SABER E FAZER
Charles M. Sheldon em seu famoso livro Em seus passos o que faria Jesus?, na parte conclusiva de sua obra afirma categoricamente: “Se nossa definição de cristianismo se reduz a desfrutar os privilégios da adoração, a sermos generosos se isso não nos custar nada, a divertir-nos cercados de amigos e de coisas agradáveis, a vivermos uma vida respeitável e ao mesmo tempo evitarmos as maiores dificuldades geradas pelo pecado, fugindo da dor que ele causa, então estaremos longe de seguir os passos de Jesus, que percorreu Seu caminho com gemidos e lágrimas de angústia pela humanidade perdida, suou gotas de sangue e gritou do alto da cruz: ‘Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?’ O que é ser cristão? É imitar a Jesus. É fazer as coisas do jeito que Ele faria. E seguir os Seus passos.” Em outras palavras podemos afirmar que é saber e fazer o que Ele deseja que saibamos e façamos!
A propósito, há um antigo e conhecido provérbio oriental que diz que saber e não fazer, ainda não é saber, e nessa mesma linha de raciocínio, o grande escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe dizia que não basta saber, é preciso aplicar; não basta querer, é preciso fazer. É ter sabedoria prática, como a que Salomão, filho de Davi e rei de Israel deixou registrada em cerca de 3.000 provérbios de sua autoria, adágios extraídos da vida cotidiana cuja intenção é servir como diretrizes básicas para uma vida bem-sucedida contidos no livro de Provérbios, que assim afirma no capítulo primeiro, versículo 7: “O temor do SENHOR é o princípio do saber…”.
Será que como cristãos fazemos, aplicamos, seguimos, tudo aquilo que pretensamente conhecemos sobre os ensinamentos de Jesus? Provavelmente não, até porque, em nossa luta cotidiana para sermos autênticos cristãos, temos consciência de que alcançar a nossa meta comum de nos tornarmos assemelhados a Ele é incrivelmente difícil, pois que há uma distância abissal intransponível que nos separa da perfeição do Senhor. Dura caminhada, portanto, nos está proposta. Mas é preciso persistência, mirando o exemplo do próprio Filho de Deus, que tudo suportou, abandonando a glória celestial, a honra terreal e escolhendo o caminho do terrível sacrifício a que voluntariamente Se submeteu em favor de seres tão sem merecimento como nós. E é nesse sentido que o autor de Hebreus 12.1-2 (NAA) nos estimula para que “… livremo-nos de todo peso e do pecado que tão firmemente se apega a nós e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, sem se importar com a vergonha, e agora está sentado à direita do trono de Deus”.
E o que mais nos diz a Palavra de Deus sobre essa questão tão essencial?
Certamente nenhum cristão consciente de suas responsabilidades, em busca da santificação, discorda da exortação de Tiago 1.22-25 (NAA): “Sejam praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando a vocês mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se àquele que contempla o seu rosto natural num espelho; pois contempla a si mesmo, se retira e logo esquece como era a sua aparência. Mas aquele que atenta bem para a lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte que logo se esquece, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar”.
Contudo, o peso de nossas imperfeições é grande, gigantesco, e como pesada âncora que trazemos presa ao pescoço, arrasta-nos para baixo, tendendo a fazer-nos afundar no mar de pecaminosidade em que vivemos no mundo.
O que traz um certo consolo para a nossa debilidade humana, para a nossa dupla personalidade, em que ora agimos como o médico, ora como o monstro, é o que Paulo confessa na conhecida passagem de Romanos 7.15,18-20 (NAA): “Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim, mas não o realizá-lo. Porque não faço o bem que eu quero, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim”.
O que fazer então, se realmente desejamos ser cristãos autênticos, procurando conhecer e viver a Palavra de Deus como Ele requer de nós, e não apenas ouvindo-a ou lendo-a episodicamente e logo voltando a ter atitudes reprováveis?
Algumas normas de conduta, então, devem passar a fazer parte do nosso dia a dia, e são realmente indispensáveis, verdadeiras condições sine qua non se desejemos ser verdadeiros praticantes da Palavra: precisamos, antes de mais nada, ser ávidos por recebê-la e colocá-la em prática, sempre manifestando transbordante alegria e gratidão em nossos corações, com toda a nossa vida expressando Cristo em nós como testemunho de que realmente somos crentes, assim nos identificando com o homem sensato a quem Jesus referiu-se em Mateus 7.24-25 (NAA), ao afirmar que “Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram com força contra aquela casa, e ela não desabou, porque tinha sido construída sobre a rocha”.
Aplicar a Palavra de Deus, portanto, é uma importante decisão pessoal que o autêntico cristão com humilde sabedoria deve tomar, certo de que, acima de tudo, ela produz repercussões eternas, mas para isso é crucial dispormo-nos a trabalhar incansavelmente, dia após dia, para que a verdade lance raízes profundas e irremovíveis em nós, e possamos então ser plenamente frutíferos na Obra do Senhor.
Paulo também compara a transformadora doutrina cristã a um espelho no qual Deus, revelado em todo o Seu esplendor, se apresenta à nossa vista fazendo conhecer em 2 Coríntios 3.18 (NAA) que então “… todos nós, com o rosto descoberto, contemplando a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, que é o Espírito”.
E como podemos cooperar para que o Espírito Santo que habita em nós opere a transformação de que necessitamos? Perseverando firmemente na busca do conhecimento de Deus e na aplicação da Sua Palavra perfeita, para sermos felizes, bem-sucedidos em tudo o que fizermos, porque a bem-aventurança do crente, como afirma Calvino, só pode ser encontrada no agir, e não no frio ouvir.
Em outras palavras, é muito importante ouvir a Palavra e estudá-la diligentemente, mas, mais importante ainda é obedecê-la, colocá-la em prática, permitindo que o Espírito Santo produza a metanoia, a renovação da mente e o quebrantamento do coração que nos alinha com a vontade de Deus, condições essenciais para o nosso progresso cristão, para o processo progressivo da nossa santificação.
Ser verdadeiro adorador de Cristo não significa ter apenas uma aparência de cristão, mas é viver uma vida transformada por Ele, com prontidão para aprender, para seguir crescendo na fé e para aplicar os Seus maravilhosos ensinamentos o tempo todo. É saber e fazer a Sua vontade em tudo, em qualquer circunstância e sem cessar. É inútil seguirmos a liturgia de uma igreja, andarmos com uma Bíblia na mão ou demonstrarmos qualquer outro sinal exterior que nos identifique como cristãos, sem que o nosso coração esteja completamente colocado na presença de Deus e pronto a renunciar aos nossos interesses pessoais em favor de uma vida vivida para a Sua glória. Quando buscamos com sinceridade, amor e dedicação uma vida com Deus, nosso interior passa a brilhar como uma fonte de luz irresistível que se revela em nosso exterior, e mesmo que os embates da vida nos assolem e o mundo que “… jaz no maligno” tente minar as nossas forças e afastar-nos da presença do Senhor, jamais impedirá de continuarmos firmes, inabaláveis, seguros e guiados pela Sua poderosa mão.
Somente obedecendo humilde e fielmente à Palavra, aplicando-a em nós próprios e em favor dos outros, poderemos efetivamente cumprir o propósito para o qual Deus nos colocou no mundo para sermos quem Ele nos predestinou a ser, e então contribuindo – como servos bons, fiéis e úteis – para a Sua Obra da maneira como Ele planejou antes dos tempos eternos, pois só então saber e fazer se complementam e atingem o objetivo divino.
Senhor, concede-nos sabedoria, diligência, perseverança e fidelidade para conhecer-Te melhor por meio da Tua Palavra, para aprendermos tudo aquilo que Tu desejas nos ensinar visando a sua aplicação em nossa vida e na vida de todos aqueles que colocares em nosso caminho durante a nossa peregrinação terreal, para que assim o façamos para o louvor da Sua glória, pelo que nós que esperamos em Cristo Jesus orando agradecidos em Seu bendito nome. Amém.
5 de novembro de 2022
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