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PEQUENA FÉ (1)

A cidadezinha do interior vivia dias de angústia e sofrimento por causa da longa estiagem que já durava vários meses. Era noite, e os membros da pequena igreja local estavam reunidos para orar a Deus pedindo a chuva que salvaria a colheita, os animais, e a eles próprios e a suas famílias. No meio deles, uma menina olhava a tudo com a curiosidade infantil estampada no rosto, carregando no braço um guarda-chuva. Alguns começaram a rir e um dos presentes perguntou zombeteiro: “Com uma seca dessas, o que você faz com este guarda-chuva?” Ao que ela, séria, respondeu: “Não estamos todos aqui na igreja para pedir que Deus mande chuva? O senhor não tem fé que Ele vai nos atender?”

 

O famoso pregador e evangelista C. H. Spurgeon certa vez falava a seus alunos a respeito da oração, quando um deles lhe perguntou como se pode saber se as orações serão respondidas. Spurgeon, então, tirou do bolso seu relógio de ouro e o colocou sobre a mesa, dizendo que quem quisesse poderia ficar com ele. Os alunos se entreolharam muito surpresos e agitados, sem compreender porque o mestre estava dando um relógio tão bonito e caro a troco de nada. Passado o primeiro momento de espanto, uma garotinha de olhar esperto dirigiu-se a Spurgeon e disse que queria o relógio. “É seu”, disse Spurgeon, “cuide bem dele.” E acrescentou, alçando os olhos para a classe: “Como veem, eu estava falando sério. Por que vocês não acreditaram? Deus nos deseja presentear com algo muito mais precioso que um relógio: quer nos dar Seu próprio Filho para ser nosso salvador. Por que razão estamos ainda hesitantes em receber?” E é o mesmo Spurgeon que afirmou em outra ocasião: “Uma pequena fé levará tua alma ao céu; uma grande fé trará o céu para a tua alma.”

 

Até enviar um e-mail ou uma mensagem por whatsapp não deixa de ser um exercício de fé, embora seja naturalmente uma fé natural, aquela que todos possuem. Precisamos confiar no computador ou no smartphone, na energia elétrica, na internet, no provedor de e-mail, não podemos por nós mesmos fazer nada, a não ser esperar que chegue corretamente e a tempo ao destinatário ou destinatários. Subimos em um avião para fazer uma viagem de muitas horas entregando cegamente nossa vida nas mãos de um piloto que não conhecemos, mas paradoxalmente alguns não confiam no Deus que os criou e a tudo o que existe, o único que é fiel e em quem sabemos que podemos confiar sempre! Esta última é a verdadeira fé, a fé sobrenatural que somente aqueles que são de Cristo, que nasceram de novo, por meio do Espírito Santo que neles habita, conseguem desfrutar.

 

Frequentemente, quando enfrentamos um grande desafio na vida a nossa fé é testada. A diferença é que entre nós e Deus não há obstáculos de qualquer espécie, nossa comunicação é totalmente desimpedida, Ele está sempre pronto a nos ouvir, depende só de nós, e só nEle podemos confiar de forma irrestrita. Com Deus não há insegurança porque, se o homem é infiel e falível por natureza, Ele é fiel e infalível, é a Suprema Segurança! Então podemos entregar tudo em Suas mãos, confiar nEle, e ter a certeza de que Ele tudo fará, por isso podemos e devemos descansar e esperar nEle.

 

Em Juízes 7.2-7 Deus usou Gideão para liderar o povo de Israel contra os midianitas, e a primeira ordem que deu foi para que houvesse uma redução drástica das tropas, para que a confiança de todos estivesse sobre Ele, e não sobre a força humana. Então, para enfrentar 135.000 inimigos, Deus mandou reduzir o efetivo israelita de 32.000 homens para apenas 300. Terminada a batalha com a vitória de Israel, ficou claro que Deus havia operado um milagre, e que só Ele, portanto, era o merecedor de toda a glória. Muitas vezes Deus permite que nos encontremos fracos e incapazes frente a certas circunstâncias para que passemos a confiar apenas nEle, entregando tudo em Suas mãos invencíveis.

 

Mas até hoje certos líderes de igrejas cristãs não aprenderam esta lição, confiando apenas em números, estatísticas e percentuais, como se reunir grandes multidões fosse um indicador da aprovação de Deus. Para eles, planos e estratégias humanas de crescimento de suas igrejas – mensagens com altos níveis de mundanismo, ao invés da mensagem da cruz, a promoção de atividades seculares para conquistar maior frequência em detrimento de ações espirituais, a construção de templos suntuosos, ao contrário da ênfase na simplicidade e no despojamento material – parecem ser mais importantes do que ouvir, conhecer e obedecer ao Senhor.

 

O livro de Hebreus em seu capítulo 11 é um marco atemporal sobre a graça da fé e da vida de fé, sobre a sua sublime natureza e a honra que reflete sobre todos os que a praticam, expondo categoricamente sua essência no verso 1: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem”.

 

Nossa fé deve ser como uma inflexível viga do mais puro aço que nada nem ninguém consegue curvar, por maior que seja o peso da adversidade que incida sobre ela, porque se apoia pelas extremidades em dois pilares inabaláveis: a confiança e a certeza. Cada um deles, por sua vez, precisa estar descansando sobre profundas fundações: por um lado o caráter de Deus que efetivamente é quem diz ser, e por outro, Suas promessas inefáveis que nunca deixam de se cumprir.

 

É dotados destas características que as Escrituras mostram exemplos notáveis de homens e mulheres de fé em Hebreus 11.2-40, como Abel, Enoque, Noé, Abraão, Sara, Isaque, Jacó, José, Moisés, Raabe, Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel, e os profetas, cujos nomes e atitudes de fé ficaram registrados para a eternidade, porque sabiam, – como assegura Hebreus 11.6 – que, “De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam”.

 

Gideão, por exemplo, foi um verdadeiro herói da fé, como nos mostra Hebreus 11.32, não por sua oratória, carisma, beleza, força física, inteligência ou formação teológica. Mas será eternamente lembrado, não como um grande homem, mas como um homem de grande fé em Deus, que o transformou de homem tímido, inseguro, fraco, em grande líder do seu povo. Mas que, além disso, também revelou-se dotado de grande desprendimento e fidelidade a Deus, a ponto de rejeitar ser coroado rei de Israel, como nos mostra Juízes 8.22-23: “Então, os homens de Israel disseram a Gideão: Domina sobre nós, tanto tu como teu filho e o filho de teu filho, porque nos livraste do poder dos midianitas. Porém Gideão lhes disse: Não dominarei sobre vós, nem tampouco meu filho dominará sobre vós; o SENHOR vos dominará”!

 

Continua…

 

 

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