliás, esses precisam, na verdade, de uma transformação total de conduta, de mente, envolvendo corpo, alma e espírito.
E é isto que o Sublime Proprietário já tinha até, pela Sua onisciência e sabedoria, previsto que teria que fazer um dia, conhecendo-nos como conhece, mas, apesar disso, dando-nos um crédito de confiança infelizmente não correspondido.
Todos sabemos que a Bíblia nos revela em Gênesis, no seu primeiro versículo, que “No princípio, criou Deus os céus e a terra”, e isto significa que Ele concebeu a matéria, o espaço, o tempo e todo o universo, como primeira etapa da Criação. No capítulo 3, no entanto, registra a Queda do homem pelo pecado, que então provocou sua expulsão do Éden não só como um ato divino de castigo, como também de misericórdia, evitando que comesse do fruto da árvore da vida e passasse a viver num eterno estado de morte e alienação de Deus. Agora vivemos a terceira etapa da existência humana, que é o tempo da Redenção, passando pelo sofrimento gerado pelo pecado de todos os descendentes de Adão e Eva; depois, virá a Restauração, quando Deus trará o mundo de volta à perfeição com o qual o havia criado de início, porém num estado muito superior àquele.
E a nova condição humana se distinguirá da inicial principalmente por uma característica: enquanto no Paraíso poderia pecar, nos novos tempos que virão já não existirá mais o pecado com suas consequências tão deletérias, como Deus assegura em Isaías 65.17-18, 24-25, assim descrevendo os novos céus e a nova terra: “Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, jamais haverá memória delas. Mas vós folgareis e exultareis perpetuamente no que eu crio; porque eis que crio para Jerusalém alegria e para o seu povo, regozijo. E será que, antes que clamem, eu responderei; estando eles ainda falando, eu os ouvirei. O lobo e o cordeiro pastarão juntos, e o leão comerá palha como o boi; pó será a comida da serpente. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o SENHOR”.
Jesus, em Seu sermão escatológico no Evangelho de Mateus, capítulo 25, reafirma a vinda do reino dos céus, suas características, e o que acontecerá quando Ele vier para realizar o grande julgamento de todas as pessoas, de todos os tempos, nos versículos 31 e 32: “Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas…”.
Igualmente em Romanos 8.18-25, Paulo prevê a glória futura da humanidade, escrevendo para nós de forma tão alentadora: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo. Porque, na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos”.
O mundo, que João em sua primeira epístola 5.19 atesta que “… jaz no maligno”, por este motivo está sujeito à frustração e à deterioração para que não cumpra com o propósito para o qual Deus o criou. Um dia, no entanto, a Criação será libertada do mal e transformada, mas enquanto esse dia não chega, ela espera com impaciente expectativa a ressurreição daqueles que são filhos de Deus.
Como cristãos, conseguimos ver o mundo como ele verdadeiramente é: fisicamente decadente e espiritualmente enfermo. Apesar disso, não devemos enxergá-lo com uma visão pessimista, mas sim com a certeza de que esta fase da sua existência é necessária para a sua cura e transformação segundo o propósito dAquele que o criou, porque sabemos que o futuro que nos aguarda é glorioso.
Procuremos então imaginar os novos céus e a nova terra que Deus prometeu e que as Escrituras descrevem, e nos regozijemos, esperando confiantes a nova e bendita ordem universal que será instaurada por Cristo em Sua tão ansiada volta, com a certeza da libertação do mundo de todo mal, das doenças, dos sofrimentos e do pecado, que é a maior das enfermidades que podem nos acometer.
Mas por que novos céus devem substituir os atuais? Porque o primeiro céu foi afetado pela queda de alguns anjos – como satanás, o cabeça da primeira criação celestial que caiu da alta posição que ocupava (Isaías 14.12) levando um terço dos anjos com ele (Apocalipse 12.4) – da mesma forma como a terra foi conspurcada pela queda do homem, e assim os céus devem ser renovados em Cristo e para Cristo – como Paulo esclarece em Colossenses 1.16 – para que seja um lugar apropriado para Ele e para aqueles que estão nEle.
E os motivos para que Deus crie uma nova terra não se resumem apenas à decadência que conseguimos perceber presentemente com os nossos sentidos, mas porque Deus jamais abandona as obras que realiza. Por isso a terra não será deixada à própria sorte por causa do pecado humano, mas será preservada e ao fim e ao cabo restaurada, não apenas ao estado anterior, mas elevada a uma glória muito maior, para que Cristo possa ser glorificado. E se parte dessa glória reside no fato de que a nova terra será unida aos novos céus, como lemos em Apocalipse 21.1-2, a grande glória é que a justiça de Cristo nela habitará, sendo para isso a presente criação erradicada para resultar em um planeta purgado de todos os efeitos do pecado.
Deus concebeu os pais para gerar, amar, cuidar e dirigir seus filhos, e estes confiam neles, apesar de que algumas vezes os progenitores falham em sua missão paternal. Nosso Pai Celestial, entretanto, é o Pai Perfeito que jamais falha e que nunca deixa de cumprir fielmente Suas promessas, como a própria Escritura atesta. Contudo, Seu tempo não é igual ao nosso, e Seus planos seguem o cronograma que só Ele conhece, por esse motivo a concretização daquilo que prometeu pode demorar mais do que esperávamos. Seu próprio Filho, pouco antes de Sua ascensão aos céus, questionado por Seus apóstolos sobre quando se daria a Sua volta, respondeu em Atos 1.7: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade…”.
Paulo, na carta aos Romanos, considera que a nossa salvação se desenvolve em três tempos: passado, presente e futuro. No passado, fomos salvos no momento em que começamos a crer em Jesus Cristo como Senhor e Salvador, e nossa nova vida – eterna – teve início; no presente, estamos nos salvando porque vivemos em um processo continuado e gradativo de santificação; no futuro, receberemos todos os benefícios e bênçãos da salvação quando o Reino de Cristo se estabelecer definitivamente e seremos então completamente transformados para nos assemelharmos cabalmente ao Senhor, recebendo um corpo glorificado similar ao que Ele possui agora no céu, como nos ensina Paulo em 1 Coríntios 15.42-44.
A criação geme e suporta angústias, todo o cosmos está numa condição de grande sofrimento sob o jugo do pecado humano, e vemos a terra toda sendo destruída, com as pragas, as doenças e as crueldades se multiplicando. Mas seguimos confiantes nas promessas da volta de Cristo e da transformação maravilhosa que Ele trará, crendo firmemente no que o apóstolo Pedro, em sua segunda epístola, capítulo 3, versos 13-14 nos assegura e exorta: “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça. Por essa razão, pois, amados, esperando estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis…”.
A Escritura Sagrada nos diz que no episódio do dilúvio houve uma primeira renovação da terra, quando Deus eliminou o povo corrupto e inimigo Seu que aqui vivia, preservando apenas Noé e sua família que eram Seus, para que uma nova humanidade surgisse, purificada pela água, obediente e saudável sob todos os aspectos, o que, infelizmente, não se verificou, com a deterioração progressiva de todos os valores que agradam a Deus.
Agora, o Senhor promete promover a purificação definitiva da terra pelo fogo, possivelmente restaurando tudo aquilo que vem se corrompendo ao longo das eras da história humana, com vistas ao surgimento de um novo mundo de amor, alegria e paz onde a justiça imperará, como João relata na visão que teve em Apocalipse 21.1-8: “Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida. O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho. Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte”.
Com esta perspectiva grandiosa à nossa vista, almejamos que este nosso lar definitivo não tarde a ser instalado, porque nos encontramos cansados da longa e dolorosa jornada neste mundo onde somos peregrinos e forasteiros, e sabemos que lá estarão nos aguardando de braços abertos nosso Pai e nosso Irmão Mais Velho, além de toda a nossa família em Cristo a quem conhecemos e aprendemos a amar.
Amado Deus, quando meditamos sobre as maravilhas que nos aguardam no porvir, só podemos considerar como Paulo em Filipenses 3.8, que tudo o que vivenciamos neste mundo é desperdício, “… por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo…”. Pela Tua graça, nos mostras que a vida nesse mundo, e mesmo os seus maiores prazeres, são lixo se comparados ao que Tens preparado para os que Te amam, pois se sabemos que o céu é o nosso verdadeiro lar, nunca poderemos nos sentir em casa aqui nesta terra. Obrigado, Senhor, por estimular as nossas esperanças de redenção futura e assim termos a certeza de um dia vivermos conTigo nas regiões celestiais em Cristo, no nome de quem oramos e agradecemos. Amém.
7 de agosto de 2021
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